Edy Star morre aos 87: pioneiro do glam rock brasileiro esperou mais de 30 horas por vaga em hospital
Cantor e multiartista baiano foi o primeiro da música nacional a se assumir gay e influenciou gerações com visual performático e postura contestadora


Demora na internação agravou estado de saúde
Edy Star morreu na manhã desta quinta-feira (24/4), aos 87 anos, no Hospital Heliópolis, na zona sul de São Paulo. Internado em estado grave após sofrer uma queda em casa na semana passada, o cantor aguardou mais de 30 horas por transferência da UPA da Vila Mariana até conseguir vaga em hospital público com recursos adequados. A situação mobilizou o historiador Ricardo Santhiago, biógrafo do artista, que fez apelos nas redes sociais.
Segundo nota enviada à imprensa, Edy morreu em decorrência de “insuficiência respiratória, insuficiência renal aguda e pancreatite aguda”, com agravamento clínico nos últimos dias. O texto informa que o artista “morreu de forma serena, sem dor, enquanto recebia tratamento médico”.
Carreira atravessou gerações e fronteiras
Nascido Edivaldo Souza em Juazeiro, na Bahia, o artista iniciou a carreira na adolescência em programas de rádio locais. Na década de 1960, transferiu-se para o Rio de Janeiro e começou a circular entre nomes centrais da MPB. Foi coautor de “Procissão” com Gilberto Gil, toada que integra a atual turnê de despedida do músico, “Tempo Rei”.
Seu nome ganhou projeção com o disco “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10” (1971), ao lado de Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada. Em 1974, lançou o LP “Sweet Edy”, com músicas inéditas de Gil, Caetano Veloso, Jorge Mautner, Roberto e Erasmo Carlos. A capa trazia uma estética inspirada no Glam Rock britânico, com influências de David Bowie, T. Rex e do rock teatral de Alice Cooper.
Assumidamente gay, Edy dizia ter sido “o primeiro nome da música brasileira a se assumir”. Foi o protagonista da versão brasileira de “The Rocky Horror Show” e um dos precursores da presença LGBTQIA+ no cenário musical nacional.
Reconhecimento tardio e legado
Nos anos 1990, Edy Star viveu na Espanha, atuando no teatro e em casas noturnas. De volta ao Brasil, passou a ser redescoberto por novos públicos. Lançou em 2017 o disco “Cabaré Star”, produzido por Zeca Baleiro e Sergio Fouad. Nos últimos anos, divulgava campanha de financiamento coletivo para gravar um álbum com músicas de Raul Seixas.
Recentemente, teve sua trajetória recontada na biografia “Eu Só Fiz Viver – A História Oral Desavergonhada de Edy Star”, de Ricardo Santhiago, e no documentário “Antes que Me Esqueçam, Meu Nome é Edy Star”, dirigido por Fernando Moraes. O filme estreou no Festival Mix Brasil em 2019 e chegou aos cinemas apenas em 2024, com depoimentos de Caetano Veloso, Zeca Baleiro e do próprio Edy.
Apesar do resgate recente, o artista enfrentou dificuldades no fim da vida, inclusive um câncer, que teve dificuldades de tratar sem dinheiro. Em entrevista ao Estadão em 2024, desabafou: “Sobre a posteridade, essas coisas… Olha, enquanto eu estiver aqui, quero respeito e reconhecimento. Mas depois que eu for, não me importa o que façam. Podem descartar meu trabalho, jogar no mar. Não tô mais aqui mesmo”.