Drogas? Parei, agora eu sou uma pasta de dente

Nenhuma verdade no título acima: Tem um momento na vida de todo jovem adulto em que ele olha ao redor e percebe: me tornei uma pasta de dente. O fenômeno é simples. Você começa a vida como um tubinho novinho, cheio de frescor, promessas e...

Abr 14, 2025 - 14:29
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Drogas? Parei, agora eu sou uma pasta de dente

Nenhuma verdade no título acima:

Tem um momento na vida de todo jovem adulto em que ele olha ao redor e percebe: me tornei uma pasta de dente.

O fenômeno é simples. Você começa a vida como um tubinho novinho, cheio de frescor, promessas e fluidez. No começo, qualquer pressãozinha de leve já faz sair aquele creme perfeito, branquinho, bem distribuído. Esse é o auge. Você ainda está no controle, ainda tem dignidade, ainda pode ser virado de cabeça pra baixo e continua funcionando bem.

Mas o tempo passa. Você começa a perceber que está sendo apertado de qualquer jeito. Gente te torce no meio, te amassa sem critério, ignora completamente as instruções claras na embalagem que dizem “pressione a partir do fim”. Porque é assim que a sociedade trata você: primeiro, como um produto reluzente; depois, como um tubo meio murcho que ainda tem utilidade, mas ninguém faz questão de tratar bem.

Aí vem a fase mais humilhante: quando a pasta tá no fim, mas você ainda precisa dela.

E é aí que a vida começa a ficar realmente difícil. Você se vê dobrado, espremido, implorando por um restinho de substância, qualquer coisa que ainda te faça parecer funcional. O que antes saía naturalmente, agora exige esforço. Você faz malabarismos, rola na pia, dá aquele golpe de karatê no tubo pra arrancar um pingo. Às vezes, até apela pra técnicas mais questionáveis: tesoura, dente, pacto com forças ocultas.

Mas nada disso funciona pra sempre. O inevitável chega. O dia em que você precisa aceitar que acabou.

E é nessa hora que a sociedade te joga fora.

Simplesmente descarta. Substitui por outro. Mais cheio, mais bonito, mais novo. E nem adianta falar “mas eu ainda tenho um restinho útil!” porque ninguém quer saber. Já estão encantados com um tubo novo de tecnologia avançada, com ingredientes revitalizantes, promessas de branqueamento instantâneo e ação 12 horas contra a cárie existencial.

E foi assim que eu percebi que minha fase experimental com drogas precisava acabar. Eu não podia mais ser essa pasta de dente sendo torcida até a última gota pela vida. Porque, no fim das contas, quem é que quer passar os últimos dias da sua juventude sendo espremido feito um tubo vazio?

Então, eu parei.

Agora sou uma pasta de dente novinha, sem amassados, cheia de promessas de frescor.

Pelo menos até a próxima escovada.