Diretor de “Nos Tempos do Imperador” responsabiliza Globo por ambiente de racismo e assédio

Vinicius Coimbra afirma que nunca foi processado e virou bode expiatório no caso de Roberta Rodrigues

Mar 29, 2025 - 02:22
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Diretor de “Nos Tempos do Imperador” responsabiliza Globo por ambiente de racismo e assédio

Reação após condenação da emissora

O diretor Vinicius Coimbra afirmou que a recente condenação da Globo ao pagamento de R$ 500 mil por assédio moral e racismo institucional contra a atriz Roberta Rodrigues reforça que o problema estava nas práticas da emissora e não em sua conduta pessoal. A declaração foi dada após decisão da Justiça do Trabalho, que reconheceu o ambiente hostil nos bastidores da novela “Nos Tempos do Imperador” (2021), sob sua direção artística.

“Alguns jornalistas sensacionalistas me colocam como o responsável pelo que aconteceu na novela. Então, essa reparação é importante de ser feita. A questão deles [dos atores negros] era com a Globo, não comigo”, afirmou Coimbra à coluna de Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo.

Críticas à reunião com elenco negro

O caso veio à tona em 2022, quando a denúncia chegou ao departamento de compliance da Globo. A situação envolveu, entre outros episódios, uma reunião convocada por Coimbra apenas com atores negros da produção. O diretor disse já ter pedido desculpas por ter promovido o encontro de forma segregada, mas defende que a reunião foi necessária. “Achei que a reunião teve um benefício maior, que foi coletar aquelas informações [de insatisfação do grupo] e levar para os departamentos necessários, servir de ponte entre aquele elenco e a empresa.”

Coimbra garantiu que não foi intimado a depor no processo e disse não haver nenhuma ação judicial contra ele relacionada ao episódio. Segundo o diretor, os relatos ouvidos na reunião tratavam de questões estruturais da emissora, como disparidade salarial, falta de apoio psicológico e condições de produção.

Impacto pessoal e demissão

Um mês após a denúncia se tornar pública, o diretor foi demitido pela emissora. Segundo Coimbra, a justificativa dada foi assédio moral, mas ele nunca foi informado sobre qual teria sido sua conduta. “Estou sendo demitido, vou ser linchado publicamente, e vocês não me falam nem o porquê”, relatou.

Ele afirmou ter enfrentado consequências pessoais e profissionais graves: “Meu casamento se desfez, eu tinha trabalhos já engatilhados que foram cancelados. Quando você perde o poder e o dinheiro, só fica do seu lado quem realmente gosta de você.”

Novo projeto após a crise

Apesar da crise, Coimbra disse ter encontrado um novo caminho profissional após conhecer artistas do Complexo do Alemão. Ele dirigiu a websérie “É o Complexo” (2022) e prepara uma trilogia de filmes inspirados em músicas de Chico Buarque para abordar a realidade das favelas cariocas. O primeiro longa, baseado na canção “Meu Guri”, já foi finalizado com recursos próprios.

O diretor também desenvolve um programa de debates sobre direitos humanos em parceria com a atriz Ju Colombo. “Me conectei mais profundamente com essa questão dos direitos humanos. Vi o quanto o racismo e o machismo realmente alteram a vida das pessoas, e outras práticas nesse nosso Brasil que precisam ser revistas.”

Decisão judicial e posicionamento da Globo

A juíza Aline Gomes Siqueira, do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, entendeu que a atriz Roberta Rodrigues foi vítima de racismo institucional e assédio moral no ambiente de trabalho durante as gravações da novela. A magistrada apontou que esses fatores contribuíram para o diagnóstico de burnout da artista, que precisou se afastar do trabalho por três meses. Cabe recurso.

A Globo não comentou a decisão. No processo, a emissora negou as acusações e alegou que mantém políticas de inclusão. A defesa ressaltou que Roberta participou de outras produções após o término do contrato da novela.