Dias de Batávia (3)

O Monumento Nacional (Monumen Nasional), conhecido pelo acrónimo Monas, é um símbolo nacional da Indonésia e um orgulho da cidade de Jacarta. Situado na zona central, está no final da Avenida de Sudirman-Thamrin, centro nevrálgico da capital, conduzindo à Merdeka Square. Fica no centro de um extenso jardim, assente sobre uma base quadrangular, sendo ladeado por uma alameda alcatroada que separa o monumento dos canteiros e das demais zonas ajardinadas.  É um local pleno de significado e que ocupava o primeiro lugar dos locais a visitar do meu roteiro. Países com uma história recente de independência e um passado colonial violento tendem a exacerbar o sentimento nacional, exaltando-o, e a procurar nele encontrar a força que conduz à unidade da nação e à sua perenidade. Nem sempre será assim, havendo casos em que em causa não está o aprofundamento desse sentimento, funcionando esse apelo patriótico à defesa do regime. Nos estados autoritários tende-se a confundir tal sentimento e o amor à pátria com o a mor ao regime e ao partido no poder. Nas democracias são coisas inconfundíveis, e o sentimento nacional indonésio de que me apercebi nalgumas conversas envolve um apego aos novos valores da jovem democracia e o orgulho pelas conquistas económicas e a solidariedade nacional que tem feito o país crescer, com excepção do período da Covid, de forma consistente e a taxas entre os 4,6 e os 5% nas últimas duas décadas.    O Monas foi construído no local que era no tempo colonial o centro do governo e do poder neerlandês, era conhecido como a Koningsplein, ou Praça do Rei. Fica no centro de um parque com 80 hectares, aí se realizando muitos eventos oficiais. Em 1 de Maio pp., o chamado May Day, ali discursou o Presidente Prabowo Subianto. A norte do monumento está a antiga residência dos governadores coloniais, actualmente ocupada pelo presidente e o seu gabinete. A sul ficam as instalações do vice-Presidente, do Governador de Jacarta, as instalações do parlamento provincial e o “bunker” que alberga a Embaixada dos EUA. A oeste situam-se o Museu Nacional, o Tribunal Constitucional e algumas importantes empresas, ficando a leste diversos ministérios e a sede do Movimento Pramuka, mais conhecido como a organização nacional dos escuteiros indonésios, que de certo modo deu continuidade ao escutismo iniciado em 1912 nas então Índias Orientais Holandesas. Com uma altura de 132 metros, a construção oficial do Monas só se iniciou em 1961, fazendo parte do projecto do primeiro presidente, Sukarno, tendo sido na ocasião objecto de muita controvérsia. A sua imponência e custo, numa altura em que o país alcançara num passado ainda demasiado próximo a sua independência, e lutava por criar infra-estruturas que permitissem o seu desenvolvimento, num período de grandes carências para a maioria da população, dividiram opiniões. Acabaria por só ser inaugurado em 12 de Julho de 1975. O formato do Monas representa a união de um falo (liinga) e de uma vagina (yoni), símbolos de prosperidade e fertilidade, havendo também quem o compare com um pilão e um almofariz usados para triturar o arroz. O monumento é todo ele simbólico visto que foi inaugurado em 17 de Agosto, possuindo da base ao topo do graal exactamente 17 metros. A altura do interior do Museu de História é de 8 metros, número que corresponde ao mês da inauguração, e o comprimento de cada lado do graal quadrangular é de 45 metros, uma vez que o ano da independência foi 1945. A chama que está no topo, significando o espírito de luta contra o colonialismo, foi toda revestida com 28 Kg de ouro, doados por um homem de negócios de Aceh, ou Achém, em português, na ponta setentrional de Sumatra. Àqueles juntar-se-iam mais 35 Kg de ouro, que passariam a 50 Kg quando foi celebrado o cinquentenário da independência. Até 1991 era ali que também se realizava a Feira de Jacarta. O museu que está no interior é local de peregrinação e romaria de turistas e de muitos estudantes, com vitrines cheias de reproduções de cenas históricas, batalhas, da ocupação, da libertação e da independência, mostrando-se os diversos períodos históricos e recriações da proclamação da independência, da aprovação da Constituição e de muitos outros acontecimentos de interesse nacional. Tem um local de culto numa das suas esquinas. Num dos lados da estrutura existe um elevador que leva os visitantes ao topo do monumento, de onde em dias claros se pode avistar quase toda a cidade e os edifícios das redondezas. No meio existe ainda uma sala, se bem me recordo o chamado Hall of Independence, onde se pode ver o brasão de armas do país, o mapa da Indonésia gravado a ouro no mármore, uma porta que simboliza a entrada de uma mesquita e um excerto da declaração de independência. Nas proximidades do Monas ficam a Mesquita de Istiqlal e a Catedral de Santa Maria da Assunção, de aqui deixei anteriormente menção. Quanto à primeira, importa referir que pode albergar até 120 mil fiéis. É a maior mesquita do sudeste asiático e

Mai 7, 2025 - 10:13
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Dias de Batávia (3)

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O Monumento Nacional (Monumen Nasional), conhecido pelo acrónimo Monas, é um símbolo nacional da Indonésia e um orgulho da cidade de Jacarta. Situado na zona central, está no final da Avenida de Sudirman-Thamrin, centro nevrálgico da capital, conduzindo à Merdeka Square. Fica no centro de um extenso jardim, assente sobre uma base quadrangular, sendo ladeado por uma alameda alcatroada que separa o monumento dos canteiros e das demais zonas ajardinadas.

 É um local pleno de significado e que ocupava o primeiro lugar dos locais a visitar do meu roteiro.

Países com uma história recente de independência e um passado colonial violento tendem a exacerbar o sentimento nacional, exaltando-o, e a procurar nele encontrar a força que conduz à unidade da nação e à sua perenidade. Nem sempre será assim, havendo casos em que em causa não está o aprofundamento desse sentimento, funcionando esse apelo patriótico à defesa do regime. Nos estados autoritários tende-se a confundir tal sentimento e o amor à pátria com o a mor ao regime e ao partido no poder. Nas democracias são coisas inconfundíveis, e o sentimento nacional indonésio de que me apercebi nalgumas conversas envolve um apego aos novos valores da jovem democracia e o orgulho pelas conquistas económicas e a solidariedade nacional que tem feito o país crescer, com excepção do período da Covid, de forma consistente e a taxas entre os 4,6 e os 5% nas últimas duas décadas.   

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O Monas foi construído no local que era no tempo colonial o centro do governo e do poder neerlandês, era conhecido como a Koningsplein, ou Praça do Rei. Fica no centro de um parque com 80 hectares, aí se realizando muitos eventos oficiais. Em 1 de Maio pp., o chamado May Day, ali discursou o Presidente Prabowo Subianto.

A norte do monumento está a antiga residência dos governadores coloniais, actualmente ocupada pelo presidente e o seu gabinete. A sul ficam as instalações do vice-Presidente, do Governador de Jacarta, as instalações do parlamento provincial e o “bunker” que alberga a Embaixada dos EUA. A oeste situam-se o Museu Nacional, o Tribunal Constitucional e algumas importantes empresas, ficando a leste diversos ministérios e a sede do Movimento Pramuka, mais conhecido como a organização nacional dos escuteiros indonésios, que de certo modo deu continuidade ao escutismo iniciado em 1912 nas então Índias Orientais Holandesas.

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Com uma altura de 132 metros, a construção oficial do Monas só se iniciou em 1961, fazendo parte do projecto do primeiro presidente, Sukarno, tendo sido na ocasião objecto de muita controvérsia. A sua imponência e custo, numa altura em que o país alcançara num passado ainda demasiado próximo a sua independência, e lutava por criar infra-estruturas que permitissem o seu desenvolvimento, num período de grandes carências para a maioria da população, dividiram opiniões. Acabaria por só ser inaugurado em 12 de Julho de 1975.

O formato do Monas representa a união de um falo (liinga) e de uma vagina (yoni), símbolos de prosperidade e fertilidade, havendo também quem o compare com um pilão e um almofariz usados para triturar o arroz. O monumento é todo ele simbólico visto que foi inaugurado em 17 de Agosto, possuindo da base ao topo do graal exactamente 17 metros. A altura do interior do Museu de História é de 8 metros, número que corresponde ao mês da inauguração, e o comprimento de cada lado do graal quadrangular é de 45 metros, uma vez que o ano da independência foi 1945.

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A chama que está no topo, significando o espírito de luta contra o colonialismo, foi toda revestida com 28 Kg de ouro, doados por um homem de negócios de Aceh, ou Achém, em português, na ponta setentrional de Sumatra. Àqueles juntar-se-iam mais 35 Kg de ouro, que passariam a 50 Kg quando foi celebrado o cinquentenário da independência. Até 1991 era ali que também se realizava a Feira de Jacarta.

O museu que está no interior é local de peregrinação e romaria de turistas e de muitos estudantes, com vitrines cheias de reproduções de cenas históricas, batalhas, da ocupação, da libertação e da independência, mostrando-se os diversos períodos históricos e recriações da proclamação da independência, da aprovação da Constituição e de muitos outros acontecimentos de interesse nacional. Tem um local de culto numa das suas esquinas. Num dos lados da estrutura existe um elevador que leva os visitantes ao topo do monumento, de onde em dias claros se pode avistar quase toda a cidade e os edifícios das redondezas.

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No meio existe ainda uma sala, se bem me recordo o chamado Hall of Independence, onde se pode ver o brasão de armas do país, o mapa da Indonésia gravado a ouro no mármore, uma porta que simboliza a entrada de uma mesquita e um excerto da declaração de independência.

Nas proximidades do Monas ficam a Mesquita de Istiqlal e a Catedral de Santa Maria da Assunção, de aqui deixei anteriormente menção.

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Quanto à primeira, importa referir que pode albergar até 120 mil fiéis. É a maior mesquita do sudeste asiático e a terceira do mundo. Inaugurada por Sukarno em 22 de Fevereiro de 1978, é um templo recente, curiosamente projectado por um arquitecto cristão, em 1954, Frederich Silaban, do norte de Sumatra. A mesquita levou mais de década e meia a ser construída e foi directamente supervisionada pelo presidente indonésio. Ocupa nove hectares e tem cinco pisos. A cúpula tem quarenta e cinco metros de diâmetro, assente sobre um rectângulo com doze colunas. Possui sete portas, cada uma delas simbolizando a entrada para um dos paraísos do Islão.

Catedral e mesquita são dois grandes símbolos da tolerância religiosa do país e a prova disso é que durante as celebrações e épocas festivas, num e no outro templo, os cristãos que se dirigem à Catedral podem estacionar no parque da Mesquita, e vice-versa, coisa que há umas décadas em Bruxelas seria impensável no parque de estacionamento da Televisão da Bélgica, onde valões não estacionavam os seus veículos nos locais habitualmente ocupados pelos flamengos.

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Se depois de passar por aqui ainda não tiver derretido com a canícula e a humidade, e tiver vontade de continuar a descobrir a cidade, o melhor é apanhar um táxi, aproveitar para se refrescar, e percorrer os cerca de 10 Km que separam a esquina da Jalan Lapangan Banteng da zona de Kota Tua, onde se encontra o Museu da Cidade de Jacarta, o Museu do Banco da Indonésia, o Museu de Cerâmica e a célebre Praça de Fatahillah, outrora conhecida como a Praça de Batávia. Se tiver tempo disponível e quiser poupar as 75.000 rupias que me custou a viagem pode sempre apanhar o autocarro da TransJakarta e seguir até ao fim da linha.

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Os locais das redondezas de Kota Tua, onde também existe uma Chinatown, a que por razões certamente compreensíveis não fui, estão bastante degradados. Como aliás sucede com o Museu da Cidade, a precisar de obras de restauro e de condições que ajudem a preservar o seu interior, em especial as pinturas, fotografias e as magníficas peças de porcelana da Companhia das Índias Orientais Holandesas e o mobiliário que ali precariamente se conserva. Não fosse a madeira do melhor que há no mundo e há muito que teriam ido para o lixo. Vale a pena a visita para se perceber como nasceu a cidade e a razão para muitos dos problemas de natureza ambiental que hoje enfrenta.

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Há alguns edifícios e armazéns de estilo colonial, que mereciam ser recuperados e onde se poderiam fazer coisas bastante interessantes. De restaurantes a bares, hotéis de charme e galerias de arte, mas o braço do rio que por ali se passeia tem demasiado lixo, o cheiro é não raro pestilento, e a rede de esgotos, digo eu que sou um leigo na matéria, precisa de ser totalmente renovada, o que não deve atrair muitos empresários.

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Cafés, alguns restaurantes de qualidade duvidosa, pequenas lojas de souvenirs e artistas de rua, a que se juntam centenas de crianças das escolas, utilizam o espaço da praça para se divertirem e andarem de bicicleta ou de skate, assim dando cor, luz e animação ao local, em particular ao final da tarde, quando aproveitam para tirar fotografias, se divertirem, meterem conversa com um viajante mais demorado que por ali ande, sempre rindo muito e mostrando as suas impecáveis dentaduras, enquanto se vão pendurando à vez nos canhões da praça.

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