Clair Obscur: Expedition 33 — esperança em meio ao desespero

Clair Obscur: Expedition 33 é uma agradável fusão de elementos e história cativante, e uma bela homenagem ao gênero JRPG de turnos Clair Obscur: Expedition 33 — esperança em meio ao desespero

Mai 3, 2025 - 18:27
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Clair Obscur: Expedition 33 — esperança em meio ao desespero

Clair Obscur: Expedition 33 é o título de estreia da Sandfall Interactive, uma desenvolvedora francesa independente composta por cerca de 30 profissionais (33, talvez?), o que torna seu feito ainda mais impressionante.

Estes conseguiram mesclar suas principais influências, de Final Fantasy e Persona à obra de Hidetaka Miyazaki, em um produto original que renova sensivelmente o gênero JRPG de turnos, em uma roupagem única e uma história cheia de sentimento.

Clair Obscur: Expedition 33 (Crédito: Divulgação/Sandfall Interactive/Kepler Interactive)

Clair Obscur: Expedition 33 (Crédito: Divulgação/ Sandfall Interactive/Kepler Interactive)

Luz e Trevas

A história Clair Obscur: Expedition 33 remete a um evento cataclísmico chamado "Fratura", ocorrido 67 anos antes dos eventos narrados no game, que arrasou o Continente e despedaçou nações inteiras. Um desses fragmentos é a cidade insular de Lumière, similar à Paris da Belle Époque; há vários pontos turísticos reconhecíveis, como a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, mas destruídos e distorcidos por forças irresistíveis.

A "Fratura" trouxe a esse mundo uma criatura de poderes inimagináveis chamada "Artífice", que se instalou no Continente e ergueu nele um monólito onde, todos os anos, ela "pinta" um número. Ao fazer isso, todos que alcançaram a idade correspondente, morrem na hora, e a cada ano, o número diminui. A humanidade, condenada a menos de um século de existência, tenta responder com expedições de combatentes, dispostos a enfrentar a criatura, mas todas até então falharam.

O game começa no dia do gommage (do francês "esfoliar", uma referência à maneira como os marcados pela Artífice morrem, "descascando" até virarem pó e pétalas de flores) em que a Artífice pintará o número "33", e a história é centrada em Gustave, um idealista membro da próxima expedição, que só tem mais um ano de vida antes de ser ceifado como todos os outros, incluindo sua amada Sophie, que ele não pôde salvar.

Clair Obscur: Expedition 33 (Crédito: Reprodução/ Sandfall Interactive/Kepler Interactive)

Clair Obscur: Expedition 33 (Crédito: Reprodução/ Sandfall Interactive/Kepler Interactive)

A construção de mundo de Clair Obscur: Expedition 33 é bastante única, o sentimento de desespero dos personagens principais e NPCs diante de um destino aparentemente inevitável é tangível, a cena da morte no prólogo é pesada e deixa claro que, mesmo com poucos dispostos a enfrentar a situação, as apostas são altas demais.

Gustave e os outros membros da Expedição 33 decidem que ao invés de esperar a morte, eles gastarão seu último ano de vida tentando salvar o que resta da humanidade.

Forma e Função

Os devs da Sandfall nem tentam esconder serem fãs do gênero JRPG de turnos, solidificado pelos games das séries Final Fantasy (que sejamos sinceros, abraçou o ARPG nas últimas versões) e Persona, e recentemente revitalizado pelo excelente Metaphor: ReFantazio. A identidade visual do modo de combate de Clair Obscur: Expedition 33 é claramente inspirada nos games da Atlus, mas há várias inclusões interessantes aqui.

Os desenvolvedores adicionaram elementos comuns a jogos de ação, especialmente os Souls-like, com a esquiva e o parry (aparada) sendo essenciais para reduzir o dano infligido a seus personagens, e aumentar as cargas para a execução de técnicas especiais. Cada um dos 6 membros da Expedição 33 possui habilidades distintas, Gustave é o mais focado em ataques corpo-a-corpo, Lune é o equivalente a uma maga, com habilidades elementais, e Maelle é um espadachim com mais de uma postura de ataque.

Clair Obscur: Expedition 33 (Crédito: Divulgação/ Sandfall Interactive/Kepler Interactive)

Clair Obscur: Expedition 33 (Crédito: Divulgação/ Sandfall Interactive/Kepler Interactive)

Assim como em jogos de ação, você também precisa construir a árvore de habilidades de cada membro da equipe, e algumas escolhas permitem maior sinergia entre eles, por exemplo, Maelle é capaz de causar mais dano em inimigos afligidos por ataques de fogo, providos por Lune.

A curva de aprendizado do combate, por outro lado, é um pouco íngreme. Não há indicativo visual de quando é o momento certo para aparar o golpe de um inimigo, como os flashes dourados em Zenless Zone Zero, por exemplo. É preciso memorizar todas as ações do adversário para saber esquivar ou defender no momento correto, e não raras serão os momentos que os monstros usarão fintas, só para fazê-lo errar e como resultado, sua energia será devastada.

Já a exploração é bem ampla, as áreas bloqueiam quase que totalmente o HUD, é preciso prestar atenção em cada canto e fresta, para encontrar itens e puzzles a serem resolvidos. Há aqui também uma pílula de influência de Hidetaka Miyazaki, é possível descansar em pontos específicos das dungeons e recuperar seus itens de energia, mas todos os inimigos ressurgirão, e da mesma forma, NPCs com missões, objetivos, nada disso é marcado, logo, você que se vire.

A combinação de elementos tradicionais de RPGs e de jogos de ação e Souls-like pode soar como um samba da Artífice doida, mas tudo funciona incrivelmente bem, quando você se acostuma. Talvez o único incômodo seja algumas gafes em QoL (Quality of Life), por exemplo, não é possível comparar os status de equipamentos em lojas, claro, nada que comprometa a experiência.

Clair Obscur: Expedition 33 (Crédito: Divulgação/ Sandfall Interactive/Kepler Interactive)

Tecnicamente o jogo é excelente. A Sandfall migrou da Unreal Engine 4 para a UE 5 durante a fase de desenvolvimento, de modo a poder usar os recursos exclusivos Nanite, o sistema de virtualização geométrica e escalonamento de pixels, e o Lumen, de iluminação realista de ambientes e objetos, além de uma maior capacidade para renderização e animação.

O resultado visual é um game que transita entre o fotorrealismo e uma apresentação mais artística, com personagens e ambientes parecendo que foram desenhados e pintados à mão. A ambientação é complementada pela excelente trilha musical composta por Lorien Testard, e efeitos sonoros de qualidade.

A dublagem, por sua vez, está disponível em inglês, com um trabalho excelente de atores como Charlie Cox (Demolidor: Renascido), Jennifer English (Baldur’s Gate III), Andy Serkis (Planeta dos Macacos: A Guerra), Kirsty Rider (The Sandman), e Ben Starr (Final Fantasy XVI), e em francês, que eu particularmente achei mais adequada.

Conclusão

Clair Obscur: Expedition 33 mal chegou e já se solidificou como um dos grandes lançamentos de 2025. Um RPG com aproximadamente 60 horas de conteúdo, entre a história principal (dica: não tente aprender muito sobre ela antes de jogar) e side-quests com uma excelente apresentação, um enredo original, e uma fusão inteligente e curiosa entre elementos de gêneros distintos.

Como se não bastasse, o título está sendo oferecido com preço acessível, bem abaixo do topo reservado para os AAA (que pode subir em breve, e bastante), além de ter sido incluído no Xbox Game Pass no dia do lançamento, nesta quinta-feira (24).

Clair Obscur: Expedition 33 (Crédito: Divulgação/ Sandfall Interactive/Kepler Interactive)

Para quem gosta de JRPGs de turno, ou estava buscando uma história mais profunda e com sentimento, Clair Obscur: Expedition 33 oferece uma narrativa envolvente e cheia de reviravoltas, personagens carismáticos, um mundo cheio de potencial a ser explorado, e mecânicas de combate e exploração reunidas de forma criativa.

Eu diria que os franceses da Sandfall Interactive mereceram toda a atenção e elogios que estão recebendo, e os inevitáveis prêmios que deverão chegar no futuro, além de se tornarem um dos mais promissores estúdios independentes estreantes. Eu sugiro ficar de olho em seus próximos projetos, enquanto desbrava o Continente para por fim ao reino de terror da Artífice.

Clair Obscur: Expedition 33 — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS5, Xbox Series X|S, e Windows (analisado no Windows);
  • Desenvolvedora — Sandfall Interactive;
  • Distribuidora — Kepler Interactive;
  • Classificação Indicativa — 18 anos.

Pontos fortes:

  • Enredo, ambientação, e mundo bastante originais;
  • Mescla interessante entre RPG de turnos e jogos de ação;
  • Trilha sonora casa perfeitamente com o clima.

Pontos fracos:

  • Alguns ajustes de QoL seriam bem-vindos.

Clair Obscur: Expedition 33 — esperança em meio ao desespero