Clair Obscur: Expedition 33: a história do mundo explicada

A história de Clair Obscur: Expedition 33 é uma construção de fantasia épica, metalinguagem sobre criação artística, abstrações surrealistas e relações entre personagens bem desenvolvidos em um contexto de sobrevivência da espécie.Ou seja: há muito a se contar por aqui. Não pretendo esgotar a história inteira neste texto e nem interpretá-la, concentrando apenas no relato. Ainda há mais para descobrir e, quando houver uma lacuna, deixarei isso claro.Começarei do começo, antes da Expedição 33 partir em sua jornada rumo ao terrível desconhecido, então as respostas para os mistérios começam cedo.Mais de Clair Obscur: Expedition 33Dicas para expedicionáriosEntenda as mecânicas de batalha de cada personagemUm conto de duas cidadesEsta é uma versão fantasiosa de nosso mundo. Pelos globos que encontramos no jogo, a geografia, as fronteiras e os nomes dos continentes e oceanos são os mesmos da Terra real que habitamos. A América do Sul está delineada ali, à beira do Atlântico, mas esta é uma história que se passa do outro lado das águas, na Europa. Em vez de Paris, essa terra de fantasia tem outra Cidade das Luzes para chamar de sua: Lumiére.O período histórico reflete a Belle Époque, uma época que, na vida real, foi de grande progresso tecnológico e duradoura ilusão de paz promovida pelo fim da guerra Franco-Prussiana, em 1871. A França saiu vitoriosa, expandindo seus territórios coloniais e difundindo seu prestígio de arte, elegância e beleza.Em Clair Obscur: Expedition 33 há duas Lumiéres: a original e aquela que existe apenas em uma pintura mágica. Da primeira, sabemos muito pouco. O principal para nossa história é que nela existem dois grupos em conflito: os Artífices e os Escritores.(O original em francês é “Peintresse”, enquanto em inglês é “Paintress”, o que seria traduzido como uma maneira rebuscada de dizer “Pintora”. Em português foi escolhido o termo “Artífice” e, de fato, outras artes plásticas têm seu espaço na representação do jogo, mas é a pintura que está no lugar central de arte criadora em Clair Obscur: Expedition 33)Nessa sociedade, se destaca a família Dessendre, especialmente Aline, a líder do Conselho Artífice, e seu marido Renoir (o casal é uma referência ao famoso pintor francês Renoir e sua esposa Aline Charigot, mas não sei dizer se há mais elementos de influência no personagem).O pintor Pierre-Auguste Renoir e sua esposa Aline Charigot (cerca de 1915)Os Artífices têm um dom: eles são capazes de criar mundos inteiros com suas pinturas de Chroma, uma espécie de tinta mística, e de entrar neles, podendo habitá-los por vários anos. Ficar tempo demais em um mundo pintado é perigoso para o artista, que pode ser consumido pela sedução de uma vida idealizada e falsa, enquanto seu corpo original permanece fora, diante do quadro, como alguém em coma.O tempo passa de forma diferente dentro das pinturas, então décadas inteiras podem transcorrer naqueles mundos enquanto apenas dias ou semanas passam na Lumiére real.Certa vez, Renoir se perdeu ao ficar tempo demais em um de seus quadros e foi resgatado por Aline, que o ensinou a lidar com os riscos de usar o dom sem limites. Não sei se foi assim que eles se tornaram um casal, mas é certo que o acontecimento reforçou a cumplicidade e a confiança que um tinha no outro.A criação do mundoAparentemente, o dom é hereditário, pois os três filhos dos Dessendre também o usam desde a infância. A mais velha, Clea, ajudou o irmão Verso a povoar um quadro que ele pintou quando menino. Era um mundo preenchido com a criatividade ingênua das crianças e seus primeiros habitantes foram Esquie e François, que, junto com os irmãos, viveram dias felizes e tranquilos de aventura infantil.Esquie parece um balão de tecido e foi baseado em um boneco costurado fora da pintura. Ele é extremamente poderoso e pode até voar, se tiver consigo suas pedras mágicas Florrie, Soarrie e Urrie. François é uma pedra falante com uma máscara, imóvel em sua caverna, e tornou-se ranzinza depois que Clea e Verso deixaram de visitar aquele mundo, após uma tragédia que mudou a vida da família Dessendre.Verso colocou em seu quadro outros povos imaginados por ele e esculpidos em artesanato. Eram os gestrais, com corpos de madeira, uma máscara no lugar do rosto, cabeleira de pincel e uma lógica simplória de estar sempre prontos para lutar, seja por esporte ou por necessidade. Inteligência não é o forte deles. Havia ainda os grandis, seres de pedra, gentis e corpulentos, também mascarados. Assim como Esquie, eles sabiam que sua vida acontecia em um mundo inventado, mas isso não era um problema. Afinal, aquela era a realidade deles, tão legítima quanto qualquer outra.Clea também confeccionou criaturas diversas a partir de rabiscos e rascunhos, sem um planejamento específico para qualquer uniformidade, as quais seriam mais tarde chamadas de Nevrons por outros habitantes da pintura. Vários deles podiam ser encontrados na Torre Eterna, uma construção alta como montanhas, criada pela moça como um local par

Mai 5, 2025 - 20:51
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Clair Obscur: Expedition 33: a história do mundo explicada

A história de Clair Obscur: Expedition 33 é uma construção de fantasia épica, metalinguagem sobre criação artística, abstrações surrealistas e relações entre personagens bem desenvolvidos em um contexto de sobrevivência da espécie.

Ou seja: há muito a se contar por aqui. Não pretendo esgotar a história inteira neste texto e nem interpretá-la, concentrando apenas no relato. Ainda há mais para descobrir e, quando houver uma lacuna, deixarei isso claro.

Começarei do começo, antes da Expedição 33 partir em sua jornada rumo ao terrível desconhecido, então as respostas para os mistérios começam cedo.

Mais de Clair Obscur: Expedition 33

Um conto de duas cidades

Esta é uma versão fantasiosa de nosso mundo. Pelos globos que encontramos no jogo, a geografia, as fronteiras e os nomes dos continentes e oceanos são os mesmos da Terra real que habitamos. A América do Sul está delineada ali, à beira do Atlântico, mas esta é uma história que se passa do outro lado das águas, na Europa. Em vez de Paris, essa terra de fantasia tem outra Cidade das Luzes para chamar de sua: Lumiére.



O período histórico reflete a Belle Époque, uma época que, na vida real, foi de grande progresso tecnológico e duradoura ilusão de paz promovida pelo fim da guerra Franco-Prussiana, em 1871. A França saiu vitoriosa, expandindo seus territórios coloniais e difundindo seu prestígio de arte, elegância e beleza.

Em Clair Obscur: Expedition 33 há duas Lumiéres: a original e aquela que existe apenas em uma pintura mágica. Da primeira, sabemos muito pouco. O principal para nossa história é que nela existem dois grupos em conflito: os Artífices e os Escritores.
(O original em francês é “Peintresse”, enquanto em inglês é “Paintress”, o que seria traduzido como uma maneira rebuscada de dizer “Pintora”. Em português foi escolhido o termo “Artífice” e, de fato, outras artes plásticas têm seu espaço na representação do jogo, mas é a pintura que está no lugar central de arte criadora em Clair Obscur: Expedition 33)
Nessa sociedade, se destaca a família Dessendre, especialmente Aline, a líder do Conselho Artífice, e seu marido Renoir (o casal é uma referência ao famoso pintor francês Renoir e sua esposa Aline Charigot, mas não sei dizer se há mais elementos de influência no personagem).
O pintor Pierre-Auguste Renoir e sua esposa Aline Charigot (cerca de 1915)

Os Artífices têm um dom: eles são capazes de criar mundos inteiros com suas pinturas de Chroma, uma espécie de tinta mística, e de entrar neles, podendo habitá-los por vários anos. Ficar tempo demais em um mundo pintado é perigoso para o artista, que pode ser consumido pela sedução de uma vida idealizada e falsa, enquanto seu corpo original permanece fora, diante do quadro, como alguém em coma.

O tempo passa de forma diferente dentro das pinturas, então décadas inteiras podem transcorrer naqueles mundos enquanto apenas dias ou semanas passam na Lumiére real.

Certa vez, Renoir se perdeu ao ficar tempo demais em um de seus quadros e foi resgatado por Aline, que o ensinou a lidar com os riscos de usar o dom sem limites. Não sei se foi assim que eles se tornaram um casal, mas é certo que o acontecimento reforçou a cumplicidade e a confiança que um tinha no outro.



A criação do mundo

Aparentemente, o dom é hereditário, pois os três filhos dos Dessendre também o usam desde a infância. A mais velha, Clea, ajudou o irmão Verso a povoar um quadro que ele pintou quando menino. Era um mundo preenchido com a criatividade ingênua das crianças e seus primeiros habitantes foram Esquie e François, que, junto com os irmãos, viveram dias felizes e tranquilos de aventura infantil.

Esquie parece um balão de tecido e foi baseado em um boneco costurado fora da pintura. Ele é extremamente poderoso e pode até voar, se tiver consigo suas pedras mágicas Florrie, Soarrie e Urrie. François é uma pedra falante com uma máscara, imóvel em sua caverna, e tornou-se ranzinza depois que Clea e Verso deixaram de visitar aquele mundo, após uma tragédia que mudou a vida da família Dessendre.



Verso colocou em seu quadro outros povos imaginados por ele e esculpidos em artesanato. Eram os gestrais, com corpos de madeira, uma máscara no lugar do rosto, cabeleira de pincel e uma lógica simplória de estar sempre prontos para lutar, seja por esporte ou por necessidade. Inteligência não é o forte deles. Havia ainda os grandis, seres de pedra, gentis e corpulentos, também mascarados. Assim como Esquie, eles sabiam que sua vida acontecia em um mundo inventado, mas isso não era um problema. Afinal, aquela era a realidade deles, tão legítima quanto qualquer outra.

Clea também confeccionou criaturas diversas a partir de rabiscos e rascunhos, sem um planejamento específico para qualquer uniformidade, as quais seriam mais tarde chamadas de Nevrons por outros habitantes da pintura. Vários deles podiam ser encontrados na Torre Eterna, uma construção alta como montanhas, criada pela moça como um local para “brincar”, isto é, lutar contra suas criações.

A tragédia

Tudo mudou drasticamente após a morte de Verso, quando ele tinha apenas 26 anos. A questão envolveu o conflito com os Escritores e a terceira filha dos Dessendre, Alicia, de 16 anos. Ambos foram vítimas de um incêndio e o irmão deu a vida para tentar proteger a mais nova, que saiu com queimaduras muito graves. A pele do rosto de Alicia ficou como uma grande cicatriz derretida que, além da dor constante, custou-lhe um olho e as cordas vocais. Ela só conseguia falar em sussurros com grande esforço, ficando confinada em sua casa.
(A história por trás desses acontecimentos é o maior mistério que ainda não descobri. Será algo para um possível DLC?)


Toda a família entrou em um luto profundo, cada um à sua maneira. Clea ficou inconformada e culpou Alicia pelo ocorrido, lembrando-a disso sempre que falava com a irmã, com ressentimento e rispidez disfarçados de razão e pragmatismo. Ela amava a família, mas não deixou de ser uma manipuladora passivo-agressiva. A primogênita mergulhou no conflito com os Escritores e tentou obter o apoio dos parentes nessa luta, mas eles eram guiados por outros sentimentos de perda.



A Artífice

Aline definhou tanto que não suportou mais viver naquela realidade pela falta do filho que morreu e pela dor da filha que sobreviveu. Ela passou a se refugiar no quadro de Verso por cada vez mais tempo, sendo o único lugar em que sentia alguma paz. Isso a distanciou de sua própria realidade e ela pintou naquele mundo uma cópia de Lumiére com sua própria população. Em meio à nova humanidade do quadro, ela pintou uma nova família para si: outro Renoir, outra Clea, outro Verso e outra Alicia. Sem suportar a ideia de perdê-los, porém, tornou-os imortais. A humanidade não sabe que foi criada há tão pouco tempo.



Com a forma de uma grande escultura estilhaçada e sem rosto, com longos cabelos brancos, Aline ficou dentro de um gigantesco Monólito, como uma deusa que sustenta o mundo com sua pintura.

Renoir ficou desesperado. Ele sabia que isso faria com que sua esposa se perdesse até que não houvesse mais volta. Assim, ele mesmo entrou no quadro e passou a tentar trazê-la de volta de várias formas. Até criou os Axons, seres tão grandes quanto a Artífice, capazes de sustentar uma barreira que a prende dentro do Monólito. Como Aline também conseguiu prendê-lo em um local abaixo do Monólito, a disputa entre eles foi transformada em uma batalha de atrito na qual um mina a resistência do outro.


Confinado, Renoir só consegue se manifestar no mundo pintado parcialmente, na forma de escultura fragmentada e sem rosto, sendo conhecido como Curador. Sob essa identidade, ele veio a ajudar a Expedição 33, da qual falaremos mais tarde.

Era intenção do marido que a Artífice fosse derrotada para enfim libertar Aline daquela ilusão que ela mesma criou. Clea ajudou Renoir fazendo seus Nevrons atacarem as criações de Aline, isto é, os humanos do quadro, para evitar que o Chroma deles pudesse ser reutilizado pela Artífice e, com isso, enfraquecer a matriarca pouco a pouco até que o pai fosse capaz de superar a esposa e trazê-la de volta.

A filha mais velha teve ainda outro plano: convenceu Alicia a entrar no quadro como uma nova pessoa, gestada e nascida lá dentro até que estivesse pronta para ajudar Renoir. A intenção dela não era salvar a mãe, mas usar a irmã para conseguir que o pai alcançasse seus objetivos e finalmente retornasse para se juntar a ela nas tramas de vingança contra os assassinos de seu irmão.

Foi assim que a menina sobrevivente, Alicia, foi transfigurada e renasceu no quadro como Maelle, vivendo por 16 anos sem qualquer lembrança de sua vida original.



A Ruptura

A Ruptura foi um grande cataclisma que resultou do embate entre Aline e Renoir, que usaram meios cada vez mais drásticos. Foi uma batalha tão violenta, com a participação dos Axons, que partiu o mundo em pedaços e lançou parte de Lumiére no meio do mar, fazendo a cidade passar a ser uma ilha.

Os alicerces originais da cidade ainda podem ser encontrados no continente, chamados de Velha Lumiére, mas permanecem desabitados, exceto por Nevrons. Várias porções de terra foram lançadas ao céu e lá ficaram, como um vasto arquipélago voador de destroços e tormentas. Desde então, a Artífice ficou confinada ao Monólito, cercada pela barreira dos Axons.



A população de Lumiére criou uma expedição para investigar o ocorrido. O grupo era liderado pelo Renoir do quadro e seus filhos Clea e Verso, e conseguiu chegar até a barreira que cercava a Artífice, onde foram barrados pela Clea original. Ela explicou a situação na esperança de que eles desistissem de interferir nos assuntos dos Dessendre, mas o resultado não saiu como ela esperava.

Se Renoir, Verso e Alicia já sabiam de sua imortalidade e o poder que detinham dentro do quadro, não sei dizer. O que posso afirmar é que, a partir dali, eles passaram a tentar proteger suas famílias, cada um à sua maneira. A Clea do quadro, por sua vez, foi dada como morta, mas, na verdade, teve um destino pior.

A Clea original era a Artífice mais talentosa dos Dessenre, tendo a capacidade de pintar seu Chroma até mesmo sobre as pinturas de outras pessoas, tomando-as para si. Ela não via as pinturas como seres vivos dotados de alma, então não se importava com o seu sofrimento. Desprezando sua cópia criada por Aline, ela a pintou completamente com novos tons de cinza e dourado, levando-a a uma mansão flutuante. Ali, a Clea do quadro passou décadas como uma serva sem vontade própria nem voz, pintando os novos Nevrons de sua dominadora.



E não foi só isso. A Clea da pintura tinha um namorado chamado Simon, que também participou da expedição. Fingindo ser a amada dele, a Clea original o imbuiu de poder para derrotar sozinho o Axon que ficava abaixo de Lumiére. Essa força permitiu que Simon adentrasse o Monólito para matar a Artífice, mas Aline revelou ao expedicionário que o verdadeiro adversário, Renoir, estava nas profundezas do Monólito, onde fazia seus esboços.

Ela o ensinou que, se o marido fosse vencido e expulso da pintura, a vida de Lumiére seria preservada e Simon conseguiria resgatar sua Clea. Mesmo imbuído de tanto poder bruto, capaz de invocar numerosas armas de Chroma de uma vez, o guerreiro não conseguiu derrotar Renoir e acabou jogado no fundo do Abismo, tendo perdido a mente pelo efeito da pintura feita pela Clea original.



“Ano após ano, ela nos apaga”

“Aquela que controla o Chroma controla o quadro”, dizia Clea. Como essa era a substância vital da criação, isto é, uma espécie de tinta mágica dos Artífices, o plano dela era privar a mãe de recuperar o Chroma já utilizado na pintura. Isto é, impedir que a essência das pessoas mortas pudesse retornar para ela. Para isso, ela fez seus Nevrons atacarem as Expedições, deixando suas vítimas em um estado semelhante à petrificação, retendo o Chroma dentro de si.

Presa e cada vez mais enfraquecida na resistência a Renoir, a Artífice recorreu a uma alternativa terrível: ela passou a usar suas forças restantes para proteger apenas uma parte de suas criações mais novas, deixando as mais antigas vulneráveis ao apagamento de Renoir. Para prolongar tanto a sua luta quanto a existência das pessoas em geral, ano a ano ela excluía de seu poder um grupo escolhido pela idade, os mais velhos ainda vivos. O número pintado é apenas um melancólico aviso para aqueles que entrarão em seu último ano de vida se preparem.

É por isso que esse destino, que as pessoas de Lumiére chamam de Gommage, não afetava os Gestrais e Grandis: foram criados por Verso e, por enquanto, não são alvo de Renoir.



Embora a Artífice real estivesse dentro do Monólito, uma versão titânica dela residia aos pés do monumento, encolhida em melancolia. É tão grande que podia ser vista do outro lado do mar, em Lumiére, assim como o número que ela pintava na pedra. Um ano após a inscrição, ela apagava o que havia escrito e, com isso, dava o mesmo destino a centenas, talvez milhares de pessoas a cada vez. Ano após ano, o número diminuiu e a humanidade também.

Como ela começou a colheita pelos indivíduos de 100 anos, primeiro mal havia pessoas a serem apagadas. À medida que o número foi diminuindo, cada vez mais a população viu suas vidas afunilando ralo abaixo, esvaindo-se inexoravelmente, aproximando-se do fim absoluto.



A família do quadro

O Renoir da pintura sabia que, se a Artífice fosse destruída, Aline seria retirada do quadro e eles deixariam de ser imortais. Primeiro, passou a auxiliar as Expedições juntamente com Verso, seu filho criado, na intenção de que pudessem libertar a Artífice e ela voltasse a dominar toda a pintura.

Verso se apaixonou por Julie, uma integrante de uma expedição antiga, mas ela se voltou contra ele quando percebeu que o homem não morreu após um ataque devastador de um Nevron. As suspeitas a respeito de Verso e Renoir culminaram em uma tragédia para os expedicionários e um trauma para Verso. Renoir mudou seu ponto de vista, dizendo ao filho que aquelas pessoas eram criações de Clea e buscavam eliminar a Artífice, não salvá-la.

Por isso, Renoir se tornou um inimigo das Expedições e as exterminou quando pôde. Não fazia isso com prazer, mas também não hesitava em matá-los porque acreditava que suas ações eram pelo bem maior de sua família e de Lumiére, uma vez que, sem a Artífice, toda a população da pintura também pereceria juntamente com ele.



O Verso da pintura, por sua vez, ficou contra o pai e tentou impedi-lo. Ambos carregavam cicatrizes semelhantes de um confronto violento entre si e, mesmo podendo curar seus corpos, preferiram carregar essas marcas como lembranças de suas escolhas pessoais. O filho permaneceu tentando ajudar as Expedições a alcançar a Artífice, pois, mesmo sendo uma cópia criada, via Aline como sua mãe e desejava que ela pudesse viver livremente fora do quadro, sem estar presa à ilusão e ao luto que a afligia e consumia sua vida.

Essa era uma verdade que Verso não pôde revelar às Expedições, pois não o ajudariam se soubessem as consequências de seus objetivos. Ele tinha ainda outros motivos: estava cansado de sua existência imortal, que o fazia ver gerações após gerações morrerem sem esperança.

A Alicia do quadro também era uma figura imortal e poderosa, mas não tomou lados. Ela permaneceu junto ao pai na Mansão onde viviam, mas também encontrava o irmão de vez em quando. Assim como a menina original, seu rosto era queimado, o que ela ocultava parcialmente com uma máscara de cerâmica. Ela estava cansada dos conflitos familiares e esperava poder acabar com seu sofrimento, que já havia se estendido por tempo demais. Logo ela encontraria sua chance, ao conhecer Maelle, a Alicia original.



O amanhã se aproxima

Essa é a história pregressa de Clair Obscur: Expedition 33, explicada na reviravolta que separa o Ato II do Ato III. Com toda essa preparação, poderemos seguir para a história da própria Expedição 33, já entendendo o que estava em jogo para aquele mundo. Veremos na segunda e última parte de nosso relato!
Revisão: Beatriz Castro