China flexibiliza exportações de terras raras em trégua comercial temporária com os EUA

A China anunciou a suspensão temporária de parte das restrições à exportação de metais de terras raras, em meio a um novo acordo com os Estados Unidos que visa reduzir tensões comerciais entre os dois países. A medida, válida por 90 dias a partir desta segunda-feira, 13, inclui a suspensão de contramedidas não tarifárias adotadas […] O post China flexibiliza exportações de terras raras em trégua comercial temporária com os EUA apareceu primeiro em O Cafezinho.

Mai 14, 2025 - 18:40
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China flexibiliza exportações de terras raras em trégua comercial temporária com os EUA

A China anunciou a suspensão temporária de parte das restrições à exportação de metais de terras raras, em meio a um novo acordo com os Estados Unidos que visa reduzir tensões comerciais entre os dois países.

A medida, válida por 90 dias a partir desta segunda-feira, 13, inclui a suspensão de contramedidas não tarifárias adotadas desde 2 de abril e a redução da maioria das tarifas bilaterais.

Os metais afetados pela suspensão das restrições fazem parte do grupo das chamadas terras raras “médias e pesadas”, cuja exportação havia sido limitada pela China no início de abril. A flexibilização, no entanto, não se estende a outros minerais estratégicos que continuam sob controle rígido de Pequim.

O acordo foi interpretado por analistas como um gesto de contenção por parte da China, que continua mantendo o controle regulatório sobre a exportação desses recursos. Wang Xiaosong, professor de economia da Universidade Renmin, afirmou que a decisão reflete uma estratégia calculada.

“Ao afrouxar as restrições moderadamente agora, [a China] está adotando uma estratégia de empinar pipa: não deixar a linha arrebentar nem permitir que a pipa voe descontroladamente”, disse.

“Isso evita provocar o oponente a tomar medidas desesperadas que poderiam, na verdade, ajudar os EUA a se libertarem da China.”

Desde a imposição das restrições em abril, os preços de certos elementos de terras raras médios e pesados subiram mais de 200% nos mercados internacionais, segundo relatório da Zhongtai Securities divulgado em 11 de maio.

A elevação dos preços foi atribuída à escassez desses metais, especialmente porque empresas estrangeiras como Lynas Rare Earths e MP Materials operam com capacidade limitada para processar terras raras pesadas, concentrando suas atividades nos elementos leves.

Os metais médios e pesados, como térbio e disprósio, são essenciais na produção de ímãs de alto desempenho, armazenamento de dados digitais e aplicações em defesa, aeroespacial e tecnologia avançada. Esses elementos, mais raros e de difícil extração, integram uma lista de 17 terras raras reconhecidas como críticas para setores industriais estratégicos.

A China responde atualmente por cerca de 60% das reservas globais e 90% do refino desses minerais, segundo dados de mercado. As exportações chinesas estão sujeitas a aprovação regulatória prévia e são frequentemente utilizadas como ferramenta de negociação em disputas comerciais internacionais. A recente trégua não elimina a possibilidade de novas restrições, caso as negociações bilaterais não avancem.

“Se, dentro de 90 dias, os EUA se recusarem a cumprir questões como tarifas e sanções tecnológicas, [a China] pode imediatamente retomar o corte de fornecimento — esta é uma estratégia de troca de recursos por tempo e espaço”, declarou Wang.

Apesar do alívio temporário no fornecimento, analistas apontam que empresas americanas permanecem cautelosas quanto à dependência contínua da cadeia produtiva chinesa.

“Independentemente de essas negociações anunciarem estabilidade a longo prazo ou não, há um reconhecimento de que praticamente qualquer coisa pode tornar a disponibilidade de terras raras via China inacessível em algum momento”, afirmou Jon Hykawy, presidente da consultoria Stormcrow Capital, com sede em Toronto.

Nos últimos dois anos, importadores norte-americanos buscaram fontes alternativas desses minerais em regiões como África, Austrália, Ucrânia e Ásia Central. No entanto, a estrutura global de produção continua concentrada na China, o que limita a capacidade de substituição no curto prazo.

O Ministério do Comércio da China anunciou, no mesmo dia da trégua, o fortalecimento das inspeções alfandegárias e o combate a práticas irregulares, como contrabando e reexportações disfarçadas por terceiros países.

Em nota divulgada na quarta-feira, 15, a pasta reiterou a necessidade de controlar rigorosamente todas as etapas da cadeia produtiva dos minerais estratégicos.

“Controlar a exportação de minerais estratégicos tem impacto na segurança nacional e nos interesses de desenvolvimento, e impedir o escoamento ilegal de minerais estratégicos exige o controle fortalecido de todos os elos da cadeia de produção e fornecimento”, informou o ministério.

A decisão da China é acompanhada por preocupações de autoridades e especialistas nos Estados Unidos. Pini Althaus, CEO da Cove Capital e especialista em cadeias de suprimento mineral, avaliou que a flexibilização dos controles pode ser recebida positivamente pelos setores que mais dependem desses insumos, como o de defesa, automotivo e eletrônico. No entanto, ele alertou que essa medida não elimina os riscos de longo prazo.

“Do ponto de vista da segurança nacional e da resiliência econômica, a retomada das exportações pela China é uma solução paliativa e uma faca de dois gumes”, disse. “Se isso levar a uma dependência e complacência renovadas, acabará por minar os esforços dos EUA para construir uma cadeia de suprimentos segura e independente.”

A trégua comercial, embora limitada, reabre espaço para que os dois países retomem o diálogo sobre temas sensíveis da agenda econômica bilateral.

Ao mesmo tempo, reforça a posição estratégica da China no mercado global de minerais críticos e a utilização desses recursos como instrumento de pressão em negociações internacionais. O resultado das conversas nos próximos 90 dias será decisivo para definir se haverá novos avanços ou se as restrições voltarão a ser implementadas.

Com informações da SCMP

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