Caso Vitória: leia os principais pontos do depoimento de suspeito

Versão apresentada por Maicol contrasta com as evidências apontadas pela perícia. Defesa diz que pedirá anulação do depoimento em momento oportuno

Mar 24, 2025 - 18:46
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Caso Vitória: leia os principais pontos do depoimento de suspeito

Em depoimento, o suspeito pelo assassinato de Vitória Regina, Maicol Sales dos Santos, confessou que agiu sozinho para matar a adolescente. O interrogatório ocorreu na semana passada e, no domingo (23/3), o Fantástico, da Rede Globo, divulgou a gravação do depoimento.

Segundo o suspeito, os dois tiveram se encontraram uma vez e por isso Vitória estava ameaçando informar à esposa dele sobre o envolvimento deles. Ele relatou que, após uma discussão, a adolescente o agrediu, e em resposta, ele desferiu dois golpes de faca que resultaram na morte dela. No entanto, segundo a matéria do Fantástico, foi constatado pela perícia três ferimentos.

A versão apresentada por ele também contrasta com as evidências encontradas no veículo. Os peritos encontraram uma possível mancha de sangue e um fio de cabelo no porta-malas. Maicol alegou ter limpado apenas essa parte e descartado a faca utilizada no crime em um rio.

O corpo de Vitória foi encontrado dias depois em um terreno vazio. Todavia, Maicol afirmou que havia enterrado a vítima, mas o corpo foi localizado sobre o solo, em um lugar diferente do que ele havia indicado. Nas proximidades, a polícia encontrou uma enxada e uma pá, que supostamente foram empregadas no delito. A polícia não questionou sobre o fato dele ter usado ferramentas de seu padrasto durante o interrogatório.

Maicol foi preso em 8 de março. A prisão temporária foi decretada devido a relatos de testemunhas, que indicam que ele estava próximo ao crime, e também porque seu carro foi visto na cena do assassinato. Foi ainda relatada movimentação suspeita em sua casa no dia do desaparecimento da adolescente.

Em nota, a defesa de Maicol afirmou que "questiona, veementemente, a conduta adotada pelo delegado responsável pelo caso, que, sem ordem judicial, agendou a realização de uma perícia psiquiátrica. Tal medida desrespeita expressamente o artigo 149, §1º, do Código de Processo Penal, tornando sua realização ilegal e arbitrária". Ela ainda diz que "adotaremos todas as medidas cabíveis para garantir que Maicol Antônio Sales dos Santos tenha um julgamento justo, sem vícios processuais ou arbitrariedades" (leia na íntegra a nota no fim da matéria).

Consultada pelo Correio, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo alegou que "após decisão da Justiça, o pedido de habeas corpus dos advogados de defesa do suspeito foi negado. O mesmo permanece preso temporariamente e as investigações prosseguem pela Delegacia de Cajamar para a conclusão do inquérito policial. A Polícia Civil ressalta que todos os procedimentos adotados no caso, inclusive o depoimento do suspeito, obedeceram estritamente o Código de Processo Penal".

Crime

Vitória deixou o shopping onde trabalhava e caminhou até um ponto de ônibus em 26 de fevereiro. Durante o trajeto, ela mandou mensagens a uma amiga dizendo estar com medo de dois homens em um carro que a assediaram e de outros dois rapazes que entraram com ela no coletivo.

Testemunhas revelaram que ela desceu sozinha em Ponunduva, bairro rural de Cajamar, onde morava com a família. A adolescente não foi mais vista.

Depois de uma semana de buscas, na quarta-feira (5/3), cães farejadores da Guarda Civil Municipal encontraram o corpo de Vitória. Ela estava nua, com a cabeça raspada e machucada, em uma mata fechada.

Ao todo, sete pessoas são investigadas por envolvimento no crime: o ex-namorado de Vitória, um "ficante", dois jovens que a assediaram no carro, os outros dois no ônibus a caminho da casa dela e um rapaz que teria emprestado o veículo a eles.

 

Nota da defesa 

A defesa de Maicol Antônio Sales dos Santos questiona, veementemente, a conduta adotada pelo delegado responsável pelo caso, que, sem ordem judicial, agendou a realização de uma perícia psiquiátrica. Tal medida desrespeita expressamente o artigo149, §1º, do Código de Processo Penal, tornando sua realização ilegal e arbitrária.

Além disso, causa extrema preocupação o momento em que essa perícia foi determinada: apenas um dia após a suposta confissão de Maicol, que, por si só, já está cercada de graves irregularidades. A ausência dos advogados constituídos no ato, a realização da oitiva durante o período de repouso noturno e a coação psicológica sofrida e relatada pelo investigado são elementos que não podem ser ignorados.

Diante desse cenário, a defesa questiona: qual o verdadeiro interesse da Polícia Civil nessa avaliação psiquiátrica? Haveria uma tentativa de validar uma confissão extraída sob questionáveis circunstâncias?O objetivo seria encerrar as investigações a qualquer custo, mesmo em detrimento das garantias fundamentais do investigado?

Reafirmamos que o devido processo legal deve ser respeitado em sua integralidade. A Constituição Federal e os tratados internacionais de direitos humanos não admitem procedimentos que violem direitos individuais e comprometam a busca pela verdade real. Seguimos vigilantes e adotaremos todas as medidas cabíveis para garantir que Maicol Antônio Sales dos Santos tenha um julgamento justo, sem vícios processuais ou arbitrariedades.