Asilados em embaixada da Argentina na Venezuela são resgatados

Operação foi realizada pelos EUA; secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, classificou resgate como "preciso" e líder da oposição María Corina Machado, como "impecável" e "épica"

Mai 7, 2025 - 05:35
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Asilados em embaixada da Argentina na Venezuela são resgatados

O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), anunciou na 3ª feira (6.mai.2025) que os 5 venezuelanos que estavam asilados na Embaixada da Argentina em Caracas (Venezuela), foram libertados e estão em solo norte-americano.

A operação, realizada de surpresa, foi classificada como “precisa” pelo secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio. Disse que os opositores ao governo de Nicolás Maduro (Partido Socialista Unidos da Venezuela, esquerda) eram reféns. O grupo é formado por colaboradores da principal líder da oposição, María Corina Machado, que atuaram na campanha de Edmundo González nas eleições de julho de 2024.

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“O regime ilegítimo de Maduro minou as instituições venezuelanas, violou os direitos humanos e colocou em risco nossa segurança regional. Agradecemos a todo o pessoal envolvido nesta operação e aos nossos parceiros que ajudaram a garantir a libertação segura desses heróis venezuelanos”, escreveu Rubio em sua página no X ao anunciar a operação.

O grupo estava asilado na embaixada argentina há mais de 1 ano. Os asilados haviam buscado refúgio no local depois de a Procuradoria Geral da Venezuela acusá-los de conspiração e “traição à pátria”.

O governo brasileiro assumiu a segurança da representação da sede diplomática em 1º de agosto de 2024 depois que o governo venezuelano determinou a expulsão do corpo diplomático do país liderado por Javier Milei (La Libertad Avanza, direita) e outras 6 nações da América Latina. Não há funcionários brasileiros no local.

A medida se deu porque, à época, os governos contestaram a legitimidade da reeleição de Maduro nas eleições de 28 de julho de 2024. O corpo diplomático e os militares argentinos deixaram a Venezuela atendendo à notificação de Maduro.

O papel brasileiro na embaixada argentina é de, principalmente, custodiar as instalações e os arquivos. O país também havia se tornado responsável por assegurar a proteção dos integrantes da oposição ao governo chavista, que estavam abrigados na embaixada em Caracas. Por diversas vezes, o Brasil atuou junto ao governo venezuelano para garantir condições de habitação no local, como energia elétrica.

María Corina Machado comemorou o sucesso da operação em uma publicação na sua página no X. “Uma operação impecável e épica pela liberdade de 5 heróis da Venezuela. Meu infinito reconhecimento e gratidão a todos aqueles que tornaram isso possível”, disse.

Em um comunicado publicado pelo gabinete de Milei no X, o governo argentino reconhece a “exitosa operação”. Sem fazer qualquer menção ao Brasil ou a Lula, o texto diz que o líder argentino estende seus agradecimentos a todos os envolvidos e, especialmente, a Marco Rubio por seu “compromisso pessoal”  na operação de resgate.

“Além disso, o governo nacional aprecia profundamente os esforços feitos para garantir a segurança e o bem-estar daqueles que estão há muito tempo sob a proteção argentina da perseguição do regime de Nicolás Maduro. Esta ação representa um passo importante na defesa da liberdade na região”, diz o comunicado.

RECLAMAÇÃO A LULA

Em 28 de abril, o grupo que estava na embaixada enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com cobranças por uma solução que assegurasse a saída do grupo do local.

Na carta, os opositores criticaram a omissão dos representantes brasileiros e pediram celeridade no processo.

“Hoje completamos 404 dias desde que ingressamos nesta sede diplomática, e mais de 5 meses sem eletricidade nem água corrente, em condições que violam os direitos humanos básicos. Essa situação se agrava pelo cerco policial constante nos arredores da sede diplomática. […] Presidente Lula, já esperamos há mais de 1 ano uma ação concreta que garanta nossa saída segura, acompanhados por seu governo, preservando nosso direito à vida, o qual tememos diante da ameaça contínua que enfrentamos”, dizia um trecho do documento. Eis a íntegra (PDF – 346 kB).

Desde que assumiu a segurança da embaixada, o governo brasileiro vinha tentando negociar um salvo conduto para que o grupo pudesse deixar o local e seguir para uma base aérea ou aeroporto para sair do país. O governo de Maduro nunca concedeu tal pedido.

Segundo o grupo, o “silêncio” de Lula sobre a situação era contraditório e manchava a imagem do governo brasileiro. “Hoje, a bandeira do Brasil é humilhada, como somos humilhados nós diariamente dentro desta embaixada, que transformaram em prisão”, afirmaram os opositores à época.

“Em um contexto no qual a memória histórica e a justiça são valores defendidos pelo governo brasileiro, nós nos encontramos presos em um limbo, sem os salvo-condutos que são um direito dentro dos marcos dos convênios internacionais firmados. Imagine o que é passar mais de 5 meses sem eletricidade, sem água nas tubulações e com ameaças físicas constantes. O silêncio dói muito”, dizia a carta.

ENCONTRO COM MADURO

Lula deve se encontrar com Maduro na Rússia nesta semana. O petista embarcou na 3ª feira (7.mai) para participar da comemoração do 80º aniversário do Dia da Vitória.

A data marca a conquista dos Aliados contra a Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial, a ser celebrada na 6ª feira (9.mai). O presidente da Rússia, Vladimir Putin, convidou tanto Lula quanto Maduro para a cerimônia. Esta será a 1ª vez que os líderes sul-americanos se encontrarão pessoalmente desde as eleições na Venezuela, em julho de 2024.

O pleito que reelegeu Maduro foi marcado por controvérsias em relação à legitimidade do resultado. À época, Lula inicialmente disse não haver “nada de anormal” com o processo eleitoral venezuelano, mas que esperaria a divulgação dos resultados oficiais pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral). Em agosto de 2024, o governo brasileiro, junto com o mexicano e o colombiano, cobrou a divulgação das atas de votação pela gestão Maduro.

Nicolás Maduro tomou posse em janeiro de 2025, mas Lula não compareceu. A embaixadora brasileira em Caracas, Gilvânia Maria de Oliveira, representou o país na cerimônia. A ausência do petista marcou o afastamento entre os líderes, que cultivavam uma relação amistosa até então.