AHP que conclusão das obras na Portela e “aviões de maior capacidade” para slots existentes

A Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) vai a eleições a 21 de abril. O atual presidente, Bernardo Trindade, já anunciou a sua recandidatura. Em entrevista ao JE aborda os constrangimentos que o novo aeroporto de Lisboa tem sobre o setor, fala sobre o impacto do 'Integrar para o Turismo" na atividade e da importância da IA no negócio hoteleiro. Caso seja reeleito, Bernardo Trindade pretende negociar um novo contrato coletivo de trabalho e continuar a aumentar o número de associados.

Abr 16, 2025 - 07:29
 0
AHP que conclusão das obras na Portela e “aviões de maior capacidade” para slots existentes

A Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) vai eleições a 21 de abril. O atual presidente Bernardo Trindade candidata-se para mais um mandato. Em entrevista ao Jornal Económico (JE) o hoteleiro faz o balanço do mandato que agora termina, revela quais serão as suas prioridade caso seja reeleito, aborda a questão do novo aeroporto, e o impacto que o programa ‘Integrar para o Turismo’ tem tido no setor.

Relativamente ao novo aeroporto de Lisboa, Bernardo Trindade alerta para a necessidade de se acelerar esta obra tendo em conta que o “forte condicionamento” da infraestrutura aeroportuária, da Portela, enquanto principal porta de entrada em Portugal, ao nível das slots e de respostas às companhias aéreas.

Entre as medidas que Bernardo Trindade quer ver implementadas caso seja reeleito está a negociação de um novo contrato de trabalho. O hoteleiro quer ver também a AHP a crescer ao nível do número de associados. Em 12 anos, período que abrange os mandatos que teve na associação enquanto vice-presidente e presidente da AHP, o número de associados mais do que duplicou, sublinha o atual presidente da instituição.

Bernardo Trindade propõe também uma direção paritária caso seja eleito para um novo mandato.

Relativamente ao programa (‘Integrar para o Turismo‘) que visa atrair imigrantes para o turismo, lançado pelo Governo, o atual presidente da AHP defende o seu reforço, e salienta que os imigrantes representam hoje cerca de 30% da mão de obra no turismo.

A Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) vai a eleições a 21 de abril. O atual presidente, Bernardo Trindade, candidata-se a mais um mandato. Em entrevista ao Jornal Económico (JE), o hoteleiro faz o balanço do mandato que agora termina, revela quais serão as suas prioridades caso seja reeleito, aborda a questão do novo aeroporto e o impacto que o programa ‘Integrar para o Turismo’ tem tido no setor.

Relativamente ao novo aeroporto de Lisboa, Bernardo Trindade alerta para a necessidade de acelerar esta obra, tendo em conta o “forte condicionamento” da infraestrutura aeroportuária da Portela, enquanto principal porta de entrada em Portugal, ao nível das slots e das respostas às companhias aéreas.

Entre as medidas que Bernardo Trindade quer ver implementadas, caso seja reeleito, está a negociação de um novo contrato de trabalho. O hoteleiro quer também ver a AHP a crescer ao nível do número de associados. Em 12 anos, período que abrange os mandatos que teve na associação enquanto vice-presidente e presidente da AHP, o número de associados mais do que duplicou, sublinha o atual presidente da instituição.

Bernardo Trindade propõe, ainda, uma direção paritária, caso seja eleito para um novo mandato.

Relativamente ao programa ‘Integrar para o Turismo’, que visa atrair imigrantes para o turismo e que foi lançado pelo Governo, o atual presidente da AHP defende o seu reforço e salienta que os imigrantes representam hoje cerca de 30% da mão de obra no turismo.

Que avaliação é que faz do seu primeiro mandato como presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP)?

O trabalho que nós fizemos neste mandato diria que é de continuidade. Este meu mandato encerra um ciclo de 12 anos em que eu iniciei a atividade associativa, os primeiros nove anos como vice-presidente do Luís Veiga e do Raul Martins e os outros três anos como presidente da AHP. Foi um trabalho de afirmação da associação num quadro mais vasto de afirmação do setor. Em 2013, quando começámos, a AHP tinha cerca de 450 associados. Hoje tem 950, um crescimento de 114%. Neste período, o número de empreendimentos turísticos registados no Registo Nacional de Empreendimentos Turísticos (RNET) cresceu apenas 46%.

Isto significa que a hotelaria reconheceu a utilidade de estar na Associação de Hotelaria de Portugal. E, de facto, este sentimento é um sentimento que perpassa todo o país. Nós hoje temos associados de norte a sul do país, passando pelas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores. E a verdade é que este mandato também foi um mandato muito marcado pelo período pós-Covid 19, e onde fomos muito ativos, na manutenção das linhas de crédito de apoio ao setor, no olhar para as suas maturidades, em adequá-las às necessidades das empresas do setor da hotelaria, em olhar também pela manutenção dos postos de trabalho, algo que foi de facto muito importante, porque na altura no tempo da Covid-19 tivemos os hotéis fechados e tivemos que encontrar com o Estado programas de manutenção dos postos de trabalho, porque não tínhamos receita e, portanto, tínhamos que ser ajudados.

Mas eu não me refiro só ao período pós-Covid 19. Nós temos estado muito ativos também no quadro da própria concertação social. A marca que quisemos deixar foi a atualização dos instrumentos de contratação coletiva, garantindo à força de trabalho melhores condições e maior dignidade no exercício de funções no setor da hotelaria.

E, por outro lado, outra questão que é muito importante, onde também temos estado muito ativos é no olhar sobre os mercados e a procura por Portugal. E a verdade é que, de facto, temos crescido muito. Só nos últimos cinco anos o número de hóspedes em Portugal cresceu cerca de 25%, passando de 16 para 19,4 milhões de hóspedes estrangeiros. E, felizmente, para nós também, esse crescimento não foi só quantitativo, foi também qualitativo. Ou seja, neste mesmo período nós passamos de 18 mil milhões de euros de receitas turísticas para 28 mil milhões de receitas turísticas, um crescimento de mais de 50%.

O que significa que o turista que nós estamos a atrair para Portugal é um turista que aporta valor e um valor superior à variação do número de turistas. Acho que estamos a andar bem e queremos continuar a ser muito participativos neste processo de afirmação do setor. Foi neste pano de fundo que nós decidimos nos recandidatar.

Recuando no tempo deu conta aquando da passagem do Congresso da AHP, pela Madeira, em 2024, que existia este contraste entre por um lado de uma subida nas receitas e por outro lado de um aumento das despesas do setor. As coisas já estão mais equilibradas ao nível das receitas e das despesas?

O setor do turismo é de facto o setor da economia portuguesa cujo contributo em termos de saldo é mais significativo e mais importante para a economia portuguesa. Nós temos 28 mil milhões de euros de receitas e em termos de saldo, que é no fundo o balanço entre as despesas que são feitas por portugueses quando saem, face às receitas, digamos, àquilo que cada turista não português deixa em Portugal, este saldo é de 20 mil milhões de euros.

Quanto à sua pergunta da despesa, nós não somos indiferentes aquilo que se passa no mundo há três anos, aquando do início da guerra, a questão energética foi uma questão muito significativa porque impactava no negócio e de facto é interessante porque Portugal sendo pioneiro no quadro das energias renováveis, nós conseguimos integrar neste composto de fornecimento energia produzida dentro da nossa casa. É verdade que ela é mais cara, mas ela é mais sustentável, é mais limpa, e garante mais futuro. Esse é também um domínio importante.

Nós como não somos indiferentes àquilo que se passa no mundo, e a instabilidade no mundo não rima com confiança para poder viajar e para poder despender. E portanto, isso são balanços que são variáveis e que nós temos que continuar a acompanhar.

O setor ainda sofre de algum impacto que tenha sido provocado pela pandemia da Covid-19?

Eu acho que apesar de tudo aquilo que o tempo nos vem mostrando é que nós recuperamos mais rapidamente do que pensávamos. Para quem teve atividade zero nós recuperamos mais rapidamente e de facto isso permitiu-nos continuar a acreditar e a continuar a investir.

Uma coisa que foi muito importante e isso nós temos procurado também pensar um pouco para os próprios sindicatos, é que houve uma preocupação muito grande nos acordos coletivos para repor poder de compra perdido. Uma vez que tivemos uma inflação mais elevada, as variações salariais foram mais baixas. Nesse período, isso significava que as pessoas em termos líquidos, em termos do seu poder de compra, viam o seu poder de compra um bocadinho afetado. Mas ao longo deste tempo, como recuperámos mais rapidamente do que prevíamos, nós podemos repor esse poder de compra muito mais rapidamente no que diz respeito ao fator do trabalho e isso não deixa de ser positivo.

Ou seja, as coisas nesta altura pode-se dizer que já estão normalizadas?

Como digo sempre, tendencialmente normalizada, ainda que nós não somos imunes àquilo que se passa no mundo. E tendo duas guerras neste momento com implicações económicas e com um poder diferente nos Estados Unidos da América que repõe, que impõe tarifas de importação, isto obviamente no equilíbrio da geopolítica, da geoestratégica, tem significado. Temos que continuar a acompanhar a situação.

Em termos do setor hoteleiro que impacto tem tido as duas guerras (Rússia e Ucrânia e a do Médio Oriente), e depois a questão das tarifas?

Eu diria que nesta fase nós temos passado um bocadinho pelos pingos da chuva. É o resultado também, um pouco, do trabalho que o país teve oportunidade de fazer nos últimos anos, de forma continuada, quer os poderes públicos, quer as empresas, quer as associações, de construírem uma relação de confiança com quem nos visita que é importante. Isso tem-se revelado nos números.

Candidata-se a mais um mandato na liderança da AHP. A sua ideia, caso seja reeleito, passa por ter um mandato de continuidade ou eventualmente quer introduzir novas ideias?

Nós queremos mais associados e mais parceiros. Vamos pela segunda vez realizar um marketplace, agora em maio, que no fundo busca juntar associados com parceiros para que possam fazer comércio, para que possam ligar-se e a nossa ideia é proporcionar aos nossos associados melhores condições de mercado no acesso a um conjunto vasto de serviços que o setor da hotelaria precisa e requer.

E isso é uma coisa que nós queremos muito fazer, porque temos bem a noção de que hoje a vida associativa e a receita de uma associação como a AHP já não é só as quotas dos associados, é também aquilo que os parceiros de vários domínios, seja de vários domínios da hotelaria, de vários serviços, quer do digital, quer do mobiliário, quer da parte têxtil, são vastíssimos os domínios onde o setor tem que emparceirar. Esse é também um grande objetivo nosso.

Como também é no domínio da sustentabilidade e da responsabilidade social. E é por isso que queremos o nosso programa, o ‘Heart’, que desde 2013 envolveu cerca de 362 hotéis associados da AHP e mais de 179 IPSS. O setor hoteleiro é um setor que está permanentemente a se atualizar, porque é uma exigência do cliente. Portanto, há um conjunto vasto de imobiliário e equipamentos que nós temos que podem ter outra vida útil para além deste circuito exclusivamente hoteleiro.

E queremos, portanto, ter mais hotéis e IPSS a participarem no ‘Heart’. Acho que a afirmação do setor hoteleiro também passa muito por aí.

Queremos também ter melhor informação, melhores estatísticas com a participação dos nossos associados, porque tendo melhor informação, eles podem também usar essa informação para poder decidir novos investimentos. Em relação aquilo que nós propomos em termos de lista nós pela primeira vez vamos ter uma direção paritária, entre homens e mulheres, e em que o sétimo elemento, que sou eu, vai decidir.

E queremos de alguma maneira também alargar o nosso âmbito, ou seja, nós temos hotelaria do norte a sul do país. Temos a Madeira, cujo representante na direção sou eu, e como representante regional, é o Roberto Santa Clara Gomes. Mas vamos alargar desta vez aos Açores e vamos ter a Andrea Pavão, que é uma hoteleira da Região Autónoma dos Açores, também na direção, precisamente para conferir o logo desta nossa candidatura, que é uma AHP para todo país.

Ou seja, também termos representantes por todo o país. Queremos um novo contrato coletivo de trabalho. Queremos continuar a trabalhar junto dos stakeholders do setor, seja o Governo, o Turismo de Portugal, as associações, queremos participar na questão do novo aeroporto, e da abertura do capital da TAP. Temos que continuar a ser participativos neste processo.

Caso seja reeleito, tem metas em termos do crescimento de associados e de empreendimentos?

A nossa ambição está muito ligada com a ambição do setor. E o que para mim é muito importante é perceber que, de facto, o crescimento de associados tem sido acompanhado por uma crescente valorização do setor. Isso é muito bom.

E, portanto, eu mais do que estar aqui a definir metas é dizer-vos, que num quadro alargado, o setor da hotelaria reconheceu na AHP um parceiro, fez-se sócio e, portanto, crescemos muito, 114% em 12 anos.

Quando o número de empreendimentos registados no RENET, foi apenas de 46%. É continuar o trabalho de afirmação. Vamos ter também, neste mandato, pela primeira vez, um projeto piloto de termos a AHP, que tem sede em Lisboa, a ligar a todo país. Queremos ter mais um colaborador, desta vez descentralizado, na cidade do Porto, a tratar, a cuidar dos nossos associados na região norte e depois em função da avaliação que faremos dessa pessoa, poder eventualmente estender isso a todo o país.

O setor do turismo tem tido um crescimento muito assinalável, principalmente no pós-pandemia da Covid-19. Tendo em conta o contacto que vão tendo no terreno com os vossos associados o que é que projetam para o futuro? É de acreditar que este ritmo de crescimento se vai manter a este nível ou pode existir um crescimento mais brando?

É sempre difícil fazer previsões quando nós temos crescido ano após ano. E portanto, o concorrente do ano de 2025 é aquilo que se atingiu em 2024. Isso, se corrermos para trás, é sempre essa a sequência. Verificamos um enorme interesse por Portugal. Verificamos um continuado interesse de investidores internacionais em investirem em Portugal.

Desde logo estão previsto para Lisboa e para o Porto um conjunto vasto de novos empreendimentos, há um enorme interesse pela Madeira, grupos nacionais e estrangeiros a quererem investir e a verem que hipóteses é que existem de procederem a aquisições. Isso é bom. Mas também temos de olhar para o lado da procura. Ou seja verificar se o número de turistas também continua a crescer para poder encher e para poder gerar bons níveis de ocupação e de preço nos nossos hotéis.

E temos uma limitação desde logo. A limitação do aeroporto de Lisboa é uma limitação. A ausência de resposta ao nível dos slots é uma limitação. Não acontece no Porto, não acontece na Madeira, não acontece no Algarve.

A nossa principal porta de entrada em Portugal, o aeroporto de Lisboa, está condicionada. E portanto, como é evidente, isto é um desafio para o futuro. Sobretudo porque a perspetiva do novo aeroporto é uma perspetiva ainda muito longínqua, com metas muito ambiciosas do ponto de vista do consumo de recursos e do próprio modelo de financiamento. E portanto nós temos de olhar para aquilo que temos. E aquilo que temos é o Aeroporto da Portela.

É um aeroporto que está hoje fortemente condicionado em termos de slots e de respostas às companhias aéreas.

Portanto do seu ponto de vista é importante acelerar o mais rápido possível este processo do novo aeroporto, sob pena do turismo ser impactado ….

É isso. Mas com a consciência de que estamos a falar de uma infraestrutura com implicações, em termos de recursos como água, luz, combustíveis, recursos financeiros, o próprio modelo de financiamento que, neste momento, está tudo muito aberto.

Portanto, é importante concluir as obras na Portela, e garantir que hoje os slots existentes possam ser feitos por aviões de maior capacidade. É preciso termos uma campanha muito forte para o aumento da estadia média em Lisboa para garantir que o mesmo turista passa mais tempo aqui, consome mais, e gera mais receita. São temas que são hoje absolutamente fundamentais. Porquê? Porque como temos esta limitação e esta, digamos, indefinição, em relação ao início de funcionamento do novo aeroporto temos que encontrar respostas até lá.

A inteligência artificial tem ganho nos últimos anos uma importância muito relevante em termos mundiais. Ao nível da hotelaria e do turismo, os vossos associados já sentem esse impacto? E por outro lado como o setor pode potenciar o desenvolvimento da inteligência artificial?

A inteligência artificial é hoje um parceiro fundamental para nós no quadro da presença da digitalização na economia do turismo. Ajuda muito. Nós hoje somos muito escrutinados em termos do serviço que entregamos. E temos que gerir toda essa informação. E a inteligência artificial ajuda-nos. Por outro lado, a definição dos níveis de preço face aos níveis de ocupação que existem, há modelos, que, de alguma maneira, nos sugerem como atuar. E isso é obviamente muito positivo. Agora, toda esta informação tem que ser usada com bons valores, com bons princípios, com princípios éticos aceitáveis para que nós possamos, no fundo, tirar os benefícios sem que de alguma maneira outras práticas possam influenciar o normal funcionamento da nossa atividade.

Mas o nível da adoção da inteligência artificial é elevado?

É tendencialmente bastante elevado e nós estamos neste momento com parceiros nossos a desenvolver programas que depois colocamos ao dispor dos nossos associados.

Um estudo da CBRE colocava Portugal nos lugares cimeiros ao nível da atração de investimento. Do seu ponto de vista, o que é que justifica esta posição cimeira de Portugal neste ranking?

Significa que alguma coisa de bom nós fizemos como país. E eu que estou há 20 anos em permanência no setor do turismo percebo bem o que de bom temos feito. Isso obviamente não nos retira a responsabilidade, não nos cega quanto aos desafios que temos pela frente, mas devemos estar obviamente todos muito orgulhosos. Mas atenção, eu continuo a dizer que este entusiasmo tem que ser acompanhado por um lado pela procura de modo a que possamos  manter esse equilíbrio. Este deve ser acompanhado também por melhor regulação para que os impactos, e as externalidades negativas em resultado de alguns excessos possam ser melhor reguladas e fiscalizadas. E portanto é neste quadro que nós devemos trabalhar.

Do seu ponto de vista Portugal tem condições para se manter nos postos cimeiros na atração de investimento?

Este trabalho do setor do turismo, mesmo politicamente, tem sido um trabalho de continuidade. Se nós repararmos, independentemente do ciclo político e de quem tem responsabilidades de governo em Portugal, tem havido sempre a preocupação de manter uma linha condutora. E isso é muito positivo porque traz confiança, estabilidade, e previsibilidade. E isso de alguma maneira também interpela os próprios agentes públicos locais a darem uma atenção especial à evolução do setor.

O Governo lançou o ‘Integrar para o Turismo’ um programa que tem como objetivo integrar os migrantes. O Bernardo Trindade por diversas vezes já tem alertado para a necessidade que o setor tem em recorrer a mão de obra estrangeira. Do seu ponto de vista como tem corrido este programa promovido pelo Governo?

Como ponto de partida nós hoje já não nos bastamos a nós próprios. O turismo e a Hotelaria são atividades de mão de obra intensiva. Precisam de portugueses e de não portugueses para se poder desenvolver da melhor forma possível, face a um cliente que é muito exigente. Hoje cerca de 30% da mão de obra no setor do turismo é imigrante.

E portanto nós temos que assegurar que este acolhimento que é feito por pessoas não portuguesas, acontece da melhor forma possível, da forma mais digna possível. Por quê? Porque no fim do dia, estas pessoas são responsáveis pela qualidade de serviço que Portugal apresenta. E portanto temos que continuar a fazer isso.

Este primeiro programa de integração dos mil migrantes está a decorrer. Sei bem que o número de candidaturas superou bem este número dos mil migrantes. Temos que continuar esse trabalho assegurando compromissos entre quem emprega, o Estado, nomeadamente, em domínios tão importantes como as competências, como as questões da habitação, do transporte, e da saúde. Este é claramente um desafio que temos pela frente.

Uma atividade de mão de obra intensiva, uma atividade que precisa das pessoas para poder singrar, mas com a consciência de que essas pessoas, que poderão fazer carreira em Portugal, têm que ser integradas para que sendo um dos nossos, poder, no fundo, ajudar no serviço que se quer exigir.

Referiu que este programa tem tido muita procura por parte dos imigrantes superando mesmo a oferta. Defenderia um reforço desse programa? Ou eventualmente serem introduzidas novas medidas para potenciar essa atração de recursos humanos?

Certamente. É um processo. É preciso também que tenhamos consciência do seguinte. Este programa é muito importante e é importante que continue e é importante que se faça a análise e que se perceba o que é possível melhorar. Mas também é importante enfatizar um aspeto que acho que deve ser enfatizado, que tem que ver também com as responsabilidades de cada um. Ou seja, as empresas também não podem elas próprias, de modo próprio, a ser responsáveis em domínios que são responsabilidades do Estado.

Ou seja, é possível que em determinados zonas do país a questão da habitação possa ser suprida por intervenção das empresas. Mas noutras zonas não ser possível. Não é possível porque, em primeiro lugar, não há mercado e há uma intervenção que deve ser uma intervenção eminentemente pública. Mas isso faz-se com equilíbrio, isso faz-se conversando, isso faz-se intervindo nos fóruns. E portanto, acho que esse é também um trabalho importante que temos de fazer.