Administração Trump questiona Harvard sobre doações estrangeiras

A administração de Donald Trump exigiu que a Universidade de Harvard disponibilizasse mais informação sobre as doações estrangeiras que recebeu, segundo avança esta sexta-feira a Bloomberg (acesso pago). É mais um capítulo nas tensões entre a Casa Branca e essa instituição de ensino superior, sendo que, ainda esta semana, esta que é a mais antiga […]

Abr 19, 2025 - 05:16
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Administração Trump questiona Harvard sobre doações estrangeiras

A administração de Donald Trump exigiu que a Universidade de Harvard disponibilizasse mais informação sobre as doações estrangeiras que recebeu, segundo avança esta sexta-feira a Bloomberg (acesso pago). É mais um capítulo nas tensões entre a Casa Branca e essa instituição de ensino superior, sendo que, ainda esta semana, esta que é a mais antiga e mais rica universidade norte-americana perdeu 2,2 mil milhões de euros em financiamento público, por recusar cumprir as exigências de Donald Trump.

De acordo com a Bloomberg, o Departamento de Educação norte-americano enviou o pedido referido a Harvard, depois de ter feito uma revisão dos dados já disponibilizados e ter chegado à conclusão que a informação estava “incompleta” e “imprecisa”.

Em resposta, a universidade em causa garante que cumpriu a lei, tendo reportado os presentes e contratos com contrapartes estrangeiras superiores a 250 mil dólares por ano (cerca de 220 mil euros). “Ao longo da história de Harvard, o apoio de alumni e doadores a todos os níveis tem sido essencial para a nossa excelência contínua na investigação e ensino”, assinala a instituição de ensino superior, em comunicado.

No mês passado, a administração de Donald Trump anunciou que estava a examinar até nove mil milhões de dólares (7,94 mil milhões de euros) em subsídios e contratos federais para Harvard como parte dos seus esforços para combater o antissemitismo nos campus universitários dos Estados Unidos.

Harvard já tinha mostrado abertura para trabalhar no combate ao antissemitismo (e tomou medidas nesse sentido), mas o seu presidente, Alan Garber, deixou claro que as novas exigências (incluindo o fim dos programas de diversidade e a reforma da governação da instituição) eram inaceitáveis. A Administração congelou, assim, 2,2 mil milhões de dólares (1,94 mil milhões de euros) de subsídios plurianuais a Harvard.

Harvard não tem sido o único foco da atual administração norte-americana, que tem mesmo estado atenta a universidades fora dos Estados Unidos.

O Expresso e a Lusa avançaram que o Governo dos Estados Unidos cancelou ao Instituto Superior Técnico (IST) um programa que permitia ter nas suas instalações um espaço de divulgação da cultura americana, tendo a instituição portuguesa sido questionada sobre ligações a organizações terroristas.

O presidente do IST, Rogério Colaço, detalhou à Lusa que recebeu a 5 de março um inquérito com “questões bastante desadequadas” sobre se o IST colaborava ou não, ou era citado ou não em acusações ou investigações envolvendo associações terroristas, cartéis, tráfico de pessoas e droga, organizações ou grupos que promovem a imigração em massa.

O IST decidiu não responder, à semelhança da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, cujo diretor, Hermenegildo Fernandes, disse à Lusa que recebeu o mesmo questionário, que o deixou estupefacto pela “dimensão do descaramento” das perguntas, nomeadamente sobre “agendas climáticas”, se a instituição tinha “contactos com partidos comunistas e socialistas” ou “relações com as Nações Unidas, República Popular da China, Irão e Rússia” e o “que fazia para preservar as mulheres das ideologias de género”.

Além disso, o ECO avançou que a embaixada norte-americana em Lisboa enviou cartas às empresas portuguesas com contratos públicos com os Estados Unidos, de forma a forçá-las a abandonar as políticas de diversidade, equidade e inclusão. Noutros países, foram também enviadas missivas semelhantes. Questionada pelo ECO, a Comissão Europeia já disse estar atenta e a avaliar o impacto destas cartas nas empresas.

“A abdicar, será do mercado dos EUA”

O ECO contactou mais de uma dezena de faculdades de economia e escolas de negócios portuguesas, de modo a perceber se estavam ou não a receber cartas semelhantes às referidas dos Estados Unidos. As instituições questionadas explicaram que não recebem apoios dos Estados Unidos, nem têm parcerias, daí não estarem a receber as missivas em questão. E deixaram claro que as suas iniciativas de diversidade vão continuar.

“Uma coisa é certa: há um conjunto de princípios de que não abdicaremos. A abdicar, será do mercado dos EUA“, assegurou o presidente do Iscte Executive Education, Crespo Carvalho, em declarações ao ECO.

“Consideramos esta situação lamentável, na medida em que compromete a autonomia do ensino superior e da investigação científica. Acreditamos firmemente que a ciência deve ser livre, crítica e apoiada de forma transparente, sem interferências de natureza política ou ideológica“, sublinhou, em sentido semelhante, Óscar Afonso, diretor a Faculdade de Economia da Universidade do Porto.

Por sua vez, João Duque, presidente do ISEG, assinalou que acredita “que um ambiente académico, assente na liberdade intelectual, plural e inclusivo é essencial para a formação de líderes conscientes, responsáveis e preparados para os desafios de um mundo global”. “Por isso, mantemos a nossa estratégia DEI ativa e coerente com os padrões das nossas acreditações internacionais”, garantiu ao ECO.