Acordo EUA-Reino Unido pressiona Europa a alinhar políticas comerciais contra a China

O acordo comercial firmado entre os Estados Unidos e o Reino Unido na última quinta-feira, 9, está sendo analisado por autoridades europeias como possível indicativo das exigências que o governo dos EUA poderá fazer à União Europeia em relação à China. Fontes do bloco europeu e de seus Estados-membros afirmam que o texto do pacto […] O post Acordo EUA-Reino Unido pressiona Europa a alinhar políticas comerciais contra a China apareceu primeiro em O Cafezinho.

Mai 10, 2025 - 16:48
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Acordo EUA-Reino Unido pressiona Europa a alinhar políticas comerciais contra a China

O acordo comercial firmado entre os Estados Unidos e o Reino Unido na última quinta-feira, 9, está sendo analisado por autoridades europeias como possível indicativo das exigências que o governo dos EUA poderá fazer à União Europeia em relação à China.

Fontes do bloco europeu e de seus Estados-membros afirmam que o texto do pacto evidencia a intenção de Washington de excluir Pequim de cadeias globais de fornecimento em setores estratégicos.

Embora o nome da China não apareça explicitamente no documento, referências indiretas a temas como segurança econômica, trabalho forçado e restrições a investimentos foram interpretadas como direcionadas ao país asiático.

“A linguagem neste acordo sobre alinhamento com os EUA em relação ao trabalho forçado, segurança de dados, segurança econômica e proibições de investimentos só pode ser lida como se a China fosse o elefante na sala”, declarou Sam Goodman, diretor sênior de políticas do China Strategic Risks Institute, organização britânica de análise geopolítica.

O texto firmado entre Washington e Londres determina que o Reino Unido atenda exigências americanas quanto à segurança das cadeias de suprimento de aço e alumínio destinados à exportação para os EUA.

Também estipula que o país europeu assegure a natureza da propriedade das instalações de produção desses setores, aspecto entendido como uma referência ao capital chinês presente na indústria britânica.

Além disso, o acordo obriga o Reino Unido a adotar “medidas apropriadas” para garantir a segurança de cadeias de suprimentos de produtos exportados aos EUA que estejam, ou venham a estar, sob investigação conforme a Seção 232 da legislação americana — instrumento usado para justificar restrições comerciais por motivos de segurança nacional. Atualmente, investigações do tipo estão em curso no setor farmacêutico.

Para Henry Gao, professor de comércio internacional da Singapore Management University, a preocupação com a China está no centro da iniciativa.

Ele observa que o pacto aborda temas como propriedade industrial, medidas para evitar triangulação de exportações, coordenação de políticas comerciais e combate ao trabalho forçado. “Tudo direcionado à China sem mencioná-la”, afirmou.

Partes do texto são semelhantes às declarações recentes do Grupo dos Sete (G7), do qual o Reino Unido faz parte. No entanto, Gao avalia que acordos futuros com países do Sudeste Asiático poderão conter cláusulas ainda mais rígidas, em razão da integração dessas economias às cadeias produtivas chinesas.

A assinatura do acordo ocorre em meio à tentativa do governo britânico, liderado pelo primeiro-ministro Keir Starmer, de reaproximar-se da China como estratégia para estimular a economia doméstica.

A formalização de compromissos com os EUA em temas sensíveis como controle de exportações e restrição ao acesso de tecnologias de uso duplo (civil e militar) pode gerar tensões adicionais com Pequim.

“Formalizar essa cooperação em um acordo comercial provavelmente complicará ainda mais as relações do governo do Reino Unido com a China”, avaliou George Riddell, diretor da consultoria Goyder Ltd.

A União Europeia também tem buscado restabelecer canais de diálogo com a China após o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA. O bloco europeu tenta evitar simultaneamente dois confrontos comerciais de grande escala.

A diplomacia entre Bruxelas e Pequim deve se intensificar antes da cúpula prevista para 24 de julho na capital chinesa, ocasião na qual os europeus esperam obter concessões comerciais de Pequim.

Paralelamente, a UE negocia com os Estados Unidos a retirada de tarifas sobre produtos europeus. Atualmente, cerca de 70% das exportações da UE para os EUA estão sujeitas a algum tipo de taxação.

Durante reuniões técnicas realizadas nesta semana em Washington, autoridades europeias relataram que o governo americano demonstrou interesse em coordenar ações para enfrentar a capacidade industrial excedente da China.

O principal receio europeu é de que medidas restritivas dos EUA provoquem o redirecionamento de produtos chineses, com preços reduzidos, para o mercado europeu.

Dados divulgados na sexta-feira sobre o comércio exterior da China indicam queda de 21% nas exportações chinesas para os EUA em abril, enquanto as exportações para a Alemanha aumentaram 20,44%. No mesmo período, as importações da China oriundas da UE caíram 16,46%, conforme cálculos com base em dados oficiais chineses.

Apesar do interesse declarado de Bruxelas em cooperar com os EUA sobre a China, há resistência interna entre os Estados-membros da UE quanto à adoção de medidas mais incisivas.

As tentativas de implementar mecanismos conjuntos de controle de exportações e triagem de investimentos estrangeiros, propostas ainda durante o governo de Joe Biden, enfrentaram oposição no Conselho Europeu.

De acordo com informações do site Politico, países da UE têm atuado para diluir as normas existentes sobre investimentos, no contexto da revisão do atual mecanismo de triagem.

Além disso, há preocupação com a possibilidade de os compromissos assumidos hoje em alinhamento com Washington se tornarem problemáticos caso o próprio governo americano venha a mudar de posição em relação à China.

Analistas sugerem que países europeus, incluindo o Reino Unido, adotem abordagens graduais ao lidar com a presidência de Trump.

“O governo do Reino Unido parece estar adotando uma abordagem passo a passo para lidar com o presidente Trump, na qual eles buscarão definir o significado de compromissos futuros em um tempo mais lento e garantir que sejam compatíveis com outros relacionamentos”, afirmou David Henig, diretor do Reino Unido no Centro Europeu de Economia Política Internacional.

Com informações da SCMP

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