A governabilidade está garantida, o resto logo se verá
(créditos: Homem de Gouveia/LUSA, daqui) Quando em 17/12/2024, o parlamento regional fez cair o Governo regional da Madeira, encabeçado por Miguel Albuquerque, poucos acreditariam que três meses volvidos a mesma pessoa e o mesmo partido (PSD) aumentariam substancialmente o número de votantes, de 49104 para 62085, e ficariam a um deputado da maioria absoluta, engrossando os seus eleitos de 19 para 23, num contexto de redução da abstenção (de 46,6% para 44,02%). Mais a mais numa lista de candidatos que apresentava "nos primeiros quinze lugares quatro candidatos que são arguidos em processos que investigam suspeitas de corrupção e prevaricação na região autónoma". Contudo, foi isso que aconteceu, o que logo levou Luís Montenegro, para lá da natural satisfação do êxito das suas hostes, a prognosticar idêntica vitória para si e o seu PSD nas legislativas de 18 de Maio. Pode ser que os eleitores lhe venham a dar razão, embora antes disso convenha discorrer um pouco sobre os resultados de ontem. Se, por um lado, foi inequívoca a vitória de Miguel Albuquerque, passando o PSD a dispor – pelo menos com o CDS – das condições para garantir o apoio parlamentar necessário a toda a legislatura, importará perceber, por outra banda, até onde e quando poderá ir o novo governo regional. Sem se saber em que ponto estão as investigações do Ministério Público, nem qual será a sua agenda regional, o PSD-Madeira e a sua futura muleta e parceiro de ocasião ficarão na contingência de a qualquer momento ser deduzida acusação, pronunciando-se o presidente do Governo Regional, com o que se tornará inevitável nova queda e o regresso antecipado às urnas. Tirando isso, o PSD tem na Madeira as condições mínimas para governar de forma estável nos próximos quatro anos. Atendendo ao que aconteceu em 2024, e às circunstâncias que ditaram a queda do anterior Executivo, é muito pouco provável que haja mais algum partido disponível para qualquer tipo de acordo, parlamentar ou de governo, com o PSD-M. Nenhum dos demais, com excepção do CDS, estará disponível para chegar a entendimento com um partido cujo líder é arguido num processo por suspeitas de corrupção. Os restantes resultados mostraram um aumento de mais de 7 mil votos para o JPP, que passou de 9 para 11 deputados, e um acréscimo irrelevante e sem consequências práticas na votação da CDU e do Livre, que continuam fora do hemiciclo. O IL conseguiu manter o seu deputado, embora com uma redução do número de votos. O eleitorado potencial do BE tirou-lhe cerca de 17% dos sufrágios que lhe tinha dado há um ano. O CDS-PP ficou com menos um deputado e menos votos, tal como Chega, que viu evaporarem-se cerca de 5 mil eleitores, perdendo 1 deputado. O PAN perdeu o único deputado que possuía. Todos estes, ao lado do PS, foram os indiscutíveis derrotados. O caso do PS é particularmente significativo dada a dimensão do "afundanço" inerente à perda de mais de 6500 votos e de 3 deputados, passando percentualmente de 21,77 % para 15,64%, números indisfarçáveis e que colocam em causa a liderança e a gestão do partido na Madeira, onde continua a ser visível, e risível, o desfasamento deste do eleitorado, o irrealismo das metas – para quem aspirava ser alternativa de governo e afastar Miguel Albuquerque o resultado é medíocre – e a incapacidade de se renovar, modernizar e encontrar alguém com ambição, dinamismo, inteligência e carisma que seja capaz de dar resposta às exigências do eleitorado madeirense, tirando o partido do poço onde se instalou e de onde continua a ver os votos voarem e a abstenção a subir. As lideranças nacionais dos partidos que se apresentaram a sufrágio na Madeira procurarão agora valorizar ou desvalorizar os resultados das eleições regionais com o pensamento nas próximas legislativas, embora fosse avisado que não o fizessem. No território continental não existe o mesmo grau de caciquismo, dependência, isolamento, ignorância e alheamento das grandes questões nacionais e internacionais que existirá em algumas regiões da Madeira, onde tudo é diferente, das preocupações locais às tradições e à influência da Igreja Católica, do presidente da Câmara ou da Junta de Freguesia. E se nesta eleição regional vimos uma redução da abstenção, não só isso não é garantido para as legislativas que aí vêm, como a luta será bem mais renhida de Norte a Sul. Se o eleitorado na Madeira está mais preparado para aceitar como natural a presença nas listas de candidatos arguidos em processos de corrupção, condescendendo nesse convívio entre as maçãs boas e as amostras cheias de lagartas que vão passando de umas para outras, nada garante que a falta e incompletude das explicações de Luís Montenegro sobre as suas muitas e variadas trapalhadas, incluindo em autarquias cujos dirigentes também são arguidos em processos de corrupção e/ou há suspeitas de favorecimento, para além do que entretanto acontecer com a operação Tutti Frutti, não venham a ter reflexos nos resultados eleitorais. Faltam quase dois meses para o

(créditos: Homem de Gouveia/LUSA, daqui)
Quando em 17/12/2024, o parlamento regional fez cair o Governo regional da Madeira, encabeçado por Miguel Albuquerque, poucos acreditariam que três meses volvidos a mesma pessoa e o mesmo partido (PSD) aumentariam substancialmente o número de votantes, de 49104 para 62085, e ficariam a um deputado da maioria absoluta, engrossando os seus eleitos de 19 para 23, num contexto de redução da abstenção (de 46,6% para 44,02%).
Mais a mais numa lista de candidatos que apresentava "nos primeiros quinze lugares quatro candidatos que são arguidos em processos que investigam suspeitas de corrupção e prevaricação na região autónoma".
Contudo, foi isso que aconteceu, o que logo levou Luís Montenegro, para lá da natural satisfação do êxito das suas hostes, a prognosticar idêntica vitória para si e o seu PSD nas legislativas de 18 de Maio. Pode ser que os eleitores lhe venham a dar razão, embora antes disso convenha discorrer um pouco sobre os resultados de ontem.
Se, por um lado, foi inequívoca a vitória de Miguel Albuquerque, passando o PSD a dispor – pelo menos com o CDS – das condições para garantir o apoio parlamentar necessário a toda a legislatura, importará perceber, por outra banda, até onde e quando poderá ir o novo governo regional.
Sem se saber em que ponto estão as investigações do Ministério Público, nem qual será a sua agenda regional, o PSD-Madeira e a sua futura muleta e parceiro de ocasião ficarão na contingência de a qualquer momento ser deduzida acusação, pronunciando-se o presidente do Governo Regional, com o que se tornará inevitável nova queda e o regresso antecipado às urnas.
Tirando isso, o PSD tem na Madeira as condições mínimas para governar de forma estável nos próximos quatro anos.
Atendendo ao que aconteceu em 2024, e às circunstâncias que ditaram a queda do anterior Executivo, é muito pouco provável que haja mais algum partido disponível para qualquer tipo de acordo, parlamentar ou de governo, com o PSD-M. Nenhum dos demais, com excepção do CDS, estará disponível para chegar a entendimento com um partido cujo líder é arguido num processo por suspeitas de corrupção.
Os restantes resultados mostraram um aumento de mais de 7 mil votos para o JPP, que passou de 9 para 11 deputados, e um acréscimo irrelevante e sem consequências práticas na votação da CDU e do Livre, que continuam fora do hemiciclo.
O IL conseguiu manter o seu deputado, embora com uma redução do número de votos. O eleitorado potencial do BE tirou-lhe cerca de 17% dos sufrágios que lhe tinha dado há um ano. O CDS-PP ficou com menos um deputado e menos votos, tal como Chega, que viu evaporarem-se cerca de 5 mil eleitores, perdendo 1 deputado. O PAN perdeu o único deputado que possuía. Todos estes, ao lado do PS, foram os indiscutíveis derrotados.
O caso do PS é particularmente significativo dada a dimensão do "afundanço" inerente à perda de mais de 6500 votos e de 3 deputados, passando percentualmente de 21,77 % para 15,64%, números indisfarçáveis e que colocam em causa a liderança e a gestão do partido na Madeira, onde continua a ser visível, e risível, o desfasamento deste do eleitorado, o irrealismo das metas – para quem aspirava ser alternativa de governo e afastar Miguel Albuquerque o resultado é medíocre – e a incapacidade de se renovar, modernizar e encontrar alguém com ambição, dinamismo, inteligência e carisma que seja capaz de dar resposta às exigências do eleitorado madeirense, tirando o partido do poço onde se instalou e de onde continua a ver os votos voarem e a abstenção a subir.
As lideranças nacionais dos partidos que se apresentaram a sufrágio na Madeira procurarão agora valorizar ou desvalorizar os resultados das eleições regionais com o pensamento nas próximas legislativas, embora fosse avisado que não o fizessem. No território continental não existe o mesmo grau de caciquismo, dependência, isolamento, ignorância e alheamento das grandes questões nacionais e internacionais que existirá em algumas regiões da Madeira, onde tudo é diferente, das preocupações locais às tradições e à influência da Igreja Católica, do presidente da Câmara ou da Junta de Freguesia.
E se nesta eleição regional vimos uma redução da abstenção, não só isso não é garantido para as legislativas que aí vêm, como a luta será bem mais renhida de Norte a Sul.
Se o eleitorado na Madeira está mais preparado para aceitar como natural a presença nas listas de candidatos arguidos em processos de corrupção, condescendendo nesse convívio entre as maçãs boas e as amostras cheias de lagartas que vão passando de umas para outras, nada garante que a falta e incompletude das explicações de Luís Montenegro sobre as suas muitas e variadas trapalhadas, incluindo em autarquias cujos dirigentes também são arguidos em processos de corrupção e/ou há suspeitas de favorecimento, para além do que entretanto acontecer com a operação Tutti Frutti, não venham a ter reflexos nos resultados eleitorais.
Faltam quase dois meses para o acto eleitoral. O comentador-arguido José Sócrates continuará por aí. Os majores-generais russófilos idem. O ambiente favorece este tipo de actores secundários. O cenário internacional manter-se-á imprevisível e efervescente, com uma série de conflitos em curso sem perspectivas realistas de terminarem num prazo razoável. O Presidente Marcelo, perante um governo de gestão, e com Marques Mendes a espreitar em todas as esquinas, adquirirá renovado protagonismo. E verve. Pedro Nuno Santos reinventará com a sua gente as listas de deputados, a ver se não ficam reduzidas a funcionários do partido e coveiros. André Ventura tentará encontrar alguns sósias que o ajudem a preencher lugares numa futura bancada do Chega e adaptar os seus serviços de logística para assegurarem a entrega das encomendas e da correspondência aos seus destinatários. Rui Rocha, para desespero do PAN, não largará nem por um minuto as ovelhas que se aventurem a sair dos currais nas próximas semanas. A CDU, inclusivamente, abalançar-se-á a sonhar com uma vitória eleitoral, uma maioria de esquerda que lhe dê um sopro de vida e a presença de Maduro na Festa do Avante. Como Rui Tavares gostaria de triplicar a bancada do Livre, o que admito que não será difícil se o BE continuar à procura de "defuntos" para encabeçarem as suas listas enquanto as suas dirigentes se forem esvaindo a falarem dos direitos das mulheres trabalhadoras. Até António José Seguro poderá anunciar uma candidatura presidencial. Ou ex-ministro Costa e Silva assinar um novo romance desenvolvendo o tema das "bundas caloríficas". Mesmo a RTP poderá, um dia, nunca se sabe, fazer Fátima Campos Ferreira regressar do Vaticano, no que constituirá um verdadeiro milagre. Tudo é possível.
E quando digo tudo é mesmo tudo, incluindo uma vitória eleitoral de Luís Montenegro. O que nunca acontecerá, estou certo, é que esta, alguma vez, a acontecer, qualquer que seja a sua dimensão, traga consigo a sua absolvição. Ou a absolvição da responsabilidade do Ministério Público e dos tribunais no caos em que hoje vive a política portuguesa.
Isso jamais acontecerá. Nem que Cristo desça à Terra.
E ainda que, como escreveu o Caeiro, o fizesse, o que seria sempre desculpável, só para limpar o nariz ao braço direito, atirar pedras aos burros ou roubar a fruta dos pomares.