A anistia, o cerco de Trump às universidades e o caso Glauber
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Semanalmente, os apresentadores mencionam as principais leituras que fundamentaram suas análises. Confira:
Conteúdos citados neste episódio:
Coluna de Bela Megale, para O Globo, sobre o papel decisivo de Tarcísio na anistia.
Entrevista de Michel Temer, para a coluna de Malu Gaspar no Globo.
Matéria de Victoria Abel, Mariana Muniz, Sérgio Roxo e Alice Cravo, para O Globo, sobre o acordo alternativo que Motta está tentando costurar para apaziguar os ânimos da direita.
Reportagem de Rafael Cariello, para a piauí, sobre a saída da Universidade Soros da Hungria.
Matéria da The Economist, sobre como se desenrolaria uma crise do dólar.
Reportagem de Mathias Hammer, para o Semafor, sobre a ameaça de Trump ao status fiscal de Harvard.
Podcast The Daily, do The New York Times, que entrevista Cristopher Rufo, o ativista conservador que pressionou Trump para atacar as universidades dos EUA.
Coluna de Karen Tumulty, para o The Washington Post, sobre Lee Iacocca, o verdadeiro precursor das tarifas trumpistas.
Coluna de Bernardo Mello Franco, para O Globo, sobre o jogo na Câmara para cassar Glauber Braga.
Matéria de Pedro Tavares, para a piauí, sobre a greve de fome do deputado Glauber Braga.
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO:
Sonora: Rádio Piauí.
Ana Clara Costa: Olá, sejam muito bem vindos ao Fórum de Teresina, o podcast de política da Revista Piauí.
Sonora: Olha, eu confio muito na palavra do presidente Hugo Motta de que esse projeto não irá a voto, até porque se for, cria uma crise institucional. Como ele mesmo disse.
Fernando de Barros e Silva: Eu, Fernando de Barros e Silva, da minha casa em São Paulo, tenho a alegria de conversar com os meus amigos Ana Clara Costa e Celso Rocha de Barros, no Estúdio Rastro, no Rio de Janeiro. Olá Ana, bem vinda.
Ana Clara Costa: Oi, Fernando! Oi, pessoal.
Sonora: China needs to make a deal with us, we don’t have to make a deal with this new difference between China and other country except they are much larger.
Fernando de Barros e Silva: Diga lá, Celso, casca de bala.
Fernando de Barros e Silva: Fala aí, Fernando! Estamos aí mais uma sexta feira.
Sonora: Porque hoje estão calando a minha voz. Mas amanhã vai ser a voz de outra pessoa que vem a se insurgir contra essa prática corrupta do orçamento secreto.
Fernando de Barros e Silva: Mais uma sexta feira não é qualquer sexta feira. O pessoal está de feriado. Sexta feira santa, como se diz. Vamos, sem mais delongas, aos assuntos da semana.
Fernando de Barros e Silva: O caminho é longo e cheio de obstáculos, mas a pauta da anistia para os golpistas de 8 de janeiro avançou nesta semana na Câmara PL de Jair Bolsonaro protocolou na segunda feira o requerimento de urgência para o projeto, com o apoio de 262 deputados, cinco a mais do que o mínimo necessário, nada menos que 146 desses artistas, mais da metade dos que puseram seu polegar no documento, integram partidos que compõem a base do governo Lula. Isso dá a medida da encrenca em que o país está metido. O próximo capítulo dessa novela, que é o verdadeiro vale tudo Brasileiro Ficará para depois dos feriados de Páscoa e Tiradentes. Presidente da Câmara, Hugo Motta, avisou que não pretende decidir sozinho e anunciou que deve levar a proposta ao Colégio de líderes. O governo, por sua vez, tenta reverter o estrago, mas hesita em partir para a retaliação dos amigos da onça do centrão, já que a correlação de forças no Legislativo é bastante desfavorável a Lula e ainda há pela frente mais de um ano e meio de mandato. A nota cômica dessa investida contra a democracia por parte da direita no Congresso fica por conta do Novo. Foi o único partido que deu 100% de seus votos, apenas quatro, para o projeto. Nem o PL conseguiu isso. Dois de seus 92 deputados não assinaram o documento. É isso que a gente chama de coisas boas e coisas novas. Mas as novas não são boas e as boas não são novas. No segundo bloco a gente vai tratar da cruzada obscurantista de Donald Trump contra as universidades norte americanas, veto às políticas de diversidade, caça aos estudantes envolvidos em protestos contra Israel, interferência nos currículos e nos processos de contratação e admissão de professores e alunos, cortes de isenções fiscais e repasse de verbas federais ameaçam as principais instituições de ensino do país. É algo sem precedentes na história dos Estados Unidos. A Universidade de Harvard reagiu, negando-se a seguir as orientações inaceitáveis da Casa Branca. “A universidade não abrirá mão de sua independência ou de seus direitos constitucionais. Nem Harvard, nem qualquer outra universidade privada pode permitir ser tomada pelo governo federal”, disse em carta endereçada a Trump o diretor de Harvard, Alan Garber. A atitude encorajou outras instituições a seguir o mesmo caminho, ainda que de maneira tímida. Nós vamos tratar disso e vamos atualizar também os termos da guerra comercial deflagrada por Trump. Por fim, no terceiro bloco, a gente volta ao Brasil para falar do processo de cassação de Glauber Braga, do PSOL. O deputado anunciou na tarde desta quinta feira o fim da greve de fome que havia iniciado no último dia nove, depois que o Conselho de Ética da Câmara recomendou a cassação de seu mandato. A decisão de Glauber foi tomada após um acordo pelo qual o presidente da Câmara, Hugo Mota, concordou em suspender o processo por 60 dias. Na prática, isso significa que a coisa não deve ter desfecho antes de agosto, em razão do recesso parlamentar do meio do ano. A gente vai ver até lá como estarão os ânimos da tropa de choque de Arthur Lira, o grande artífice da perseguição ao deputado, que, em tese, estaria sendo punido por dar um pé na bunda de um provocador profissional do MBL nas dependências do Congresso. É isso. Vem com a gente.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Ana Clara, Vamos começar com você. A direita se organizou, o PL conseguiu as assinaturas necessárias. Há algumas semanas parecia que o assunto estava mais ou menos resolvido, que isso não ia adiante… Não foi o que aconteceu. E agora?
Ana Clara Costa: Bom, antes de qualquer coisa, quero lembrar aqui para os nossos ouvintes o que está em jogo esse projeto da Anistia. Ele é um compêndio de pelo menos 8 projetos de lei propostos por vários deputados, a maior parte do PL, que prevê o perdão para quem praticou qualquer crime político ou eleitoral em manifestações nas estradas ou em frente a quartéis de 30 de outubro de 22 até a aprovação da lei e participar, na concepção ampla, desse projeto, significa não só depredar a Esplanada, mas também financiar, organizar, apoiar, endossar nas redes. Então, é um perdão irrestrito. Um dos PLs que compõem esse conjunto de projetos, é de autoria do Alexandre Ramagem, do PL do Rio de Janeiro, coincidentemente réu por tentativa de golpe. E ele prevê mudanças no Código Penal para que qualquer atentado contra o Estado Democrático de Direito só seja criminalizado se houver o emprego de violência ou grave ameaça, o que livraria de qualquer punição quem planejou, participou, foi coautor, mas acabou não executando o ato violento em si, porque, sei lá, tava em Orlando, entendeu? Então, é um dispositivo praticamente chamado Jair Bolsonaro e que, óbvio, também beneficiaria o Braga Netto e todos os autores ali e co-autores. Outro PL desse conjunto sugere alguns dispositivos que limitem a competência da Justiça Eleitoral e do Poder Judiciário na apuração de crimes contra o Estado Democrático. Ou seja, quem apoiaria senão o Poder Judiciário? A Justiça Militar? Então, esse que é o pacotinho que recebeu mais de 260 assinaturas dos nossos deputados na semana passada. Agora vocês acham que o deputado Lebrão do União Brasil de Rondônia, que o deputado Luiz Fernando Vampiro, do MDB de Santa Catarina, vocês acham que eles leram esses oito PLs? Vocês acham que eles leram? Com certeza não.
Fernando de Barros e Silva: Luiz Fernando Vampiro, do MDB de Santa Catarina. É isso?
Ana Clara Costa: É. Eu peguei, pincei assim lá na lista.
Fernando de Barros e Silva: Tem poesia nessa tragédia, Nossa Senhora. O outro, quem é? O Lebrão? Lebrão?
Ana Clara Costa: Deputado Lebrão.
Celso Rocha de Barros: É homenagem ao LeBron James.
Ana Clara Costa: Será que é? Vem de lebre.
Fernando de Barros e Silva: É primo do amigo do Celso do Girão.
Celso Rocha de Barros: Exato.
Ana Clara Costa: E depois eu sugiro pesquisarem o Google e olhar para a carinha deles.
Fernando de Barros e Silva: Parece ataque de time. No ataque, Lebrão, Girão e esquerdinha, né?
Celso Rocha de Barros: E vampiro.
Fernando de Barros e Silva: É, e vampiro. Vamos lá.
Ana Clara Costa: Bom, agora, se as coisas chegaram onde elas estão, tem alguns fatores que explicam. Primeiro, é a absoluta dedicação do PL a essa pauta. Então a gente tem ali 90 deputados dentro do Congresso que só falam nisso, só pensam nisso, só articulam isso o dia inteiro. Ponto dois, a questão do orçamento, que só foi aprovado a lei orçamentária, só foi aprovada há poucos dias, o que gerou mais atraso na liberação de emendas, que é a única moeda que muita gente entende ali. Então isso foi um complicador e teve um trabalho importante dos governadores bolsonaristas junto às suas bancadas estaduais. A Bela Megale publicou hoje no Globo que o Tarcísio foi fundamental para conseguir assinaturas em São Paulo, que ele trabalhou muito para isso nos últimos dias. E não foi, ele não fez isso nos bastidores. Ele fez publicamente. A gente até falou aqui no episódio passado que ele se manifestou publicamente, pressionou o Alexandre de Moraes publicamente, disse que falaria com Hugo Motta, então nada disso foi feito nas sombras. E tem uma questão de fundo que eu acho que ajuda a costurar tudo isso, que é essa guerra silenciosa entre o Congresso e o Supremo, essa indignação, de certa forma, dos líderes partidários com os poderes do Supremo, essa sensação de que eles estão em constante pressão dos ministros do Supremo, de que qualquer passo fora da linha pode gerar uma reação do Supremo, que é, na verdade, acho que consolidada pelo caso das emendas que começou com a Rosa Weber e hoje está com o Flávio Dino. Pelas pessoas com quem eu conversei, é o ponto central dessa guerra. E o Arthur Lyra, ele é um dos principais articuladores disso, a Anistia, embora ela tem o PL e o Sóstenes Cavalcanti na comissão de frente, ela tem toda a turma do Arthur Lyra e do Ciro Nogueira na costura interna. Quando você olha as assinaturas, toda a tropa de choque do Lyra está lá, porque é uma estratégia clássica do Lyra. Desde quando ele estava na presidência da Câmara, que é jogar os radicais ali na frente para criarem o caos e depois ele chega por trás, costurando soluções obviamente sempre mais palatáveis para a direita e enfim, acaba se beneficiando disso. A velha tática de você criar o problema para vender a solução. E eles não tem o menor problema com o impacto que uma anistia teria para o cenário político do Brasil, se o resultado disso for emparedar o STF. Então a gente pode atribuir essa força que está se construindo a dois vetores o PL, que quer a anistia para livrar o Bolsonaro e o centrão. Arthur Lyra, sobretudo, que quer a anistia para emparedar o Supremo. E aí o resultado disso é basicamente se descriminaliza. O golpe de Estado passa a ser praticamente legal um golpe de Estado pelas características desses oito projetos de lei. E aí, diante do caos que seria essa aprovação da anistia, você tem várias pessoas se movimentando nos bastidores para flexibilizar as penas. O Michel Temer deu uma entrevista para a coluna da Malu Gaspar essa semana falando sobre isso. O Globo também fez uma reportagem sobre um possível acordo alternativo que o Hugo Motta está querendo costurar para tentar apaziguar os ânimos. Mas o que precisa ficar claro, eu acho, é que essas figuras ali, tão distintas da nossa República, elas não estão muito preocupadas com a pena da cabeleireira golpista. Não é sobre isso. É sobre uma demonstração de força do Congresso contra o Supremo. E aí, só lembrando que com essa questão das emendas que passaram a ser impositivas há alguns anos e do orçamento secreto, mais a postura autoritária do Arthur Lyra na sua gestão na presidência da Câmara, o nosso Parlamento se viu numa situação praticamente de onipotência e o poder perante o Executivo ele já tem. Tá faltando o Supremo. Eu estava conversando com um interlocutor que está falando com todas essas pessoas envolvidas e foi o que ele me disse que a anistia é só um veículo para transportar todas as insatisfações contra os excessos do Supremo. Ela é uma forma, segundo ele, de repactuar a relação com o Supremo, repactuar no sentido de subjugar, parece. Basicamente esse é o xadrez que a gente está vendo hoje.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Celso. A gente concorda com esse diagnóstico da Ana?
Celso Rocha de Barros: Concordamos completamente. Exatamente isso. O projeto não é para livrar a cabeleireira, o pipoqueiro, sorveteiro, etc. Para livrar o Jair, o Braga Netto. É uma coisa que eu acho que não está recebendo muita atenção. Eu acho que esse projeto recebe muito apoio de gente que não foi indiciado, que não está sendo investigado, mas lembra oque fez o verão passado, entendeu? Lembra do que estava fazendo durante a ofensiva golpista. O Malafaia está em todas essas passeatas porque em 2022 ele gravou o vídeo pedindo que o Bolsonaro desse um golpe. Então, o Malafaia não tá lá preocupado com a cabeleireira e aliás, não tá nem preocupado com o Jair, tá preocupado com ele mesmo. O Sóstenes Cavalcante, que é o cara que está recolhendo essas assinaturas, é o cara do Malafaia no Congresso. Esses parlamentares bolsonaristas todos, vários deles, deveriam ter sido cassados e presos pelo que eles fizeram naqueles meses. O deputado Felipe Barros, do PL do Paraná, foi naquela famosa reunião que eu sempre menciono aqui, de 30 de novembro de 2022. Ele pediu um golpe militar para o artigo 142. Pediu abertamente no Congresso Nacional e ele não só não foi cassado, investigado, etc, como ele é o atual presidente da Comissão de Relações Exteriores do Congresso. Então, tem muito golpista por aí que ainda não foi pego e gostaria de uma anistia preventiva. Vai que um dia resolvem investigar… Isso aí pode até, eventualmente, por uma consequência inesperada, beneficiar a maluca do batom ou pipoqueiro, mas isso é para beneficiar o Jair, é para beneficiar o Braga Netto. E é para beneficiar os caras que têm medo de um dia serem investigados, como é o caso do Malafaia ou desses deputados bolsonaristas todos, porque, como disse a Ana, os termos do projeto são super amplos, entendeu? No relatório sobre o projeto feito pelo deputado Rodrigo Valadares, consta que fica concedido anistia a todos que participaram de eventos subsequente ou eventos anteriores aos fatos acontecidos em 8 de janeiro de 2023, desde que mantenham correlação com os eventos acima citados. E é o que a gente falou semana passada… Se sair essa anistia, Bolsonaro imediatamente vai passar a dizer o contrário que os advogados dele estão falando no STF, que no momento ele está dizendo que o que ele fez em 2022 não tem nada a ver com o 8 de janeiro. Se passar a anistia na mesma hora ele vai dizer “não, não, quem fez o 8 de janeiro fui eu eeu tenho que ser anistiado nesse negócio”, porque inclusive o projeto Anistia restitui os direitos políticos, então ele imediatamente estaria apto a ser candidato. Inclusive, é uma pouca vergonha como cara, eu não diria como poucas coisas, acho que nunca teve uma pouca vergonha nesse nível no Congresso brasileiro. E eu sei do peso do que eu estou dizendo. Eu sei das coisas com as quais eu estou comparando esse negócio. E como bem disse a Ana, a gente também quer punir as autoridades, quer punir os golpistas. Então, na verdade, não é só que ele autoriza o golpe. O projeto de anistia dá o golpe em certa medida, porque ele inclusive vai levar, dá margem para você fazer o impeachment dos ministros do STF que combateram o golpe. Você poderia fazer uma limpa na Polícia Federal para tirar os policiais federais que investigaram os golpistas, como o Trump está fazendo no FBI com os caras que investigaram a tentativa de golpe do Trump em 2021. É um negócio gravíssimo e como bem disse a Ana, o Vampiro e o Lebrão pode até ter assinado sem saber o que era. E aliás, eu duvido que já tenha assinado alguma coisa sabendo o que era. O fato é que o que eles assinaram é gravíssimo. Enfim, o projeto da Anistia legaliza o roubo do voto de pobre, porque foram os pobres brasileiros que elegeram o Lula em 2022. Salvaram a democracia. Legaliza a formação de quadrilha de golpistas dentro das Forças Armadas, prontas para usar as armas da República para defender sua facção política. É bom lembrar também até prenderam alguns generais. Parabéns para as instituições brasileiras. Mas o grosso dos caras com quem eles contavam para dar o golpe dentro do exército estão lá. Ainda estão quietinhos porque estão com medo de ser preso. Se você anistiar os caras que estão sendo julgados, eles vão voltar a se assanhar. A anistia legaliza o assassinato de adversários políticos, legaliza a censura à imprensa e legaliza a destruição não só de quadros e status de alto valor artístico, mas das instituições democráticas, do Estado de direito, da lei. Aquela maluca do batom que vandalizou a estátua da Justiça. Ela queria vandalizar o que estava sendo retratado na estátua. Ela queria vandalizar a justiça. Por isso que esse pessoal que vai usar esse projeto específico para cobrar cargos do governo para pagar a emenda parlamentar, entendeu? Você cruzou uma linha cara mesmo para o padrão histórico da política brasileira. Isso já não é mais presidencialismo de coalizão. Você tá aceitando arriscar o jogo que te faz ser deputado, entendeu? O jogo que faz você ter esses privilégios todos que você tem, inclusive. É um nível de irresponsabilidade o nível de molecagem desses caras que estão assinando esse pedido de anistia, que é realmente chocante. E aí a gente não pode deixar de mencionar o nosso amigo governador Tarcísio de Freitas, que, segundo o Sóstenes Cavalcante, o Tarcísio ajudou a colher assinaturas. Ele, o Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro. E aí a gente vai continuar chamando o cara que tá fazendo anistia para golpista, de centro direita, de moderado, enfim, o que que falta o Tarcísio fazer, entendeu?
Fernando de Barros e Silva: Eu fico pensando qual é o cálculo do Tarcísio aí, né? Isso é interessante porque, a rigor, é contra os interesses dele que essa anistia seja bem sucedida até o fim e que tem muitas etapas a serem vencidas, inclusive no Senado. Ela dificilmente passa. Dificilmente eu digo, porque no Brasil e no mundo de hoje, tudo é possível mesmo. Esse clichê de que tudo é possível se tornou verdade. Mas até onde a gente sabe, o Alcolumbre não tem nenhuma disposição de ceder a essa pauta da anistia. Então, mesmo que ela prospere na Câmara, que a urgência seja posta em votação e que ela seja aprovada, dificilmente ela passa no Senado. Se passasse no Senado, iria para sanção do Lula. Ainda o Lula poderia vetar em parte ou na íntegra do Congresso, daí reagiria o veto. Enfim, tem um trâmite complexo ainda para ser vencido. Mas o Tarcísio está fingindo que quer que isso vá até o fim, o que é?
Ana Clara Costa: A primeira coisa. E ele gostaria que Bolsonaro fosse preso, porque daí não tem desculpa. O Bolsonaro poderia concorrer sem…
Celso Rocha de Barros: Parecer que está traindo.
Ana Clara Costa: Exato, que é uma coisa que ele não quer, ele não quer e ele tem falado isso para várias pessoas. Ele não quer ser o Dória. Ele tem falado essa frase para as pessoas, que ele não quer ser o Dória. Mas a questão é a seguinte vamos supor que o Bolsonaro seja preso… A primeira coisa que ele vai ter que compor com o Bolsonaro para fazer uma aliança com o PL para a eleição de 2026 é a anistia do Bolsonaro, que é uma coisa que colocaria ele em caso de vitória, em hipotético caso de vitória, em rota de colisão com o Supremo no primeiro dia de governo, né? Ele anistiar o Bolsonaro… Então essa anistia agora, ou pelo menos a batalha dele por essa anistia o livraria numa hipótese de ele ter que negociar essa anistia, porque assim, isso está certo que ele negociaria com o Bolsonaro a anistia para o Bolsonaro em troca de apoio. Isso está dado. Inclusive o Bolsonaro conta com isso. Ele sabe que uma das alternativas é essa. Agora, para o Tarcísio, na hipótese de concorrer, na hipótese dele ganhar. E aqui a gente está falando uma futurologia louca, mas ele está se movimentando, ele está fazendo uma movimentação partidária agora, neste momento que envolve o republicanos, que envolve o PP, que envolve a criação de uma federação, que são movimentações com vistas para 2026, Então, o que ele está fazendo hoje sobre a anistia é, de certa forma, para livrá-lo desse pacote que ele teria que se comprometer no ano que vem.
Fernando de Barros e Silva: É, faz sentido isso tudo isso. O Tarcísio, como diz o Celso, está dificultando a vida de quem quer chamar ele de democrata. Todo dia ele dificulta um pouco.
Celso Rocha de Barros: É assim, se você pretende ganhar a vida ano que vem dizendo que o Tarcísio é democrata é uma boa hora para você pedir aumento, viu? Porque realmente ficou mais difícil sua tarefa.
Fernando de Barros e Silva: E tem a dificuldade do governo para lidar com essa situação, né?
Celso Rocha de Barros: Aí tem uma história essa semana que eu não sei se é verdade, mas se for, é um escândalo, cara, que o governo teria começado a mapear que deputado ganhou qual cargo no governo para poder punir o cara que votar a favor da anistia? Então, o que me choca nessa história não é a questão. O que me choca é começar a mapear agora? Tem dois anos de governo e ninguém tem uma planilha com qual cargo foi escolhido? Para qual aliado no Congresso? Em troca de quê?
Ana Clara Costa: Isso é a Casa Civil que faz né?
Celso Rocha de Barros: Que aconteceu na Casa Civil esses anos? Então o que o Rui Costa tá fazendo cara? Porque isso é pra ser feito no primeiro dia. Se isso realmente não estava mapeado aí, enfim, essa é a explicação para tudo que aconteceu nos últimos dois anos e o resto é excesso de conceito.
Fernando de Barros e Silva: É isso. Bom, vamos encerrando o primeiro bloco do programa por aqui. Fazemos um rápido intervalo. Na volta, vamos falar de Donald Trump e universidades. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, estamos de volta. Celso, Eu mencionei as universidades e as tarifas uma guerra comercial na abertura, mais as universidades. Mas como você não falou na semana passada, a gente ia falar de Trump. Não falamos de Trump para falar de CBF, no que fizemos muito bem. Vamos começar pela guerra comercial. Então, que eu sei que você tem coisas entaladas aí desde a semana passada.
Celso Rocha de Barros: Exatamente. Então, Fernando, todo mundo está obviamente olhando para quanto está a tarifa, se sobe e desce esse tipo de coisa. E o Trump deu uma recuada e em várias das tarifas, mesmo após o recuo, a mudança é muito grande, porque 10% de tarifa para todo mundo é muito mais do que os Estados Unidos cobrava. Em geral, o país rico cobra tarifa baixo. A União Europeia também cobra aquelas tarifas que estavam lá naquela tabela de boteco lá que o Trump apresentou quando fez o discurso dele aqui, as tarifas que ele botou lá para a União Europeia… Tudo mentira, tudo errado aquilo lá, enfim, ele inventou. Então os Estados cobrava tarifas baixas, 10% é bem mais. Então já é uma porrada grande no comércio mundial e a guerra começar a contra a China só acelera. Isso é um golpe duríssimo na economia mundial. Se você fez redação de escola sobre globalização nos últimos 30 anos, você deve lembrar da história de que hoje em dia um carro tem, sei lá, o motor feito na China, o freio feito na Alemanha. Ele é montado no México e finalizado nos Estados Unidos. Aquelas coisas todas. Agora você imagina se todas essas etapas tiver tarifa, o que acontece com o preço desse carro? Essa produção se torna completamente inviável. As tarifas do Trump bagunçam completamente as cadeias produtivas globais. Por isso que os economistas tão dizendo cara assim tem dano já feito pelo que ele fez, mesmo se ele voltasse atrás em tudo que ele fez. E isso é só o começo do problema, porque primeiro, a crise comercial com a China pode piorar, porque a China também não tá com vontade de ceder nesse negócio. Parte dessa briga, uma briga geopolítica, uma briga por hegemonia mundial e assim como os Estados Unidos, quer mandar para o mundo a mensagem que é capaz de dobrar a China, a China quer mandar para o mundo a mensagem que os Estados Unidos não é capaz de dobrar. Esse negócio pode ser muito ruim para todo mundo, mesmo que você veja umas análises localizadas dizendo assim o agronegócio brasileiro pode ganhar com um negócio lá que o Trump fez, aí a China vai comprar da gente. Pode ser que setores específicos ganhem, mas no longo prazo, a questão é quem afunda menos. Porque o golpe e a porrada na economia mundial pode ser muito grande. E a China não é mais o país que era até recentemente, que era um país que atraia investimento só pelos salários baixos. Durante muitos anos foi isso, a China atraia investimento, porque, enfim, é uma ditadura em que o sindicato não pode reivindicar nada e os salários são baixos. Mas já faz tempo que não é só isso. Já faz tempo que eles montaram uma infraestrutura muito boa, que eles têm pesquisa, que eles têm política de ciência e tecnologia. O CEO da Apple falou numa entrevista “não, não, agente manda a fábrica para a China já faz muito tempo que não é por causa de salário, é por causa de mão de obra especializada, porque o trabalhador de uma fábrica que produz chip é um cara altíssimamente qualificado, uma tarefa altíssimamente complexa”. E ele diz: “na China você enche um estádio com esses caras”. Tem mais condições de sobreviver a uma guerra comercial com os Estados Unidos do que teria alguns anos atrás. E isso também não é o pior. O que fez o Trump recuar das tarifas foi um início de turbulência no mercado de títulos da dívida americana, porque, para reformular uma piada que circulou na época da crise de 2008, se o mercado de ações quebrar, você estoca ouro. Se o mercado de títulos quebrar, você estoca comida, entendeu? Porque a situação realmente vai para o buraco mesmo. Os títulos da dívida americana são o padrão pelo qual o risco de todos os outros investimentos do mundo são avaliados. Quando você diz que o investimento tem risco 0,5 é 0,5% a mais do que o americano, que é o zero, para todas essas medições, porque o pessoal sempre achou que o risco dos EUA de dar um calote na sua dívida é zero. E aí ele passa a ser o padrão para um monte de coisa mundo afora, a começar pelos juros que as pessoas nos Estados Unidos vão pagar por hipoteca para comprar casa para financiamento de carro e mais um monte de coisa. Então, se você tiver desconfiança nesse mercado, se o valor desses títulos começar a flutuar muito, o sistema econômico internacional entra em confusão, o valor das coisas deixa de ser muito claro, as expectativas da economia passam a ser completamente imprevisíveis. Ninguém tem um modelo para saber o que acontece nesse caso, porque basicamente esse caso, se acontecer, já nem precisa mais de modelo. Foi tudo para o buraco. E o que aconteceu quando o Trump fez a palhaçada dele lá das tarifas foi que começou a ter um movimento muito raro, porque primeiro começou a subir o juro que os caras estavam pedindo para comprar títulos da dívida americana. Isso é ruim pelos motivos que eu disse agora. Mas não é só isso. Em geral, a Bolsa de valores e o mercado de títulos americanos são alternativos. Ou seja, se você está querendo segurança, você vai para o título da dívida. Se você quiser mais risco, você vai para a bolsa. Então, quando a bolsa quebra, todo mundo vai para o título da dívida americana. Se a bolsa quebrou e mesmo assim os caras não foram para o título da dívida americana, sugere uma desconfiança esquisita. Aí é a mesma coisa. Vale para o dólar em geral, quando tem uma crise, inclusive nos Estados Unidos, todo mundo vai comprar dólar, porque o dólar não é só usado nos Estados Unidos. É a moeda do comércio mundial. Então você teve também uma crise grande da bolsa de valores americana e o dólar caiu. Então, tanto o dólar quanto o título da dívida americana se moveram na direção contrária que eles costumavam se mover até hoje. Enquanto todo mundo achava que as duas coisas tinham risco zero, que as duas coisas eram o padrão internacional.
Ana Clara Costa: E alguma coisa subiu?
Celso Rocha de Barros: Subiu o ouro, subiu umas coisas assim bem característica de estar tudo indo para o buraco. Subir o ouro, em geral, só é uma boa notícia para o cara que tá com o ouro na mão mesmo. Porque numa situação normal o ouro não é para ser um grande investimento. E aí, se vocês acham que isso já não estava ruim o suficiente, a Economist fez uma matéria dia 16 falando como poderia acontecer uma crise do dólar. E eles estão falando que não só está tendo essa desconfiança e, aliás, a gente não sabe se essa desconfiança voltaria a ser zero mesmo se o Trump voltasse atrás em tudo. Porque de agora em diante você sabe que pode acontecer um governo americano e resolver brincar com isso. Então, além dessa desconfiança, o Trump pretende arrebentar as contas públicas americanas. O Congresso americano está aprovando acho que um esboço de orçamento, uma coisa assim, que nos cálculos da Economist poderia ter um efeito sobre o déficit maior do que o valor do corte de imposto no primeiro mandato, o gasto extra de combate à pandemia e o programa de investimentos públicos do Joe Biden somados. Então assim, não é só aqui que o mercado enche o saco com déficit público? Não. Se os caras vêem o déficit público americano estourando e os títulos balançando e o dólar balançando, ninguém nem sabe o que acontece numa situação dessas porque não aconteceu. A situação semelhante que eles lembraram foi uma confusão de mercado de títulos, no caso dos títulos britânicos, que derrubou a Liz Truss, uma primeira ministra conservadora britânica que foi a primeira ministra de menor mandato na história. Ela ficou tão pouco tempo que os caras apostaram uma corrida entre ela e uma alface. Eles ligaram uma câmara numa alface e foram ver o que acontecia Liz Truss cair ou a alface estragar. E o alface ganhou das Liz Truss, porque ela anunciou um plano econômico muito ruim, entendeu? E aí, quando começou a dar bagunça no mercado de títulos, o conservador falou “ah, minha senhora, desculpa, deu errado, boa sorte para a senhora nas suas próximas atividades na vida”. O troço é muito grande. Negócio é muito sério. E aí pode ter alguém aqui se fala “eu não gosto dos Estados Unidos, eu acho o maior barato que o dólar deixe de ser moeda de reserva internacional, não me interessa essa coisa de mercado de dívida americano”. Então, amigão, o problema é o seguinte: não tem nenhuma outra alternativa no momento ao dólar e à dívida americana. Porque, por exemplo, a moeda chinesa não tem a menor condição de substituir, porque a China mexe com o câmbio artificialmente para favorecer exportações. Então, você não sabe qual vai ser o valor da moeda chinesa daqui a algum tempo, ao passo que o dólar justamente um dos motivos que fazia ele ser a moeda de reserva é ninguém brincar com ele. Entrava governo, saia governo, várias ideologias, vários programas, ninguém mexia no dólar. A zona do euro ainda tem um monte de problema e aliás, tem risco da extrema direita ganhar nos outros países lá e resolver fazer uns Brexit da vida. Aí tem uns malucos dizendo não, mas pode ser que no futuro seja uma criptomoeda, uma coisa qualquer, a moeda de reserva internacional. Isso está completamente longe de qualquer realidade plausível no momento.
Fernando de Barros e Silva: Vamos lançar aqui o Celso Coin.
Celso Rocha de Barros: Exatamente, que você já pode começar a depositar. É o mesmo cara que faz a moeda do Milei e me propôs esse negócio aí, mas no momento seria um delírio completo. Criptomoeda é um investimento altamente volátil, um investimento para quem tem muito risco contrário.
Ana Clara Costa: Olha a moeda dos BRICS surgindo aí.
Celso Rocha de Barros: Pois é, mas ainda assim isso teria consequências. Porque, por exemplo, o fato do dólar ser a moeda padrão do mundo tem uma vantagem, uma desvantagem para os Estados Unidos. A desvantagem ela mantém o dólar mais valorizado do que seria o preço do dólar de mercado normal. Os exportadores americanos reclamam um pouco disso. O Trump reclama muito disso. Por outro lado, tanta gente indo lá comprar dólar, comprar título, etc. Favorece, mantém os juros americanos baixos. Mais do que compensa esse problema. Se o BRICS, por exemplo, quiser fazer uma moeda, eles vão ter que começar também a pagar esse preço de ser a moeda internacional. Vai ter que ser toda uma transição e essa transição certamente vai ser um caos. Realmente eu queria achar uma boa notícia aqui para falar sobre isso, mas não deu.
Fernando de Barros e Silva: E nem falamos de universidade ainda. Vamos falar agora. Ana Clara.
Ana Clara Costa: Bom, sobre universidade, acho que a gente está vendo aí ao longo dos dias, as coisas se desenrolando. Começou há mais ou menos umas duas semanas, quando o governo anunciou o congelamento de repasses federais para as principais universidades, tanto públicas quanto privadas. Mas o foco principal são as universidades privadas, sobretudo as que formam a Ivy League, que são aquele conjunto das mais prestigiosas universidades americanas. E Harvard é a principal delas. E esse congelamento ele tem, na verdade, várias faces que na verdade acabam escondendo o real objetivo dele, que é a questão da agenda woke das universidades, das políticas de diversidade que ele quer que sejam descontinuadas de qualquer forma. Então ele usou a premissa de um suposto anti-semitismo que estaria acontecendo nas universidades para entrar com a imposição de regras que o governo julga viáveis para que esse suposto anti-semitismo não seja perpetrado. E a gente tem universidades que toparam essa intervenção, como foi a Universidade Columbia, que fica em Nova York e, mais recentemente, a Universidade de Harvard recebeu um comunicado do governo dando uma série de regras que eles teriam que implementar: tirar a parte de pesquisa, estudo sobre Oriente Médio e acabar com bolsas para estudantes de países do Sul global ou países árabes, cortar a verba de pesquisa de assuntos que eles julgam que não são prioritários. Enfim, uma intervenção total, praticamente. E Harvard disse que não, que não ia aceitar. É claro que assim não é um rompimento total de Harvard com o governo, porque eu acho que isso não é possível. Segundo o site Semáforo, que é um site de notícias americano, eles têm alguns interlocutores tentando flexibilizar algumas coisas junto ao governo nesse momento, para que não seja um rompimento total. Mas o que ficou público é que eles não vão deixar que essas regras sejam aplicadas na universidade. E por que isso pode? Porque Harvard vive de doações que eles chamam de endowment. Na verdade, é um fundo patrimonial que alunos, ex-alunos e empresas financiadoras de pesquisas acabam colocando esse dinheiro ali justamente para financiar a universidade. O fundo de Harvard e de 53 bilhões de dólares, é o maior fundo de endowment de uma universidade americana. Então ela pode se permitir abrir mão desses repasses do governo, pelo menos até agora, até a situação se acalmar. E foi o que ela fez. Aparentemente, Columbia não pôde. E as outras universidades, que ainda tem endowments menores, também não puderam. Mas o fato é que tem uma outra coisa que eles estão querendo fazer com as universidades americanas, que é o seguinte uma segunda etapa, que também foi uma apuração do semáforo, além de querer dizer o que vai poder ser feito como política nas universidades, ou seja, a questão da diversidade e tudo mais, eles querem entrar nos investimentos financeiros desses fundos de endowment. Esses fundos patrimoniais. Eles querem ver em que esses fundos estão sendo investidos, porque esses investimentos são privados. Você consegue ver isso nas universidades públicas. Nas privadas não dá para saber. Mas há uns think tanks americanos mais ligados ao Partido Republicano que mapeiam com informações de bastidor, não sei exatamente. Mas eles mapeiam esses investimentos. E aí esses tanks têm dito ao governo e têm publicado relatórios de que as universidades, como Harvard, fazem investimentos na China, investimentos em energia limpa, e o Trump não quer que seja investido dinheiro da universidade em energia limpa, basicamente é isso. Nem na China, nem em países com os quais os Estados Unidos não tem relações amigáveis. Então, a próxima fase da intervenção vai ser nas características de investimento dos endowments, que a gente não sabe ainda como que isso vai ser feito? Mas, segundo essa reportagem, nessa próxima fase, as universidades que não aceitarem expor as características de investimento de seus fundos poderiam ter contestado o status de isenção fiscal pelo IRS, que é a Receita Federal deles. Então eles usariam a receita deles para cortar as isenções, além de cortar os repasses. Agora, cortar as isenções de quem não abrisse os investimentos.
Fernando de Barros e Silva: É muito assustador esse ataque a autonomia das universidades. A autonomia é o coração e o cerne da vida universitária. Ver isso acontecendo nos Estados Unidos é muito impressionante, Celso. Me lembrou uma matéria que o Rafael Carelli fez para o Piauí sobre o Orbán as investidas do Orbán contra as universidades na Hungria da Europa Central.
Celso Rocha de Barros: A Universidade da Europa Central, que era financiada pelo George Soros. E o Orban…
Fernando de Barros e Silva: Tirou a universidade do país.
Celso Rocha de Barros: E era uma ótima universidade. O Thiago Amparo, que é a colunista da Folha, é um grande cara. Ele estudou lá e conheceu bem lá. Era uma necessidade de muito boa qualidade. Em primeiro lugar, vamos lembrar como é triste alguém desmontar o que são essas grandes universidades americanas. Assim, se você pegar aquela região, essa região de Boston, por exemplo, que você tem Harvard, MIT, que o cara é um dos maiores concentrações de produção de conhecimento da história da humanidade. Cara, entendeu o negócio? Tipo, Florença renascentista é uma coisa bizarra tentar estragar essa parte.
Ana Clara Costa: E você tem a questão dos hospitais universitários que são financiados com parte Receita Federal.
Celso Rocha de Barros: Pois é, uma daquelas coisas que é fácil de quebrar e difícil de reconstruir.
Fernando de Barros e Silva: Eu acho que Harvard tem mais Nobel do que eu tenho de vida e isso é bem possível.
Celso Rocha de Barros: É bem possível.
Fernando de Barros e Silva: Dezenas de prêmios Nobel.
Celso Rocha de Barros: Pois é, o cara lá no departamento de Medicina de Harvard fala que tem um Nobel. Os cara lá fala “e daí, rapaz? todo mundo aqui tem”. Mas enfim, se vocês pegarem o podcast do New York Times, do The Daily, eles entrevistaram um cara chamado Christopher Ruffo, um imbecil que é o autor de um livro que é a inspiração para muita coisa que os republicanos estão fazendo contra as quantas universidades? Se você assistir a entrevista desse cara, você vai sair bastante assustado. A não ser que você seja fascista. E aí para você, isso aqui é Natal, entendeu? O dia mais feliz da sua vida é o dia que você ouviu esse negócio. Primeiro, a grande objeção dele às universidades é a ação afirmativa. O objetivo dos republicanos é tirar negros e negras da universidade. O foco desse negócio, e ele diz mesmo que a direita aprendeu o quanto de poder que ele tem institucionalmente e agora vai começar a usar. E no final da entrevista ele diz “não, isso aqui é o teste beta, a gente está só começando para ver se funciona, para ver se a gente consegue fazer esse começo, para ver se dá para ir mais longe, mas o plano da gente é ir muito mais longe”. E ele diz “eu não vou dizer o que a gente pretende fazer”. O objetivo deles é fazer uma reforma incomparavelmente mais radical de desmonte das universidades americanas, que é um dos principais ativos dos Estados Unidos. É uma das coisas que a China gostaria de ter, entendeu? É um negócio que todo mundo gostaria de ter um negócio aqui. As universidades europeias, as grandes universidades europeias sofrem por perder vários dos seus melhores pesquisadores para universidades americanas que pagam melhor e que não só pagam melhor, mas têm uma grana para fazer pesquisa que é violentíssima. O cara desmontar isso do país dele é realmente, como já disse, é um nível de irresponsabilidade que você nunca tinha visto. Independente até do fascismo, do autoritarismo, etc.
Fernando de Barros e Silva: Sim, muito assustador isso tudo. E tem gente saindo do país.
Celso Rocha de Barros: Já o Jason Stanley, que era professor de Princeton, se não me engano, ele foi pro Canadá já… E é um cara que escreveu um livro sobre como o fascismo funciona, ou seja, não é um cara mal informado sobre essas coisas.
Ana Clara Costa: E agora falando em malucos que você citou, esse que foi entrevistado pelo The Daily, eu queria só concluir citando um segundo maluco. Tem um artigo do Washington Post que foi publicado em 7 de abril, em que a colunista Karen Tumulty relembra que essa fixação do Trump por tarifa, voltando ao assunto da tarifa, remonta a um maluco cujo nome é Lee Iacocca, que nos anos 80 era CEO da Chrysler, a fabricante automotiva. Naquela época o Lee Iacocca era uma celebridade, era um executivo celebridade.
Celso Rocha de Barros: Era um bestseller dos anos 80.
Ana Clara Costa: Exato. E ele publicou uma autobiografia na época ali, que talvez algum ouvinte que viveu nos anos 80 se lembre. E uma das coisas que o Lee Iacocca defendia era que os Estados Unidos usassem tarifas contra o Japão, porque naquela época o Japão estava entrando muito pesado no setor automotivo americano, com a Toyota e tudo que era eletrônico. Então Asim, Walkman, da Sony, videocassete da Sony. Para quem sabe o que são esses artefatos pré históricos, entendeu? Naquela época isso era tudo que havia e ele enfim, estava indignado e queria que o Japão fosse destruído, porque era como se o Japão fosse suplantar o poder americano, o poder da indústria americana. Então ele defendia muitas tarifas justamente para garantir aquela produção. E o Trump começou a ficar louco por esse cara e a dar várias entrevistas dizendo que esse cara estava certo. E ele chegou a gastar 100.000 dólares da época em anúncios de jornais New York Times, Washington Post, etc. Isso o Trump, tá? Para falar sobre como o Japão tinha que ser aniquilado com tarifas e deu entrevistas para CNN e tal. O Japão era a bola da vez. E aí, curiosidade: essa autobiografia do Iacocca, que é o outro guru do Trump que vendeu tanto nos anos 80, tinha um capítulo, capítulo 28, que se chamava Make America Great Again.
Celso Rocha de Barros: Aí, então, tá tudo lá. Que bonito.
Ana Clara Costa: Bom. É daí que vem muita coisa assim. A gente fala do Peter Navarro, que é o ideólogo das maluquices econômicas, mas eu acho que tem coisas mais profundas.
Fernando de Barros e Silva: O Lee Iacocca para mim, eu ia falar para nós, já incluindo o Celso, mas eu que sou mais velho, era um nome muito frequente, mais famoso que o Fukuyama. Como o Fukuyama foi o fim da história, o Lee Iacocca era…
Celso Rocha de Barros: Era, era, era, saía. Saia trecho dele na revista. O cara era celebridade internacional de primeira grandeza.
Ana Clara Costa: E eu fui apresentada essa semana.
Fernando de Barros e Silva: Você é jovem.
Ana Clara Costa: Mas agora a gente sabe de onde veio o plágio, né? O MAGA plágio.
Fernando de Barros e Silva: Ótima menção. A gente vai encerrando então o segundo bloco do programa por aqui. Vamos fazer um rápido intervalo. Na volta, vamos falar da cassação do deputado Glauber Braga. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, estamos de volta. Nós vamos abrir esse bloco com um depoimento, um áudio do repórter Pedro Tavares, da Piauí, que está fazendo uma apuração sobre o caso do Glauber. Vamos ouvir o Pedro, então.
Pedro Tavares: Alô, Fernando, Ana, Celso e ouvintes. Pois é, o acompanhei ontem o anúncio do fim da greve de fome do Glauber, que durou aí nove dias. E nesse período, nesse processo, ele perdeu quase cinco quilos. O que a gente teve de novidade agora, além de, claro, o fim da greve de fome, é uma garantia por parte do Hugo Motta de que até o segundo semestre esse tema não vai ser votado em plenário, que era justamente uma preocupação que o pessoal tinha dessa aceleração que estava tendo no processo de cassação do Glauber. E Hugo Motta disse também que vai respeitar os 60 dias, que é o que prevê o regimento, né? Aí depois vem o recesso parlamentar, em julho. Então a gente está falando aí de até agosto, no mínimo que vai ser um tempo que o Glauber e o PSOL vão aproveitar para promover articulações e debates, né? Eu acompanhei o Glauber desde o início da semana para uma matéria que a gente publicou no site da Piauí ontem. E o que eu pude notar nesses dias por lá… O deputado, ele ficou ali no Plenário cinco do Anexo dois da Câmara, que é o mesmo lugar onde foi o Conselho de Ética que votou a favor de sua cassação. Eles colocaram um colchão de solteiro ali no canto do plenário, do lado da Mesa diretora, e ele ficava isolado ali naquele cantinho. E a cada dois dias a esposa, deputada federal Samia Bonfim, levava umas roupas para ele, novas roupas de cama. O pai e a irmã também estavam por lá. Eles são do Rio, mas foram para Brasília para ajudar nesse processo. E ele ingeria apenas água, isotônico e aquele suplemento de soro para reidratação. Eu passei algumas horas dentro do plenário na segunda e na terça feira dessa semana e eu percebi que ele recebia visitas constantes de parlamentares, alguns ministros, o senador Jaques Wagner também foi nessa semana, a Paula Curado, presidente do PSOL. Então, sempre tinha gente no plenário e a equipe dele aproveitou para fazer alguns eventos também para movimentar a agenda em torno do tema, porque o Congresso estava meio vazio, com o feriado de Páscoa se aproximando. Então, na segunda feira, por exemplo, houve uma roda de samba na saída do Anexo dois. Mas o Glauber não foi pelas restrições médicas. Ele passava a maior parte do tempo deitado, mexendo no celular, ouvindo música e vendo séries. E uma coisa curiosa que uma das médicas que estava acompanhando o Glauber diariamente me falou e que ela pediu para ele parar de ver a série Black Mirror. Ele estava acompanhando a nova temporada da série, mas isso estava mexendo muito com o psicológico dele. Enfim, cenas chocantes ali. Então ela cortou o Black Mirror. E outra coisa engraçada que o servidor perguntou um dia para ele também se ele estava vendo alguma assombração ali no plenário, porque realmente ficava meio macabro ali a noite. Tem uma foto preto e branco do Roberto Campos no meio e aí ele respondeu que é mais fácil aparecer assombração de dia quando tá tendo sessão do que a noite. A higiene pessoal ele fazia num banheiro que era bem próximo ali do plenário e o banho ele tomava no vestiário que tem no subsolo. Isso também é curioso, porque esse vestiário ele é utilizado pela equipe da limpeza do Congresso. E o Glauber? Ele me disse que a condição do banheiro ali é muito precária. Ele até apelidou o lugar de porão do Titanic. E olha, honestamente, eu fui lá nesse banheiro e eu acredito que o porão do Titanic era mais agradável que isso. As paredes de cimento todas desgastadas ali com mofo, alguns chuveiros elétricos com a fiação a mostra, o ventilador de teto, enfim, uma situação bem precária mesmo. Os trabalhos legislativos só voltam agora na próxima terça feira, dia 22, que é a data que o pessoal vai apresentar um recurso na CCJ. Se esse recurso for aceito, o parecer volta para o Conselho de Ética, que a partir do dia 23, no dia seguinte vai ter um novo relator e uma nova composição. Então essa é a esperança do PSOL. Se não passar na CCJ, vai direto para a mesa diretora do Hugo Mota. Mas aí ele garantiu que, pelo menos até o segundo semestre, ele não vai trazer essa pauta em plenário. Um ponto interessante para destacar é que, para ele trazer o caso do Glauber, o plenário precisa primeiro votar no caso do Brazão, que já está parado há um tempo. Então vamos aguardar. A semana que vem promete ser agitada aqui em Brasília. Pessoal, volto com vocês.
Fernando de Barros e Silva: Celso com você a palavra. Como é que você está vendo esse caso?
Celso Rocha de Barros: É um caso sério. Bom, deixa claro que eu discordo do Glauber Braga sobre muita coisa. Eu acho as opiniões dele no PSOL sobre economia muito ruins. A tendência dele no PSOL, o MES, o movimento de esquerda socialista entregou as três únicas abstenções da reforma tributária do Lula. Uma delas foi o Glauber, por uns motivos muito ruins. Então, eu discordo das posições dele sobre um monte de coisa. Concordo com outras. Agora, ninguém tem que ser cassado por discordar de mim. E se tivesse? Eu tenho uma lista de gente muito maior. Assim o Glauber entraria lá no finalzinho. Os bolsonaristas que tem que ser cassados, inclusive, não deviam ser cassado porque eu discordo dele de ser cassado por ter tentado um golpe de estado. E o nível de barbaridade que já foi feito no Congresso, quase sempre por deputados de direita. Vale dizer, faz o chute do Glauber lá no extremista do MBL parecer um cafuné, né, cara? O negócio que não tem nem comparação. O Bolsonaro defendeu o Ustra no voto do impeachment. Se ele não foi cassado por quebra de decoro parlamentar, é difícil cassar alguém. E é bom lembrar ele defendeu o Ustra no voto do impeachment, achando que era o Ustra que tinha torturado a Dilma, que ele chama o Ustra de o terror de Dilma Rousseff não vota. Não foi o Ustra, ele tá errado, mas é isso que ele queria fazer. Ele queria dizer para a presidenta que estava sendo impichada: hoje é um dia de festa para o cara que torturou você.
Fernando de Barros e Silva: Mas Ustra era o chefe da tortura no DOI-CODI.
Celso Rocha de Barros: Mas acho que, tanto quanto eu saiba, não era ele o responsável pela prisão da Dilma. Sim, falei em universidades estrangeiras. Alguém conhece um caso desse em qualquer parlamento do mundo que aconteceu uma coisa tão abjeta quanto essa? Ninguém conhece. Deve ter sido o evento mais bizarro da história parlamentar mundial e não aconteceu nada com o cara. O cara se elegeu presidente, o Centrão todo apoiou ele. Se esses caras não foram cassados, um monte de gente já fez coisa muito pior. Eu sempre falo aqui da reunião de 30 de novembro de 2022. Falei já no primeiro bloco. Vou ficar falando isso até morrer, que os bolsonaristas foram lá em pleno Congresso pedir golpe de Estado. Ninguém ali foi cassado, ninguém foi investigado, punido de qualquer coisa, ninguém tomou advertência verbal. Então assim, o Glauber chutou a bunda lá do cara do MBL. Eu acho que ele tem que ser punido. Assim, eu não acho que o parlamentar tem que fazer isso nas dependências do Congresso. Agora, a punição tem que ser proporcional. Você pode ter pena de advertência verbal até a suspensão do mandato por alguns meses, umas coisas dessas. Assim você pode fazer isso e pronto. É óbvio que ele não está sendo punido por causa disso, por chutar a bunda do cara do MBL. Está sendo punido porque ele brigou com o Arthur Lira, o que é bastante público. Ele deu no seu orçamento secreto. Então essa não é uma punição ao Glauber Braga, Não é uma punição só o PSOL, mas é uma punição para todo mundo que tentar fazer o papel de grilo falante, de consciência do Congresso, tentar ser uma minoria mínima, que não tem grande chance de influenciar as grandes questões, mas que vai ficar ali falando a verdade sobre o que está acontecendo no Congresso, que é um papel necessário, eu acho. E aí eu acho que é isso que o Congresso está tentando punir. E a propósito, o MBL, que fez aquelas passeatas todo em 2016 pelo impeachment, dizendo que lutava contra a corrupção, agora está se prestando a esse papel. Vai produzir o primeiro mártir do orçamento secreto. Vai produzir o primeiro cara que tomou um pé na bunda e aí vai causar a cassação do cara que denunciou orçamento secreto. Bonito papel, hein, velho? Fica aí, meus parabéns. Enfim, se o Glauber for condenado, se ele for cassado, vai continuar tendo gente batendo um no outro no Congresso. Agora vai ter menos gente denunciando o presidente da Câmara quando ele fizer as barbaridades que o Arthur Lira fazia.
Fernando de Barros e Silva: Perfeito. Eu assino embaixo. Ana.
Ana Clara Costa: Eu queria falar um pouco do Arthur Lira também. Bom, sobretudo na gestão dele. A Câmara funciona muito como corporação, em que ele se colocava um pouco como caudilho daquilo tudo. Ele era o chefão da câmara e ele nunca aceitou nenhum tipo de ataque frontal contra ele. E esses ataques realmente não aconteciam nem pelo PT, nem pelo PCdoB ou qualquer outro partido de esquerda. Então por isso os ataques do Glauber Braga chamavam tanta atenção naquela época, porque eles eram únicos. Para vocês terem uma ideia, quando uma vez um deputado sem saber que o microfone estava aberto, se referiu ao Lira como um xingamento. Isso foi notícia porque era incomum, no auge do orçamento secreto e tudo mais, ele não sofria ataques diretos. Isso era uma característica da gestão dele e é uma característica autoritária que era também na condução da pauta. O Arthur Lira era autoritário como presidente, então era. Você não pode falar nada de mim e a pauta vai funcionar do jeito que eu quiser e de uma forma até truculenta. Eu não sei se vocês se lembram quando a deputada Talíria Petroni, também do PSOL, se referiu a ele como racista numa comissão, ele interpelou extrajudicialmente a Talíria, associações tiveram que sair em defesa dela. Ele queria partir para cima dela porque ele considerou que ela atacou a honra dele ao dizer que ele era racista. Então, quando o episódio do MBL aconteceu, o Arthur Lira viu espaço para entrar arrebentando e a única forma dele recuar teria sido alguém do círculo próximo dele tentar convencê-lo a desistir. Mas o deputado Glauber Braga não tinha relação com ninguém próximo dele. Hoje, parece que algumas pessoas, alguns líderes partidários, estão entrando ali como bombeiros. Eu ouvi de uma fonte que o Kassab estaria aí tentando atuar em favor porque recebeu o pedido de alguém. E o Hugo Motta também. Ele não gostaria de ele fazer essa cassação. Mas você também tem ali acontecendo na Câmara essa disputa de poder um pouco velada ali, do Arthur Lyra, querendo mandar de alguma forma continuar mandando, mesmo tendo saído da presidência. Isso acho que também faz parte do jogo. Agora, para os deputados que estão ali no Conselho de Ética, a conta que eles fazem é a seguinte vou me indispor com Lira, que ainda mantém uma certa posição de poder para salvar o mandato do Glauber Braga? Provavelmente a maioria vai dizer que não. Bom, o Pedro trouxe essas informações sobre as possibilidades de tramitação da cassação porque ainda tem o processo de cassação de Domingos Brazão, que teria que acontecer antes. E o que eu apurei é que o Lira cogita realmente atuar nos bastidores para caçar logo o Brazão, só para poder cassar o Glauber também, caso a cassação de fato se concretize. Como o Fernando falou, vai ser a primeira vez que um deputado é cassado por cometer um ato violento dentro da Câmara. O Bernardo Mello Franco, colunista do GLOBO, lembrou na semana passada que o relator do caso do Glauber no Conselho de Ética, o deputado Paulo Magalhães, é o mesmo que há mais de 20 anos partiu para cima do autor de um livro sobre o seu tio, o Antônio Carlos Magalhães, o ACM, dentro da Câmara e nada aconteceu além do Chiquinho Brazão, que é acusado de ser o mandante do assassinato da Marielle e ainda tem mandato. O Bernardo também lembrou que o deputado delegado da Cunha, que virou réu por violência doméstica depois de bater e ameaçar a ex-mulher. E o que aconteceu com ele? Uma censura verbal do Conselho de Ética, Ou seja, nada. E aí eu peguei mais alguns casos que eu acho que podem ilustrar alguma coisa. Durante a votação do impeachment, como o Celso bem disse, o Bolsonaro cometeu a violência de evocar o nome do Ustra e depois o Jean Wyllys cuspiu nele. Quem foi alvo de processo do Conselho de Ética por quebra de decoro foi o Jean Wyllys, claro, mas não foi cassado. Em 2000, o Luiz Estevão, que era senador, foi acusado pelo colega João Capiberibe de corrupto e partiu para cima dele no Senado. Ele foi cassado, mas não porque ele bateu no João Capiberibe. Sim, porque ele estava enrolado no caso de corrupção, o que mostrava que a acusação do João Capiberibe não estava totalmente falsa, tanto que ele foi preso, condenado e preso anos depois e todos os parlamentares cassados no Brasil depois da redemocratização tem a ver com crimes cometidos, ou seja, corrupção, crime eleitoral ou até mesmo assassinato, como no caso da Flor de Lis. Com esse histórico, fica difícil a gente achar normal uma cassação por um chute depois de a pessoa xingar a sua mãe, né?
Celso Rocha de Barros: À época, o PSOL divulgou um vídeo do cara assediando Glauber em várias situações, em vários eventos.
Fernando de Barros e Silva: E esse sujeito do MBL é um delinquente, né? Chamar de manifestante é uma concessão que a gente faz. Ele é um delinquente, provocador, delinquente, um sujeito realmente que representa o MBL e o Arthur Lira é um gangster. Essa eventual cassação do Glauber vai premiar o gangsterismo do Arthur Lyra, que é uma espécie de 2.0 do Eduardo Cunha. A gente sabe disso. É nisso que a gente está metido. Falo isso e endosso todas as ressalvas que o Celso fez, embora eu adoraria dar um pé na bunda do sujeito do MBL. Um parlamentar não pode fazer isso, não pode fazer isso. E ao reproduzir a violência física ou reproduzir a agressividade desses provocadores, o sujeito está avalizando um comportamento em que a direita vai ganhar sempre. A extrema direita vai ganhar sempre porque é o elemento deles. A gente vai estar daí como peixe na água se a gente envereda por esse caminho, então é isso. Vamos terminando o terceiro bloco do programa por aqui. Fazemos um rápido intervalo, vamos para o Kinder Ovo. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, estamos de volta a diretora. É a hora que você se diverte às nossas custas. Solta aí, Mari!
Sonora: O Brasil mudou, mas como diz o Paulinho da Viola, se tudo mudou?
Ana Clara Costa: Mucio
Sonora: Vamos fazer um novo bloco, mas não vamos rasgar a fantasia.
Ana Clara Costa: Que voz.
Celso Rocha de Barros: Vou ficar puto de ter errado.
Fernando de Barros e Silva: Nossa Senhora. Mas tá, tá diferente. A voz eu conheço também. Quem fala. Celso Rocha de Barros é o deputado federal Rui Falcão, em entrevista à CNN Brasil. Mas o Rui Falcão tá com essa voz aveludada de William Bonner.
Celso Rocha de Barros: Putz, Rui Falcão, esse ai deu uma boa entrevista para o meu livro.
Fernando de Barros e Silva: Bom, derrota da classe operária. Vamos para o Correio Elegante. O melhor momento do programa, o momento das cartinhas, o momento de vocês.
Fernando de Barros e Silva: E eu vou começar com a mensagem que o Vinícius Prego deixou no Spotify. Recentemente, minha esposa, Ana e eu completamos 40 anos e essa semana faremos dez anos lado a lado. Durante essa jornada vivemos em três cidades e tivemos uma filha, Antônia. Diante de tantas experiências e conquistas. Ana ainda espera uma coisa escutar o Foro em família e não cada um em seu fone. Pois bem, gostaria do apoio de vocês para comunicar o meu SIM ao Foro em família. Obrigado pelo ótimo trabalho e um abraço. Ana, é o sim do Vinícius. Foro em família, Foro o programa da família brasileira.
Ana Clara Costa: A Mariana Zdravca enviou o seguinte e-mail. Mariana, perdão se eu pronuncia errado o seu sobrenome. Há quatro anos eu deslizava pelo Tinder sem muitas esperanças, até que apareceu um homem lindo com uma frase de impacto no perfil “Viva o Foro de Teresina!” Ai meu Deus! Na hora pensei. Meio caminho andado. Arrastei para a direita e desde então a história está sendo escrita. Essa semana comemoramos três anos de casados com muito amor, risadas e, claro, episódios religiosamente ouvidos toda a semana, além de um alto grau de competitividade no momento Kinder Ovo. Quero ver se eles acertaram hoje. Tenho certeza de que escutar esse recado vai ser um belo presente para o Gustavo, que além de fã do foro, se orgulha de ser um grande acertador do Kinder Ovo. Gustavo, te amo meu amor! E viva o Foro de Teresina! Mariana e Gustavo, que máximo!
Fernando de Barros e Silva: Que legal! Chegamos ao Tinder, tá vendo? Foro, um orgasmo total nisso daí.
Ana Clara Costa: Socorro! Com essa voz, Fernando, fica difícil, hein? Ouvindo essa imitação é difícil.
Fernando de Barros e Silva: Difícil chegar ao orgasmo total. Arrigo Barnabé, né? Tem a música orgasmo total. Orgasmo total.
Celso Rocha de Barros: Lá no YouTube, a arroba Dânia foi sucinta e a Mari selecionou o comentário dela para ver se ela fica feliz como a Mariana do correio da Ana ela postou somente nunca receberia uma cartinha carinhosa no Foro de Teresina e isso é triste.
Fernando de Barros e Silva: Pois, não é mais triste.
Ana Clara Costa: Mari, maravilhosa o carinho da nossa diretora com os nossos ouvintes.
Fernando de Barros e Silva: Exatamente.
Celso Rocha de Barros: Valeu Valdani!
Fernando de Barros e Silva: Bom, a gente vai encerrando o programa de hoje por aqui. Se você gostou, não deixe de seguir e dar five stars para a gente no Spotify. Segue no Apple Podcast, na Amazon Music Favorita, na Deezer e se inscreva no YouTube e no site da Piauí você encontra agora a transcrição do episódio. Isto é novo. A diretora me lembra. O Foro de Teresina é uma produção da Rádio Novelo para a revista Piauí, durante a licença maternidade da Evelyn Argenta. A coordenação geral é da Bárbara Rubira. A direção é da Mari Faria, com produção e distribuição da Maria Júlia Vieira. A checagem é do Gilberto Porcidônio. A edição é da Bárbara Rubira e do Tiago Picado. A identidade visual é da Amanda Lopes. A finalização e mixagem são do João Jabace e do Luís Rodrigues, da Pipoca Sound. Jabace e Rodrigues também são os intérpretes da nossa melodia tema. A coordenação digital é da Bia Ribeiro, da Emily Almeida e do Fábio Brisola. O programa de hoje foi gravado no estúdio Rastro, do Danny Dee,, no Rio de Janeiro, na minha casa em São Paulo. Eu me despeço então dos meus amigos. Ana Tchau.
Ana Clara Costa: Tchau, Fernando. Tchau pessoal. Feliz Páscoa para os de Páscoa.
Fernando de Barros e Silva: É isso, Celso!
Celso Rocha de Barros: Tchau. Até mais, Fernando. Até a semana que vem. E feliz Páscoa para quem é de Páscoa.
Fernando de Barros e Silva: Feliz Páscoa para quem é de Páscoa. Ótima semana a todos e até a semana que vem!
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