75,2% dos rios da Mata Atlântica estão com qualidade de água regular, e estado de SP concentra os que tiveram piora, diz relatório
Relatório da Fundação SOS Mata Atlântica, lançado às vésperas do Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, aponta que rios seguem poluídos e faz alerta para a necessidade de investimentos em saneamento. Vista do Rio Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, com coloração verde em 25 de setembro de 2024 LECO VIANA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO A qualidade da água dos rios nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica não apresentou sinais significativos de recuperação nos últimos anos e 75% deles estão com a qualidade da água regular, ou seja, apresentam impactos ambientais que podem comprometer seu uso para consumo ou lazer. É o que aponta a análise do programa Observando os Rios 2025, divulgado nesta sexta-feira (21) pela Fundação SOS Mata Atlântica, na véspera do Dia Mundial da Água. O relatório "O retrato da qualidade da água nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica" reúne dados coletados em 112 rios entre janeiro e dezembro de 2024. A análise foi realizada por voluntários em 145 pontos de coleta em 67 municípios de 14 estados. Dos 145 pontos monitorados em 2024: 11 pontos (7,6%) apresentaram qualidade boa; 109 (75,2%) ficaram na categoria regular; 20 (13,8%) foram classificados como ruins; 5 (3,4%) foram qualificados como péssimos, a pior qualificação; Nenhum ponto registrou qualidade ótima. Qualidade da água dos rios da Mata Atlântica Arte/g1 Os resultados mostram também que os rios com piora de qualidade passam pelos municípios do estado de São Paulo. A comparação com os dados do ano anterior revela também um cenário ainda mais desafiador. Entre os 127 pontos monitorados nos dois anos consecutivos, houve: Aumento no número de rios com qualidade ruim; Permanência de quatro pontos com qualidade péssima, incluindo o Rio Pinheiros, na capital, e o Ribeirão dos Meninos, em São Caetano do Sul; Nenhum ponto analisado atingiu a classificação de qualidade ótima. Índice de Qualidade da Água O Índice de Qualidade da Água (IQA), utilizado no monitoramento dos rios, classifica a água em cinco categorias: ótima, boa, regular, ruim e péssima. Entenda abaixo: Rios com qualidade ótima ou boa: contam com condições adequadas para abastecimento, produção de alimentos e vida aquática equilibrada; Rios com qualidade regular: apresentam impactos ambientais que podem comprometer seu uso para consumo ou lazer; Rios com qualidade ruim ou péssima: a poluição atinge níveis críticos, prejudicando tanto a biodiversidade quanto a população que depende desses recursos hídricos e a saúde pública. Para Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios na SOS Mata Atlântica, os resultados evidenciam que os esforços para melhorar a qualidade da água não estão sendo suficientes. “Nossos rios estão por um triz. O monitoramento deste ano deixa claro que a situação é crítica. A estagnação dos índices de qualidade da água e o aumento de pontos classificados como ruins mostram que não há avanço real. Precisamos de ações mais eficazes e de investimentos urgentes em saneamento, porque enquanto não resolvermos isso nossos rios continuarão ameaçados”, afirma. Piora na qualidade de água No estado de São Paulo, onde se concentra a maioria dos pontos de análise do programa Observando os Rios, foi registrada a maior quantidade de rios com piora na qualidade da água. Em 2023, eram 6 pontos com qualidade boa, 42, regulares, 10, ruins e 4, péssimos. Em 2024, esses números passaram a ser: 4, bons, 43, regulares, 11, ruins e 4, péssimos. Conforme a análise, em Atibaia, o Córrego Onofre passou da média regular para ruim. "Essa alteração pode ter sido consequência do longo período de estiagem no ano passado - as primeiras chuvas da estação úmida não conseguiram diluir a concentração de poluentes", diz o relatório. Índice de Qualidade da Água (IQA), utilizado no monitoramento dos rios, classifica a água em cinco categorias Arte/g1 Em Ilhabela, destino turístico no Litoral Norte com um dos maiores PIBs per capita do Brasil devido à receita dos royalties de petróleo, por exemplo, a situação de saneamento ainda é muito precária, ressalta a pesquisa. Dois córregos da cidade que tinham condição boa no ano de 2023 passaram para média regular: os córregos da Feiticeira e Ribeirão. E a piora na qualidade das águas desses córregos pode estar relacionada às obras de alargamento da via principal que passa sobre eles, afetando diretamente suas condições. No caso do Córrego da Feiticeira, quase houve soterramento, além do despejo de efluentes provenientes do extravasamento da fossa do canteiro de obras. Já no Ribeirão, voluntários observaram que parte do esgoto proveniente da nova estação elevatória tem sido extravasado pelas sarjetas, atingindo o rio. Ainda em Ilhabela, o Córrego Itaguaçu/Itaquanduba apresentou uma piora na qualidade da água, passando de regular para ruim. "Essa região possui uma alta densidade populacional, crescimento de construções irregulares e proximidade com o emissário de efluentes em operação do município, fa


Relatório da Fundação SOS Mata Atlântica, lançado às vésperas do Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, aponta que rios seguem poluídos e faz alerta para a necessidade de investimentos em saneamento. Vista do Rio Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, com coloração verde em 25 de setembro de 2024 LECO VIANA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO A qualidade da água dos rios nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica não apresentou sinais significativos de recuperação nos últimos anos e 75% deles estão com a qualidade da água regular, ou seja, apresentam impactos ambientais que podem comprometer seu uso para consumo ou lazer. É o que aponta a análise do programa Observando os Rios 2025, divulgado nesta sexta-feira (21) pela Fundação SOS Mata Atlântica, na véspera do Dia Mundial da Água. O relatório "O retrato da qualidade da água nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica" reúne dados coletados em 112 rios entre janeiro e dezembro de 2024. A análise foi realizada por voluntários em 145 pontos de coleta em 67 municípios de 14 estados. Dos 145 pontos monitorados em 2024: 11 pontos (7,6%) apresentaram qualidade boa; 109 (75,2%) ficaram na categoria regular; 20 (13,8%) foram classificados como ruins; 5 (3,4%) foram qualificados como péssimos, a pior qualificação; Nenhum ponto registrou qualidade ótima. Qualidade da água dos rios da Mata Atlântica Arte/g1 Os resultados mostram também que os rios com piora de qualidade passam pelos municípios do estado de São Paulo. A comparação com os dados do ano anterior revela também um cenário ainda mais desafiador. Entre os 127 pontos monitorados nos dois anos consecutivos, houve: Aumento no número de rios com qualidade ruim; Permanência de quatro pontos com qualidade péssima, incluindo o Rio Pinheiros, na capital, e o Ribeirão dos Meninos, em São Caetano do Sul; Nenhum ponto analisado atingiu a classificação de qualidade ótima. Índice de Qualidade da Água O Índice de Qualidade da Água (IQA), utilizado no monitoramento dos rios, classifica a água em cinco categorias: ótima, boa, regular, ruim e péssima. Entenda abaixo: Rios com qualidade ótima ou boa: contam com condições adequadas para abastecimento, produção de alimentos e vida aquática equilibrada; Rios com qualidade regular: apresentam impactos ambientais que podem comprometer seu uso para consumo ou lazer; Rios com qualidade ruim ou péssima: a poluição atinge níveis críticos, prejudicando tanto a biodiversidade quanto a população que depende desses recursos hídricos e a saúde pública. Para Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios na SOS Mata Atlântica, os resultados evidenciam que os esforços para melhorar a qualidade da água não estão sendo suficientes. “Nossos rios estão por um triz. O monitoramento deste ano deixa claro que a situação é crítica. A estagnação dos índices de qualidade da água e o aumento de pontos classificados como ruins mostram que não há avanço real. Precisamos de ações mais eficazes e de investimentos urgentes em saneamento, porque enquanto não resolvermos isso nossos rios continuarão ameaçados”, afirma. Piora na qualidade de água No estado de São Paulo, onde se concentra a maioria dos pontos de análise do programa Observando os Rios, foi registrada a maior quantidade de rios com piora na qualidade da água. Em 2023, eram 6 pontos com qualidade boa, 42, regulares, 10, ruins e 4, péssimos. Em 2024, esses números passaram a ser: 4, bons, 43, regulares, 11, ruins e 4, péssimos. Conforme a análise, em Atibaia, o Córrego Onofre passou da média regular para ruim. "Essa alteração pode ter sido consequência do longo período de estiagem no ano passado - as primeiras chuvas da estação úmida não conseguiram diluir a concentração de poluentes", diz o relatório. Índice de Qualidade da Água (IQA), utilizado no monitoramento dos rios, classifica a água em cinco categorias Arte/g1 Em Ilhabela, destino turístico no Litoral Norte com um dos maiores PIBs per capita do Brasil devido à receita dos royalties de petróleo, por exemplo, a situação de saneamento ainda é muito precária, ressalta a pesquisa. Dois córregos da cidade que tinham condição boa no ano de 2023 passaram para média regular: os córregos da Feiticeira e Ribeirão. E a piora na qualidade das águas desses córregos pode estar relacionada às obras de alargamento da via principal que passa sobre eles, afetando diretamente suas condições. No caso do Córrego da Feiticeira, quase houve soterramento, além do despejo de efluentes provenientes do extravasamento da fossa do canteiro de obras. Já no Ribeirão, voluntários observaram que parte do esgoto proveniente da nova estação elevatória tem sido extravasado pelas sarjetas, atingindo o rio. Ainda em Ilhabela, o Córrego Itaguaçu/Itaquanduba apresentou uma piora na qualidade da água, passando de regular para ruim. "Essa região possui uma alta densidade populacional, crescimento de construções irregulares e proximidade com o emissário de efluentes em operação do município, fatores que podem ter contribuído para essa deterioração", afirma o relatório. O Rio Jundiaí, em Salto, teve a média de resultados caindo de boa para regular. Lá, foi verificado pelos voluntários do Observando os Rios o crescimento dos bairros em direção à nascente do ponto de monitoramento. Em toda incursão de coleta e análise da qualidade da água do rio, os voluntários sentiram forte cheiro de esgoto e notaram a presença de espuma. A suspeita é a de que deve haver despejos irregulares de esgotos domésticos. Na região metropolitana de São Paulo, em Santo André, o Rio Comprido também teve piora na média dos resultados, caindo de regular para ruim. "Lá existe uma grande pressão imobiliária, com muitas obras em andamento, o que gera aumento populacional e, consequentemente, maior geração de esgoto, que, não sendo devidamente encaminhado para estação de tratamento, acaba despejado no rio", aponta a análise. Na capital paulista, o Córrego do Sapateiro passou de qualidade boa para regular. Ele alimenta o lago do Parque Ibirapuera, o mais famoso da cidade, que sempre tem oscilação nas médias de resultado, variando entre boa e regular. Nas comparações de dados, o que chamou a atenção foi o rio Pinheiros. Não por alteração da média de qualidade, mas pela manutenção de sua qualidade péssima. O rio se manteve na condição péssima nos três pontos analisados, além do ponto do ribeirão dos Meninos, em São Caetano do Sul. "Manter o enquadramento de um rio em Classe 4 leva a esse tipo de situação, em que um rio de qualidade péssima está dentro dos conformes regulatórios. Esta é a classe que apresenta a pior condição ambiental entre todas, pois não estabelece limites de concentração de poluentes a serem diluídos no rio e, dessa forma, mantém a água com índices ruim ou péssimo, que não permitem usos diversos. Não é isso que a sociedade quer para nossos rios", enfatiza o relatório. Contudo, o relatório também aponta que houve melhora no Córrego São José, localizado no bairro do Ipiranga, na capital paulista - que foi de ruim para regular -, assim como o Rio Boiçucanga, em São Sebastião, no Litoral Norte. A ponte Estaiada é vista refletida na proliferação de algas que deixaram verde a água do Rio Pinheiros, na Zona Sul de São Paulo. Segundo a Cetesb, o período seco diminuiu as contribuições dos afluentes, mantendo vazão muito baixa na calha principal e favorecendo a proliferação de algas, responsáveis pela alteração da cor (10 de setembro) Jorge Silva/Reuters Outros estados Em Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul os pontos monitorados mantiveram em 2024 as mesmas classificações de 2023. Em Pernambuco, houve alteração em um ponto, que saiu de regular para ruim. Já nos três pontos passíveis de comparação com o período anterior, houve manutenção de qualidade média regular. No Rio de Janeiro, em 2023 eram 10 pontos regulares e um ruim, enquanto em 2024 constataram-se 9 regulares, um ruim e um bom. Em Santa Catarina também houve alteração. Em 2023, eram 6 pontos regulares, frente a 4 regulares e 2 ruins, em 2024. Por fim, em Sergipe eram 6 regulares e agora são 2 bons e 4 regulares. Saneamento precário ainda é maior obstáculo O estudo reforça que o principal entrave para a recuperação da qualidade da água ainda é o saneamento básico insuficiente. O relatório destaca que eventos climáticos extremos, como secas severas e chuvas intensas, afetam diretamente os rios, aumentando a concentração de poluentes e reduzindo a disponibilidade de água limpa. “Poluir um rio é muito rápido, mas recuperá-lo é um processo lento e caro. Em um cenário de emergência climática, adiar soluções só vai tornar a crise hídrica ainda mais grave”, alerta Gustavo Veronesi. Ainda assim, há casos pontuais de melhoria que demonstram o potencial de recuperação quando há mobilização e políticas adequadas. O Córrego Trapicheiros, na cidade do Rio de Janeiro, apresentou uma melhora de qualidade regular para boa, assim como os rios Sergipe e do Sal, em Sergipe. Para Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, o Brasil ainda enfrenta dificuldades para integrar políticas de água, clima, meio ambiente e saneamento, um desafio essencial para a gestão sustentável dos recursos hídricos. “A sociedade civil precisa estar cada vez mais ativa nos comitês de bacias hidrográficas e na defesa da água limpa, porque o cenário não melhora sozinho. Enquanto a ONU reforça a urgência de políticas integradas até 2030, o Brasil ainda precisa avançar para transformar compromissos em ações concretas", diz. E complementa: "O retrato da qualidade da água dos rios da Mata Atlântica, construído por meio da ciência cidadã, reforça essa necessidade e evidencia o papel crucial da mobilização social para garantir um futuro sustentável para todos”. Rio Jundiaí em Salto Divulgação/Prefeitura de Salto Rio Pinheiros Bervelin Albuquerque/g1