25 de Abril de 2025
No telejornal ouço breves declarações do secretário-geral do PCP, ripostando certeiramente às esparvoadas declarações de um ministro (esta gente não tem quem lhes escreva textos?) sobre o 25 de Abril. Dizia Raimundo "isto não é uma festa, é uma celebração!" ("e as celebrações não se adiam", concluia. Pois podem-se suspender, claro. Mas não adiar). Eu gosto de festas (se recatadas, que me falta energia para festivais e festarolas). De manhã um simpático vizinho convidou-me para me juntar aos dele (que me são algo simpáticos) no desfile. Recusei, grato, explicando-lhe (até lhe enviando um texto que li há dois anos num 25 de Abril) que nunca vou a este desfile. Pois não celebro (a democracia, ainda por cima) com comunistas - versões brejnevistas, enverhoxistas, polpotistas, maoístas, guevaristas, etc. Nada oponho a festejar conjunto uma qualquer efeméride ou vitória sportinguista. Mas "celebrar" a democracia com os seus adversários? É bom para o folclore, para a mimalhice. E será também para a afirmação partidária (louvável o estômago dos da IL em marchar ali depois do PCP - donos do desfile - os ter impedido de participar). Mas não sou de "folclores". Depois um grande amigo, fotógrafo, telefonou-me: "vou fotografar, queres vir?", e isso seria diferente, vestiria o colete de observador não-participante, "se calhar escrevemos um texto juntos" (para blog, que ninguém nos paga...). Mas desisti, sem energias pois acabrunhadíssimo com episódio que sofri há dois dias. Percebendo-me desasado uma querida amiga passou por minha casa e levou-me ao café local. Ela avançou na sua amêndoa amarga, eu amornando uma parca imperial, logo unidos por outra amiga, minha "mana", esta optando pela sua Sagres. Escorremos umas horas. Na televisão, frenética, incessante, a cobertura da arruaça na baixa lisboeta, cometida por umas dezenas de histéricos. Nesse entretanto viu-se (centenas de vezes, sem exagero) a detenção de um antigo juiz. Mais uns sopapos e meia dúzia de bastonadas. Repetidas, vezes sem conta. Ali ao lado, a avenida da Liberdade estava cheia - sim, da gente folclórica que mitografa que os democratas são os socialistas e os comunistas e que nós outros somos "faxistas", ainda hoje, em pleno 2025 o dizem (mas eles ou os seus filhos emigram ou vão estudar para os países governados pelos "faxistas", coisas do arco da velha). Mas não é isso que me interessa aqui. O relevante é terem as televisões passado horas a propagandear aquela minudência holiganesca. (Com menos porrada do que em qualquer derbi Braga-Guimarães, já agora). No 25 de Abril os mariolas colonizaram a televisão... E os "jornalistas"? Adoraram.
