100 dias de Donald Trump, coletiva de Galípolo e IGP-M de abril – veja os destaques do mercado nesta terça-feira (29)
A agenda desta terça-feira (29) concentra divulgação de dados econômicos relevantes no Brasil e nos EUA, como o IGP-M e o relatório de emprego JOLTS. Confira. O post 100 dias de Donald Trump, coletiva de Galípolo e IGP-M de abril – veja os destaques do mercado nesta terça-feira (29) apareceu primeiro em Empiricus.

O presidente dos EUA, Donald Trump, celebra hoje o 100º dia de seu ruidoso retorno à Casa Branca. É difícil imaginar que até mesmo os observadores mais céticos esperassem um início de segundo mandato tão turbulento quanto o que testemunhamos até agora. A sucessão de mudanças abruptas de política — muitas vezes anunciadas por declarações inesperadas — já começa a gerar efeitos econômicos visíveis, alimentando incertezas que contaminam a confiança dos agentes.
Coincidindo com essa marca simbólica, inicia-se hoje a divulgação de uma sequência relevante de dados do mercado de trabalho americano, começando pelo relatório JOLTS, que mede a criação de vagas e a rotatividade de mão de obra. Trata-se de uma peça fundamental para calibrar as expectativas em torno da trajetória dos juros: dados mais fracos aumentam a probabilidade de cortes pelo Federal Reserve. Naturalmente, cortes de juros nos Estados Unidos tendem a irradiar benefícios para outros mercados — em especial os emergentes mais sensíveis ao humor global, como o brasileiro — num movimento semelhante ao que já começamos a observar em 2025.
A temporada de resultados corporativos também segue intensa, tanto lá fora quanto aqui. Microsoft e Meta devem divulgar seus números amanhã (30), enquanto Apple e Amazon estão previstas para quinta-feira (1º de maio). No cenário externo, os futuros americanos apontam para uma abertura em alta nesta manhã, acompanhando o bom humor observado nas bolsas europeias. O desempenho da Ásia, no entanto, foi mais fraco: as bolsas chinesas encerraram o pregão em leve queda, ainda que Trump tenha adotado um tom ligeiramente menos agressivo nas últimas horas, prometendo medidas para suavizar o impacto das tarifas sobre o setor automotivo. Entre as commodities, o petróleo volta a recuar diante das preocupações renovadas com a demanda global, em meio à escalada tarifária — poderá exercer pressão sobre o mercado local.
· 00:58 — Calor em Brasília
No Brasil, o Ibovespa registrou ontem (28) sua sexta alta consecutiva, voltando a ultrapassar os 135 mil pontos e se aproximando novamente das máximas históricas. Os investidores seguem atentos aos desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China, enquanto aguardam o avanço da temporada de balanços, tanto no mercado doméstico quanto no exterior. A propósito, a Petrobras divulga hoje seu relatório de produção e vendas, adicionando mais um ingrediente à agenda do dia.
Além disso, digerimos nesta manhã um IGP-M de abril que veio acima das expectativas, reforçando a atenção sobre a inflação. No campo da política monetária, o mercado aguarda hoje (29) uma nova coletiva de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central. Suas declarações recentes surpreenderam pela inclinação inesperadamente hawkish, destoando da comunicação mais branda que vinha sendo adotada por outros membros do Copom. O recado dado ontem puxou para cima a curva de juros de curto prazo, reforçando a expectativa de que ainda teremos mais uma ou duas altas de juros.
Essa elevação dos juros, naturalmente, enfraquece o dólar, que já caiu para baixo dos R$ 5,65. No entanto, o comportamento da moeda seguirá condicionado aos próximos dados de atividade e inflação, ao quadro fiscal doméstico — ainda muito frágil — e às incertezas do cenário internacional. Até aqui, a expectativa de que o ciclo de aperto esteja se aproximando do fim sustenta o otimismo dos investidores, que já começam a projetar cortes de juros à frente, mesmo em um ambiente em que o governo insiste em “acelerar” com o freio de mão puxado, criando artificialidade na atividade e nos preços.
Falando em governo, o presidente Lula enfrenta uma nova encruzilhada: pode ser forçado a demitir um ministro em meio a um escândalo de corrupção já comentado neste espaço. Trata-se de Carlos Lupi, da Previdência, arrastado para o centro da crise envolvendo o INSS. Por ora, fiel à sua conhecida teimosia, Lula mantém Lupi no cargo, resistindo a ceder a pressões internas. Seu comportamento padrão — o de recusar mudanças ministeriais a menos que partam exclusivamente de sua própria vontade — volta à tona: a simples percepção de ser pressionado, ainda que por aliados, costuma acionar seu instinto defensivo, cada vez mais forte à medida que chega aos 80 anos.
Por sinal, como falamos aqui, o ciclo de deterioração da popularidade do presidente parece ter atingido um platô. Depois da perda acentuada registrada desde o final do ano passado, a tendência de queda cessou, mas isso está longe de significar uma recuperação robusta. O governo aposta agora em medidas de estímulo com viés nitidamente eleitoral — algumas heterodoxas e, na prática, insustentáveis — para tentar reconquistar apoio popular. A próxima aposta é a ampliação da faixa de isenção do IR, com a instalação da comissão especial prevista para a próxima semana.
Desde já, é possível antecipar que o impacto positivo dessa medida sobre a popularidade será limitado. Mesmo que algum ganho ocorra, ele tende a ser tímido. A leitura central permanece a mesma: o pêndulo político deve começar a mudar em 2026, mas o trajeto até lá promete ser tão instável quanto previsível.
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· 01:49 — Ansiedade
Nos EUA, após os fortes avanços da semana passada, dois dos três principais índices de ações encerraram a segunda-feira em alta: o Dow Jones Industrial Average subiu 114 pontos, ou 0,3%, enquanto o S&P 500 registrou ganho marginal de 0,1%. Já o Nasdaq Composite destoou, recuando 0,1%. Pelo menos, o gráfico formado pelas oscilações lembra um sorriso — ainda que mais pareça o sorriso inquietante do Coringa do que algo genuinamente otimista. Grande parte do mundo corporativo permanece em compasso de espera desde que a retórica tarifária de Trump virou o mercado de cabeça para baixo, e essa postura de cautela ficou ainda mais evidente nesta segunda-feira. O motivo é simples: esta semana promete ser densa, com cerca de 180 empresas do S&P 500 divulgando seus balanços trimestrais — incluindo algumas “Magnificent Seven”, como Apple, Microsoft, Meta Platforms e Amazon.
A isso, somam-se importantes divulgações macroeconômicas: dados de confiança do consumidor, mercado imobiliário, o índice de preços PCE, o PIB do primeiro trimestre e o relatório de emprego. Dado o volume e a relevância dessas informações, não é de se estranhar que uma certa crise de ansiedade tenha se instalado entre os investidores. Ainda assim, vale destacar que, apesar das turbulências, o S&P 500 acumula queda modesta de apenas 1,5% em abril. E se conseguir encerrar o mês em território positivo, seria a primeira vez desde 1950 que o índice reverteria uma perda mensal de 10% em ganhos — um feito digno de nota, embora mais por excentricidade estatística do que por mérito econômico real. Na agenda de hoje, além da continuidade da temporada de balanços, teremos a divulgação do relatório JOLTS (Pesquisa de Vagas e Rotatividade de Mão de Obra) e o índice de Confiança do Consumidor referente a abril. Em ambos os casos, dados mais fracos tendem a reforçar as apostas em cortes de juros.
· 02:37 — 100 dias de Trump
Cem dias se passaram desde o início do segundo mandato do presidente Donald Trump. Como ele está se saindo? A resposta mais direta é: não tão bem — especialmente se considerarmos as pesquisas de opinião, que registram os piores índices de aprovação para um presidente nesta janela de tempo desde que esse tipo de levantamento começou a ser feito. Os mercados, como reflexo, seguem pressionados, e a economia global também exibe sinais de desaceleração.
O ponto central, porém, é que grande parte desse estrago parece ser autoinfligido. As bandeiras que Trump escolheu defender — encerrar guerras intermináveis, proteger a fronteira e buscar práticas de comércio mais justas — não apenas gozam de apoio popular, mas também poderiam ser consideradas políticas sensatas sob qualquer ótica pragmática. Um governo que se apoiasse de forma consistente nesses três pilares teria, em tese, caminho livre para construir uma base política robusta. Seria ótimo!
No entanto, a execução tem sido desastrosa, particularmente para quem, em algum momento, nutriu a expectativa de que este segundo mandato fosse pautado por mais experiência e por propostas genuinamente relevantes, como a redução de impostos, o enxugamento da máquina pública e a diminuição da burocracia — reformas que poderiam, inclusive, servir de inspiração para outros países, como o Brasil, que se aproxima de sua própria inflexão política em 2026 para algo mais pró-mercado.
Infelizmente, essa expectativa rapidamente se desfez. A guerra tarifária, até agora, foi o grande erro estratégico, impondo custos econômicos relevantes tanto para os EUA quanto para seus parceiros comerciais. Além disso, a proliferação de ordens executivas — Trump já acumula um volume recorde em tempo recorde — mina a credibilidade dos pesos e contrapesos que deveriam sustentar uma república democrática, gerando instabilidade institucional e adicionando mais camadas de risco aos mercados.
Em resumo, os primeiros cem dias de Trump 2.0 foram tudo, menos tranquilos. E seria otimista esperar que o restante do mandato seja substancialmente diferente. A melhor perspectiva que se pode ter neste momento talvez seja a de torcer por uma contenção — ainda que parcial — dos danos já em curso. Precisamos estar preparados…
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· 03:26 — O apagão europeu
O pior apagão a atingir a Europa em mais de uma década se arrastou durante grande parte do dia por Espanha e Portugal, mesmo com a operadora da rede elétrica trabalhando para restabelecer o fornecimento de energia em algumas regiões. A União Europeia, até o momento, aponta para um “problema técnico/de cabo” como causa da interrupção em massa — um diagnóstico que, ainda que preliminar, pouco consola diante da escala do colapso. Na prática, o cenário foi de caos: o transporte público ficou paralisado, serviços telefônicos foram interrompidos e os aeroportos enfrentaram longos atrasos, prejudicando a rotina de milhões de pessoas. Diante do quadro, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, limitou-se a oferecer palavras de solidariedade — uma resposta que soou tão apagada quanto a rede elétrica.
O blecaute ocorreu pouco depois do almoço, derrubando simultaneamente infraestruturas críticas em toda a Península Ibérica. Suspeita-se que oscilações bruscas de energia tenham causado a falha sistêmica, embora a hipótese de um ataque cibernético — sempre um temor latente em tempos de crescente vulnerabilidade digital — ainda não tenha sido completamente descartada. Vale notar que apagões nacionais são eventos extremamente raros na Europa, mas não inéditos.
A situação evidencia de forma constrangedora a necessidade de uma nova rodada de investimentos em infraestrutura crítica na região — algo que a Alemanha, por exemplo, pretende implementar nos próximos anos sob a liderança de Friedrich Merz. A Península Ibérica, ao que tudo indica, terá de seguir pelo mesmo caminho, se quiser evitar repetir episódios que remetem mais a sistemas elétricos em desenvolvimento do que ao padrão europeu que se orgulha de sua confiabilidade.
· 04:12 — E o pêndulo político?
Mark Carney protagonizou uma reviravolta notável na cena política canadense, conquistando uma vitória eleitoral apertada que manteve o Partido Liberal no poder. Ainda não está claro se vai governar em minoria (como costuma acontecer bastante no Canadá) ou com uma maioria frágil, mas o fato é que o ex-banqueiro central conseguiu resgatar os liberais de uma derrota que parecia inevitável há apenas quatro meses.
É difícil imaginar que Carney teria protagonizado uma das reviravoltas políticas mais impressionantes da história recente sem a contribuição involuntária de Donald Trump. As ameaças do presidente americano — que flertou publicamente com a ideia de transformar o Canadá no “51º estado” — provocaram uma reação instintiva de choque e orgulho nacional entre os canadenses, reacendendo o espírito de defesa da soberania em um momento crítico. A retórica agressiva de Trump, somada às ameaças ao comércio ao longo da mais extensa e desprotegida fronteira do mundo, acabou sabotando o que parecia ser uma vitória certa dos conservadores canadenses.
Há semanas venho apontando que líderes políticos ao redor do mundo, antes afundados no sentimento de rejeição ao incumbente pós-pandemia — em grande parte nutrido pelos efeitos inflacionários herdados daquele período —, têm encontrado em Trump uma inesperada tábua de salvação. A confrontação com o presidente americano oferece uma nova narrativa capaz de reunir apoio interno, mesmo sob desgaste.
Isso não significa, contudo, que o Canadá tenha escapado da dinâmica global de mudança de pêndulo político. A troca de Justin Trudeau — representante de uma esquerda mais progressista — por Mark Carney — um moderado pragmático que já passou pela iniciativa privada, no mercado financeiro, trabalhou com os conservadores e liderou dois bancos centrais, no Canadá e na Inglaterra — já representa uma adaptação dos liberais às novas exigências do eleitorado, algo típico de sistemas parlamentaristas. Agora, com a vitória assegurada, Carney enfrenta o verdadeiro teste de sua liderança: avançar nas negociações comerciais e de segurança com Trump.
· 05:04 — Guinada europeia
Nos EUA, como já debatemos anteriormente, o plano era ambicioso: reestruturar o sistema global de comércio, conforme delineado no artigo de Stephen Miran. A proposta, incrivelmente ousada, não apenas projetou seu autor à presidência do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, como também deu origem ao conceito do “Acordo de Mar-a-Lago” e foi amplamente visto como o roteiro para a tentativa de Trump 2.0 de redesenhar a ordem mundial por meio do uso de tarifas…
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