“Vemos o patrocínio como uma oportunidade para contar histórias sobre a marca”, Matthieu Corosine, co-fundador do Festival MOGA

"Quer venha para dançar até às 4 da manhã ou apenas para desfrutar do ioga e do pôr do sol, o MOGA oferece vários pontos de entrada, para que todos os tipos de festivaleiros se sintam em casa."

Abr 23, 2025 - 15:14
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“Vemos o patrocínio como uma oportunidade para contar histórias sobre a marca”, Matthieu Corosine, co-fundador do Festival MOGA

O MOGA Festival tem sido um elemento chave na transformação da Costa de Caparica como destino internacional, trazendo consigo uma fusão única de música, cultura e lifestyle. Desde a sua criação, o evento tem procurado proporcionar uma experiência imersiva que vai muito além dos palcos, tornando-se uma referência global no universo dos festivais boutique.

Matthieu Corosine, co-fundador do MOGA, partilha, nesta entrevista à Marketeer, a evolução do festival, os desafios do crescimento e a forma como a #mogatribe se tem expandido para além de Portugal, chegando agora a novos destinos como Espanha, Brasil e Uruguai. Fala também sobre a relação do festival com marcas internacionais, o impacto das iniciativas culturais e sociais na comunidade local e as expectativas para o futuro.

Com uma audiência diversa e uma abordagem que valoriza a autenticidade e a conexão entre pessoas, o MOGA continua a reinventar-se, consolidando-se como um evento que celebra a música e a arte num ambiente intimista e inesquecível.

O MOGA Festival tem ajudado a posicionar a Costa de Caparica como um destino internacional. Como avalia esta transformação e o papel do festival nesse processo?

A Costa de Caparica sempre teve um potencial incrível como destino: praias deslumbrantes, cultura local autêntica e proximidade de Lisboa. O que o MOGA trouxe foi uma nova forma de viver a Caparica – através da música, do estilo de vida e de um sentido de comunidade global. Acreditamos que ajudámos a mudar a percepção da Caparica de um local de praia local para um destino cultural. Ao atrair um público internacional diversificado que, normalmente, só vai a Lisboa e, ao oferecer mais do que apenas música, posicionámos a Caparica no mapa global dos festivais – sem perder a sua essência.

O conceito do MOGA é muito mais do que música, envolve cultura, intercâmbio e lifestyle. Como foi construída essa identidade tão singular?

O MOGA nasceu do desejo de fundir duas paixões: a música e as viagens com significado. Desde o início, imaginámos um festival que se assemelhasse mais a um escape cultural do que a um evento comercial. A identidade surgiu organicamente, escolhendo cidades costeiras ricas em património, concebendo experiências em torno da cultura local (surf, gastronomia, bem-estar) e criando uma atmosfera que coloca a comunidade em primeiro lugar. Sempre nos inspirámos em Marrocos, onde nasceu o primeiro MOGA, e esse ADN – de hospitalidade, narração de histórias e fusão – continua a orientar a nossa abordagem atual.

Com um crescimento de 53% de visitantes entre 2023 e 2024, que desafios têm surgido na gestão de um festival boutique que mantém uma experiência intimista e autêntica?

O crescimento é sempre uma faca de dois gumes. É um sinal de sucesso, mas exige que sejamos capazes de crescer sem perder a alma. O principal desafio é a logística – garantir o conforto, o bom funcionamento e uma sensação pessoal apesar de uma multidão maior. Para tal, mantemos uma capacidade diária limitada, melhoramos as experiências VIP e de bastidores e investimos fortemente na concepção do percurso do público – desde as comunicações antes da chegada até ao acompanhamento pós-festival. Também ouvimos atentamente o feedback da nossa tribo, o que nos ajuda a evoluir sem comprometer o que torna o MOGA especial.

O MOGA tem atraído marcas internacionais como Aperol, Tito’s e Monkey Shoulder. Como vê esta crescente presença de patrocinadores no festival e que impacto tem para o evento?

Vemos o patrocínio como uma oportunidade para contar histórias sobre a marca, e não como um complemento. Quando uma marca partilha os nossos valores – criatividade, autenticidade e boas vibrações – torna-se parte da experiência. O impacto vai para além do apoio financeiro. Os nossos patrocinadores ajudam a elevar a atmosfera do festival, possibilitam uma programação cultural gratuita e permitem-nos oferecer uma produção de maior qualidade.

Os locais e sítios que selecionamos são sempre únicos e proporcionam um enquadramento muito cénico para a visibilidade da marca. O facto de termos uma forte comunidade local e mundial é também uma grande mais-valia – algumas marcas estão dispostas a gastar o seu orçamento no Moga porque sabem que vão chegar a um público valioso que transmitirá os valores das marcas através da experiência que vivem no festival.

A #mogatribe tem crescido e já se expandiu de Portugal a Marrocos, e agora está a chegar a Espanha, Brasil e Uruguai. O que define esta comunidade e como pretende mantê-la conectada?

A #mogatribe é definida por um espírito partilhado: pessoas que adoram música, viagens, ligações e descobertas culturais. Não se trata apenas de assistir a um festival – trata-se de pertencer a algo mais profundo. Para manter esta comunidade viva, criamos pontos de contacto durante todo o ano: eventos pop-up, conteúdos exclusivos e colaborações locais em cada destino. Estamos a construir não apenas uma rede de festivais, mas uma marca de estilo de vida global – e a nossa tribo está no centro de tudo isto.

O OFF é uma parte fundamental da experiência do festival, com eventos culturais e desportivos gratuitos. Qual o impacto desta iniciativa na relação com a comunidade local?

O MOGA OFF é a nossa forma de dizer: não estamos aqui apenas para dar uma festa – estamos aqui para nos envolvermos e celebrarmos o local que nos acolhe. Desde limpezas na praia a aulas de surf, eventos gastronómicos locais a conversas com artistas, o programa OFF cria ligações reais com os residentes e apoia a economia local.

Também convida as pessoas que podem não participar no festival principal a fazer parte da experiência MOGA – o que é crucial para a sustentabilidade a longo prazo e para a confiança da comunidade. Vemos o OFF como uma verdadeira alavanca económica para a cidade que nos acolhe, uma vez que prolonga a duração da estadia da nossa tribo, o que tem um bom impacto em todas as empresas locais.

Também tentamos contribuir para o bem-estar da cidade, tendo no ano passado pintado um muro com uma criação original de artistas de rua de Marrocos e da Costa da Caparica. Esta ponte que estamos a tentar criar resulta em oportunidades culturais, turísticas e económicas entre todos os países que visitamos. Temos a visão de tornar o “OFF” maior do que o “IN” para nos tornarmos uma plataforma de visibilidade e intercâmbio, em benefício da nossa Tribo Moga.

O MOGA tem uma audiência muito diversa, com 50% de estrangeiros e uma média de idade de 35 anos. Como desenham a programação para garantir que todos se sentem incluídos no festival?

Abordamos a programação como abordamos as viagens: com ouvidos e mentes abertos. A nossa programação combina ícones internacionais com emergentes locais, e as nossas ofertas culturais refletem vários gostos – desde o bem-estar à arte e à gastronomia. Também concebemos a experiência em torno do conforto e da liberdade. Quer venha para dançar até às 4 da manhã ou apenas para desfrutar do ioga e do pôr do sol, o MOGA oferece vários pontos de entrada – para que todos os tipos de festivaleiros se sintam em casa.

Olhando para o futuro, como imagina o MOGA nos próximos anos? Há planos para crescer ainda mais ou a ideia é manter a experiência exclusiva e diferenciada?

A nossa visão é crescer horizontalmente e não verticalmente. Não estamos a perseguir números enormes – estamos concentrados na qualidade, na consistência e em proporcionar uma excelente experiência/conteúdo. Dito isto, planeamos expandir-nos com novos formatos e novos destinos nos próximos 3 a 4 anos, como Espanha em 2025, Brasil em 2027 e Uruguai em 2028 e potencialmente mais. Mas também novos formatos, não só organizando festivais, mas também festas e eventos. Recentemente, organizámos a nossa primeira MOGA Tribe Session em Marraquexe, no M.O Studio by Mandarin Oriental, um evento muito exclusivo com capacidade limitada e todos os principais elementos do MOGA: actividades OFF = workshop de DJ, palestra e masterclass de gnawa, um alinhamento com curadoria de Jan Blomqvist e um live, entre outros. Cada edição permanecerá íntima e enraizada localmente, contribuindo ao mesmo tempo para a visão global do MOGA como uma rede mundial de festivais culturais de boutique.