Valor do sector das telecomunicações aumenta 21%, mas rentabilidade ainda é um desafio
“A indústria de Telecomunicações tem enfrentado um cenário desafiante e o que observamos é que neste tipo de contextos, que criam algum tipo de pressão, as empresas que apostam primeiro nas frentes certas têm conseguido destacar-se mais e alcançar retornos mais relevantes," afirma Eduardo Bicacro, Partner da BCG em Lisboa.
O valor criado pelo setor das Telecomunicações a nível global cresceu 21% entre 2020 e 2024, face ao quinquénio entre 2019 e 2023, atingindo um valor de 694 mil milhões de dólares, segundo o estudo “Returns May Be Declining, but Opportunity Is Calling”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG).
A média anual do retorno acionista fixou-se nos 4%, o que representa um decréscimo de 2 pontos percentuais (pp.) face aos 6% reportados no ano passado. no ano passado.
“A indústria de Telecomunicações tem enfrentado um cenário desafiante e o que observamos é que neste tipo de contextos, que criam algum tipo de pressão, as empresas que apostam primeiro nas frentes certas — como inovação, digitalização e smart M&A — têm conseguido destacar-se mais e alcançar retornos mais relevantes. Para além disso, a menor escala tem conferido a alguns operadores a vantagem competitiva de serem também mais ágeis e rápidos a adaptar-se e capturar valor”, afirma Eduardo Bicacro, Partner da BCG em Lisboa.
Apesar do aumento na criação de valor, o retorno sobre o capital investido (ROIC) das empresas de Telecomunicações em 2024 fixou-se nos 6,7%, ficando abaixo do custo médio ponderado de capital (WACC) mediano, que se situou nos 7,1%.
Isto significa que, em média, estas empresas não conseguiram gerar retornos suficientes para cobrir o seu custo de capital. Contudo, no ano passado, o setor das Telecomunicações conseguiu reduzir a lacuna do retorno acionista face à média do mercado, ficando apenas 7 pp. abaixo do índice S&P 1200 de ações globais, um valor que recuperou face aos 15 pp. registados em 2023, revelando algum otimismo para a indústria.
As diversas empresas do setor analisadas foram divididas em quatro arquétipos para melhor compreender e comparar a distribuição do valor criado. As empresas de telecomunicações globais geraram 199 mil milhões de dólares em criação de valor, com um retorno médio anual para os acionistas (TSR) de 3,1% entre 2020 e 2024, uma queda de 4 pontos percentuais (pp.) face ao período entre 2019 e 2023.
Os grandes operadores em mercados domésticos geraram cerca de dois terços do total de valor criado pelo setor, com 455 mil milhões de dólares em valor acrescentado, e apresentaram um retorno médio de 4% no mesmo período, uma ligeira diminuição face aos 6% registados entre 2019 e 2023.
As pequenas empresas, com receitas abaixo dos 10 mil milhões de dólares, geraram 74 mil milhões de dólares em valor criado, e tiveram um retorno médio anual para os acionistas de 6%, sendo o único arquétipo que registou um aumento entre os analisados, com uma melhoria de 3 pp. face ao quinquénio entre 2019 e 2023. Finalmente, as empresas de infraestruturas, tiveram uma perda de valor de 34 mil milhões de dólares, registando um retorno médio anual negativo de -2% entre 2020 e 2024, uma queda substancial face aos 10% registados no período de 2019 a 2023.
A aposta em tecnologia de ponta e inovação é um pilar para impulsionar a criação de valor. Assim, a BCG destaca algumas ações que as empresas no setor das Telecomunicações devem implementar para alcançarem os melhores resultados e conseguirem gerar maior valor:
Otimização de ativos e custos. A otimização dos ativos e a redução dos custos operacionais, através de infraestruturas partilhadas e soluções baseadas na nuvem (cloud) são estratégias fundamentais para criar valor no setor. As operadoras mais eficientes são aquelas que conseguem melhorar a rentabilidade através da utilização estratégica dos seus ativos, como redes móveis e fibra.
Investimento em arquiteturas de rede de ponta. À medida que as redes 5G e a infraestrutura de fibra se solidificam nos mercados, as operadoras poderão redirecionar o fluxo de caixa gerado para iniciativas de crescimento e investimento em novos produtos e serviços de modo a ganharem competitividade.
Transformação digital e Inteligência Artificial (IA). A implementação de IA está a transformar a forma como as operadoras interagem com os clientes e otimizam processos internos. A utilização da IA Generativa tem se revelado um catalisador para melhorar a personalização das campanhas de marketing, aumentar a eficiência no atendimento ao cliente e reduzir a rotatividade de clientes.
Fusões e aquisições (M&A) smart são vetor estratégico de crescimento e resiliência nas Telecomunicações
Outro estudo recente da BCG, intitulado “Future-Proofing Telcos with Smart M&A”, revela que, além das estratégias de otimização e digitalização, as fusões e aquisições (M&A) são uma ferramenta chave para fortalecer a posição das operadoras no mercado e garantir a criação de valor sustentável e a longo prazo no setor das Telecomunicações. O cenário atual na indústria, marcado por mercados saturados e alta competição, tem levado as operadoras a adotar as fusões e aquisições não só como uma forma de expandir para novos mercados, mas também como um motor para otimizar operações, adquirir capacidades tecnológicas avançadas e explorar novas fontes de receita.
Para maximizar a criação de valor e ganhar resiliência, as organizações neste setor devem adotar uma abordagem estratégica, seletiva e proativa em relação às fusões e aquisições, com foco em consolidar mercados locais ou explorar áreas adjacentes que tragam novas oportunidades de crescimento. Esta ferramenta pode ajudar as operadoras a alcançar maior escala, otimizar custos e melhorar a eficiência operacional. As fusões em mercados com número reduzido de operadores, por exemplo, tendem a gerar um maior retorno sobre o capital investido (ROIC), devido às sinergias de custo e à melhoria do poder de negociação.
O setor das Telecomunicações tem potencial de crescimento, mas para maximizar a criação de valor, as empresas precisam de adotar uma abordagem estratégica focada em inovação tecnológica, transformação digital e expansão através de fusões e aquisições. As operadoras que implementarem eficazmente essas estratégias estarão mais bem posicionadas para superar os desafios atuais e prosperar num mercado competitivo e em rápida evolução.
