Uma timeline para unir todas as outras
Apps como Tapestry, Surf, Feeeed e o novo Reeder tentam consolidar uma nova categoria: a dos que criam uma linha do tempo unificada a partir de diferentes fontes que, por padrão, são como água e óleo, ou seja, não se misturam.

O lançamento do Tapestry, no início de fevereiro, consolidou uma nova categoria de apps: os que tentam criar uma linha do tempo unificada a partir de diferentes fontes que, por padrão, são como água e óleo, não se misturam.
O Tapestry se juntou a alguns outros apps também recentes — Feeed, novo Reeder e Surf, do Flipboard1 — a fim de atacar o principal problema de plataformas sociais descentralizadas, que é… bem, a própria descentralização.
A proposta é interessante: não importa onde quem você acompanha estiver, se no Bluesky ou no Mastodon, com um desses apps de linha do tempo é possível acompanhar todos ao mesmo tempo, na mesma interface. É a centralização da nova internet social, só que feita em uma camada mais acima — a do indivíduo, em vez da plataforma.
Embora os protocolos AT e o ActivityPub permitam implementações mais robustas, todos esses apps confiam em um mais simples e antigão, o bom e velho RSS2. Além da simplicidade, outra vantagem do RSS é abranger mais fontes: blogs, canais do YouTube, comunidades no Reddit, comunidades como o Hacker News (e o nosso Órbita)… todos oferecem feeds RSS.
Fora o Taspestry, dei uma olhada nos outros três e tenho usado o Feeed (são três “e”) no dia a dia, no celular. Cria de Nate Parrott, ele é gratuito e achei que tem a melhor experiência de usuário.
Gosto da apresentação do conteúdo, em cartões com visual bem distinto, e da maneira como o app abre posts e conversas do Reddit em um “modo leitor”, ou seja, com leiaute próprio, sem anúncios e outros penduricalhos que pesam páginas web.
O Feeed se aproxima mais da visão de “capa de jornal” que tantos apps anteriores a ele, incluindo o Flipboard (dono do Surf), tentam há décadas sem muito sucesso.
Atribuo a isso o tratamento dado à curadoria das fontes, que no caso do Feeed, é totalmente manual, no máximo com algumas sugestões padrões de fontes. Existe apenas um algoritmo de ordenação de conteúdos de fontes que você já assinou — e mesmo este pode ser trocado por um cronológico simples.
Para sites com alto volume de novidades, como os de jornais, blogs grandes e comunidades ativas no Reddit, o Feeed remove o FOMO, aquela urgência de tentar ficar a par de tudo. Ele apresenta novidades sem sobrecarregar os sentidos, embora eu realmente não saiba dizer se estou deixando algo passar.
Outra coisa legal é que cada sessão tem fim, sem rolagem infinita, e há uma área de favoritos para não perder de vista conteúdos que chamem a atenção.
Silvio Rizzi, criador do Reeder, recebeu críticas no lançamento do app pela ausência de um contador de itens não lidos. A opção acabou aparecendo no app, mas acho que o instinto inicial do desenvolvedor estava correto. Ao omitir os itens não lidos, esses apps tratam a informação como um fluxo em vez de uma lista de tarefas. Perdeu algo? Tudo bem. Se for um assunto muito importante, ele pipocará em outra fonte que você também segue.
Por não darem suporte a ações (curtir, responder, repostar), não é como se esses “apps de timeline” (podemos chamá-los assim?) viessem para substituir os de redes sociais ou mesmo o agregador de feeds RSS. No meu caso, pelo menos, o Feeed se somou à minha rotina de leituras. É aquela pequena dose de novidades quando estou à toa, sem o risco de esquecer da vida em um feed infinito do tipo “For You”. Dispensável, mas bom de se ter.
Eu não sei cravar, porém, se continuarei usando o Feeed ou qualquer desses apps. E também me é incerto se há espaço no mercado para eles. O público potencial é bem pequeno: gente que usa plataformas sociais alternativas, mais de uma, e está insatisfeita com os apps oficiais ou de terceiros. Quantas pessoas se encaixam nesse perfil? Não sei, mas se você for uma delas, o melhor momento para dar uma olhada nesses apps é agora.