Uma Disney muito foto-realista

Até final desta década, a Walt Disney prevê estrear mais sete filmes fotorealistas a partir de outras tantas longas-metragens de animação do estúdio, feitas entre os anos 30 do século passado e 2016. Não sem controvérsia.

Abr 26, 2025 - 22:06
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Uma Disney muito foto-realista
Uma Disney muito foto-realista

Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 672 — Inverno 2025

Tendo acumulado nas bilheteiras norte-americanas mais de 200 milhões de dólares no primeiro mês de exibição, Mufasa: O Rei Leão, de Barry Jenkins, uma das mais recentes fitas fotorealistas da Disney pertencente a uma franchise baseada numa longa-metragem de animação deste estúdio, exibe um resultado comercial que deve funcionar como um estímulo para a continuação desta linha de produção. E tanto mais que o filme anterior, O Rei Leão, de Jon Favreau (2019), a versão fotorealista do original animado de 1994 assinado por Roger Allers e Rob Minkoff, não tinha correspondido às expectativas da Disney em termos de receitas e havia sido mal recebida pela crítica (este novo Mufasa: O Rei Leão é uma prequela da fita de Favreau, com um elemento de continuação do filme de 1994).

Ao animador sucesso de Mufasa: O Rei Leão, vieram juntar-se ainda os excelentes números e o bom acolhimento crítico de Vaiana 2, a mais recente longa-metragem da Disney em animação digital, pelo que o estúdio terminou 2024 em maré alta de resultados positivos neste particular. E não vai ficar por aqui. No que respeita especificamente às versões fotorealistas de animações clássicas da casa, elas vão continuar a pleno vapor, com duas estreias já previstas para o presente anos de 2025, uma para 2026 e nada menos do que cinco para os anos seguintes (a Disney prevê que serão estreadas até 2030).

 

O primeiro título a chegar aos cinemas foi Branca de Neve, de Marc Webb (no mês de Março), que adapta o clássico dos clássicos de Walt Disney, Branca de Neve e os Sete Anões (1937), com Rachel Zegler no papel principal e Gal Gadot no da Rainha Má. O filme tem dado uma enorme controvérsia e sido objecto de muita troça, por a história original ter sido alterada de forma radical. As origens latinas de Rachel Zegler, e a “reimaginação” dos Sete Anões, ao mesmo tempo sob uma luz politicamente correcta e através de efeitos especiais digitais, têm sido dois dos aspectos mais comentados, criticados – e gozados, na net e fora dela – desta Branca de Neve fotorealista. Devido a isto, o argumento da fita levou bastantes voltas, e o seuteaser trailer”, estreado no YouTube em Agosto de 2024, conheceu uma reacção invulgar e pesadamente negativa, tendo-se tornado no recordista de dislikes de sempre naquela plataforma, com mais de um milhão de pessoas a desaprovarem-no. A reacção de espectadores e crítica promete não ser nada pacífica.

Mais pacífico será, decerto, o acolhimento aos dois filmes que se seguirão a Branca de Neve, respectivamente Lilo & Stitch, de Dean Fleischer Camp (estreia prevista para Maio deste ano), que adapta a animação digital homónima de 2002 sobre a improvável amizade entre uma solitária menina havaiana, Lilo, e um alienígena com aspecto canino (Stitch) e uma propensão para espalhar caos em seu redor; e Vaiana, de Thomas Kail (estreia prevista para 10 de Julho de 2026), que verte para formato fotoreralista a animação com o mesmo título de 2016, centrada nas aventuras fantásticas de uma adolescente polinésia que é uma princesa da sua tribo, e de Maui, um turbulento semi-deus com o qual trava amizade, e que a ajuda na sua odisseia por mares perigosos e contra entidades sobrenaturais.

 

 

 

Os restantes cinco filmes fotorealistas com estreia prevista até final da década são Hércules, de Guy Ritchie, sobre a animação de 1997; Robin Hood, de Carlos López Estrada, versão do Robin dos Bosques protagonizado por animais de 1973; Os Aristogatos, de Questlove (nome artístico de Ahmir K. Thompson, também baterista de The Roots), sobre a fita de 1970, uma das melhores produzidas pela Disney nessa década; Bambi, versão da bem-amada animação de Walt Disney de 1942, e a fechar este plano de produções, Entrelaçados, de Jennifer Kaitlyn Robinson, a versão da respectiva longa-metragem animada de 2010. 

Os mais críticos (e não são poucos) destas encarnações fotorealistas do vasto e riquíssimo acervo de animações de longa-metragem da Walt Disney insistem que elas são a confirmação escancarada da profunda crise de criatividade que o estúdio atravessa há vários anos, apostando por isso, e por prudência financeira, quer em sucessivas continuações das suas animações digitais que se portaram bem nas bilheteiras (e têm sido raras, nos últimos tempos), quer nestas fitas com actores e efeitos computacionais (ou sem aqueles, no caso dos dois Rei Leão, e do futuro Bambi). Mas este plano de produções indica que, salvo qualquer imprevisto muito grave, o caminho da Disney está, neste importante departamento, traçado para o resto da década.

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