Sol-Verde de Inveja
É que não encontro ninguém, nem amigos, nem correligionários, nem magistrados de opinião que aprecio, como Rui Ramos ou João Miguel Tavares, que não sufoque de indignação porque Montenegro tem uma empresa familiar que presta, entre outras coisas, serviços de consultadoria a empresas e uma delas, a SolVerde, paga – ó escândalo – 4.500 Euros por mês. Isso é mais do que ganha um administrador de um hospital público, ou um director-geral, e anda perto do que ganha um catedrático. Tudo funcionários públicos, porque cargos equivalentes no sector privado são mais bem pagos. Pois bem: Fundou-a antes de ter a certeza de vir a ser primeiro-ministro. Podemos imaginar que no seu ambicioso coração já albergasse a certeza de vir a atingir tão exaltante posição, o que não podemos presumir é que os clientes o contratassem por adivinharem que um dia ele estaria em condições de os favorecer. A menos que se possa afirmar – mas isso não está alegado – que a SolVerde dispõe de serviços de consultadoria no ramo da adivinhação, caso em que abençoa com contratos os predestinados, ou então que contrata um cacharolete de potenciais vencedores para acertar num deles, prudente prática que também não foi aventada até agora. Empregar ou contratar políticos que perderam, por qualquer razão, o seu poleiro, é coisa altamente suspeita porque estes dispõem de números de telefone de camaradas que povoem lugares de poder, e de ex-adversários na mesma lisonjeira situação. E como o Estado está em Portugal em todas as esquinas da vida, a única possibilidade de evitar estas conversas ocultas é o barramento dos números de telefone. Isto porque quem ocupou lugares de topo em razão da pertença a partidos suspendeu (ou não iniciou) a sua carreira profissional. E impedir que relações pessoais se botem para render é quase o mesmo que dizer que quem aceitou posições de nomeação política nunca mais dela pode sair ou que quem tenha o acendrado desejo de servir a causa pública (alguém tem de haver) deve ter a precaução de dispor de meios de fortuna porque vai começar ou continuar a carreira em situação de grande desvantagem. Ou isso ou ser funcionário público, portanto com o lugar à espera, ou advogado de um grande escritório onde os colegas lhe conservem o lugar quente, ou gestor bancário porque o negócio tanto funciona com um como com outro. Teoricamente, grandes empresários também poderiam almejar empenacharem-se com lugares no aparelho de Estado, mormente dos mais visíveis. Mas não é Elon Musk quem quer, nem Portugal é como os EUA, nem há exemplos conhecidos de quem abandone as suas empresas para serem geridas por colaboradores. Que o dissesse Belmiro de Azevedo, o empresário por antonomásia, que passou a vida a dar palpites sobre a gestão da coisa pública enquanto se deixava estar sossegado na SONAE. De modo que a situação é esta: se as suspeitas por corrupção não precisarem de se basear em indícios consistentes, bastando dizer que se a empresa xis contratou pelo valor ípsilon fulano de tal no âmbito da sua profissão, então faz favor de dizer o que é que exactamente fez, quem eram as outras empresas, se as houver, e igualmente por que razão não foram buscar outro advogado de quem ninguém tivesse ouvido falar. Quem espoletou toda esta história foi o Chega, por razões oportunistas mais do que óbvias sobre as quais não vou abundar. E cabe-me aqui dizer que as linhas vermelhas em torno daquele partido, que sempre rejeitei porque a sua existência condenou reformas necessárias que se tornaram impossíveis, não justifica que se baralhe tudo esquecendo um mínimo de senso. E este diz que, para quem não for cego, duas coisas: que combater a corrupção degradando princípios do Estado de Direito e transformando o jogo político numa barraca de feira apenas afasta quem não tiver vocação para palhaço, mulher de barba ou carreirista desprezível; e que os funcionários públicos e acomodados sortidos já têm o benefício do emprego garantido, não precisam de ter o exclusivo da carreira política.

É que não encontro ninguém, nem amigos, nem correligionários, nem magistrados de opinião que aprecio, como Rui Ramos ou João Miguel Tavares, que não sufoque de indignação porque Montenegro tem uma empresa familiar que presta, entre outras coisas, serviços de consultadoria a empresas e uma delas, a SolVerde, paga – ó escândalo – 4.500 Euros por mês. Isso é mais do que ganha um administrador de um hospital público, ou um director-geral, e anda perto do que ganha um catedrático. Tudo funcionários públicos, porque cargos equivalentes no sector privado são mais bem pagos.
Pois bem: Fundou-a antes de ter a certeza de vir a ser primeiro-ministro. Podemos imaginar que no seu ambicioso coração já albergasse a certeza de vir a atingir tão exaltante posição, o que não podemos presumir é que os clientes o contratassem por adivinharem que um dia ele estaria em condições de os favorecer. A menos que se possa afirmar – mas isso não está alegado – que a SolVerde dispõe de serviços de consultadoria no ramo da adivinhação, caso em que abençoa com contratos os predestinados, ou então que contrata um cacharolete de potenciais vencedores para acertar num deles, prudente prática que também não foi aventada até agora.
Empregar ou contratar políticos que perderam, por qualquer razão, o seu poleiro, é coisa altamente suspeita porque estes dispõem de números de telefone de camaradas que povoem lugares de poder, e de ex-adversários na mesma lisonjeira situação. E como o Estado está em Portugal em todas as esquinas da vida, a única possibilidade de evitar estas conversas ocultas é o barramento dos números de telefone.
Isto porque quem ocupou lugares de topo em razão da pertença a partidos suspendeu (ou não iniciou) a sua carreira profissional. E impedir que relações pessoais se botem para render é quase o mesmo que dizer que quem aceitou posições de nomeação política nunca mais dela pode sair ou que quem tenha o acendrado desejo de servir a causa pública (alguém tem de haver) deve ter a precaução de dispor de meios de fortuna porque vai começar ou continuar a carreira em situação de grande desvantagem.
Ou isso ou ser funcionário público, portanto com o lugar à espera, ou advogado de um grande escritório onde os colegas lhe conservem o lugar quente, ou gestor bancário porque o negócio tanto funciona com um como com outro. Teoricamente, grandes empresários também poderiam almejar empenacharem-se com lugares no aparelho de Estado, mormente dos mais visíveis. Mas não é Elon Musk quem quer, nem Portugal é como os EUA, nem há exemplos conhecidos de quem abandone as suas empresas para serem geridas por colaboradores. Que o dissesse Belmiro de Azevedo, o empresário por antonomásia, que passou a vida a dar palpites sobre a gestão da coisa pública enquanto se deixava estar sossegado na SONAE.
De modo que a situação é esta: se as suspeitas por corrupção não precisarem de se basear em indícios consistentes, bastando dizer que se a empresa xis contratou pelo valor ípsilon fulano de tal no âmbito da sua profissão, então faz favor de dizer o que é que exactamente fez, quem eram as outras empresas, se as houver, e igualmente por que razão não foram buscar outro advogado de quem ninguém tivesse ouvido falar.
Quem espoletou toda esta história foi o Chega, por razões oportunistas mais do que óbvias sobre as quais não vou abundar. E cabe-me aqui dizer que as linhas vermelhas em torno daquele partido, que sempre rejeitei porque a sua existência condenou reformas necessárias que se tornaram impossíveis, não justifica que se baralhe tudo esquecendo um mínimo de senso.
E este diz que, para quem não for cego, duas coisas: que combater a corrupção degradando princípios do Estado de Direito e transformando o jogo político numa barraca de feira apenas afasta quem não tiver vocação para palhaço, mulher de barba ou carreirista desprezível; e que os funcionários públicos e acomodados sortidos já têm o benefício do emprego garantido, não precisam de ter o exclusivo da carreira política.