Sinais de desaceleração global começam a surgir — apesar de Trump pausar tarifas
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um adiamento parcial em seus planos tarifários, mas os primeiros sinais de uma desaceleração prejudicial no comércio global já começaram a surgir. Empresas ao redor do mundo suspenderam pedidos enquanto Trump intensifica sua guerra comercial com a China.
Na quarta-feira, Trump informou que aumentará tarifas sobre produtos chineses para 125%, ao mesmo tempo em que impôs uma pausa de 90 dias nos planos de elevar tarifas para dezenas de outras economias, que passarão a enfrentar uma tarifa fixa de 10%. No mesmo dia, a China havia anunciado novas tarifas sobre importações dos EUA, elevando a alíquota para 84%. A escalada aproxima as duas maiores economias do mundo de um processo de desacoplamento, com exportações bilaterais sujeitas a tarifas consideradas proibitivas por muitos economistas.
Apesar da medida de Trump ter sido bem recebida pelos mercados financeiros, já havia sinais de que suas tarifas estão desestabilizando a economia global e de que a virtual paralisação do comércio entre EUA e China começa a trazer consequências negativas. Na prática, Trump prolonga a incerteza que já vem afetando o sentimento de empresas e consumidores.

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“Movimentos abruptos nas tarifas entre países não ajudam a reduzir o já recorde nível de incerteza em torno da política comercial”, escreveram os economistas Rana Sajedi, Maeva Cousin e Tom Orlik, da Bloomberg Economics. “Trump parece considerar a incerteza uma vantagem nas negociações. Para empresas e mercados, é um peso.”
Segundo os economistas, mesmo com a trégua temporária, a tarifa média dos EUA subiu para 24%, um aumento de quase 22 pontos percentuais desde o início do segundo mandato de Trump. O impacto sobre crescimento e inflação permanece, em um “choque que se desenrolará ao longo de dois a três anos”.
A Amazon começou a cancelar pedidos da China e de outras partes da Ásia, informou a Bloomberg. A Haas Automation, maior fabricante de máquinas-ferramenta do Ocidente, reduziu a produção e cortou horas extras de 1.700 trabalhadores em sua fábrica ao norte de Los Angeles, citando uma “queda dramática na demanda de clientes domésticos e estrangeiros”.
As medidas refletem uma pausa mais ampla nos pedidos, que já atinge as cadeias de suprimento globais à medida que as tarifas de Trump entram em vigor.
A Vizion Inc., empresa de dados de cadeia de suprimentos, estima que as reservas globais de contêineres entre 1º e 8 de abril caíram 49%, enquanto as importações dos EUA recuaram 64% em relação à semana anterior. As reservas da China caíram 36% no mesmo período. Globalmente, o recuo foi de 48% semana a semana.
“A abordagem de ‘esperar para ver’ está se espalhando por milhões de embarques programados todos os meses”, disse Kyle Henderson, CEO da Vizion.
Jake Colvin, presidente do National Foreign Trade Council, em Washington, afirmou que, embora a pausa de Trump seja bem-vinda, a tarifa base de 10% e as taxas massivas sobre a China continuarão pressionando o comércio. “Essa pausa temporária pode aliviar a dor imediata, mas não reduz a incerteza que paralisa decisões de comércio, fornecimento e investimento das empresas”, disse.
David Warrick, ex-responsável pela cadeia global de suprimentos da Microsoft, hoje na Overhaul, empresa de gestão de risco logístico, afirmou que a melhor estratégia para muitas empresas é “correr para esperar”.
“Tomar uma decisão estratégica agora não parece uma boa ideia porque tudo muda muito rápido”, afirmou Warrick.
Segundo ele, os embarques entre EUA e China devem cair significativamente nas próximas semanas, após um aumento recente na demanda por transporte aéreo para antecipar a aplicação das tarifas. No médio prazo, os custos mais altos devem reduzir a demanda americana por produtos chineses – e vice-versa –, provocando desaceleração nas remessas pela rota transpacífica.
Choque negativo
Robert Koopman, ex-economista-chefe da OMC e professor da American University, disse que o comércio global deve desacelerar nos próximos meses com a adoção das tarifas.
Os primeiros meses do ano foram “bastante positivos” devido à antecipação de exportações para fugir das tarifas. “Mas acredito que nos próximos quatro ou cinco meses haverá desaceleração expressiva”, afirmou. “O maior choque negativo” será entre EUA e China, com tarifas tornando inviável o comércio exceto para produtos sem alternativas.
Koopman vê como melhor esperança para o comércio global os estímulos na China e Alemanha e uma forte ofensiva industrial da União Europeia, que poderiam suavizar o impacto das tarifas americanas e manter o fluxo comercial fora da relação EUA-China. Uma quebra total no comércio entre os dois países afetaria ambas as economias, mas os quase US$ 700 bilhões em trocas bilaterais no ano passado representaram menos de 3% do comércio global, observou.
A OMC, que divulgará novas projeções em breve, alertou que a escalada tarifária pode levar a uma contração de cerca de 1% no volume do comércio global de bens neste ano – corte de quatro pontos percentuais em relação à estimativa anterior.
Em relatório intitulado “Pausa de 90 dias nas tarifas não é tão útil quanto parece”, economistas do Citigroup alertaram que a tarifa média efetiva dos EUA está cerca de 21 pontos percentuais acima do nível de janeiro.
“Com o aumento de 60% nas tarifas anunciado na campanha, grande parte do comércio entre EUA e China já era antieconômica – imagine com um aumento superior ao dobro disso”, disse Robert Sockin, economista sênior do Citigroup.
Impacto em pequenos negócios
Para muitas pequenas importadoras dos EUA, as tarifas representam uma questão de sobrevivência.
Ben Knepler, dono da True Places, da Pensilvânia, que fabrica cadeiras de lazer vendidas por até US$ 150, pediu aos fornecedores no Camboja que suspendessem os envios até entender o rumo das tarifas. “Não faz sentido concluir a produção se não conseguirmos importar o produto”, afirmou. “Ainda há muita incerteza.”
Embora tenha esperança de retomar a produção, a decisão segue envolta em dúvidas. A principal: se Trump aplicará, após os 90 dias, a tarifa de 49% anunciada em 2 de abril sobre produtos do Camboja ou manterá a taxa base de 10% durante a pausa.
“Essa nova rodada de tarifas é existencial para nós”, disse Knepler.
Empresas que tentam se adaptar às tarifas têm recorrido a diversas estratégias, incluindo o uso de inteligência artificial.
Fred Laluyaux, CEO e cofundador da Aera Technology – que atende Unilever, Dell e Kraft Heinz –, afirma que uma das principais respostas aos custos mais altos é usar IA para cortar despesas com compras. Mas há limites, especialmente para quem não se preparou para uma crise anunciada.
“Se você foi a qualquer conferência de cadeia de suprimentos nos últimos 15 anos, ouviu que é preciso diversificar, evitar depender de uma única fonte”, disse Laluyaux. “A IA pode ajudar a redirecionar rotas. Mas se no fim do dia a tarifa for de 100%, não há o que fazer.”
A melhor esperança para empresas que dependem do comércio EUA-China pode ser um acordo entre os dois países. Em pronunciamento na Casa Branca, Trump disse esperar um entendimento com Pequim. “Acho que vamos fazer um acordo muito bom para os dois”, afirmou. “O presidente Xi é uma das pessoas mais inteligentes do mundo.”
Mas, por ora, não há uma saída imediata para a guerra comercial, segundo Wendong Zhang, economista da Universidade Cornell.
“Mesmo sabendo que arcará com um custo econômico maior em termos relativos, a China deve manter sua posição por razões estratégicas e geopolíticas”, disse Zhang.
©2025 Bloomberg L.P.
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