Setor da defesa pede ‘task force’ entre ministérios e parcerias externas para dinamizar indústria

O Ministério da Defesa deve trabalhar com as tutelas das Finanças, Economia, Educação e Negócios Estrangeiros nos temas da segurança e na dinamização desta indústria, que está em crescimento devido ao contexto de incerteza e ao agudizar das tensões geopolíticas. É a ideia unânime entre o cluster da defesa, o eurodeputado português na Comissão da […]

Abr 19, 2025 - 05:16
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Setor da defesa pede ‘task force’ entre ministérios e parcerias externas para dinamizar indústria

O Ministério da Defesa deve trabalhar com as tutelas das Finanças, Economia, Educação e Negócios Estrangeiros nos temas da segurança e na dinamização desta indústria, que está em crescimento devido ao contexto de incerteza e ao agudizar das tensões geopolíticas. É a ideia unânime entre o cluster da defesa, o eurodeputado português na Comissão da Segurança e da Defesa do Parlamento Europeu e a empresa nacional Orion Technik, que trabalha na área da engenharia e manutenção, civil e militar.

Presentes na terceira edição da conferência “Relatório Draghi” do ECO, representantes destas três entidades defenderam a criação de uma task force entre ministérios e mais parcerias entre Portugal e o estrangeiro.

O diretor de Operações da OrionTechnik esclarece que essa coordenação entre as várias pastas do Governo é relevante, porque os investimentos têm de ser “desmistificados”: serão os contribuintes a pagar. “Isto tem um custo e em 99% dos casos vai ser pago pelos orçamentos do Estado sejam da União Europeia [UE] ou dos países. A conta será paga pelos orçamentos da defesa. Não existe dinheiro público, como dizia Margaret Thatcher. Existe dinheiro dos contribuintes”, afirmou Francisco Oom Peres.

Na opinião do Chief Operating Officer (COO) da Orion Technik, Portugal deve aproveitar esta fase em que opinião pública está especialmente atenta a estes temas, desde o início da guerra na Ucrânia, para consciencializar a população e os legisladores para a necessidade de mão-de-obra especializada e infraestrutura, até porque tem sido mais fácil ganhar contratos através de mecanismos estrangeiros, como a norte-americana Foreign Military Sales (FMS).

Francisco Oom Peres, COO da Orion TechnikHugo Amaral/ECO

Francisco Oom Peres contou que a OrionTechnik está, desde maio de 2022, a tentar chegar a acordo com a Vinci para uma instalação de manutenção de aeronaves e, provavelmente, terá de fazer o investimento em Sevilha, porque “não há espaço em Beja”. A seu ver, há alguma “dificuldade” na projeção de negócio partindo de Portugal, inclusive em relação a Espanha e Países Baixos. “Os outros dão passos maiores. Temos receio”, atirou.

Cluster propõe compras mais caras e a longo prazo

O presidente do AED Cluster Portugal, José Neves, afirmou que é importante os ministérios “trabalharem em conjunto” até porque as aquisições da defesa devem ser repensadas. “Temos de mudar de paradigma. Fazer compras a longo prazo em vez de comprar mais barato”, sugeriu José Neves.

“Temos pouca economia de escala em Portugal. Não temos de comprar o que está na prateleira, porque ao compramos mais caro estamos a criar mais postos de trabalho e a criar um potencial enorme de exportação”, argumentou o presidente do cluster que tem 140 entidades portuguesas dos setores da aeronáutica, espaço e defesa. O objetivo das compras não deve ser apenas o mais barato no curto prazo mas aquilo que for mais reprodutivo em termos de crescimento económico, como um todo, envolvendo as empresas e o País.

Questionado sobre se Portugal tem capacidade para absorver o nível de subida de investimento, assumir contratos de grande dimensão e se investiria nesta área, José Neves respondeu que sim. “Goste-se ou não, vai ser tendência nos próximos quatro a oito anos”, retorquiu.

José Neves destacou o pilar de integradores na defesa, mencionado que o país tem operadores de end-user que “vão à guerra com contratos” e desenvolvem satélites que competem a nível global, mas é necessário entrar a sério na cadeia de fornecimento europeu. “Para chegarmos aos 2% temos de nos preparar para isso senão transformamos os 2% em despesa e não investimento, porque temos de comprar tudo fora”, assinalou no debate moderado por Tiago Freire, subdiretor do ECO.

José Neves, Presidente do AED Cluster PortugalHugo Amaral/ECO

Segundo o presidente do AED Cluster Portugal, o relatório Draghi sobre a competitividade europeia foi apresentado em setembro e, até abril, “pouco aconteceu” além de terem sido apresentados “papéis”, enquanto decorre uma “guerra” nos mares, com os cabos submarinos no Mar Báltico a ser destruídos e quiçá submarinos russos nas nossas águas sem sabermos.

O eurodeputado Hélder Sousa Silva, membro da Comissão da Segurança e da Defesa do Parlamento Europeu, disse que as forças partidárias do centro político estão alinhadas neste desígnio da importância da defesa e segurança e explicou que os políticos têm de ter “honestidade intelectual” para perceber que a segurança é uma “necessidade básica dos seres humanos” e que o investimento em defesa não é um gasto.

“O PS alinha connosco. Há um centro europeu que defende claramente maior investimento em defesa”, frisou sobre o alinhamento com os socialistas. Ademais, defende também uma task force de ministérios para demonstrar, a nível europeu, que Portugal está organizado através de “um Balcão Único no cluster de defesa”.

Hélder Sousa Silva diz que Portugal tem de se associar a outros players europeus, porque sozinho não vai “conseguir fazer nada”: é necessário escolher os parceiros certos, definir áreas de colaboração e trabalhar em consórcio, sobretudo com o Brasil.

Recém-chegado de uma viagem a Riga, o eurodeputado social-democrata garantiu à audiência no estúdio do ECO que pela Europa “só se fala de segurança e defesa”. “Toda a gente quer apanhar esse comboio”, mesmo no segmento económico da agricultura (segurança alimentar), exemplificou.

Hélder Sousa Silva referiu que o Relatório Draghi e a proposta de investimento de 800 mil milhões de euros por ano foram o “acordar”, até porque no atual Quadro Financeiro Plurianual, o orçamento de longo termo da UE, não havia “dinheiro nenhum” para a área da segurança e defesa além de “uns trocos” da mobilidade militar, o que na prática são verbas para assegurar que as pontes aguentam o peso das artilharias militares se fosse preciso transportá-las.

Hélder Sousa Silva, EurodeputadoHugo Amaral/ECO

 

“Estou preocupado. Cuidado com os países pequenos e médios. Porquê? Há uma tendência da França, Alemanha e Itália e alguns nórdicos estarem a organizar-se a uma velocidade estonteante. E nós falamos muito e fazemos pouco. Somos Ferraris com rodas de bicicleta”, comparou o eurodeputado, deixando ainda um alerta sobre a transposição das diretivas europeias, que com a legislação nacional acrescida aumenta a burocracia e leva a perda de concursos por motivos de secretaria.