Rita Coelho, country manager da Visa: “Fraudes com apelo ao emocional estão a aumentar impulsionadas pelas apps de encontros e redes sociais”
Em entrevista à Marketeer, Rita Mendes Coelho, country manager da Visa para Portugal explica que um dos maiores desafios na sensibilização sobre fraudes e cibersegurança é manter os consumidores atentos e dá conselhos para não ser enganado.


Numa época em que os ataques fraudulentos são cada vez mais sofisticados e frequentes, e que é cada vez mais fácil ser vítima de burla, de que forma o setor dos Pagamentos, e a Visa em concreto, têm apostado na segurança garantindo que cada transação é protegida contra ameaças emergentes? E como se pode proteger de “técnicas cada vez mais avançadas para enganar os consumidores”?
Em entrevista à Marketeer, Rita Mendes Coelho, country manager da Visa para Portugal explica que um dos maiores desafios na sensibilização sobre fraudes e cibersegurança é manter os consumidores atentos às constantes evoluções dos esquemas criminosos.
De acordo com a profissional, que domina o setor da segurança e desempenha o cargo desde dezembro de 2024, s cibercriminosos utilizam tecnologias como IA e deepfakes para tornar as fraudes mais credíveis, explorando tanto vulnerabilidades tecnológicas quanto a confiança das pessoas. A somar à maior sofisticação das fraudes está a fadiga informativa que pode levar à desatenção.
Quais são os maiores desafios na sensibilização do público sobre fraudes e cibersegurança em pagamentos digitais?
Um dos maiores desafios é garantir que o consumidor se mantém atualizado, sempre atento e vigilante. Assim como as ferramentas e as várias camadas de cibersegurança nos pagamentos que evoluem de dia para dia, o mesmo acontece com os esquemas de fraude, existindo uma constante evolução das táticas criminosas.
O cibercriminoso está sempre a encontrar novas formas de explorar vulnerabilidades quer das pessoas, a nível de confiança, quer dos sistemas tecnológicos. Muitas vezes utilizam tecnologias avançadas como IA e deepfakes – conteúdos falsos, como vídeos, imagens ou áudios, criados com IA para fazer parecer que alguém fez ou disse algo que não aconteceu – tornando as tentativas de fraude mais credíveis.
Por outro lado, a fadiga informativa pode levar a alguma desatenção do consumidor. É importante manter a mensagem relevante, atualizada e fácil de entender, para que os consumidores se mantenham vigilantes sem ficarem sobrecarregados por esta preocupação constante.
Acha que os consumidores estão suficientemente informados sobre tecnologias como tokenização e inteligência artificial na prevenção de fraudes? Como melhorar essa comunicação?
Ainda há um longo caminho a percorrer. Antes de mais, o que é a tokenização? Temos que conseguir explicar de forma simples que consiste no processo de transformar dados sensíveis (como informações de cartões) numa sequência de códigos numéricos aleatórios e únicos, chamados tokens, que não têm valor fora do sistema original, o que garante elevado nível de segurança.
Embora a tokenização e a IA sejam ferramentas poderosas na prevenção de fraudes, muitos consumidores não compreendem totalmente como funcionam ou os benefícios que oferecem para a sua segurança, não sendo por isso aproveitado todo o seu potencial.
Para melhorar a comunicação, precisamos de simplificar a linguagem e usar exemplos práticos. Em vez de falar em termos rebuscados e técnicos, podemos explicar como a tokenização protege os seus dados quando fazem compras online – os seus dados reais nunca ficam registados no sistema do comerciante, que apenas tem acesso a um código único, o token – , ou como a IA deteta atividades suspeitas – que fogem ao padrão normal daquela pessoa – em tempo real e que permite parar aquela transação.
Em 2024, a Visa conseguiu evitar fraudes no valor de mais de 335 milhões de euros, protegendo potenciais vítimas através do uso de tecnologia de ponta e de uma equipa altamente especializada. Este montante soma-se aos 40 mil milhões de dólares em fraudes impedidas em 2023.
Que cinco pontos principais diria que os consumidores devem conhecer e saber em profundidade para se protegerem de crimes bancários?
Os consumidores devem conhecer as ferramentas que estão ao seu dispor, informar-se e ter uma atitude atenta à evolução da tecnologia. Se tivesse de resumir, diria que os consumidores devem adotar uma atitude de vigilância constante. É com essa maior atenção que conseguirão ser mais perspicazes. Deixo, então, alguns conselhos práticos:
- Estar atentos a e-mails e mensagens suspeitas: Nunca clicar em links ou fornecer informações pessoais em resposta a mensagens não solicitadas.
- Usar palavras-passe fortes e únicas: Evitar usar a mesma palavra-passe para várias contas e considerar o uso de um gestor de palavras-passe.
- Monitorizar regularmente as suas contas bancárias e extratos de cartão: Reportar imediatamente qualquer atividade suspeita ao seu banco.
- Ter cuidado com as informações que partilham online: Evitar partilhar informações pessoais sensíveis em redes sociais ou sites não seguros.
- Estar cientes dos sinais de alerta de fraudes ‘emocionais’: Desconfiar de perfis demasiado perfeitos, declarações de amor precipitadas e pedidos de dinheiro.
- O sistema financeiro e o setor de Pagamentos investem fortemente em segurança, mas os consumidores também têm um papel importante a desempenhar na sua própria proteção.
Que tendências globais a Visa tem identificado em termos de segurança digital ou fraudes?
Temos observado um aumento na sofisticação dos ataques de phishing (roubo de dados) e malware (software que rouba ou danifica dados), com os criminosos a aplicarem técnicas cada vez mais avançadas para enganar os consumidores. As fraudes com apelo ao emocional também estão a aumentar, impulsionadas pelo uso de apps de encontros e redes sociais.
Assistimos a um aumento nas fraudes relacionadas com pagamentos em tempo real, o que exige medidas de segurança mais robustas para proteger os consumidores. Na Visa estamos a apostar bastante em soluções de segurança baseadas em IA e biometria –identificação da pessoa com base em características físicas ou comportamentais, como impressões digitais ou rosto – para combater estas ameaças emergentes.
Que erros mais comuns acha que os consumidores cometem que os fragilizam perante fraudes bancárias?
Um dos erros mais comuns é a falta de atenção aos detalhes. Muitos consumidores clicam em links suspeitos ou fornecem informações pessoais sem verificar a autenticidade do remetente. Por vezes, ao olhar para um endereço de e-mail do remetente é possível perceber queo domínio não confere com a entidade pela qual se estão a fazer passar.
Esta sofisticação crescente das fraudes, faz com que o setor tenha uma abordagem ainda mais robusta à segurança, combinando tecnologia avançada com infraestrutura resiliente. Embora muitas vezes invisíveis aos olhos dos consumidores, medidas como a validação em tempo real do PIN, autenticação com múltiplos fatores (mensagem ou e-mail com código de acesso), IA para detetar padrões suspeitos e a tokenização (já mencionada) conseguem reduzir fraudes no e-commerce até 60%. Estas medidas também dificultam significativamente o acesso e uso indevido de cartões.
Recomendamos que os consumidores estejam mais atentos e aproveitem as ferramentas de proteção disponíveis, muitas já aplicadas automaticamente.
Os cartões continuam a ser dos métodos de pagamentos mais seguros para pagar. No entanto, a complacência é o maior inimigo da segurança. É importante que todos se mantenham vigilantes e sigam as melhores práticas de segurança online.