Retaliação aos EUA? “Vai adensar os custos económicos das tarifas”, diz Mário Centeno
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, alertou para o facto de as tarifas terem uma "particularidade danosa", pois atuam ao longo de todo o ciclo produtivo e não incidem apenas no consumo final.


No apelidado de “Dia da Libertação” pela administração Trump (com Washington a revelar novas tarifas sobre os seus principais parceiros comerciais), os países da União Europeia também serão atingidos pelas medidas do presidente norte-americano. “Existem muitas formas de política comercial. Aquelas que temos vindo a ser confrontados nos últimos dias parecem ter outros objetivos, não só pela forma como são expostas, mas também pelos argumentos que são apresentados para a sua execução e até pelo carácter difícil de alcançar em termos de objetivo último”, disse o Governador do Banco de Portugal, durante a cerimónia de entrega de prémios do concurso Geração Euro, que decorreu ontem no Banco de Portugal.
Numa sessão de perguntas e respostas feitas pelos alunos finalistas, Centeno foi questionado sobre de que forma é que a mudança comercial na política nos EUA podia influenciar a União Europeia e Portugal, em particular. “Na sua formulação e no contexto atual estas medidas funcionam como impostos que são barreiras e que têm um impacto muito claro na economia. Esse impacto imediato é uma redução da atividade económica. E, quando há redução da atividade económica e sendo a tarifa o imposto pago por todos os intervenientes do mercado, elas têm uma particularidade danosa pois atuam em todos os estádio da produção e não apenas no consumo final. São disseminadas ao longo do ciclo produtivo, porque a economia internacional está de tal forma integrada que os produtos são transacionados em diferentes estádios da sua composição. E tudo isso irá estar provavelmente estar sujeito a tarifas. Portanto, estas tarifas são particularmente incisivas sobre o ciclo produto”, explicou.
O Governador acrescentou ainda que a Europa e Portugal vão ser sujeitos ao resultado de todas estas tarifas e, no final, vai depender muito como cada país reagir. “A Europa deverá reagir em conjunto. Aquela fase que se fala muito, de retaliar, vai adensar os custos económicos das tarifas. O que podemos esperar? Podemos esperar menos comércio internacional e uma redirecionação do comércio internacional de uns países para os outros. É natural que o resto do mundo intensifique as suas relações comerciais porque estamos a retirar parte importante das transações anteriores que passavam pelos EUA. Na Europa e em Portugal vamos sentir estes dois efeitos: menos comércio com os EUA, mas talvez mais comércio com o resto do mundo”, sublinhou o governador.
Para concluir, Mário Centeno explicou que se encontrarmos substitutos, que é o que normalmente acontece depois dos choques económicos, “pode acontecer que quer no preço, quer na quantidade estes efeitos se desvaneçam ao longo dos tempos”. “Isto dificilmente acontecerá nas áreas económicas que introduzirem tarifas porque aí a barreira está estabelecida e é mais difícil encontrar alternativas”.