Responder às tarifas

Há um consenso nos principais partidos sobre o aumento do peso das exportações no PIB e a diversificação é a resposta que devemos tentar alcançar.

Abr 28, 2025 - 01:19
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Responder às tarifas

Na semana passada, o FMI revelou as suas novas previsões económicas, as primeiras a nível global a incorporar o impacto das tarifas. Como seria de esperar, a generalidade dos países deve passar a crescer agora menos. Mas o mais irónico é que o país mais prejudicado é os EUA, aquele que está a provocar toda esta perturbação, supostamente para se beneficiarem. Outra conclusão, também esperada, é que a guerra comercial em curso é um jogo de soma negativa, em que todos perdem.

Para além disso, soubemos também de outros recuos da administração norte-americana, potencialmente face à China, ainda por esclarecer, e face a uma das mais prestigiadas e a mais rica universidade dos EUA, Harvard, que corria o risco de perder fundos federais. A conclusão a retirar é que começa a haver sinais crescentes de “entradas de leão e saídas de sendeiro” por parte de Trump. Poder-se-ão retirar duas conclusões: uma primeira, positiva, é que pode fazer sentido afrontá-lo, porque poderá recuar; a segunda, negativa, é que a incerteza está a aumentar, porque aumentou a probabilidade de as políticas serem revertidas pouco tempo depois de serem anunciadas ou colocadas em prática.

A incerteza é um dos aspectos mais negativos do novo governo dos EUA, porque está a levar as empresas a paralisar os investimentos e as novas contratações; e as famílias a adiar grandes compras. Tudo isto agrava os efeitos económicos negativos das tarifas.

A resposta às tarifas por parte da UE deve incluir duas componentes: negociação e adaptação. Por um lado, devemos negociar com os EUA no sentido de as tarifas serem o mais baixas possível, salientando as perdas potenciais para economia norte-americana e não tanto pela ameaça de retaliação, sobretudo quando esta é pouco credível, como a que versaria as grandes empresas tecnológicas de que a Europa depende e para as quais não tem alternativa no imediato.

Em relação à adaptação, esta inclui dois conjuntos de respostas possíveis: aprofundar o mercado interno; e reforçar e melhorar as relações comerciais com outros países para além dos EUA.

De acordo com um estudo referido por Draghi, as barreiras ao comércio dentro da própria UE são equivalentes a uma tarifa de 45% sobre o sector industrial e uma de 110% nos serviços. Se estas barreiras fossem reduzidas para o nível prevalecente no interior dos EUA, a produtividade comunitária poderia aumentar 7% em sete anos, o que seria muito relevante, até para permitir um aumento dos salários, que têm crescido muito menos do que os dos norte-americanos.

Por outro lado, a UE deveria melhorar as relações comerciais com outros países, não apenas em termos de redução de tarifas, mas sobretudo na diminuição das barreiras não pautais. Em relação à China é que será necessário um cuidado especial, até pela ameaça de esta inundar a Europa com os produtos que vai deixar de conseguir vender aos EUA.

Mais especificamente no caso de Portugal, ainda temos o comércio excessivamente concentrado na UE, a região mais anémica do mundo. Devemos procurar aumentar a presença nos maiores importadores mundiais, sobretudo nos mais dinâmicos, como a China e a Índia, para onde exportamos menos de 10% do que seria o peso “natural” destes mercados nas nossas exportações.

Há um consenso nos principais partidos portugueses sobre o aumento do peso das exportações no PIB e a diversificação é a resposta que devemos tentar alcançar, o que não quer dizer que seja fácil, mas é um objectivo para o qual deverá ser possível conseguir maiorias alargadas para aprovar reformas de fundo.