Redes sociais: o elefante na sala
Em 2022 as empresas de redes sociais ganharam um valor estimado em US$ 11 bilhões com publicidade para menores – só nos Estados Unidos. Noventa e cinco por cento dos adolescentes usaram redes sociais naquele ano; um terço deles, quase constantemente. Esses dados abrem o documentário Can’t Look Away: The Case Against Social Media, dirigido […] The post Redes sociais: o elefante na sala appeared first on Brazil Journal.

Em 2022 as empresas de redes sociais ganharam um valor estimado em US$ 11 bilhões com publicidade para menores – só nos Estados Unidos. Noventa e cinco por cento dos adolescentes usaram redes sociais naquele ano; um terço deles, quase constantemente.
Esses dados abrem o documentário Can’t Look Away: The Case Against Social Media, dirigido por Matthew O’Neill e Perri Peltz e por enquanto disponível apenas na plataforma Jolt. Baseado em uma reportagem investigativa da Bloomberg, o filme acompanha por dois anos e meio o trabalho do Social Media Victims Law Center, uma organização que luta por justiça para famílias cujos filhos sofreram graves consequências ligadas ao uso das redes sociais.
Se os pais ficaram impactados com a história fictícia (baseada em fatos reais) de Jamie da série Adolescência, ficarão em pânico com as muitas histórias reais contadas pelos próprios pais das vítimas em Can’t look away.
Já é consenso que apesar das redes sociais terem nascido com o objetivo de “aproximar e reconectar as pessoas,” o resultado observado é muito diferente disso: maior isolamento, maior irritabilidade e maior probabilidade de transtornos mentais nos jovens.
Três casos ilustram situações extremas que podem evoluir rapidamente dentro das plataformas – sem que as vítimas demonstrem quaisquer sinais.
Jordan DeMay era um adolescente que amava jogar basquete e tinha uma vida social ativa. Uma noite, recebeu uma mensagem de uma menina bonita e desconhecida pelo Instagram. Começaram a conversar e ela pediu que ele lhe enviasse imagens de cunho sexual. Depois do envio, ela o chantageou em mais um caso de “sextortion”, um crime cibernértico cada vez mais comum que utiliza conteúdo íntimo para prejudicar a reputação da vítima caso ela não atenda as exigências (dinheiro ou mais imagens).
Jordan se suicidou.
No segundo caso, um jovem havia acabado de sofrer uma desilusão amorosa e buscou no TikTok conteúdo motivacional sobre finais de relacionamento. Duas semanas depois, se matou. Após sua morte, foram encontrados em seu celular vídeos com ideias suicidas. É importante enfatizar que todas essas plataformas têm diretrizes de comunidade e mecanismos de AI que tentam minimizar a incidência desse tipo de conteúdo, mas é possível burlar essas barreiras substituindo imagens explícitas por sugestivas.
Em um terceiro caso, um menino de 14 anos chamado Alexander comprou de um traficante que conheceu através do Snapchat o que ele acreditava ser oxycontin. Morreu envenenado por fentanil. (O Snap tornou-se um paraíso para os traficantes em meio à epidemia de opioide nos Estados Unidos porque as mensagens são apagadas instantaneamente ou em 24 horas.)
O que fica muito claro ao longo do documentário é que as Big Techs sabiam dos efeitos devastadores nos usuários, e não fizeram nada para mudar. O trabalho do Social Media Victims Law Center é justamente tentar responsabilizar as plataformas por essas mortes.
Até hoje elas têm conseguido imunidade devido à Seção 230, um trecho do Communications Decency Act, implementado em 1996 durante o Governo Clinton para regulamentar o conteúdo online.
A Seção 230 dá uma proteção crucial aos provedores de serviços online, isentando-os de responsabilidade pelo conteúdo gerado pelos usuários. Ela sempre foi defendida pelas grandes empresas de tecnologia como essencial para a inovação, liberdade de expressão e crescimento das plataformas.
A principal reflexão aqui é: a internet de 1996 é igual à internet de 2025? O Facebook foi criado em 2004, o Instagram em 2010, o Snap em 2011 e o TikTok em 2016. É natural que os efeitos nocivos só sejam percebidos após um período maior.
O documentário mostra a audiência que aconteceu no Senado dos EUA em janeiro de 2024 com os CEOs das maiores empresas de redes sociais. Eles se desculparam com as famílias das vítimas, afirmaram que estão trabalhando para tornar as plataformas mais seguras – e saíram ilesos.
O caminho de uma regulamentação parece distante. Os grandes nomes do setor de tecnologia ocuparam lugar de destaque na posse do Presidente Donald Trump, além de terem recursos infinitos para o lobby no Congresso.
No curto prazo, mudanças de design e leis pontuais são mais factíveis. A Meta está fazendo uma campanha massiva para divulgar as “contas de adolescente”, com proteções para que pais possam definir quem pode entrar em contato com eles e o tipo de conteúdo que eles podem ver. A lei de banimento dos celulares na escola é uma forma eficaz de obrigá-los a interagir socialmente e de evitar o sequestro da atenção durante o período escolar.
A produtora do documentário disponibilizou em seu perfil no Instagram um guia riquíssimo com questões para serem debatidas após a exibição do filme e recursos para aprofundamento nos principais tópicos.
Alessandra Levy é economista e palestrante.
The post Redes sociais: o elefante na sala appeared first on Brazil Journal.