[Preview] Lazarus deslumbra com ação estilizada, mas ainda busca identidade entre caos e beleza

Uma nova viagem filosófica e futurista da mente de um dos responsáveis por Cowboy Bebop Em um mundo à beira do colapso, onde a dor foi curada à força e a esperança se transformou em sentença, Lazarus emerge como um thriller de ficção científica que desafia o espectador visualmente — mas hesita em mergulhar de […] Fonte: [Preview] Lazarus deslumbra com ação estilizada, mas ainda busca identidade entre caos e beleza">Legião dos Heróis.

Mai 8, 2025 - 14:12
 0
[Preview] Lazarus deslumbra com ação estilizada, mas ainda busca identidade entre caos e beleza

Uma nova viagem filosófica e futurista da mente de um dos responsáveis por Cowboy Bebop

Em um mundo à beira do colapso, onde a dor foi curada à força e a esperança se transformou em sentença, Lazarus emerge como um thriller de ficção científica que desafia o espectador visualmente — mas hesita em mergulhar de verdade no que tem a dizer. 

Os cinco primeiros episódios entregam uma experiência estética sofisticada, repleta de ação coordenada e sons que flutuam entre o jazz espiritual e a distopia digital. Porém, a alma desse universo ainda está em formação.

Em 2052, o mundo celebra o ápice de seu avanço científico: a Hapuna, droga criada pelo neurocientista Dr. Skinner, elimina não apenas a dor física, mas também traços de sofrimento emocional. A humanidade abraça esse paraíso sintético com pressa — rápido demais para questionar suas implicações. Três anos depois, o mesmo Skinner reaparece com uma revelação perturbadora: a Hapuna irá matar todos os seus usuários. Não há cura. Só um prazo.

É essa a premissa que move Lazarus e ela é potente o bastante para ecoar referências como Akira, Ghost in the Shell, Blade Runner 2049 e até mesmo Filhos da Esperança. No entanto, o anime ainda hesita em desbravar com profundidade os dilemas éticos que propõe. A discussão sobre tecnologia, bioética e transumanismo aparece mais como moldura do que como núcleo.

Como esperado de uma obra com a assinatura de Shinichirō Watanabe (Cowboy Bebop, Samurai Champloo), o estilo é visual, sim, mas principalmente filosófico. As cenas de ação são coordenadas por Chad Stahelski, de John Wick, e isso se sente em cada coreografia milimetricamente brutal. Há um virtuosismo técnico que impressiona: as lutas são balés modernos entre drones, sabres de luz compactos, tiros silenciados e corpos lançados em câmera lenta com precisão clínica.

A trilha sonora, conduzida por Kamasi Washington, Bonobo e Floating Points, é uma obra à parte. Ela molda cada cena, cada minuto. Jazz livre encontra batidas eletrônicas quebradas em momentos que vão do contemplativo ao frenético, criando texturas auditivas que ampliam a sensação de um mundo em colapso emocional.

A animação da MAPPA é exuberante, com paletas que oscilam entre o neon urbano da Tóquio digitalizada e desertos áridos onde a humanidade se desintegra aos poucos. Há uma estética de fim de mundo embelezado, uma distopia onde a morte veste trajes futuristas e fala baixo, com elegância.

A força-tarefa que dá nome ao anime — Lazarus — reúne cinco agentes de diferentes origens, cada um com habilidades únicas. No entanto, até o quinto episódio, eles funcionam mais como arquétipos do que como pessoas reais. Temos o ex-soldado, a hacker misteriosa, o atirador estoico, o estrategista analítico e a especialista em combate corpo a corpo — mas raramente eles escapam do papel funcional.

Watanabe sempre teve um talento particular para criar personagens que pareciam fora do tempo, mas dentro de si mesmos. Em Lazarus, essa humanidade ainda não apareceu por completo. Falta conflito interno, ambiguidade emocional, cicatrizes visíveis. O anime está mais preocupado em mover suas peças do que em questionar quem elas são.

Por outro lado, o pano de fundo do anime é incrivelmente rico: a crítica à farmacologização da sociedade, a ilusão do progresso absoluto, a geopolítica da salvação em escala global. Tudo isso aparece, mas ainda como fragmentos. A série se movimenta com urgência, mas parece evitar os silêncios que tornaram obras como Cowboy Bebop tão poderosas.

Há um senso de espetáculo inegável, mas ainda não há um ponto de vista consolidado. A cada episódio, temos cenas memoráveis — perseguições pelas ruas iluminadas de Bangkok, confrontos metafísicos com avatares de Skinner — mas falta uma linha emocional que conecte tudo com verdade.

Lazarus é uma experiência visual e sonora de alto nível. É ousado, tecnicamente impecável e cheio de potencial. Mas ainda é um espetáculo que se observa mais do que se sente. Se a série conseguir desacelerar para respirar e permitir que seus personagens deixem de ser instrumentos e se tornem vozes, ela poderá transformar sua promessa estética em grandeza narrativa.

 

Por enquanto, Lazarus é um mundo impressionante à espera de se tornar inesquecível.

Lazarus está chegando à metade de sua primeira temporada. O anime está disponível no Brasil pelo Max, com novos episódios todo domingo.

Quer ler mais sobre animes? Veja também:

Fonte: [Preview] Lazarus deslumbra com ação estilizada, mas ainda busca identidade entre caos e beleza">Legião dos Heróis.