Pesquisa mostra que mulheres deixam de lado a saúde mental e hobbies pelo trabalho
Quem cuida do seu dinheiro e do seu bem-estar quando você se esquece de você mesma?

Falta de vigilância, desatenção, desinteresse, menosprezo, falta de iniciativa, indolência, inércia, preguiça, descuidado, desaplicação. Na estante de livros, guardo duas edições impressas de dicionários, ainda encapadas com o plástico exigido pelo colégio.
Em vez do Michaelis, pego o Houaiss em mãos. Com uma curiosidade despretensiosa, busco uma palavra que tem visitado algumas de minhas reflexões: “negligência”. Os sinônimos, um atrás do outro, me parecem cruéis demais quando direcionados a qualquer pessoa que seja. São mais carregados de significados ainda quando se escuta de alguém como um alerta para você mesma.
A palavra também me encontrou na minha caixa de e-mail. “O autocuidado e saúde mental são os aspectos mais sacrificados por mulheres na hora de buscar um crescimento profissional” era o assunto da mensagem. Segundo a pesquisa “Mulheres nas empresas: o que querem da carreira e da vida pessoal”, feita pela Todas Group e pela Nexus, 7 em cada 10 mulheres (71%) abriram mão da saúde física ou de hobbies em razão do trabalho e pouco mais da metade (52%) negligenciou a saúde mental pelo mesmo motivo.
Perceber uma autonegligência serve como alerta, mas também como oportunidade. O estudo mostra que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é a prioridade para quase metade (46%) das mulheres entrevistadas, seguido por saúde mental e bem-estar (40%) e estabilidade financeira e segurança no trabalho (39%). Era possível escolher até duas respostas. A Nexus entrevistou 1.203 mulheres de grandes empresas e multinacionais.
As entrevistadas abriram mão de muita coisa, segundo o levantamento: metade (50%) do tempo com a família, 33% da vida social e lazer, 24% da maternidade ou desejo de ter filhos, 14% de relacionamentos afetivos, 14% da estabilidade financeira e 3% da vida religiosa. Elas puderam escolher até três áreas sacrificadas.
Fechando as páginas do Houaiss e sendo, digamos, mais moderna e adepta às novas tecnologias, digito agora autonegligência no ChatGPT. A resposta, dada em segundos mais rápidos do que a minha leitura pode acompanhar, descreve: “É quando uma pessoa não consegue ou não quer cuidar de si mesma, comprometendo sua saúde e segurança. Pode ser intencional ou não intencional. Autonegligência não significa preguiça. É fundamental olhar com empatia e buscar ajuda profissional quando se percebe esse comportamento em si ou em alguém próximo”.
A negligência financeira pode ser consequência de uma vida inteira sem acesso a dinheiro ou sem educação financeira. Esse tipo de negligência, geralmente involuntária, tem impactos profundos. É quando também perdemos a própria autonomia. Deixar de pagar contas, ignorar o acúmulo de dívidas, não acompanhar extratos, não guardar recursos para emergências, deixar dinheiro parado quando poderia estar rendendo em algum investimento são alguns dos exemplos.
Para silenciar a mente, às vezes é preciso desligar o som. Estaciono o carro, preciso caminhar até o consultório da dentista. Interrompo o podcast, tiro o fone do ouvido, desisto do telefone celular. A rua é arborizada. Não vejo, mas escuto que há muitos passarinhos. Na esquina, a construção de um enorme prédio se ergue. Não vejo, mas escuto um homem cantar “O Que é, O Que É?”, de Gonzaguinha.
Só precisei parar para ouvi-los. Negligenciar o que se sente, o que se sonha ou o que se guarda na carteira são faces da mesma moeda. Escutar a si mesma e ao mundo ao redor pode ser o primeiro investimento.
Assine a newsletter de CLAUDIA
Receba seleções especiais de receitas, além das melhores dicas de amor & sexo. E o melhor: sem pagar nada. Inscreva-se abaixo para receber as nossas newsletters:
Acompanhe o nosso WhatsApp
Quer receber as últimas notícias, receitas e matérias incríveis de CLAUDIA direto no seu celular? É só se inscrever aqui, no nosso canal no WhatsApp.
Acesse as notícias através de nosso app
Com o aplicativo de CLAUDIA, disponível para iOS e Android, você confere as edições impressas na íntegra, e ainda ganha acesso ilimitado ao conteúdo dos apps de todos os títulos Abril, como Veja e Superinteressante.