Papa Francisco: vida, biografia e carreira
Latino, de hábitos quase espartanos e defensor de pautas progressistas são alguns dos traços que o diferenciaram de seus antecessores The post Papa Francisco: vida, biografia e carreira appeared first on InfoMoney.


“Parece que meus irmãos cardeais foram procurar um papa quase no fim do mundo. Mas aqui estamos”.
Foi dessa forma que Papa Francisco se apresentou como novo líder da Igreja Católica aos milhares de fiéis que lotavam a Praça São Pedro do Vaticano, em 13 de março de 2013. Dez anos depois, questionado em uma entrevista sobre a declaração, o pontífice riu e explicou as palavras ambíguas.
“Não sou apocalíptico, ao menos não nesse sentido. Minha referência ao fim do mundo teve a ver com o local de onde venho e principalmente com a minha visão, pois a realidade se vê melhor da periferia do que do centro”.
A princípio, parece ter sido exatamente isso o que a Igreja buscava: uma renovação em meio a escândalos de corrupção e abusos sexuais e, especialmente, um novo olhar sobre formas de vida que se transformaram ao longo de décadas – e que não foram acompanhadas pelas doutrinas católicas.
A escolha de Francisco como sumo sacerdote surpreendeu tanto quanto a renúncia de seu antecessor, Bento XIV, que ainda gozava de boa saúde. Em 600 anos, era a primeira vez que um papa não completava o mandato por vontade própria.
Também pesou a seu favor a sólida formação intelectual e espiritual da escola jesuíta que, segundo religiosos, costuma ser mais exigente do que a diocesana. Mas, rapidamente, a surpresa foi substituída por curiosidade, e motivos não faltavam para isso. Além de latino-americano e primeiro pontífice jesuíta da história, seus hábitos eram (e ainda são) espartanos: continuou a usar as velhas botinas pretas, recusando os tradicionais sapatos vermelhos, e não quis morar no Palácio Apostólico do Vaticano, residência oficial dos papas. Alegou que não estava acostumado a viver em espaços tão grandes, e que na Casa Santa Marta, onde moram os cardeais, ficaria mais perto das pessoas.
Desde que assumiu o papado, a mensagem de Francisco foi clara: queria uma “igreja pobre e para os pobres”, algo que já havia posto em prática na Argentina, como bispo auxiliar e arcebispo.
Esse foi o legado do Papa Francisco, que morreu segunda-feira, 21 de abril de 2025, um dia após a Páscoa. Ele ajudou a mudar a face do papado moderno mais do que qualquer outro antecessor ao evitar grande parte de sua pompa e privilégio. Por outro lado, suas tentativas de tornar a Igreja Católica mais inclusiva e menos crítica o tornaram inimigo dos conservadores nostálgicos de um passado tradicional.
Quem foi o Papa Francisco?
Jorge Mario Bergoglio é o nome de batismo do Papa Francisco, religioso oriundo da ordem jesuíta Companhia de Jesus, nascido em 17 de dezembro de 1936 na cidade de Buenos Aires, Argentina. Ele faleceu em 21 de abril de 2025, aos 88 anos. O pontífice chegou a ficar internado por 38 dias, desde o dia 14 de fevereiro, no hospital Gemelli, em Roma, em virtude de uma bronquite que evoluiu para uma pneumonia bilateral, recebendo alta em 23 de março, mas mostrando sinais de uma saúde fragilizada desde então.
A exemplo de outras famílias europeias, a de seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, emigrou da Itália para a Argentina no início do século XX, para fugir das guerras que assolavam o continente europeu. Em 1929, saíram do Piemonte e se estabeleceram em Buenos Aires, no bairro de Flores. Cinco anos depois, Mario conhece Regina Maria Sivori, filha de imigrantes genoveses, e os dois se casam no ano seguinte. Jorge é o primeiro dos cinco filhos que o casal viria a ter na capital argentina.
Formação e início da vida religiosa
Jorge Bergoglio chegou a fazer um curso técnico de Química, mas decidiu ser padre e, em 1958, ingressou no seminário jesuíta Villa Devoto. Em 1960, formou-se em Filosofia pela Universidade Católica de Buenos Aires, tema que lecionou em escolas da Companhia de Jesus em Santa Fé e Buenos Aires nos anos seguintes.
Em 1969 foi ordenado sacerdote, e se formou em Teologia um ano depois. Concluiu sua formação religiosa na Espanha, de onde retornou em 1973 para chefiar a Companhia de Jesus na Argentina.
Nos anos 1980, Bergoglio voltou para o meio acadêmico, dessa vez como reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel. No mesmo período, chegou a ser diretor espiritual e confessor da cidade de Córdoba.

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Foco nos pobres e ditadura militar
Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires, e passou a trabalhar diretamente com o arcebispo da cidade na época, Antonio Quarracino. Foi então que o trabalho de Bergoglio junto aos pobres tomou uma maior dimensão. Segundo relatos de pessoas que trabalharam com ele, o número de sacerdotes dedicados aos bairros mais pobres da capital argentina chegou a triplicar por sua influência.
Em 1998, tornou-se arcebispo da cidade de Buenos Aires, o que não o fez abandonar seus hábitos simples. Bergoglio ainda andava de metrô, e continuou evitando todos os luxos próprios da hierarquia católica. Porém, a maior exposição de seu nome fez ressurgir acusações de que ele teria colaborado com a ditadura militar argentina, terminada em 1983.
Durante os sete anos de estado de exceção, religiosos estiveram entre as vítimas presas, torturadas e mortas. Os casos de dois sacerdotes jesuítas – Orlando Yorio e Francisco Jalics – fizeram do então arcebispo um alvo de ataques da imprensa e de entidades de direitos humanos. Na época dos crimes, ele estava à frente da ordem jesuíta do país, e foi acusado por suposta omissão de socorro a ambos.
Em 2010, o atual papa testemunhou sobre o papel que desempenhava na ocasião. Além de negar as acusações, disse que se encontrou com o general Videla, um dos líderes do golpe, para interceder pela vida dos dois sacerdotes.
Em que pese a polêmica, as acusações não chegaram a abalar seriamente a imagem de Bergoglio, até porque há divergências sobre sua postura ter sido permissiva ou não diante da ditadura. No documentário “Francisco, o Papa das Américas”, a ex-juíza do Fórum Penal de Buenos Aires, Alicia Oliveira, afirma que ele ajudou muita gente naquele período – inclusive ela própria.
“Um dia, o Jorge veio me ver e disse: Alicia, vem aí um golpe militar. Muito sangue vai ser derramado, e você corre um grande perigo. Eu ignorei o alerta e logo me tornei alvo do regime”, relembra Alicia, que já era advogada na época.
Segundo ela, que passou a viver escondida, Bergoglio não só mantinha contato com regularidade como a ajudou em diversas ocasiões durante a clandestinidade.
Nomeação como cardeal e proximidade do papado
Em 2001, Bergoglio foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II. Quatro anos depois, participou de seu primeiro conclave, no qual acabou em segundo lugar, perdendo para Joseph Ratzinger, seu antecessor imediato no posto.
O motivo oficial da renúncia de Bento XVI em 2013 só viria a ser conhecido depois de sua morte, em dezembro de 2022. Segundo carta enviada a seu biógrafo pouco antes de falecer, a razão principal de ter se afastado da liderança do Vaticano foi uma insônia que o acompanhava desde 2005 e que começou meses depois de ter sucedido João Paulo II.
Na carta, Ratzinger contou que os remédios para dormir acabaram provocando uma queda em 2012, durante uma viagem ao México e Cuba. Depois disso, os médicos o orientaram a reduzir a medicação e que só participasse de eventos no exterior durante o dia. Sentindo-se limitado fisicamente, decidiu se afastar do papado no ano seguinte.
Ainda hoje, especula-se que a sua renúncia não tenha ocorrido somente pela saúde fragilizada. Na época, havia tensões no Vaticano que envolviam escândalos e disputas internas.
Em maio de 2012, estourou o caso que ficou conhecido como “Vatileaks”. O mordomo do papa, que foi preso sob acusação de vazar documentos, ameaçou denunciar supostos esquemas de corrupção e favorecimentos dentro do Vaticano. Em paralelo, corriam diversas investigações sobre abusos sexuais cometidos por padres há décadas e acobertados por religiosos da alta cúpula católica.
O conjunto da obra contribuiu para abalar o papado de Ratzinger. Logo depois de sua renúncia, o então porta-voz do Vaticano, Fredericco Lombardi, foi a público declarar que “a Igreja precisava de alguém com mais energia física e espiritual, que pudesse superar os desafios de um mundo moderno e em constante mudanças”.
Foi nesse contexto que o Papa Francisco assumiu o comando da Igreja Católica naquele ano.
Legado como papa
Comparado a seus antecessores, Francisco adotou uma postura progressista diante de determinados temas sensíveis à Igreja Católica.
Uma das mais repercutidas mundialmente foi o acolhimento da comunidade LGBTQIA+. Embora a admissão de gays no sacerdócio ainda seja um assunto espinhoso, Francisco permitiu que os padres abençoassem a união de pessoas do mesmo sexo. Além disso, defende a descriminalização da homossexualidade, como reforçou em entrevista ao jornalista argentino Jorge Fontevecchia, do Grupo Perfil, em 2023.
“Infelizmente, há cerca de trinta países que ainda hoje criminalizam a homossexualidade, sendo que quase dez deles têm pena de morte. Isso é muito sério, não dá para aceitar”, disse ao jornalista.
O aumento da participação de mulheres em cargos de gestão na Igreja também é obra de seu papado. Em março de 2022, a nova Constituição da Cúria autorizou qualquer católico batizado – inclusive mulheres – a chefiar os escritórios do Vaticano.
Francisco também foi mais combativo em relação aos crimes sexuais cometidos ao longo de séculos pela Igreja. Em 2021, manifestou publicamente sua “vergonha pela incapacidade da Igreja de colocar as vítimas no centro de suas preocupações”. Naquele ano, havia sido divulgado um relatório sobre os abusos que teriam atingido mais de 216 mil crianças e adolescentes na Igreja Católica da França desde 1950.
Outra pauta importante foi a defesa do meio ambiente e o estabelecimento de laços com povos originários. Em 2015, o Vaticano se pronunciou pela primeira vez sobre o tema, quando Francisco publicou a encíclica “Louvado Seja”, pela qual convocou os católicos a agirem em favor da preservação ambiental. De lá para cá, outras ações sobre o tema aconteceram, como o Sínodo da Amazônia e uma visita ao Brasil em 2019 para discutir a crise climática com autoridades acadêmicas locais.
O Papa Francisco fez sua última aparição pública no domingo de Páscoa em acenos na varanda na Praça de São Pedro. A Missa de Páscoa, tradicionalmente celebrada por ele, contou com a leitura de homilia escrita por ele e lida pelo Cardeal Angelo Comastri, arcipreste aposentado da Basílica de São Pedro.
Nas últimas palavras do Papa ao mundo, mensagens amorosas e de esperança, como fiéis se acostumaram a receber de Francisco. “Não podemos estacionar nosso coração nas ilusões deste mundo nem fechá-lo na tristeza; temos de correr, cheios de alegria”, afirmou.

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