Os Destaques da SP-Arte 2025

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo. Este ano, a feira reafirmou seu status como um dos eventos mais relevantes do circuito internacional, com ênfase aos artistas brasileiros O post Os Destaques da SP-Arte 2025 apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Abr 3, 2025 - 22:06
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Os Destaques da SP-Arte 2025

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

 

A coluna convidou as consultoras de arte Graziela Martini e Patrícia Amorim de Souza, da Art Homage, para contarem os destaques imperdíveis da SP-Arte 2025. Em sua 21ª edição, realizada no Pavilhão da Bienal no Parque Ibirapuera, a feira reafirmou seu status como um dos eventos mais relevantes do circuito internacional. Lotada de visitantes e colecionadores VIPs, a SP-Arte manteve o fôlego mesmo em um momento de retração do mercado global, mostrando-se imune a qualquer abalo — talvez graças à proteção tarifária que isola o mercado brasileiro das oscilações internacionais e favorece um cenário mais coeso e voltado ao talento nacional.

Confira os highlights da feira de arte a seguir:

Com artistas brasileiros em crescente projeção no circuito internacional, é visível o amadurecimento do colecionismo local. Nossos colecionadores vêm reconhecendo a potência de uma produção diversa, plural, marcada por distintas etnias, gêneros e vivências. E seguem investindo com inteligência em obras que já nascem com relevância histórica e política.

Uma artista que cativou o nosso olhar na feira foi Adriana Coppio. Há algo profundamente sensível e atmosférico na maneira como ela transforma narrativas em pintura. Ver as obras que ela criou a partir de Graciliano Ramos, no estande da Galeria Sardenberg, foi como entrar num universo paralelo – um sertão íntimo, quase onírico, onde o peso do silêncio e da paisagem fala mais alto. É bonito ver como sua pintura figurativa se alinha tão organicamente às densidades dos textos de Graciliano. E o público parece ter sentido o mesmo: tudo foi vendido logo no primeiro dia da feira.

Divulgação

Obra de Adriana Copio, no estande da Galeria Sardenberg

Outra artista que nos chamou atenção de imediato foi Vivian Caccuri. Seu trabalho, que atravessa som, imagem, corpo e tecnologia, tem uma potência sensorial que é difícil de descrever – é como se ela abrisse frestas em nosso sistema perceptivo. Nesta SP-Arte, já sob o novo nome Almeida & Dale, resultado da fusão recente com a antiga Galeria Millan, a artista apresentou obras que continuaram esse seu percurso de investigar o som para além do que se escuta. E o público correspondeu: todas as obras de Vivian disponíveis na feira foram vendidas logo no primeiro dia.

A grande surpresa da feira foi este mural de Di Cavalcanti. A obra, de dimensões raríssimas para o artista, estava até pouco tempo atrás no saguão de um prédio na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro — o tipo de tesouro escondido em plena paisagem urbana. Depois de uma longa negociação com os proprietários, a tela apareceu no estande da Galatea com uma pedida de até R$ 8 milhões — e foi vendida durante os primeiros dias da feira. É um trabalho exuberante, onde a síntese modernista de Di Cavalcanti pulsa em cada figura e cor, e onde o Brasil popular e tropical aparece com força monumental. Ver uma peça desse porte ao vivo é um privilégio.

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Di Cavalcanti, no estande da Galatea

A bola da vez na feira foi Lucas Arruda. Bastava chegar perto do estande da Mendes Wood DM para ver gente esperando a vez de contemplar, em silêncio, as duas telas fortíssimas que a galeria trouxe para a SP-Arte. Como de costume, são obras de pequeno porte, mas imensas na densidade atmosférica que provocam — parte da série Deserto-modelo, em que luz e espaço parecem se dissolver no tempo. O momento é especial: na semana seguinte à feira, Lucas se torna o primeiro artista latino-americano a ter uma individual no Musée d’Orsay, em Paris, ao lado de nomes como Monet. Não é à toa que havia fila: seu trabalho segue consolidando uma das trajetórias mais potentes da pintura contemporânea.

Uma das experiências mais marcantes da feira foi ver de perto uma obra histórica de Yayoi Kusama. A Simões de Assis trouxe para seu estande uma pintura da série Dots Obsession, datada de 2001 — um trabalho raro e emblemático dentro da produção da artista. Em meio à repetição obsessiva dos pontos, algo se move: a pulsação do infinito, da loucura, da persistência. Kusama é uma das vozes mais singulares da arte contemporânea, e há algo de comovente em estar frente a frente com uma de suas obras em São Paulo. É sempre bom lembrar o impacto de poder acessar, ao vivo, a potência de uma artista que moldou o imaginário da arte global com tanta intensidade.

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Lucas Arruda, no estande da Mendes Wood DM

Um dos trabalhos mais sofisticados da feira veio de Antonio Tarsis. A peça apresentada pela Fortes D’Aloia & Gabriel, Sem título (Escudo de Xangô), de 2025, foi rapidamente vendida — e não surpreende. Feita com caixas de fósforo reorganizadas em uma grande composição que remete à pintura abstrata, a obra carrega uma elegância estrutural rara, resultado de uma sensibilidade formal apurada e de uma pesquisa material profundamente política. Há uma cadência nas repetições, uma vibração nas cores desbotadas, um rigor na montagem que transforma o cotidiano em símbolo. Foi um dos momentos de força e refinamento da feira.

Com obras icônicas como a de Kusama chamando atenção e nomes brasileiros despontando com cada vez mais força no exterior, a SP-Arte 2025 se consolidou como mais do que uma vitrine: tornou-se um retrato da vitalidade — e da resiliência — do nosso sistema de arte.

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