Opep: o que é e qual a sua importância?

O petróleo ainda é um dos recursos mais utilizados no século XXI. Para tanto, também é motivo de disputas políticas e econômicas. A OPEP é uma organização fundada com o intuito de fortalecer os países com grandes reservas de petróleo. Vem entender como funciona essa união e qual a sua importância.

Mar 15, 2025 - 03:40
 0
Opep: o que é e qual a sua importância?

Com a grande dependência do petróleo se acentuando no século XX, os países com grandes reservas dessa matéria-prima passaram a ser bastante cobiçados. Por conta disso, decidiram se juntar com o intuito de fortalecer os países produtores de petróleo perante o comércio mundial. Essa união foi estabelecida em 1960 com o nome de Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

O século XIX ficou marcado pelo início da exploração em larga escala do petróleo. Esse combustível fóssil é principalmente usado como fonte de energia para os motores dos mais diversos tipos, pois o seu refino gera produtos como a gasolina, querosene, diesel etc. Além disso, essa matéria-prima também é importante para a fabricação de plásticos, borrachas, tintas, solventes, entre outros.

Acompanhe o texto para entender melhor sobre a Opep!

O que é a Opep?

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep ou Opec, na sigla em inglês) é uma organização internacional, com sede em Viena (Áustria), fundada pela Arábia Saudita, Venezuela, Irã, Iraque e Kuwait. Atualmente, ela conta com 13 membros, que foram aderindo à associação ao longo do tempo, e representam 80,4% (1,24 trilhão de barris) das reservas comprovadas de petróleo do mundo.

Logo da OPEP
Logo da Opep. Imagem: Leonhard Foeger/Reuters.

Os países que foram se associando a Opep ao longo dos anos foram: Líbia (1962), Emirados Árabes (1967), Argélia (1969), Nigéria (1971), Gabão (1975), Angola (2007), Guiné Equatorial (2017) e Congo (2018).

Alguns países como Equador, Indonésia e Catar já fizeram parte da organização, mas optaram por sair ou suspender a sua filiação, sendo por problemas fiscais internos, como aconteceu no Equador em 2020, ou por mudanças em sua política energética, como ocorreu no Catar, em 2019, e na Indonésia, em 2016.

Cabe ressaltar que para fazer parte da Opep, o estatuto estipula que:

Qualquer país com uma exportação líquida substancial de petróleo bruto, que tenha interesses semelhantes aos dos países membros, poderá se tornar um membro pleno da organização, se aceito pela maioria de três quartos dos membros plenos, incluindo votos concordantes de todos os membros fundadores

De acordo com seu Estatuto, a missão da Opep é coordenar e unificar as políticas de petróleo de seus Países-Membros e garantir a estabilização dos mercados de petróleo para assegurar um fornecimento eficiente, econômico e regular de petróleo aos consumidores, uma renda estável aos produtores e um retorno justo sobre o capital para aqueles que investem na indústria do petróleo.

O grupo alcança esses objetivos, na prática, influenciando o mercado internacional de petróleo, com cortes ou aumento de produção.

Como a Opep funciona?

O primeiro objetivo da organização foi contrapor o domínio global exercido pelas maiores empresas do ramo petrolífero, influentes até a data que antecedeu a criação da Opep. 

Essas empresas exploravam os recursos petrolíferos dos países que detinham largas reservas, e em troca pagavam baixos royalties – uma quantia paga por alguém a um proprietário pelo direito de uso, exploração e comercialização de um bem. Sendo assim, os lucros ficavam disponíveis para essas transnacionais.

As empresas que detinham o controle de todo o mercado eram conhecidas como as 7 irmãs. Esse oligopólio era constituído por 5 empresas americanas (Chevron, Exxon, Gulf, Mobil e Texaco), uma anglo-holandesa (Shell) e uma britânica (British Petroleum).

Para combater esses grandes conglomerados, a Opep estabeleceu uma política petrolífera aos membros. Dentre as medidas propostas, constavam as estratégias de produção e controle dos preços no mercado, assim como a ampliação de conhecimento e informações sobre o mercado de petróleo mundial.

Com essas diretrizes, a primeira medida que os países da Opep tiveram foi o aumento substancial do valor pago em royalties pelas empresas transnacionais. 

Na maioria dos casos, houve um aumento dos tributos que incidiram sobre a atividade de extração e comercialização do petróleo, o que acabou resultando em ganhos econômicos aos países membros.

Na década de 1970, a Opep foi bastante ativa nas consecutivas crises que cercaram o Oriente Médio, reagindo com cortes e controle da produção. Posteriormente, ocorreram ações mais pontuais após a década de 1990, normalmente, relacionados com instabilidades políticas e/ou econômicas.

Leia também: como a pandemia de coronavírus afetou o Oriente Médio?

E qual a importância da Opep?

Como a economia mundial ainda é muito dependente do petróleo, qualquer oscilação brusca nos preços desta matéria-prima acabam resultando em mudanças de rota para a economia mundial.

Sabendo disso, é possível entender como a Opep acabou ganhando tanto protagonismo e sendo uma das organizações mais poderosas do mundo

Como essa associação é capaz de mudar o ritmo do crescimento global, os países, os mercados financeiros e as grandes empresas ficam de olho em todos os passos e medidas que a organização toma.

Até 2022, de acordo com as estimativas do grupo, 80,4% (1,24 trilhão de barris) das reservas comprovadas de petróleo do mundo estavam localizadas em países membros da Opep, com a maior parte das reservas de petróleo da Opep no Oriente Médio, cerca de 67,1% do total da Opep.

Leia também: o que é pré-sal?

Crises do petróleo e a Opep

Falar em petróleo acaba nos levando, inevitavelmente, a diversos conflitos e crises que ocorreram durante os séculos nestes mercados, que acabaram ricocheteando no mundo.

Já ocorreram diversas crises neste mercado, podendo até citar o conflito entre Arábia Saudita com a Rússia que resultou em uma queda vertiginosa no preço do petróleo. Porém, as três principais crises foram:

Crise de 1973

Após a fundação da Opep, os países membros, insatisfeitos com o domínio estrangeiro do petróleo, anunciaram um embargo, limitando a produção e exportação a países europeus e aos Estados Unidos. Devido à escassez de petróleo, o preço quadruplicou de US$ 3 para US$ 12.

Crise de 1979

Quando ocorreu uma revolução islâmica fundamentalista no Irã, toda a organização do país acabou se transformando, levando a uma queda na produção de petróleo durante este período. Além disso, o Irã iniciou uma guerra contra o Iraque , outro grande produtor de petróleo.

Guerra do Golfo

Nos anos 1990, o Iraque entrou em guerra com o Kuwait (dois países fazem parte da Opep). Com isto, o golfo pérsico, principal passagem de petróleo do mundo, foi fechado, resultando em mais uma grande escalada no preço da commodity nos mercados.

Guerra Ucrânia x Rússia

Em 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, levando a uma série de sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, que restringiram a exportação de petróleo e gás russos para o Ocidente. 

Como resposta, a Rússia reduziu o fornecimento de gás para a Europa, elevando os preços da energia e gerando uma crise energética global. Diante desse cenário, a Opep+ decidiu manter cortes na produção de petróleo, intensificando a disputa geopolítica e resultando em oscilações nos preços da commodity nos mercados internacionais.

Opep+

A Opep+ é um grupo expandido que conta com 13 membros da Opep, mais dez países. Esses dez países aliados colaboram com iniciativas da Opep, mas não têm direito a voto na organização.

Esse grupo atua de forma conjunta em algumas políticas internacionais ligadas ao comércio de petróleo e na mediação entre membros e não membros.

Fazem parte da Opep+:

  • Rússia;
  • Cazaquistão;
  • Bahrein;
  • Brasil;
  • Brunei;
  • Malásia;
  • Azerbaijão;
  • México;
  • Sudão;
  • Sudão do Sul;
  • Omã.

A Opep é um cartel?

A Opep é diversas vezes acusada de ser um cartel e de utilizar do seu poderio  – e da dependência global do petróleo por parte dos outros países – para “fazer o que bem entender” em prol dos seus filiados. Mas, será que eles são, realmente, um cartel?

Primeiro, devemos entender o que é isso. Um cartel funciona em forma de um acordo entre empresas que trabalham na mesma área, sendo que entre estas são ajustados os preços, clientes, produção e onde vão atuar. 

O principal interesse de um cartel é de colocar um fim na concorrência, pois, a partir do momento em que tudo passa a ser combinado, é possível controlar o mercado em prol dos seus interesses. E, quem acaba mais sofrendo com isso são os consumidores, que passam a ficar a mercê do que é definido pelo cartel.

Algumas tentativas de enquadrar a Opep como um cartel já foram ventiladas. Nos Estados Unidos, a Lei dos Cartéis Não Produtivos e Exportadores de Petróleo, conhecida como a NOPEC, visa mudar a lei antitruste – uma lei que regula a conduta das organizações em prol de promover uma concorrência justa –  para permitir que os produtores da Opep fossem processados ​​por conluio. 

E, o principal medo da Opep com o andamento dessa lei é a exposição do grupo a ações judiciais, em solo americano ou internacionais, que podem restringir o poder da associação com o passar dos anos.

Leia também nosso conteúdo sobre a importância do petróleo para o Brasil!

O presidente americano Donald Trump disse, em discurso na 73ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a seguinte frase:

Os países da Opep estão, como de costume, explorando o resto do mundo e eu não gosto disso

Para a Dra. Ellen R. Wald, uma historiadora e acadêmica do setor de energia global e envolvimento ocidental no Oriente Médio, :

O argumento de que a Opep não é um cartel se baseia principalmente no histórico de fracassos da organização em definir os preços do petróleo. No entanto, é fato que o grupo opera de forma cartelizada. Mesmo nos períodos em que a Opep se mostra ineficiente, os investidores não podem perder de vista as situações em que a organização pode manipular os preços no curto e no longo prazo.

Ainda como pontua Rodrigo Leão, mestre pela Unicamp e coordenador técnico do instituto de estudos estratégicos de petróleo, gás natural e biocombustíveis (Ineep),

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) têm travado uma guerra com a Rússia e as sete irmãs, petrolíferas localizadas nos grandes polos consumidores (Estados Unidos e Europa).

De um lado, os países produtores buscaram, ao longo do tempo, ampliar sua apropriação da renda petrolífera e aumentar o controle da produção pela estatização de empresas instaladas em seus países. De outro, as companhias dos países consumidores lutaram para reduzir a parcela da renda detida pelos produtores e diversificar suas reservas petrolíferas, a fim de diminuir a influência dos produtores na indústria global de petróleo.

Entrada do Brasil na Opep+

O Brasil ingressou na Opep+ em 2025, mas a adesão não significa ingresso como membro efetivo da entidade. Aderindo à Opep+, o país pode atuar de forma conjunta com os demais integrantes em discussões ligadas ao comércio internacional do produto, nas estratégias de mercado e/ou na solução de controvérsias na área.

O Brasil está em 15° no ranking das maiores reservas de petróleo do mundo, com 12,7 bilhões de barris. 

Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o ingresso leva o Brasil a um espaço para discussão entre produtores. “Não devemos nos envergonhar de sermos produtores de petróleo”, declarou.

Para Camila Jardim, representante do Greenpeace Brasil, com o anúncio da adesão à Opep+, o Brasil envia “o sinal errado para o resto do mundo”, sobretudo no ano em que o país sediará a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), em Belém (PA).

Gostou de saber mais sobre a Opep? Deixe a sua opinião nos comentários!

Publicado em 27/07/2020. Atualizado em 14/03/2025.

Referências: