O Poder dos Hobbies de Vó: Tradição, Terapia e Tempo de Qualidade

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo. Práticas simples e manuais ganham força como antídotos para o estresse e caminhos de reconexão com o bem-estar O post O Poder dos Hobbies de Vó: Tradição, Terapia e Tempo de Qualidade apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Abr 18, 2025 - 12:46
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O Poder dos Hobbies de Vó: Tradição, Terapia e Tempo de Qualidade

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

Em uma cultura viciada em velocidade, telas e estimulação constante, há um desejo crescente de desacelerar e se reconectar com formas de viver mais simples e intencionais. É aí que entram os chamados “passatempos de vó”, como tricô, jardinagem, panificação e costura. Atividades antes vistas como antiquadas agora estão sendo valorizadas pelos surpreendentes benefícios à saúde mental.

Pegue o tricô, por exemplo. Um estudo publicado no British Journal of Occupational Therapy descobriu que pessoas que tricotam com frequência relatam se sentir mais calmas, menos estressadas e mais animadas.

Ao focar em uma atividade específica em vez de lazer genérico, o estudo revelou como o tricô promove a atenção plena (mindfulness), estimula a criatividade e até incentiva a conexão social — seja por meio de grupos comunitários ou grupos online. Em outras palavras, não é apenas uma forma de passar o tempo. É um ato reconfortante e restaurador para a mente.

Num momento em que o esgotamento (burnout) está aumentando e a cultura do excesso de trabalho está sendo questionada, atividades manuais e desaceleradas como essas são mais do que passatempos nostálgicos — são ferramentas práticas para restaurar o equilíbrio emocional e a alegria do dia a dia.

Aqui estão três razões pelas quais adotar os passatempos de vó pode ser um dos melhores investimentos que você fará para o seu bem-estar:

1. Eles Redefinem o Que Significa Ser Produtivo

Em meio à pressão constante por produtividade, os passatempos de vó oferecem uma maneira revigorante e sem pressa de alcançar realização e bem-estar.

Cal Newport, no seu livro Slow Productivity, desafia a cultura dominante da correria, nos encorajando a rejeitar estar sempre fazendo várias coisas ao mesmo tempo e retornar a um trabalho mais significativo e de qualidade.

A abordagem dele enfatiza a importância de fazer menos coisas, num ritmo natural, e se afastar da atividade hiper-visível que muitas vezes finge ser produtividade. Essa filosofia se alinha surpreendentemente bem com os passatempos de vó.

Praticar qualquer tipo de hobby manual — que tende a envolver atenção plena e artesanato — ajuda você a rejeitar, de forma natural, a pressão por estar sempre produzindo.

Um estudo de 2025 descobriu que participantes que se envolveram em práticas criativas ligadas à sua herança cultural, como artesanato tradicional, relataram sentir menos ansiedade e maior equilíbrio emocional, comparados aos que completaram quebra-cabeças com um objetivo claro. A principal diferença estava no foco: o processo, não o resultado.

Esses passatempos desafiam delicadamente a ideia de que o tempo precisa ser sempre otimizado. Eles lembram que o tempo gasto em algo lento, silencioso e significativo não é desperdiçado; é restaurador. É uma escolha de presença em vez de pressão, e de imaginação em vez de eficiência. Num mundo movido à pressa, essa escolha se torna um ato radical de auto-respeito.

Como bônus, você ainda termina com algo tangível — como um cachecol, um pote de conservas ou um canteiro florido — que pode segurar e valorizar como um produto da sua presença e paciência, trazendo uma satisfação silenciosa.

O ato de fazer algo devagar e com atenção se torna sua forma silenciosa de resistência a um mundo que insiste em velocidade e produção constantes.

2. Eles Nutrem Sua Saúde Mental e Emocional

Envolver-se com passatempos de vó oferece mais do que um escape criativo. Eles nutrem sua saúde mental e emocional. Um estudo de 2020 destacou que a jardinagem doméstica, por exemplo, trouxe aos participantes níveis de felicidade e satisfação comparáveis a atividades como andar de bicicleta, caminhar ou sair para comer.

Incluir hobbies simples na rotina pode ser um cuidado poderoso com a mente
Getty Images

Incluir hobbies simples na rotina pode ser um cuidado poderoso com a mente

Na verdade, a jardinagem ficou entre as cinco atividades que os participantes consideraram mais significativas, o que revela a profunda satisfação essencial que esses hobbies oferecem. O ponto principal é que esses passatempos tendem a ser lentos e focados no presente, permitindo que você se desconecte do ruído constante da vida moderna. Como mostrou o estudo, não precisam ser atividades complexas ou exigentes; só precisam ser autênticas e centradas no envolvimento pessoal.

Isso está diretamente ligado ao aspecto terapêutico desses passatempos, que não são sobre “produzir algo por produzir”, mas sim sobre curtir o processo. Seja cuidando de um jardim, fazendo geleia caseira ou criando algo à mão, esses hobbies oferecem uma experiência calmante e redutora de estresse que fortalece o bem-estar emocional.

Ao desacelerar e focar no que está fazendo, você permite que seu cérebro libere o estresse e a ansiedade, direcionando sua atenção para algo concreto e gratificante. Dedicar-se a essas atividades é uma maneira poderosa de criar espaço para o autocuidado e a resiliência, aumentando tanto a clareza mental quanto a estabilidade emocional.

3. Eles Estimulam Sua Saúde Cognitiva

Incorporar hobbies simples e tradicionais à sua rotina diária pode ter um impacto profundo na saúde cognitiva. Embora essas atividades pareçam ultrapassadas ou simples demais, elas desempenham um papel fundamental na manutenção das funções cerebrais e na resiliência cognitiva.

Pesquisas mostram que uma variedade de atividades está associada à melhora da saúde do cérebro, especialmente em áreas relacionadas à memória, aprendizado e ter noção de onde está e para onde vai. Estudos indicam que envolver-se em diversas tarefas pode aumentar o volume do hipocampo, uma região essencial para retenção de memória e raciocínio espacial. O hipocampo se beneficia de atividades que exigem foco contínuo, aprendizado e criatividade — características presentes em muitos hobbies tradicionais.

Reintroduzir esses passatempos e aprender novas habilidades pode fortalecer bastante sua saúde cognitiva. Eles engajam o cérebro de várias formas, desde melhorar a memória e a coordenação motora até desenvolver a percepção espacial e a capacidade de resolver problemas.

Tarefas manuais como tricotar e costurar exigem concentração, agilidade e memória, enquanto a jardinagem envolve tanto atividade física quanto engajamento mental ao planejar e acompanhar o crescimento das plantas.

Da mesma forma, resolver quebra-cabeças ou jogar jogos mentais estimula funções cognitivas como atenção e velocidade de processamento, oferecendo um exercício mental constante. Aprender novas técnicas — seja em culinária, artesanato ou outros hobbies — desafia o cérebro e fortalece as conexões neurais, contribuindo para uma mente mais ágil e saudável.

Revisitar essas atividades atemporais pode ser uma maneira simples, porém poderosa, de enriquecer sua cognição, oferecendo um cuidado cerebral que combina criatividade e agilidade mental.

Abraçando a “Vida Suave”

O verdadeiro valor de se entregar aos passatempos de vó está em aceitar a liberdade de desacelerar e saborear o processo. Ao reservar um tempo para se dedicar a hobbies conscientes, você se reconecta com um ritmo de vida mais leve.

Aproxime-se dessas atividades sem metas de desempenho. Que seu único objetivo seja aproveitar e se envolver com o momento.

Para tornar isso parte da sua rotina, comece reservando pequenos blocos de tempo inegociáveis a cada semana para o seu hobby escolhido. Mesmo que sejam 15 minutos tricotando ou cuidando das plantas, faça disso uma prioridade.

Lembre-se: esses passatempos não são para impressionar ninguém ou buscar aprovação. Não os faça para o Instagram, por curtidas ou validação externa. A verdadeira mágica está em fazer essas atividades puramente pelo prazer que elas proporcionam a você.

Ao fazer isso, você vai experimentar a criatividade e o alívio que vêm de fazer algo apenas pela alegria que traz.

*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.

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