‘O país dos privilégios’ pelas lentes do cofundador da Empiricus Rodolfo Amstalden

Segundo ele, o livro de Bruno Carazza sobre o corporativismo estatal é leitura essencial para qualquer cidadão brasileiro O post ‘O país dos privilégios’ pelas lentes do cofundador da Empiricus Rodolfo Amstalden apareceu primeiro em Empiricus.

Mar 18, 2025 - 21:06
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‘O país dos privilégios’ pelas lentes do cofundador da Empiricus Rodolfo Amstalden

Para o cofundador da Empiricus Rodolfo Amstalden, o livro “O país dos privilégios – Volume 1: Os novos e velhos donos do poder”, do economista e Doutor em Direito Bruno Carazza, é uma leitura obrigatória para qualquer cidadão brasileiro que tenha interesse em compreender melhor o funcionamento de nossa sociedade.

Lançada em 2024, a publicação traz uma série de dados e exemplos que ilustram como o corporativismo estatal se materializa dentro do serviço público, especialmente entre as pessoas que ocupam o topo das carreiras nos três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário).

Segundo Amstalden, a obra pertence à categoria de obras que buscam pensar sobre as estruturas sociopolíticas brasileiras e suas implicações em nossa cultura.  

“Atualmente, existe toda uma discussão sobre a questão fiscal no Brasil e a necessidade de cortar gastos. Porém, os privilégios, os excessos de gastos e uma postura um tanto perdulária são características que estão muito arraigadas na cultura brasileira”, ressalta.

No bate-papo com a equipe do site Empiricus, Amstalden comenta sobre alguns exemplos reais e dados trazidos no livro que são bastante contundentes sobre como “as relações público-privado no Brasil podem ser muito oblíquas e ruins para a sociedade”.

Por esses e outros motivos abordados ao longo desta matéria, Amstalden recomendou a obra a todos os leitores da Empiricus.

“Não se trata de uma análise vazia e estereotipada sobre os funcionários públicos. O livro é uma crítica ao sistema, enriquecida por dados e pela experiência do próprio autor como servidor público durante 20 anos”, enfatiza. 

Por que ler “O país dos privilégios”?

Segundo Rodolfo Amstalden, sua escolha pelo livro de Carazza está ligada à falta de pensadores que abordam o Brasil de maneira sociopolítica e filosófica, buscando entender, por exemplo, o impacto do patrimonialismo português na formação da cultura brasileira. 

“Temos muitos especialistas técnicos extremamente qualificados, mas poucas vozes que olham para o Brasil de forma mais ampla e profunda”, afirma. 

Amstalden destaca que a publicação de Carazza é uma “tentativa bem sucedida de revisitar” obras clássicas sobre as heranças coloniais brasileiras como, por exemplo, o livro “Os donos do poder”, de Raymundo Faoro, trazendo uma abordagem atualizada e baseada em dados.

Os destaques da obra: Refinanciamento de dívidas e custos do funcionalismo público

O que mais chamou a atenção de Amstalden foram os exemplos concretos de como a relação entre o setor público e privado pode ser “oblíqua” e prejudicial à sociedade. Ele cita um caso descrito no livro envolvendo um refinanciamento de dívidas do Instituto Inhotim e seu mecenas, Bernardo Paz, em Minas Gerais.

Segundo consta no livro, Bernardo acumulava uma dívida gigantesca com a União e com o Estado de Minas Gerais. Em 2017, o então governador Fernando Pimentel propôs um Refis [Programa de Recuperação Fiscal, um regime que autoriza o parcelamento de débitos fiscais] que permitia o pagamento de dívidas com obras de arte ou objetos de valor histórico. “O projeto avança e ganha um elemento ainda mais peculiar: as obras poderiam ser usadas para quitar as dívidas sem que fossem vendidas ou removidas do local onde estavam expostas”, explica Amstalden.

Para o cofundador da Empiricus, essa situação exemplifica como determinados mecanismos podem perpetuar benefícios para poucos. “O Instituto Inhotim continuava funcionando normalmente, Bernardo mantinha suas obras e, ao mesmo tempo, sua dívida era reduzida. O impacto para o contribuinte? Quase nulo”, comenta.

A situação ainda gerou outra polêmica, envolvendo honorários de sucumbência. “Havia um incentivo para que o acordo fosse aprovado, pois advogados envolvidos poderiam receber um percentual da receita obtida. Ou seja, era do interesse de todos, menos do contribuinte. Ou seja, uma socialização das perdas“, critica Rodolfo Amstalden.

O acordo foi anulado em 2021 após a intervenção do Ministério Público, o que demonstra como a tentativa de criar mecanismos alternativos para quitação de dívidas pode gerar distorções no sistema.

O cofundador da Empiricus destaca ainda alguns dados relacionados aos custos do funcionalismo público. “Carazza aponta que as despesas com a remuneração de servidores no Brasil representam 13% do PIB, contra 5% no México e 7% no Chile. Além disso, ele revela que operadores de áudio e vídeo da TV Câmara ganham cerca de R$ 30.000 por mês”, destaca.

Outro aspecto relevante são os privilégios dentro do Senado, que conta com uma estrutura médica própria e altamente remunerada. “O livro menciona que o Senado tem uma equipe de 30 médicos, 20 enfermeiros, cinco psicólogos, dois farmacêuticos, um fisioterapeuta, um nutricionista e um radiologista, todos ganhando entre R$ 15.000 e R$ 30.000 por mês. São benefícios que a maioria da população nem imagina que existem”, afirma Amstalden.

Contribuição para o entendimento da dinâmica econômica do Brasil

Para Rodolfo Amstalden, “O país dos privilégios” é uma leitura essencial para quem deseja compreender melhor o funcionamento da nossa sociedade. 

Ele cita o historiador Niall Ferguson, que ressalta a importância de combinar formação econômica técnica com uma visão mais ampla da sociedade. “Hoje, os profissionais do mercado financeiro têm uma formação técnica robusta, mas faltam conhecimentos históricos e sociais para entender a formação do Brasil”, observa.

“O livro do Carazza ajuda a preencher essa lacuna, tornando-se uma leitura fundamental para qualquer cidadão”, conclui.

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