O divã de silício: por que tanta gente recorre ao ChatGPT para desabafar

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Abr 27, 2025 - 15:06
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O divã de silício: por que tanta gente recorre ao ChatGPT para desabafar

Segundo a OpenAI, o ChatGPT ultrapassou 300 milhões de usuários semanais em dezembro de 2024; um estudo do Sentio AI Research, com 2.000 adultos norte-americanos, descobriu que 18 % já usaram o chatbot para falar de saúde mental — o suficiente para tornar a IA, sozinha, “o maior prestador de acolhimento psicológico informal do país”. The Vergesentio.org

No Brasil, a procura não é muito diferente. Um levantamento da Talk Inc/Superinteressante (1 000 entrevistados, set. 2024) aponta que 1 em cada 10 brasileiros faz ‘terapia’ com chatbots como o ChatGPT; 62 % alegam dificuldade financeira para pagar um psicólogo humano e 54 % dizem gostar do atendimento 24 h. Super

A corrida acontece porque faltam profissionais: de acordo com o Conselho Federal de Psicologia, o país tem cerca de 2,1 psicólogos por 1 000 habitantes, bem abaixo da média de 6,1 em nações ricas; a OMS lembra que em muitos países há menos de 1 trabalhador de saúde mental por 10 000 pessoas. CFPWorld Health Organization (WHO)

Funciona? Há indícios. Um ensaio publicado na Nature Mental Health revisou 49 estudos e concluiu que chatbots baseados em GPT reduziram sintomas leves de ansiedade e depressão em até 30 % após quatro semanas. Outro teste clínico (JMIR Formative 2024) registrou queda média de 2,1 pontos no PHQ-9 em pacientes crônicos acompanhados por IA. NatureJFR – JMIR Formative Research

A escala é inédita: o Woebot, pioneiro dos bots terapêuticos, chegou a 1,5 milhão de usuários (Time, 2023); já o TikTok mostra a tag #chatgpttherapy com mais de 420 milhões de visualizações (dados da plataforma, mar. 2025). Não por acaso, a consultoria CB Insights estima que o mercado de saúde mental via IA movimente US$ 4,9 bilhões até 2027, crescendo 25 % ao ano. qa.time.com

Mas existe o lado sombrio. Pesquisa da University of Sussex & Guardian (mar. 2025) indica que os 10 % de usuários que conversam com o ChatGPT todos os dias são também os mais propensos a relatar solidão severa (38 %). O caso belga de 2024, em que um homem se suicidou após dialogar com um bot chamado Eliza, expôs o risco de dependência. The GuardianLe Monde.fr

Mesmo assim, a fila cresce. O Google Trends mostra que as buscas por “ChatGPT terapia” no Brasil subiram 480 % entre 2023 e 2024, enquanto o Conselho Federal de Psicologia recebeu apenas 6 % mais inscrições no mesmo período. A matemática é simples: há mais demanda emocional do que cadeiras no consultório — e a inteligência artificial, gostemos ou não, está ocupando a vaga de confidente online. O ChatGPT não nasceu para curar, mas a sua impessoalidade — essa tela que não revida nem julga — vira um ombro virtual irresistível para quem precisa falar sem medo de ser avaliado.

Talvez o silêncio ainda seja a única notificação que vale a pena abrir. Quando a conversa com um chatbot vira companhia constante, é fácil esquecer que o vazio — esse espaço entre um prompt e outro — também cura, porque obriga a gente a ouvir o próprio ruído interno sem o conforto de respostas instantâneas.

E, no fim das contas, a conversa que mais precisamos ter continua sendo com a gente mesmo. ChatGPT pode ajudar a organizar pensamentos, mas ele não substitui o trabalho de encarar o espelho emocional que evitamos quando trocamos confissões por tokens.

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