O brasileiro precisa mesmo de educação financeira?

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Abr 11, 2025 - 19:03
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O brasileiro precisa mesmo de educação financeira?
calculadora com papel e caneta

Muito se fala sobre a importância da educação financeira no Brasil, especialmente quando o foco são as classes C, D e E, que representam a esmagadora maioria da população — cerca de 75% dos 214 milhões de brasileiros, de acordo com dados da  Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O título deste artigo pode soar como uma provocação exagerada, mas levanta uma reflexão importante: será que o problema central está, de fato, na falta de conhecimento teórico sobre finanças? Ou será que o verdadeiro desafio é garantir que as necessidades básicas estejam sendo atendidas — contas pagas, dívidas equilibradas e acesso facilitado a soluções financeiras?

A realidade de quem vive com um salário mínimo, ou com renda sempre no limite, é uma verdadeira escola de gestão financeira. Essas pessoas são forçadas a tomar decisões difíceis todos os dias: priorizar contas, renegociar dívidas, cortar despesas essenciais. Elas desenvolvem, na prática, uma inteligência financeira de sobrevivência que, muitas vezes, vai além do que livros e palestras conseguem ensinar. Trata-se de uma capacidade de adaptação, de organização e de resiliência que raramente é valorizada ou reconhecida.

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No entanto, o sistema financeiro tradicional ainda ignora essa realidade. Exigências burocráticas, critérios antiquados de análise de crédito e a falta de produtos acessíveis excluem milhões de brasileiros do mercado formal de empréstimos, e é nesse ponto que o conceito de inclusão financeira precisa ser revisto. Não basta apenas ampliar o portfólio de produtos; é fundamental compreender as particularidades desse público e criar soluções que façam sentido no seu dia a dia.

Um exemplo claro é o acesso ao crédito. Não estamos falando do crédito predatório, que compromete ainda mais a renda de quem já está endividado. O que faz a diferença é o crédito de baixo valor consciente: valores pequenos, acessíveis, com aprovação simples, rápida e sem burocracia — muitas vezes via smartphone. Um recurso de R$ 100 ou R$ 200 pode parecer insignificante em alguns contextos, mas pode ser decisivo para pagar uma conta atrasada, comprar um medicamento, fazer uma manutenção urgente em casa ou manter o negócio informal funcionando.

O endividamento, por sua vez, é uma realidade que não pode ser ignorada. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), de fevereiro de 2025, 76,4% das famílias brasileiras estão endividadas, especialmente em modalidades como cartão de crédito, cheque especial e carnês.

Nesse cenário, a resposta não pode restringir o acesso ao crédito, mas sim oferecer alternativas acessíveis, transparentes e sustentáveis — que considerem a capacidade real de pagamento, e não apenas um histórico financeiro impecável, muitas vezes inexistente para quem está à margem do sistema.

O brasileiro das classes C, D e E não precisa de fórmulas complexas de juros compostos ou simulações de investimentos de longo prazo. Ele precisa de ferramentas e oportunidades reais. De ser enxergado como um agente econômico ativo, com potencial e sabedoria prática para tomar boas decisões. Mais do que educação financeira teórica, o que esse público precisa é de um sistema que confie na sua capacidade e ofereça suporte verdadeiro para a sua evolução.

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