Junto há 74 anos, casal morre no mesmo dia, no interior de SP

Paschoal de Haro, 94, pedia todos os dias para que ele e Odileta Pansani, 92, fossem levados juntos — o que ocorreu, com apenas dez horas de diferença, dois dias depois do aniversário da celebração que os uniu em 1951

Mai 16, 2025 - 06:40
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Junto há 74 anos, casal morre no mesmo dia, no interior de SP

Um casal de Votuporanga, no interior de São Paulo, morreu, no último 17 de abril, com apenas dez horas de diferença. Dois dias antes, Odileta Pansani, 92, e Paschoal de Haro, 94, haviam completado 74 anos desde a celebração que os uniu, em 1951.

Ao g1, o genro Luciano Leal conta que acredita que eles tenham sido verdadeiras “almas gêmeas”. 

Então jovens, os cônjuges se conheceram na praça da Matriz, no município paulista, quando ela tinha 15 anos e ele, 18. No momento do primeiro encontro, Paschoal rodava uma corrente que se se desprendeu das mãos dele e foi parar no braço de Odileta. Assim se viram pela primeira vez, riram e se apaixonaram. 

Em cartas de amor fornecidas por Luciano ao portal da Globo, o casal se declara um para o outro.Mesmo que viva mil anos me lembrarei de ti e dos momentos felizes que passei ao teu lado”, escreve o rapaz na primeira carta, de 3 de dezembro de 1947. “Acredito que jamais pensarei em outra mulher.” Em 1949, ela responde: “De você não me esqueci e nem hei de esquecer”. 

  • Carta de Paschoal a Odileta, datada de 3 de dezembro de 1947
    Carta de Paschoal a Odileta, datada de 3 de dezembro de 1947 Luciano Leal/Arquivo pessoal/g1
  • Carta de Odileta a Paschoal , datada de 12 de julho de 1949
    Carta de Odileta a Paschoal , datada de 12 de julho de 1949 Luciano Leal/Arquivo pessoal/g1

Em 15 de abril de 1951, dia do aniversário de 20 anos de Paschoal, ele e Odileta se casaram, na fazenda dos pais dela, em Votuporanga. Desde então, tiveram seis filhos, que os deram netos e bisnetos — dos quais os primeiros, tanto da terceira quanto da quarta gerações, nasceram no mesmo dia de celebração da vida do avô e do início da vida conjunta do casal. 

Funcionário de uma loja de tecidos, o rapaz e a moça criaram, no município em que foi selado o amor deles, uma entidade que ajudava pessoas em situação de vulnerabilidade com comida e enxovais para a mães solteiras. O genro conta que o amor entre eles era tanto que extrapolava barreiras. 

“O casal (era) sempre receptivo, sempre amoroso, sempre disposto a ajudar o próximo, seja lá quem for, sem distinção alguma de raça, cor ou privilégio social”, diz ao g1. “Sempre primaram pelo amor-próprio e pelo amor de ambos. E dedicaram esse amor, que ambos tinham um pelo outro, a ajudar o próximo.” 

Luciano acredita que eles sejam prova de que o conceito de “almas gêmeas”, constantemente abordado em ficções, existe de verdade. “Acredito muito que Paschoal e Odileta eram almas gêmeas, se reencontraram nessa vida, através de um passeio, ao qual todos faziam aquela época, e se apaixonaram, se reaproximaram, se refizeram.” 

Quando desenvolveu Alzheimer, Odileta passou a ser cuidada pelo marido, que descobriu câncer no intestino em 2023. Desde que soube que o tratamento para a doença seria paliativo — aquele que oferece dignidade e conforto a pacientes em estado avançado ou terminal —, Paschoal pedia diariamente, segundo o genro, para que ele e a mulher fossem “levados” no mesmo dia.  

Em 17 de abril, portanto, dois dias depois de terem comemorado com a família o aniversário de matrimônio, ela morreu às 7h e ele, no mesmo quarto, às 17h.  

https://www.correiobraziliense.com.br/webstories/2025/04/7121170-canal-do-correio-braziliense-no-whatsapp.html

Luciano descreve a paixão dos sogros, que deixa legado “para toda a eternidade”, como “digna de filme”. 

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