Já foi uma arrecadação e uma garagem. Hoje, a Ecolivros é uma livraria a sério
A livraria de segunda mão de Frederico Felicíssimo começou online, no OLX e na Vinted, e em Abril passou a ter um espaço físico, em Miraflores. Os títulos vão dos 4€ aos 5€.


Frederico Felicíssimo estava a viver em Tomar e a aprender a tocar guitarra, quando comprou um livro usado sobre música no OLX. “Por acaso, até foi um livro caro. Dei 30€ pelo livro e pensei ‘Como é que é possível dar 30€ por um livro usado?’”, recorda. Isto ficou-lhe na cabeça, bem como a ideia de que, talvez, não fosse mal pensado ter um negócio de livros em segunda mão. Voltou então para Lisboa, trabalhou num bar durante algum tempo e decidiu começar a vender livros usados no OLX. Depois disso, criou o seu próprio site e, no início de Abril, abriu as portas da Ecolivros, em Miraflores, onde os livros não vão além dos 5€.
Tudo começou numa arrecadação de quatro metros quadrados. Frederico comprava os livros a quem se queria livrar das suas bibliotecas pessoais, muitas vezes em lotes de centenas ou milhares de edições. Depois, armazenava-os na tal arrecadação e vendia-os no OLX e na Vinted. “Ficava ao pé de minha casa, em Paço de Arcos, e era uma arrecadação super pequena, era literalmente do tamanho de uma despensa. Comecei assim. Enchia a arrecadação com 1000, 1500 livros e como, entretanto, já estava farto de trabalhar em restauração, como bartender, decidi arriscar. ‘Se não é agora, não é nunca’, pensei”, diz, contando como a arrecadação acabaria por se tornar demasiado pequena e, por isso, mais tarde alugaria uma garagem, maior, em Novembro de 2023.
Na altura, todo o processo era manual, desde tirar as fotografias às capas dos livros a colocar os anúncios, o que tomava cerca de um dia inteiro de trabalho. Mas foi então que o livreiro de 25 anos passou a utilizar a Inteligência Artificial para fazer os anúncios de milhares de títulos para os sites de compra e venda em segunda mão. “Eu uso a biblioteca de dados do ChatGPT, a OpenAI, para fazer programação. Integra uma linguagem de programação que é um script e que vai buscar os dados necessários às fotografias, como o título, a edição, etc. Em 100 livros, pode haver um ou dois que falhe”, explica. “Poupa-me oito horas [por semana]. Provavelmente noutras livrarias ou alfarrabistas, é preciso haver dois ou três empregados para fazer tudo, tirar as fotografias, fazer os envios… Eu, sozinho, estou a conseguir fazer isto porque tenho a IA a gerar esses anúncios.”
Do OLX e da Vinted, Frederico passou para um site próprio, em Dezembro do ano passado. “Foi muito bom, porque já tinha uma plataforma em que as pessoas, que até podiam encontrar o livro primeiro no OLX, podiam pesquisar por categoria, ver os livros, adicionar ao carrinho. E também já tem os métodos de pagamento integrados, o MBWay e o multibanco, e é tudo automático, é tudo muito mais simples”, garante. Mas um site não chegava e estava então na hora de abrir a Ecolivros.
Na verdade, abrir uma livraria era um sonho que já vinha de trás. Aliás, desde o início do projecto que o livreiro andava à procura do espaço ideal, que acabaria por encontrar em Miraflores. “Tinha de ser perto dos Correios, para facilitar, e tinha de ter espaço suficiente de armazém. Assim que vi este espaço, decidi arriscar. Está mesmo ao lado dos Correios e, ao mesmo tempo, consigo ter um armazém onde até posso expandir um bocadinho mais e ter mais livros”, explica, destacando como neste espaço consegue ter até 3000 livros expostos e até 14.000 em armazém.
Aqui consegue armazenar muito mais livros do que antes, mas as vantagens não se ficam por aí. Num espaço físico, as pessoas podem ver e folhear os livros, o que pode significar mais vendas, e até sentar-se numa das poltronas a ler e a beber um café. E além disso, é também uma forma de estar mais próximo de quem compra – “Diria que hoje em dia até é mais rentável [uma livraria] manter-se só online. Se fosse inteligente, tinha-me mantido só com o online, mas queria ter o contacto social, mais contacto com os clientes.”
Os livros custam 5€, excepto os de bolso que custam 4€. Os géneros são variados, vão desde as ciências sociais e história ao romance, thriller ou até ao direito. Mas, em princípio, a Ecolivros não se fará apenas de livros. O proprietário prevê dinamizar uma agenda cultural, que incluirá pequenos concertos, lançamentos de obras ou outro tipo de eventos relacionados com a leitura e literatura. No futuro, com uma parte do valor das vendas, talvez até venha a contribuir para associações ligadas à sustentabilidade, como a Plantar Uma Árvore.
Rua 25 de Novembro de 1975, 2C (Miraflores). Seg-Sex 10.00-13.00 e 14.00-19.00, Sáb 10.00-13.30