IA será o futuro dos games, o público queira ou não

Sony demonstra uso de IA para tornar seus personagens inteligentes, mostrando que algoritmos serão atochados em games daqui por diante IA será o futuro dos games, o público queira ou não

Mar 12, 2025 - 08:35
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IA será o futuro dos games, o público queira ou não

Já é ponto passivo que a Inteligência Artificial (IA) é a buzzword do momento, e como tal, será implementada à força em toda a cadeia de produção e serviços, em praticamente todos os setores existentes. Embora a tecnologia seja útil, e ofereça uma miríade de possibilidades quando bem empregada, muitos só enxergam o hype e a possibilidade de fazer dinheiro, assim como foi atochar a palavra "quântico" em tudo, anos atrás.

A indústria de games, claro, não é exceção. Diversos estúdios já abraçaram a IA e estão implementando algoritmos em diversas frentes, interna e externamente. O relatório mais recente da GDC mostrou que 52% das desenvolvedoras os usam, com 41% sendo no departamento de produção.

Sorry, Aloy (Crédito: Reprodução/Guerilla Games/ Sony Interactive Entertainment)/IA

Sorry, Aloy (Crédito: Reprodução/Guerilla Games/ Sony Interactive Entertainment)

Um dos exemplos mais recentes da aplicação direta de IA em games veio da Sony Interactive Entertainment (SIE), que apresentou uma demonstração de algoritmos voltados a tornar os protagonistas dos games desenvolvidos internamente capazes de interagir diretamente com o jogador. A "cobaia" escolhida foi a Aloy, heroína da série Horizon.

Aloy.IA

A demonstração publicada no YouTube foi compartilhada por uma fonte anônima com o site The Verge. O vídeo original foi nukado tão logo a notícia pegou tração, por uma solicitação de direitos autorais de uma companhia chamada Muso, especializada em copyrights que tem a SIE como um de seus clientes.

O vídeo demonstra um protótipo de aplicação de algoritmos generativos diretamente na experiência do jogador, visando tornar os protagonistas de seus games mais conversacionais. A voz do narrador é de Sharwin Raghoebardajal, diretor de Engenharia de Software da Sony Interactive Entertainment, departamento que desenvolve tecnologias diversas para serem aplicadas em jogos, como renderização facial, visão computacional, e claro, IA.

No vídeo, Raghoebardajal conversa diretamente com Aloy, em um teste supostamente voltado para o game multiplayer ambientado no mundo da franquia Horizon, em que a heroína de Zero Dawn e Forbidden West não deverá ser controlável, ao invés disso, atuaria como uma tutora do avatar personalizado do jogador.

O demo, demonstrado internamente cerca de um ano atrás segundo fontes próximas à Sony, foi executado em um PC, mas a Sony teria também experimentado a execução em um PS5, no que a tecnologia teria "sobrecarregado um pouco" o console. A tecnologia por trás usa o GPT-4, da OpenAI, e o Llama 3, do Meta, para tomada de decisões e composição das respostas, e o Whisper, também da OpenAI, para converter a entrada de voz do jogador em texto, entendível pelo algoritmo.

A SIE também emprega tecnologias próprias, como o EVS (Emotional Voice Synthesis, ou Sintetizador de Voz Emocional em português), usado para gerar as respostas com a base de voz da atriz Ashly Burch, e o Mockingdird, que gera as expressões faciais.

Sim, a pobre da Aloy foi direto para o Vale da Estranheza.

As expressões parecem artificiais, quase robóticas, assim como a voz; claro, é uma demo de 2024 e a tecnologia obviamente já foi refinada pelo time da SIE (o público só deverá ver o resultado se a Aloy.IA, e outros personagens "inteligentificados" por algoritmos da Sony, forem utilizados no futuro), mas no momento, ela não só não impressiona, como incomoda.

Raghoebardajal se refere à aplicação de IA em games para criar experiências interativas como "um vislumbre do que é possível realizar", mas levanta uma série de questões, a mais óbvia, se é justificável conversar com um tutor inteligente durante uma partida; dúvidas também foram levantadas sobre o trabalho de dubladores, visto que as falas são geradas por algoritmo e reproduzem a voz original. Desenvolvimentos do tipo levaram inclusive a uma greve de atores do setor, que reivindicam proteções contra o uso de IA, ainda em curso.

O caso da Aloy não é único, e embora seja uma iniciativa criada por profissionais sérios, para cada bom uso de uma tecnologia, há uma má aplicação. Um martelo pode ser usado para construir uma casa, ou para rachar a cabeça de alguém; a energia nuclear pode alimentar cidades inteiras, ou riscá-las do mapa; a IA não é exceção.

Há diversos estúdios pequenos, e mesmo desenvolvedores individuais, atochando as lojas digitais de shovelwares, aqueles desenvolvidos com mínimo esforço e controle de qualidade possíveis, criados agora com ainda menos trabalho, graças à IA; a Sony, por exemplo, levou um bom tempo para começar a removê-los da PS Store, mas Microsoft Store (Xbox), eShop (Nintendo), Steam, e Epic Games Store também sofrem com o problema.

Como esperado, a reação do público foi a pior possível. Manifestações nas redes sociais apontaram para a suposta (ou não) intenção da Sony de empregar a IA para reduzir postos de trabalho, o que não é necessariamente o caso, mas cargos redundantes e menores deverão, sim, ser eliminados; como sempre, o profissional que não evoluir (no caso, se recusar a incorporar a IA a suas habilidades) perderá oportunidades de emprego para aqueles que se adaptarem.

Outro ponto é o de direitos autorais. Algoritmos como GPT-4, Llama, Whisper, StableDiffusion, e outros foram treinados em uma quantidade absurda de dados de todo o tipo, muitos deles protegidos, o que seus responsáveis reconhecem e desejam ser isentos de pagar pelos copyrights, mas para seu desgosto, a DMCA é soberana e bastante clara: para usar, tem que pedir permissão; usou, pagou; usou e não pagou, ou não pediu permissão, processo.

Muitos expressaram preocupação com a SIE aplicar em seus games tecnologias que se alimentam de dados, na sua visão, roubados, especialmente de criadores, artistas, e produtores de conteúdo pequenos, que não são amparados pela DMCA, e não receberam um centavo sequer pela coleta de seus materiais, afinal, na visão de Mustafa Suleiman, CEO da Microsoft AI, "se está na internet, é de graça".

Fonte: The Verge

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