História de freira brasileira afastada por ser “bonita demais” vai virar filme na Itália
Aline Pereira Ghammachi perdeu o comando de mosteiro após denúncia por carta anônima, mas inspirou protesto de freiras


Produtor italiano anuncia projeto baseado na trajetória da freira
A história da brasileira Aline Pereira Ghammachi, afastada do comando do Mosteiro San Giacomo di Veglia, na Itália, após uma denúncia anônima, vai virar filme. O anúncio foi feito por Ruggero de Virgiliis, produtor italiano naturalizado alemão, em entrevista ao jornal Corriere del Veneto.
“Todos ficamos muito tocados e queremos saber mais, se possível conhecê-la e ver se conseguimos encontrar uma maneira de fazer com que sua força interior enriqueça um projeto que estamos pensando há algum tempo”, disse o produtor. Segundo ele, a trajetória tem “um claro fascínio” por tratar-se de uma “história humana e espiritual”.
Segundo ele, a fuga das irmãs que abandonaram o convento em solidariedade a Aline também chamou a atenção da equipe. “A fuga das irmãs é uma história humana e espiritual”, destacou. Ele acrescentou que o projeto ainda depende da aceitação da brasileira, mas garantiu que há “um claro fascínio” por sua trajetória. “Esse ato de ruptura inspirou muitas pessoas, não somente as irmãs, a fazerem as coisas certas ‘por amor à Verdade’”, afirmou.
O que aconteceu com a freira brasileira?
Nascida em Macapá, no Brasil, Aline causou impacto ao se tornar, em 2018, a mais jovem abadessa de um convento italiano, aos 34 anos. Entretanto, ela foi denunciada por supostos maus-tratos em uma carta anônima enviada ao Papa Francisco há dois anos. O documento levou o Vaticano a colocar o mosteiro sob intervenção, o que ocasionou seu afastamento do cargo.
Em entrevista ao jornal italiano Gazzettino, Aline contestou as acusações. “Na segunda-feira de Páscoa, fui removida sem nenhuma prova concreta, criando um verdadeiro terremoto em nossa comunidade”, declarou. Dizendo não saber o motivo da decisão repentina, ela afirmou ter sido alvo de comentários machistas do frei Mauro Giuseppe Lepori, seu superior na hierarquia da Igreja. “Ele dizia que eu era bonita demais para ser abadessa, ou mesmo para ser freira. Falava em tom de piada, rindo, mas me expôs ao ridículo”, contou à Folha de S.Paulo.
Crise interna dividiu o mosteiro
No lugar da brasileira, a Ordem nomeou Madre Martha Driscoll para comandar o convento. A nova abadessa assumiu o posto no dia da morte do Papa Francisco, um ano após a última visita do Vaticano ao local.
Na ocasião, cinco freiras deixaram o convento em protesto, alegando sofrer “tensões insuportáveis”. Elas informaram à polícia italiana sobre a decisão. A Ordem de Cister, por sua vez, comunicou à imprensa que outras vinte religiosas permaneceram e aceitaram a nova liderança.
Aline defendeu que as acusações sejam esclarecidas. “Peço que seja esclarecida toda a verdade sobre o ocorrido. Se houver provas contra mim, que sejam mostradas. Caso contrário, tomarei medidas legais”, afirmou ao Gazzettino.