Haddad chama de “anomalia” juro real no Brasil em 8% ao ano
Ministro da Fazenda diz não ser "muito razoável" a taxa que se paga para rolagem da dívida; no entanto, declara que o Banco Central "está fazendo o seu papel" ao querer colocar a inflação dentro da meta

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 3ª feira (8.abr.2025) ser uma “anomalia” o patamar dos juros reais –quando é descontada a inflação– no Brasil em 8% ao ano. A declaração foi dada durante participação em painel no Brazil Investment Forum, evento organizado pelo Bradesco BBI.
A taxa do juro real projetada em 12 meses está em 8,79%. O Brasil fica atrás de Turquia (11,90%), Argentina (9,35%) e Rússia (8,91%), segundo levantamento da consultoria MoneYou em março. Eis a íntegra (PDF – 276 kB).
Haddad afirmou que a equipe econômica trabalha para “mostrar a consistência” da trajetória das contas públicas. Além do resultado primário, disse ser necessário levar em conta o nominal (que inclui o pagamento de juros da dívida).
O deficit nominal caiu para R$ 939,8 bilhões no acumulado de 12 meses até fevereiro. É o patamar mais baixo desde novembro de 2023, quando o rombo anualizado das contas públicas do país somou R$ 844,8 bilhões.
O principal componente é o pagamento dos juros da dívida pública. No acumulado de 12 meses até fevereiro, totalizou R$ 924,0 bilhões. Houve alta de 1,4% em relação a janeiro, quando atingiu R$ 910,9 bilhões.
“A dívida é consequência de decisões que foram tomadas no passado, não foram tomadas por nós”, declarou.
O titular da Fazenda disse não ser “muito razoável” o juro real que se paga para rolar (adiar o pagamento) a dívida. Declarou que “o Banco Central está fazendo o seu papel” ao querer colocar a inflação dentro da meta.
A taxa anualizada atingiu 5,06% em fevereiro. Ficou acima do teto da meta, de 4,50% ao ano.
CONTAS PÚBLICAS
Fernando Haddad disse que a equipe da Fazenda está “obstinada por cumprir” a meta fiscal nos próximos 2 anos. Para 2025, o objetivo é zerar o deficit. Há, no entanto, margem de saldo negativo de 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano.
Para 2026, a meta é de um superavit de 0,25% do PIB, com uma margem de tolerância de 0,25% para baixo. “Estamos tomando todas as providências para o cumprimento da meta”, declarou Haddad.
O chefe da equipe econômica também disse que “calibrou” a trajetória das contas e reforçou esperar um crescimento de 2,5% na economia brasileira em 2025. O ministro disse ser necessário haver mais investimento privado para alavancar o PIB.
Haddad também afirmou que o projeto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2026 será encaminhado ao Congresso em 15 de abril, como é praxe anualmente.
A função da LDO é trazer as prioridades do governo. Além disso, orienta a elaboração da LOA (Lei Orçamentária Anual), que detalha as receitas e despesas anuais da União.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não fez a sanção da peça orçamentária de 2025.
ARGENTINA
O ministro brasileiro rebateu seguir um modelo semelhante ao implantado por Javier Milei na Argentina.
“Eu vi gente em editorial defendendo o modelo argentino no Brasil. Sinceramente, eu não vejo nenhuma razão para uma economia como a brasileira adotar um receituário que eu não sei nem se é adequado lá, mas aqui eu tenho certeza que não é”, declarou.