Francis Hime prova que os grandes nunca chegam — continuam navegando

Um dos principais compositores brasileiros das últimas seis décadas, Francis Hime tem parcerias com Chico Buarque – a mais bem-sucedida da carreira de ambos – Vinicius de Moraes, Ruy Guerra, e com sua mulher, a também cantora Olívia Hime.  Hoje aos 85 anos, o cantor, pianista, arranjador e maestro possui ainda uma das discografias mais […] The post Francis Hime prova que os grandes nunca chegam — continuam navegando appeared first on Brazil Journal.

Abr 27, 2025 - 05:46
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Francis Hime prova que os grandes nunca chegam — continuam navegando

Um dos principais compositores brasileiros das últimas seis décadas, Francis Hime tem parcerias com Chico Buarque – a mais bem-sucedida da carreira de ambos – Vinicius de Moraes, Ruy Guerra, e com sua mulher, a também cantora Olívia Hime. 

Hoje aos 85 anos, o cantor, pianista, arranjador e maestro possui ainda uma das discografias mais regulares da MPB: não lançou um álbum sequer que não seja acima da média.

Eu Não Navego pra Chegar, a mais recente coleção de canções do compositor, não foge à regra.

São 11 faixas que vão do samba de enredo ao samba canção, do baião ao jazz e à música impressionista, ao lado de alguns dos principais intérpretes e criadores em todos os tempos.

Eu Não Navego pra Chegar é um disco de muitas parcerias. Primeiro, nas melodias. Imaginada foi composta com Ivan Lins, Imensidão traz a pena de Zé Renato (que também coloca a voz na faixa, ao lado do compositor), e a faixa-título foi escrita com Maurício Carrilho. 

“É uma forma de compor que ultimamente tem me entusiasmado bastante. Antes tive poucas experiências deste formato, sendo Vai passar, com Chico, a mais conhecida. Quando eu musico poemas, já tenho a ideia do ponto de partida, que é o poema. Já quando faço a música primeiro, parto de uma ideia geralmente harmônica. E é muito estimulante partir de uma ideia de outro compositor, tendo o cuidado de fazer uma segunda parte que seja orgânica com a primeira,” Francis disse o Brazil Journal.

As parcerias se estendem também para os vocais. Dez das onze canções do disco são compostas por duetos.

“Estas participações trazem uma motivação especial para o meu trabalho, que pela sua natureza tem um caráter mais distante. Em particular, achei muito interessante a parceria musical em si,” complementa Francis. 

Simone, Mônica Salmaso, Leila Pinheiro, Zélia Duncan, Olivia Hime, Dori Caymmi e Lenine estão entre os intérpretes do álbum, que conta ainda com os violões do Quarteto Maogani.

Francis é um autor escolado no que existe de melhor na música brasileira e mundial. Faz uso de melodias, digamos, “importadas”, mas as traz para o seu mundo.

Imaginada, que compôs com Ivan Lins, tem metais calcados no blues, porém seu andamento lembra o de uma valsa. O piano de Um Rio tem influências do impressionista francês Claude Debussy (1862-1918) ao piano, e Shakespeariana traz uma citação explícita de Summertime, do autor americano George Gershwin (1898-1937).

“Realmente, a harmonia de Um Rio tem uma atmosfera que lembra Debussy, de quem eu sou fã inconteste. A forma do arranjo que concebi caminha nesta direção. Em relação ao Gershwin, sou fã da obra dele e achei que esta citação na introdução de Shakespeariana ficou bem apropriada,” explica Francis.

As letras em Não Navego pra Chegar são divididas entre Olivia Hime e Geraldinho Carneiro, Zélia Duncan (Chuva, uma das mais lindas do disco) e algumas parcerias póstumas – algumas de mais de três décadas. Tempo Breve é de Bráulio Pedroso (1931-1990), Tomara que Caia foi criada com Moraes Moreira (1947-2020) e Infinita traz os versos de Ziraldo (1932-2024).

“São amigos e parceiros muito queridos, mata um pouquinho a saudade deles.”

Um dos muitos pontos altos do disco é Samba pra Martinho. Primeiro single do álbum – saiu no final de fevereiro – ele traz a voz de Simone e passa a sensação de estarmos ouvindo o samba na avenida – inclusive seu final, onde o volume é abaixado aos poucos, lembra o de uma escola nos momentos derradeiros do desfile.

“A ideia deste samba nasceu justamente de um convite que Martinho nos fez, a mim, a Geraldinho Carneiro e a Olivia, de participar de um concurso há uns 3 ou 4 anos para a escolha de um samba enredo para a Vila Isabel, cujo enredo era o próprio Martinho. Nós adoramos a ideia e fizemos o samba. Só que, quando mandamos, as inscrições já tinham se encerrado. Mas gostamos tanto do resultado que resolvemos incluí-lo neste disco de inéditas. Mas acho que seria bem bonito vê-lo ser cantado e dançado na avenida!,” empolga-se.

Prolífico, Francis anuncia que seu baú de inéditas tem material suficiente para outros discos. “Tenho parcerias com Olivia, Zélia Duncan, Pedro Amorim, Paulo Mendonça, Moacyr Luz, Sérgio Santos, Leoni, Cacaso, Milton Nascimento, Ruy Guerra , Flávio Marinho, Joana Hime, Silvana Gontijo,  Geraldo Carneiro, Thiago Amud, Pierre Aderne, entre muitos outros. Sobretudo músicas sem letra. Dá para fazer muitos outros discos.”

Que venham outros trabalhos tão preciosos quanto Não Navego pra Chegar.

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