Como atrair e criar engagement com os profissionais do futuro através do marketing de talento

Opinião de Lúcia Pereira, diretora de Marketing da Adecco Portugal.

Abr 27, 2025 - 20:51
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Como atrair e criar engagement com os profissionais do futuro através do marketing de talento

Por Lúcia Pereira, directora de Marketing da Adecco Portugal

Durante demasiado tempo, olhámos para o marketing como uma ferramenta exclusivamente ao serviço das vendas, produto e notoriedade. Hoje, é cada vez mais evidente que o marketing tem um papel determinante na forma como as empresas se posicionam enquanto marcas empregadoras. Atrair talento é, acima de tudo, uma competição de perceções. E é aqui que o marketing de talento se torna uma extensão natural da estratégia de marca.

Num mercado marcado por escassez de perfis qualificados, envelhecimento demográfico e uma nova geração de profissionais com expectativas totalmente diferentes das anteriores, comunicar uma proposta de valor ao talento é tão ou mais importante do que comunicar uma proposta de valor ao cliente. O desafio não é apenas preencher vagas. É construir narrativas que gerem conexão emocional, reconhecimento e vontade de fazer parte. Segundo o estudo “LinkedIn Global Talent Trends 2024”, 85% dos profissionais consideram os valores da empresa tão importantes quanto o salário e 70% dos talentos preferem escolher uma organização com a qual se identifiquem do que uma que apenas ofereça benefícios competitivos. Isto significa que a capacidade de criar uma relação emocional com os candidatos é hoje uma vantagem competitiva real.

O marketing de talento não pode ser apenas uma campanha de employer branding ou uma página de carreiras. Tem de ser uma experiência integrada, com uma proposta de valor clara, autêntica e coerente em todos os pontos de contacto com o candidato — desde o primeiro anúncio de vaga até à experiência no onboarding. É preciso aplicar os princípios do marketing ao ciclo de vida do colaborador: conhecer o perfil, definir personas, mapear a jornada, criar conteúdo relevante, ativar os canais certos, medir engagement, analisar dados, otimizar mensagens. Ou seja, tudo o que já fazemos com os consumidores, devemos fazer com os profissionais que queremos atrair. Não é diferente. É marketing.

E, tal como no consumo, os profissionais do futuro são exigentes. Procuram flexibilidade, autonomia, desenvolvimento contínuo e sentido de pertença. Não querem só um cargo. Querem fazer parte de algo maior. E, por isso, é fundamental que a comunicação com o talento seja honesta, relacional e bidirecional.

O engagement não se constrói com frases inspiradoras no LinkedIn. Constrói-se com consistência, com escuta ativa, com liderança visível e com conteúdo que reflita a realidade da cultura interna. O marketing pode — e deve — ser o elo entre aquilo que a empresa é por dentro e aquilo que projeta para fora. Quando isso acontece, o talento certo chega, permanece e torna-se embaixador.

Num mundo onde a fidelização é tão desafiante quanto a atração, é urgente abandonar o discurso genérico sobre “o melhor lugar para trabalhar” e investir numa narrativa de marca realista, envolvente e diferenciadora. O futuro do marketing está no cruzamento entre reputação externa e experiência interna e é exatamente aí que o talento se encontra com a estratégia. Porque atrair talento não é convencer. É inspirar.

E inspirar começa com marcas que sabem quem são — e têm coragem de o mostrar.