Como atrair e criar engagement com os profissionais do futuro através do marketing de talento
Opinião de Lúcia Pereira, diretora de Marketing da Adecco Portugal.


Por Lúcia Pereira, directora de Marketing da Adecco Portugal
Durante demasiado tempo, olhámos para o marketing como uma ferramenta exclusivamente ao serviço das vendas, produto e notoriedade. Hoje, é cada vez mais evidente que o marketing tem um papel determinante na forma como as empresas se posicionam enquanto marcas empregadoras. Atrair talento é, acima de tudo, uma competição de perceções. E é aqui que o marketing de talento se torna uma extensão natural da estratégia de marca.
Num mercado marcado por escassez de perfis qualificados, envelhecimento demográfico e uma nova geração de profissionais com expectativas totalmente diferentes das anteriores, comunicar uma proposta de valor ao talento é tão ou mais importante do que comunicar uma proposta de valor ao cliente. O desafio não é apenas preencher vagas. É construir narrativas que gerem conexão emocional, reconhecimento e vontade de fazer parte. Segundo o estudo “LinkedIn Global Talent Trends 2024”, 85% dos profissionais consideram os valores da empresa tão importantes quanto o salário e 70% dos talentos preferem escolher uma organização com a qual se identifiquem do que uma que apenas ofereça benefícios competitivos. Isto significa que a capacidade de criar uma relação emocional com os candidatos é hoje uma vantagem competitiva real.
O marketing de talento não pode ser apenas uma campanha de employer branding ou uma página de carreiras. Tem de ser uma experiência integrada, com uma proposta de valor clara, autêntica e coerente em todos os pontos de contacto com o candidato — desde o primeiro anúncio de vaga até à experiência no onboarding. É preciso aplicar os princípios do marketing ao ciclo de vida do colaborador: conhecer o perfil, definir personas, mapear a jornada, criar conteúdo relevante, ativar os canais certos, medir engagement, analisar dados, otimizar mensagens. Ou seja, tudo o que já fazemos com os consumidores, devemos fazer com os profissionais que queremos atrair. Não é diferente. É marketing.
E, tal como no consumo, os profissionais do futuro são exigentes. Procuram flexibilidade, autonomia, desenvolvimento contínuo e sentido de pertença. Não querem só um cargo. Querem fazer parte de algo maior. E, por isso, é fundamental que a comunicação com o talento seja honesta, relacional e bidirecional.
O engagement não se constrói com frases inspiradoras no LinkedIn. Constrói-se com consistência, com escuta ativa, com liderança visível e com conteúdo que reflita a realidade da cultura interna. O marketing pode — e deve — ser o elo entre aquilo que a empresa é por dentro e aquilo que projeta para fora. Quando isso acontece, o talento certo chega, permanece e torna-se embaixador.
Num mundo onde a fidelização é tão desafiante quanto a atração, é urgente abandonar o discurso genérico sobre “o melhor lugar para trabalhar” e investir numa narrativa de marca realista, envolvente e diferenciadora. O futuro do marketing está no cruzamento entre reputação externa e experiência interna e é exatamente aí que o talento se encontra com a estratégia. Porque atrair talento não é convencer. É inspirar.
E inspirar começa com marcas que sabem quem são — e têm coragem de o mostrar.