Estreias | Filmes do Oscar são destaques na programação de cinema
"O Brutalista" e "Flow" dividem as telas nesta quinta com "Fé para o Impossível", drama religioso nacional com ampla distribuição


A programação de cinema está em clima de Oscar, com a estreia de dois filmes indicados a múltiplos troféus da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme, “O Brutalista” chega junto da animação de “Flow”, concorrente de “Ainda Estou Aqui” na categoria de Melhor Filme Internacional. Apesar disso, o lançamento mais amplo é uma produção evangélica brasileira, “Fé para o Impossível”. Confira a seguir todas as novidades que chegam ao circuito nacional nesta quinta (20/2).
O BRUTALISTA
A trajetória de um arquiteto visionário refugiado nos Estados Unidos guia a narrativa de “O Brutalista”. Com duração épica de 3 horas e 36 minutos, o drama é ambientado nos anos 1940 e acompanha a trajetória de László Toth, interpretado por Adrien Brody (“O Pianista”), e sua esposa Erzsébet, vivida por Felicity Jones (“Rogue One”), separados pela guerra. Após fugir da Europa, Lázlo encontra a miséria nos Estados Unidos até seu talento chamar a atenção do empresário Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce, de “Mare of Easttown”), que o contrata para um projeto de arquitetura modernista de grande escala. A oportunidade lhe permite trazer a esposa para os EUA e transforma sua carreira, mas também gera novos desafios e conflitos.
O drama dirigido por Brady Corbet (“Vox Lux”) venceu o Globo de Ouro como Melhor Filme de Drama, além de conquistar troféus de Melhor Direção e Ator. “O Brutalista” também tem 93% de aprovação no Rotten Tomatoes e conquistou o Leão de Prata de Melhor Direção no Festival de Veneza. No Oscar 2025, ele concorre a nada menos que 10 troféus, incluindo as estatuetas de Melhor Filme, Direção, Roteiro Original, Ator principal e Ator e Atriz Coadjuvantes.
FLOW
A animação premiada acompanha a jornada de um gato preto solitário que, após uma grande inundação, perde sua casa e encontra abrigo em um barco onde convivem diferentes espécies, incluindo uma capivara, um lêmure, um pássaro e um cão. Apesar das diferenças, os animais precisam se unir para enfrentar os desafios de um mundo submerso e encontrar terra firme. Sem diálogos, a produção se destaca pela profundidade emocional e pela complexidade visual.
Com 85 minutos de duração, a narrativa prende a atenção do espectador do início ao fim, reforçando o uso do cinema como ferramenta de emoção e reflexão. A crítica se rendeu ao espetáculo visual e emocional, atribuindo 97% de aprovação ao filme de Gints Zilbalodis, que acumulou múltiplas funções, atuando como diretor, diretor de arte, cinegrafista e editor, além de ter escrito o roteiro em parceria com Matīss Kaža e coproduzido a obra.
O longa venceu o Globo de Ouro e o European Film Awards na categoria de Melhor Animação, além de diversos prêmios da crítica internacional, incluindo a Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles, o Círculo de Críticos de Cinema de Nova York e o National Board of Review. Para completar, disputa dois Oscars, como Melhor Animação e Melhor Filme Internacional, representando a Letônia.
KAYARA – A PRINCESA INCA
A animação peruana narra a história de Kayara, uma jovem inca de 16 anos que sonha em se tornar a primeira mulher a integrar os Chasquis, o grupo de mensageiros oficiais do Império Inca. Determinada a quebrar as tradições de sua sociedade, Kayara enfrenta diversos desafios para alcançar seu objetivo. Ao longo de sua jornada, ela descobre histórias ancestrais de seu povo e enfrenta perigos que ameaçam sua cidade e seus entes queridos.
O desenho se destaca por trazer uma protagonista feminina em um cenário pouco explorado na animação mundial: o Império Inca. A produção tem forte viés cultural e histórico, retratando a civilização inca de maneira rica e detalhada, algo raro no cinema infantil. Além disso, aborda temas como empoderamento feminino, quebra de tradições e a luta por igualdade dentro de uma sociedade rigidamente estruturada. A história de Kayara é inspirada na realidade dos Chasquis, mensageiros do Império Inca que percorriam grandes distâncias a pé para entregar mensagens entre cidades e postos administrativos.
Outro diferencial é a direção de arte, que aposta em um visual colorido e detalhado, refletindo o esplendor arquitetônico e a natureza exuberante dos Andes. O filme ainda conta com uma trilha sonora influenciada por músicas tradicionais peruanas e faz parte de um movimento crescente de animações latino-americanas que buscam contar histórias regionais com uma abordagem universal, como foi o caso de “Uma História de Amor e Fúria”, “Pachamama” e “Ainbo – A Guerreira da Amazônia”. A direção é de Cesar Zelada (produtor de “Ainbo: A Guerreira da Amazônia”).
FÉ PARA O IMPOSSÍVEL
O filme brasileiro conta uma história de superação e fé, centrada em personagens reais que enfrentam desafios pessoais profundos e buscam forças para transformá-los. A trama biográfica retrata Renee Murdoch, uma pastora norte-americana residente no Rio de Janeiro. Em setembro de 2012, durante uma corrida na Barra da Tijuca, Renee foi brutalmente atacada por um morador de rua, sofrendo um traumatismo craniano grave. Com prognóstico desfavorável, ela contou com o apoio inabalável de seu marido, Philip, e de sua família, que mobilizaram uma corrente de oração pela sua recuperação. O casal lidera atualmente a Igreja Interdenominacional Luz às Nações (Ilan Church) no bairro do Recreio e é autor do livro “Dê a Volta por Cima”, que também narra esse episódio milagroso.
O elenco destaca Vanessa Giácomo (“Beleza Fatal”) no papel de Renee Murdoch e Dan Stulbach (“A Força do Querer”) como Philip Murdoch. A aposta no filme de Ernani Nunes (“No Ritmo da Fé”) é alta, com distribuição em 800 telas.
DESAFIE A ESCURIDÃO
Inspirado em eventos reais, o drama edificante acompanha a jornada de um adolescente sem-teto e um professor que tenta ajudá-lo a superar traumas do passado. Nate é um jovem que luta para esconder sua difícil realidade enquanto enfrenta os desafios do ensino médio. Sua vida muda quando ele conhece Stan, um professor que percebe suas dificuldades e decide estender a mão, oferecendo não apenas apoio acadêmico, mas um caminho para reconstruir sua vida. No entanto, Nate carrega segredos que tornam sua jornada ainda mais complexa, e Stan precisa enfrentar dilemas pessoais para conseguir ajudá-lo.
“Desafie a Escuridão” foi produzido com a intenção de inspirar e gerar reflexões sobre o impacto de professores na vida de alunos que enfrentam dificuldades além da sala de aula. A direção é de Damian Harris (“Jardins da Noite”) e o elenco destaca seu irmão Jared Harris (“Chernobyl”) no papel do professor e Nicholas Hamilton (“It: A Coisa”) como Nate.
MEU VERÃO COM GLÓRIA
O filme francês apresenta uma história sensível sobre os laços entre uma menina e sua babá. A trama acompanha Cléo, uma criança de seis anos que vive uma relação intensa de afeto com sua cuidadora, Glória. No entanto, quando Glória precisa retornar ao seu país de origem, Cabo Verde, Cléo enfrenta a dor da separação e embarca em uma última viagem de despedida, passando o verão ao lado da mulher que considera como uma segunda mãe.
A obra combina elementos de drama familiar e amadurecimento, explorando os impactos emocionais das relações afetivas entre empregadas domésticas e as crianças que criam laços profundos com elas. Com um olhar delicado, a diretora Marie Amachoukeli (“Party Girl”) trabalha a perspectiva infantil para abordar temas como imigração, pertencimento e despedida.
O elenco conta com as estreantes Ilça Moreno no papel de Glória e Louise Mauroy-Panzani como Cléo. O filme teve sua première mundial no Festival de Cannes de 2023, onde foi exibido na seção Semana da Crítica.
O INTRUSO
O drama explora temas de identidade, desejo e transgressão, características frequentes no cinema do cineasta canadense Bruce LaBruce. Conhecido por seus trabalhos com temática queer e no cinema underground, LaBruce aborda em seu novo filme questões de pertencimento e corpo, mantendo sua assinatura provocativa.
A trama acompanha um jovem que se vê envolvido em uma dinâmica inesperada ao conhecer um visitante enigmático, desafiando suas percepções sobre amor, controle e liberdade. Como é praxe nos filmes do cineasta, o filme tem classificação indicativa de 18 anos.
Bruce LaBruce é um dos diretores mais emblemáticos do cinema queer radical, responsável por clássicos como Hustler White (1996) e Gerontophilia (2013). Seu cinema frequentemente dialoga com o erotismo, a política e a contracultura, oferecendo narrativas desafiadoras.
MARIETTA BADERNA – DOS PALCOS AOS DICIONÁRIOS
A bailarina italiana Marietta Baderna é o tema do documentário de Mariana Alvim. Conhecida por sua ousadia e inovação no século 19, Baderna teve seu sobrenome transformado em verbete nos dicionários brasileiros. O filme explora sua trajetória artística e impacto cultural, ao incorporar elementos populares e africanos à dança clássica, algo considerado transgressor pela elite conservadora.
Após deixar a Itália devido a perseguições políticas, ela se estabeleceu no Brasil, onde seu estilo de dança e atitude subversiva se tornaram símbolo de resistência artística. Sua ousadia fez com que seu nome se tornasse sinônimo de desordem e rebeldia, expressão que até hoje está presente na língua portuguesa. A produção também contextualiza sua influência na dança e nas expressões culturais do país, revelando uma história pouco conhecida do público.
OS 80 GIGANTES
O documentário de Joana Nin (“Proibido Nascer no Paraíso”) acompanha a trajetória da Cia dos Ventos, uma companhia de teatro de bonecos fundada há 30 anos. O filme destaca a luta da trupe para manter viva a arte dos bonecos gigantes, trabalhando em conjunto com a comunidade. O projeto social “O Boneco e a Sociedade” impactou mais de 28 mil alunos durante uma década, mas foi interrompido devido a questões políticas municipais, deixando a família e os 80 bonecos gigantes sem espaço. O documentário retrata a reinvenção da companhia enquanto eles relembram momentos de alegria e tristeza e preparam um novo espetáculo.