“Estar orgulhosamente sós não faz sentido” na energia, diz João Galamba que rejeita centrais a carvão
"Os debates sobre o carvão são anacrónicos" e os "sistemas interligados favorecem" ambos os países, defendeu o ex-secretário de Estado da Energia.


O antigo secretário de Estado da Energia João Galamba rejeitou hoje o argumento de que as centrais a carvão teriam ajudado a evitar o apagão de segunda-feira.
Para evitar a repetição do apagão, defendeu a melhoria da gestão do sistema elétrico, com maior digitalização e o uso de inteligência artificial (IA) para gerir o cada vez maior número de dados no sistema dado existirem cada vez mais centrais renováveis a injetar eletricidade na rede.
“Há coisas que não se passaram. Os debates sobre o carvão são anacrónicos. O encerramento das centrais a carvão não tem qualquer relação, nem sequer estariam a trabalhar a essa hora em que havia imenso sol e água. O apagão teria acontecido na mesma. Não teria contribuído em nada. Não faz sentido o debate em torno do encerramento das centrais a carvão ou de estar a importar eletricidade de Espanha. “, disse hoje João Galamba ao JE.
“Isto não foi um problema de falta de geração ou de potência, mas de gestão do sistema elétrico. É preciso um sistema mais flexível e rápido a reagir, mais baterias e mais bombagem para tornar o sistema mais resiliente para haver mais rapidez na resposta a estes fenómenos”, acrescentou.
“As centrais a carvão nunca tiveram sequer sistema black start. É preciso investimento para modernizar redes, mais armazenamento, uma forte digitalização da gestão do sistema e mais inteligência artificial para gerir o volume de dados”, sublinhou.
O responsável aponta que as centrais hídricas e a gás dão grande flexibilidade e que o “nuclear é manifestamente inadequado a resets”, com o carvão a “demorar muito tempo a arrancar”.
Sobre a questão da autonomia ou não de Portugal face a Espanha, considera que é uma falsa questão. “Não é uma questão de autonomia, é preciso reconhecer que sistemas interligados favorecem ambas as partes. Estar orgulhosamente sós não faz sentido. O reset do sistema foi feito com fontes nacionais. Portugal tem autonomia energética para garantir autossuficiência”.
Sobre o sistema black start, que nasceu de uma decisão sua em 2022, disse que este é um serviço remunerado e que foi “suficiente para garantir o arranque do sistema”.
“O sistema de black start não serve para evitar o apagão, mas se calhar é preciso tornar a reposição de serviço mais rápida”, afirmou ainda antes do Governo anunciar que vai juntar mais duas centrais a este mecanismo para permitir um arranque do sistema mais rapidamente.
“Não houve um problema de segurança de abastecimento. Esse estava assegurado, havia muito sol, vento e água. Isto teve a ver com a complexidade de gerir sistema elétrico. São precisas outras ferramentas, a velocidade do sistema antigo já não é igual a de hoje”, apontou.