Erro com convicção: Trump dobra a aposta e guerra comercial derruba bolsas globais; veja os destaques desta quarta-feira (9) 

Os ativos de risco voltaram a ser atropelados pelo avanço da nova cruzada tarifária dos EUA na terça-feira (8). Leia mais. O post Erro com convicção: Trump dobra a aposta e guerra comercial derruba bolsas globais; veja os destaques desta quarta-feira (9)  apareceu primeiro em Empiricus.

Abr 9, 2025 - 16:20
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Erro com convicção: Trump dobra a aposta e guerra comercial derruba bolsas globais; veja os destaques desta quarta-feira (9) 

O pregão de ontem (8) adicionou mais um capítulo à crescente tensão que domina os mercados globais. Depois de uma uma abertura com viés positivo, os ativos de risco voltaram a ser atropelados pelo avanço da nova cruzada tarifária dos Estados Unidos, que insiste em transformar política comercial em espetáculo de confrontação. A Casa Branca oficializou tarifas superiores a 100% sobre importações chinesas, elevando o custo de entrada desses produtos em até 104% — um movimento que marca o ápice, ao menos por ora, do chamado “Dia da Libertação” de Donald Trump, embalado por retórica grandiosa e pouca consideração pelos efeitos colaterais.

O Canadá também entrou no jogo, iniciando a cobrança de 25% sobre veículos americanos, enquanto a União Europeia articula uma resposta coordenada à tarifa de 20% imposta sobre seus produtos. A escalada tarifária ganha contornos de um conflito comercial generalizado, sem sinais de trégua ou disposição para negociação por parte das principais potências.

O risco de novas retaliações por parte de Pequim se soma à deterioração generalizada do sentimento empresarial. O temor de uma recessão global se consolida à medida que as medidas comerciais, vendidas como estratégia de defesa econômica, começam a produzir um efeito perverso sobre os investimentos e as decisões corporativas. Em vez de estimular a economia, o protecionismo improvisado impõe incerteza e retrai o apetite por risco. É, na prática, uma política anti-business travestida de nacionalismo econômico. O dia começou mais uma vez com quedas nas bolsas europeias, depois de um pregão instável na Ásia. Os futuros americanos seguem no vermelho, enquanto o petróleo tipo Brent rompeu para baixo a marca simbólica dos US$ 60 — algo não visto há quatro anos. O preço dessa guerra comercial que só está começando será alto.

· 00:58 — Silêncio faz bem

No Brasil, continuamos ao sabor do humor externo. O Ibovespa, que chegou a operar no campo positivo, virou para queda ao acompanhar o recuo dos mercados americanos. A aversão ao risco, agora generalizada, também se refletiu na moeda: o dólar subiu 1,47% frente ao real, encerrando o dia a R$ 5,99 — o maior patamar desde 21 de janeiro. Na máxima intradiária, rompeu brevemente os R$ 6, revelando o desconforto crescente com a deterioração do cenário internacional.

Com o mundo flertando com uma recessão, o Brasil começa a dar sinais de que não escapará ileso. Se, num primeiro momento, o mercado reagiu com certo alívio ao ver o país contemplado com a alíquota mínima de 10% nas tarifas americanas, esse entusiasmo se dissipou rápido. O foco agora recai sobre as incertezas profundas da crise comercial. O Brasil, nesse enredo, corre o risco de ser atingido dos dois lados: tanto pelo esfriamento da economia americana quanto pelo impacto da desaceleração chinesa — nossa principal parceira comercial. E, como sabemos, qualquer baque nos preços internacionais das commodities é particularmente sensível por aqui.

Curiosamente, no caso das tarifas, o silêncio do governo pode ser mais eficaz do que qualquer arroubo diplomático. O Brasil tem margem para capitalizar com o desarranjo global: pode ocupar os espaços deixados por países asiáticos no mercado americano e, ao mesmo tempo, substituir produtos americanos em economias asiáticas. O mesmo vale para a Europa, que recebeu uma tarifa de 20% e com a qual acabamos de assinar um acordo de livre comércio via Mercosul. Em outras palavras, não é hora de fazer barulho nem de embarcar em retaliações. É hora de jogar pelas bordas, com discrição — enquanto os gigantes se engalfinham, a esperteza está em recolher espólios…

O problema é que essa guerra comercial também criou uma conveniente cortina de fumaça por aqui. Em meio ao caos externo, a política doméstica volta a operar sem holofotes — e isso raramente é boa notícia. A queda na popularidade do presidente Lula, antes acelerada, pode encontrar um freio momentâneo. E, nesse vácuo, algumas movimentações preocupantes ganham tração. O relator do projeto que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda, deputado Arthur Lira, já articula nos bastidores o resgate de trechos de uma proposta aprovada em 2021, ainda sob sua presidência da Câmara. A preocupação é com a “compensação fiscal”, que deve ser desidratada. Para piorar, novas pressões políticas começam a surgir sobre a Petrobras (PETR4), com apelos por redução no preço dos combustíveis — sempre sob o manto do populismo mal disfarçado. O cheiro disso tudo, convenhamos, está longe de ser alentador.

· 01:41 — Apagando valor de mercado

Nos EUA, a terça-feira (8) foi um daqueles dias em que a volatilidade assume proporções históricas. Após uma abertura forte e promissora, o Nasdaq atingiu seu pico ainda pela manhã, mas rapidamente inverteu o sinal. Ao final da tarde, já mergulhava em território negativo, encerrando o dia com uma queda expressiva de 2,2%. Trata-se da maior reversão intradiária de ganhos do índice desde pelo menos 1982. O S&P 500 também protagonizou um feito raro: subiu mais de 4% ao longo do pregão, apenas para terminar o dia em queda superior a 1%, algo que, desde 1978, jamais havia ocorrido.

Esse vaivém não é gratuito. A desordem nos mercados já custou algo em torno de US$ 10 trilhões em valor de mercado — um efeito riqueza reverso de escala monumental, que mina a confiança dos agentes econômicos e aprofunda o pessimismo quanto ao ciclo econômico à frente. Nesse contexto, o Federal Reserve se vê diante de um impasse particularmente desconfortável: cortar juros para suavizar o risco de recessão iminente ou manter a política contracionista para conter uma inflação que tende a se agravar com o novo pacote tarifário. Se as tarifas forem aplicadas nos níveis anunciados, é apenas questão de tempo até a inflação americana voltar a acelerar — o que dificulta qualquer relaxamento monetário no curto prazo.

Para piorar, os yields dos títulos do Tesouro americano voltaram a subir com força, contrariando a tese, até então sugerida nos bastidores, de que o governo estaria deliberadamente provocando uma correção no mercado para forçar a queda das taxas e facilitar a rolagem da dívida pública a custos mais baixos. Essa narrativa ruiu. O que se observa, na prática, é um desmonte agressivo de posições alavancadas, em um movimento que traz à memória episódios como a quebra do LTCM em 1998 ou, mais recentemente, o colapso do Bear Stearns em 2008. O risco agora não é apenas técnico: o ambiente está fértil para o aparecimento de alguma “baleia” à deriva.

Mas o estrago não é só financeiro — é institucional. A credibilidade dos Estados Unidos como polo de estabilidade econômica e previsibilidade de política pública está sendo corroída por uma guerra comercial conduzida com amadorismo e motivações questionáveis. A arquitetura das tarifas — baseada em critérios questionáveis — afasta investidores. A venda em massa de Treasuries e o esvaziamento da demanda por ativos americanos são sintomas visíveis dessa erosão de confiança. E isso, mais do que qualquer oscilação pontual em bolsa, é o verdadeiro alerta vermelho.

Hoje, os holofotes se voltam para a ata da última reunião do Federal Reserve, que pode oferecer alguma luz sobre os próximos passos da autoridade monetária. Mas, convenhamos, nem mesmo um bom comunicado será suficiente para desfazer o dano reputacional — e macroeconômico — que já está em curso.

· 02:32 — Retaliações

A Casa Branca decidiu levar adiante o pacote tarifário mais agressivo do século após o fracasso retumbante das negociações com Pequim. Os 104% hoje em vigor contra produtos chineses são o somatório de camadas sucessivas de tarifas: a taxa pré-existente, os 34% anunciados por Trump na semana passada e os 50% adicionais que ele prometera aplicar caso a China não recuasse da sua própria tarifa retaliatória — o que, como era amplamente esperado, não aconteceu. Essa nova escalada entre as duas maiores economias do planeta surge no exato momento em que Trump tenta convencer o público de que tem feito avanços significativos em acordos com outros países, como Coreia do Sul e Japão. O problema é que, enquanto as promessas de diálogo se acumulam no plano retórico, os efeitos reais das tarifas já estão em curso. 

Do outro lado do mundo, a China deixou claro que não pretende ficar na defensiva. Além de anunciar uma nova rodada de tarifas — com sobretaxas adicionais de até 84% sobre produtos americanos —, Pequim também adicionou 12 empresas dos Estados Unidos à sua lista de controle de exportações. Em termos práticos, isso equivale a um endurecimento formal da posição chinesa, sugerindo pouca margem para uma solução.

Enquanto isso, o bilionário Elon Musk, conselheiro de Trump e CEO da Tesla, rompeu publicamente com a Casa Branca na questão comercial, classificando o assessor comercial Peter Navarro como “idiota”. Neste ponto, não há como discordar. As ideias de Navarro, além de economicamente rudimentares, têm se mostrado um passaporte direto para o isolamento dos EUA — e, pior, com custo elevado para os próprios americanos. O grande obstáculo, no entanto, é Trump: admitir erro não está no seu repertório, especialmente quando a retórica nacionalista encontra eco eleitoral.

Resta, portanto, uma rota de contenção institucional: o Congresso. Embora o clima de polarização dificulte movimentos mais coordenados, já circulam sinais de dissidência no Partido Republicano. Pelo menos dez congressistas de perfil moderado indicaram disposição para frear os excessos do Executivo. Caso a mobilização avance, as ordens executivas de Trump poderiam ser derrubadas — uma medida que certamente fragilizaria a imagem da Casa Branca, mas ajudaria a preservar a credibilidade dos Estados Unidos como potência econômica confiável. É um embate que pode ganhar força nas próximas semanas. E, francamente, não seria nada mal.

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· 03:29 — Risco de recessão

A recente turbulência nos mercados obrigou economistas e analistas a revisarem, com certa pressa e algum desconforto, suas projeções para a economia americana — e o risco de recessão entrou de vez no radar. A equipe do J.P. Morgan elevou suas estimativas para 60%, acompanhada de perto pelo Goldman Sachs, num movimento que reflete não apenas os números, mas também a perda crescente de confiança no rumo da política econômica dos Estados Unidos. A pergunta que agora paira no ar é direta: os choques nos mercados financeiros vão transbordar para a economia real? 

Duas áreas serão decisivas para responder essa questão: os gastos do consumidor — que respondem por quase 70% do PIB americano — e o mercado de trabalho. Por ora, os indicadores seguem razoavelmente estáveis, sustentados por uma inércia de crescimento e um resquício de otimismo. Mas sinais de enfraquecimento já começam a pipocar nas margens, e é apenas uma questão de tempo até que sintam os efeitos do ambiente ruim, especialmente se as tarifas continuarem pressionando os preços.

O risco de desaceleração é real. A profundidade do impacto, porém, vai depender da duração e da escala da crise comercial em curso. Para Larry Summers, ex-secretário do Tesouro, o caminho já está traçado: ele prevê uma recessão com até dois milhões de novos desempregados. É o tipo de prognóstico que, embora ainda sujeito a revisões, carrega peso simbólico e afeta diretamente a percepção de risco dos agentes econômicos. É aqui que a velha armadilha da reflexividade de George Soros entra em cena: a piora das expectativas afeta o comportamento, que por sua vez retroalimenta a deterioração da realidade. Uma espiral de pessimismo, típica de momentos em que a política deixa de ser um instrumento de estabilidade e se torna gatilho de incerteza.

· 04:12 — Desvalorização

A intensificação da guerra comercial fez com que o governo chinês permitisse uma forte depreciação do yuan frente ao dólar — movimento que arrastou consigo as moedas de diversos países emergentes, particularmente aquelas com perfil exportador de commodities. O real, mais uma vez, serviu de termômetro dessa aversão a risco e chegou a ser negociado na casa dos R$ 6. A moeda chinesa, por sua vez, atingiu seu menor patamar histórico frente ao dólar, num gesto que não passou despercebido pelos mercados globais.

O enfraquecimento do yuan reduz o poder de compra chinês no comércio internacional e acende um sinal de alerta sobre a demanda futura do país por matérias-primas (ruim para o Brasil). A decisão do Banco Popular da China de relaxar o controle sobre a taxa de câmbio marca uma guinada relevante na política cambial do país, e não é coincidência que tenha ocorrido justamente num momento de agravamento da tensão com os EUA. Já vimos esse filme durante o primeiro mandato de Donald Trump, e tudo indica que podemos estar entrando em uma nova temporada do mesmo enredo: retaliação cambial como arma geopolítica. É um jogo perigoso — e conhecido — que, mais uma vez, coloca os países emergentes na linha de tiro.

· 05:07 — O que fazer?

Tenho insistido com os investidores sobre a importância da calma — especialmente em momentos de correção mais intensa como o atual. Oscilações fazem parte do jogo, mesmo quando o pano de fundo é o de um possível reordenamento da ordem econômica global. Se estivermos, de fato, diante de uma inflexão estrutural no cenário internacional, é natural que o ajuste exija mais tempo e energia. Ainda assim, há espaço para atuação racional…

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