Entrevista: O trio Eskröta lança o ótimo “Blasfêmea”, assina com a Deck e reflete sobre esse novo momento

O trio fala sobre sua nova fase, o processo de composição e gravação de "Blasfêmea", participações especiais, aprendizados da estrada e mais....

Mai 15, 2025 - 12:44
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Entrevista: O trio Eskröta lança o ótimo “Blasfêmea”, assina com a Deck e reflete sobre esse novo momento

entrevista de Bruno Lisboa

Formada por Yasmin Amaral (voz e guitarra), Tamyris “Thamy” Leopoldo (baixo) e Jhon França (bateria), a banda Eskröta inaugura um novo capítulo em sua trajetória com o lançamento de “Blasfêmea” (2025), disco que marca não só uma evolução sonora e lírica, mas também a entrada do trio para o cast da gravadora Deck. Com letras que focam em temas sociais, feminismo e resistência, o novo trabalho chega como um autêntico manifesto, mostrando que a banda segue engajada e afiada em seu discurso.

Produzido por Gabriel do Vale, “Blasfêmea” é um trabalho que equilibra peso, urgência e experimentação. Elementos percussivos surgem como destaque criando camadas rítmicas que levam a sonoridade da banda para novos territórios. Isso fica evidente em faixas como o single “LBR (Latina, Brasileira, Revolucionária)” e “A Bruxa”. A busca por novos horizontes também se reflete nas participações especiais de integrantes do Cordel do Fogo Encantado, de Cláudio Montevérdi (percussionista da banda Korvak) e de Mc Taya (na poderosa “Mantra”).

Na entrevista abaixo, feita por e-mail, o trio fala sobre sua nova fase, o processo de composição e gravação de “Blasfêmea”, o trabalho junto ao produtor Gabriel do Vale, participações especiais, aprendizados da estrada, a entrada para o cast da Deck, a importância de se engajar politicamente através das letras, planos futuros e muito mais. Confira!

Para começar: “Blasfêmea” expande os horizontes sonoros da Eskröta, como a introdução de elementos percussivos, mas sem abrir mão da agressividade. Como foi encontrar esse equilíbrio entre peso e experimentação?
Yasmin: Expandir horizontes é exatamente isso. Trouxemos ideias que sempre quisemos testar, mas somente nesse álbum vimos coerência na introdução desse tipo de elemento. “A Bruxa” foi a primeira música que a gente compôs e a ideia de uma percussão marcante no final veio desde a sua concepção, então foi um percurso natural das ideias. Inclusive, achamos que isso traz ainda mais peso para este som. Assim como fizemos também em “LBR”, sentimos que faria sentido e, no final, é importante usarmos a nossa intuição também nesse processo.

O título do álbum, “Blasfêmea”, já traz em si uma força simbólica em ode ao feminino e a luta contra a misoginia. Como vocês chegaram nesse nome?
Yasmin: O nome do álbum vem a partir dos questionamentos que fazemos ao longo dele, o quão “errado” (no sentido de “pecado, heresia”) é ser uma mulher dentro de uma sociedade ainda tão conservadora. Começamos desafiando a todos que nos julgam e querem nos queimar com “A Bruxa”, percorremos o caminho por “Mantra” que fala sobre a cultura do estupro e violência de gênero, chegamos em “LBR” falando sobre sangue latino, ancestralidade e vamos até “Quanto Tempo”, que reforça o caminho longo que é ter uma banda liderada por duas mulheres, que precisa enfrentar lutas e desafios diários. No final do processo, vimos que “Blasfêmea”, da maneira com é escrito, levanta questionamentos importantes na nossa trajetória.

A parceria com a MC Taya em “Mantra” traz um encontro potente entre o rap e o metal para denunciar a cultura do estupro. Como foi esse processo colaborativo?
Jhon: A Tamy compôs o riff de guitarra (foi ela quem gravou as primeiras prés). Quando ouvi, fiquei de cara, é uma coisa tão simples, mas feroz! Acho que esse lance da parceria com Mc Taya tinha que acontecer, gostamos de fazer parcerias nos nossos discos. E a conversa com Mc Taya já estava meio caminho andado pelos nossos encontros nos festivais por aí, tínhamos que fazer algo juntos! Acabou sendo “Mantra”, que caiu como uma luva! A Mc Taya trouxe a energia que estava faltando para a música que já estava perfeita, se tornar ainda mais.

Em “LBR (Latina, Brasileira, Revolucionária)”, os tambores do Cordel do Fogo Encantado ampliam ainda mais essa aura ritualística e ancestral do disco ligada a valorização da cultura latino-americana. Como se deu a aproximação com eles?
Yasmin: Nós já estivemos em Recife algumas vezes, fomos muito bem acolhidas pelo público de lá e também por parceiros que hoje trabalham conosco. Esse relacionamento com a cidade nos deixou mais próximas de bandas como o Cordel, que já admiramos à distância há muito tempo, mas esse ano vimos a oportunidade de fazer o convite bem em frente aos nossos olhos. Os percussionistas aceitaram prontamente, então eles gravaram no Estúdio do Estelita Produções em Recife e nós editamos por aqui no interior de São Paulo. Outra parceria que certamente marca nossa carreira.

“A Bruxa” é outra faixa que chama atenção pelo peso, pela percussão e conta com a participação de Cláudio Montevérdi (Korvak). Como se deu essa parceira?
Yasmin: Nós da Eskröta e a Korvak somos amigos de banda, já tocamos juntos algumas vezes, e o Jhon acabou se tornando um grande amigo do Cláudio, além de ser muito fã da percussão dele. Ficamos tentando reproduzir sozinhos os elementos de “A Bruxa”, mas vimos que precisávamos de reforço. Foi quando o Jhon entrou em contato com o Cláudio, ele aceitou também imediatamente, r em questão de dois dias já nos entregou o material pronto, foi incrível. Basta ouvir a música até o final para perceber o quão maravilhoso é essa camada, sem ela a música não teria a mesma graça.

A gravação do disco foi feita em estúdio em Araraquara, interior de São Paulo, junto a Gabriel do Vale. O quanto o estúdio e o produtor influenciaram no resultado final de “Blasfêmea”?
Tamy: Desde o início tínhamos um conceito para o álbum, uma ideia inicial. E eu acredito que acertamos muito em trabalhar com o Gabriel, ele é um produtor incrível com uma visão moderna, que soube interpretar o que buscávamos com muito profissionalismo! Isso, com certeza, repercute no resultado final do nosso álbum! É importante se sentir seguro ao entrar em um estúdio, com alguém que saiba lidar com momentos estressantes e ponderar as ideias e expectativas, conseguimos isso com o Gabriel, foi uma experiência incrível.

A Eskröta sempre teve uma pegada de crítica social e resistência. Como vocês percebem a evolução dessa postura política nas letras ao longo da trajetória da banda?
Tamy: Nossa intenção sempre foi levar ao público, através da nossa música, reflexões sobre temas sociais e sobre o feminismo, acredito que isso é uma característica da Eskröta desde o início e não pretendemos mudar. Sabemos a importância que é nos posicionar, e sentimos a necessidade de usar nossa voz para abordar temas relevantes. Também falamos sobre nossas próprias vivências e experiências.

Ao longo da carreira do grupo vocês realizaram turnês internacionais e realizaram apresentações históricas em festivais pelo Brasil como Rock in Rio e Knotfest. O que vocês carregam dessas experiências maiores e como elas impactaram o modo de compor e de existir como banda?
Tamy: Ao longo da nossa trajetória, sempre nos preocupamos em entregar o melhor show possível para o público, então focados nisso, buscamos aprender e evoluir para estarmos preparados para futuras oportunidades e elas apareceram! Tocar no Knotfest e RIR e viver tudo isso depois de tanto trabalho reafirma nosso compromisso em nos esforçarmos para nos tornar cada vez mais profissionais. Acredito que isso transparece bem no álbum “Blasfêmea”.

“Blasfêmea” marca também a estreia da Eskröta pela Deck, uma gravadora com um histórico importante no rock brasileiro. Como foi esse processo de entrada no selo e o que essa parceria representa pra vocês nesse momento da carreira?
Yasmin: Nós tivemos uma primeira reunião com o Rafael Ramos em 2024, após algumas trocas de mensagem entre eu e ele. Eu quase não acreditava que era real, pois já era algo que queríamos muito. Nós admiramos muitos artistas Deck e muitos deles são nossos amigos, então a vontade só aumentou. Em 2025, apresentamos o álbum para o Rafael novamente e ele foi super receptivo, o que nos deixou ainda mais confortáveis em entrar para o time. Ter uma gravadora/editora dando suporte é essencial para continuarmos avançando e entendemos que, junto da Deck, vamos ter esse apoio.

“Blasfêmea” é, na mesma medida, um disco de afirmação, mas também de abertura para novas possibilidades. O que vocês sentem que esse álbum representa para o futuro da Eskröta?
Yasmin: Certamente, “Blasfêmea” marca uma nova fase, com muito mais maturidade e confiança, com aprendizados que trazemos dos álbuns anteriores, com novas oportunidades se abrindo no caminho… estamos muito felizes em poder apresentar esse novo momento pra todos que nos acompanham.

–  Bruno Lisboa  escreve no Scream & Yell desde 2014. Escreve também no www.phono.com.br