Dois padres brasileiros no centro do conclave
A foto da comitiva presidencial brasileira no funeral do papa Francisco chamou a atenção pelo numeroso contingente, mas também porque revela um rosto poderoso no Vaticano, e que participará do conclave, a ser iniciado amanhã. Trata-se do monsenhor Bruno Lins, de 45 anos, vice-chefe do cerimonial da Santa Sé, que acompanhou as autoridades brasileiras até o corpo do pontífice. Lins pertence à Arquidiocese do Rio de Janeiro, mas vive há dezesseis anos em Roma e ocupa o cargo na Santa Sé desde 2021. Antes, atuava como tradutor de português da Cúria, durante o pontificado de Francisco, sendo considerado, portanto, o brasileiro mais próximo do papa nas imediações do Vaticano. The post Dois padres brasileiros no centro do conclave first appeared on revista piauí.

A foto da comitiva presidencial brasileira no funeral do papa Francisco chamou a atenção pelo numeroso contingente, mas também porque revela um rosto poderoso no Vaticano, e que participará do conclave, a ser iniciado amanhã. Trata-se do monsenhor Bruno Lins, de 45 anos, vice-chefe do cerimonial da Santa Sé, que acompanhou as autoridades brasileiras até o corpo do pontífice.
Lins pertence à Arquidiocese do Rio de Janeiro, mas vive há dezesseis anos em Roma e ocupa o cargo na Santa Sé desde 2021. Antes, atuava como tradutor de português da Cúria, durante o pontificado de Francisco, sendo considerado, portanto, o brasileiro mais próximo do papa nas imediações do Vaticano.
O cerimonial está diretamente ligado à diplomacia da Santa Sé, por onde circulam as correspondências e são nutridas as relações com os estados. A área está subordinada ao cardeal Pietro Parolin, secretário de estado do Vaticano e um dos favoritos para o pontificado. Além de Lins, o monsenhor Flávio Medeiros, cônego da Basílica de São Pedro, também permanecerá em serviço durante o conclave. Medeiros é potiguar de Acari, membro da arquidiocese de Natal, e atua no Vaticano há 20 anos. Dentro do colégio sacerdotal, tem a função de primeiro cerimoniário da Basílica de São Pedro, dedicado à organizar o Rito nas celebrações internas do templo e acolher peregrinos para participar dos eventos litúrgicos. “Uma das coisas que o santo padre pediu ao nosso grupo sacerdotal foi que os fiéis se sintam em casa na Basílica, que é a mãe de todas as igrejas”, explicou em uma reportagem em vídeo intitulada Um Sertanejo na Santa Sé, sobre sua trajetória, exibida pela TV Assembleia RN no ano passado.
Ambos vivem na Casa Santa Marta, morada do papa Francisco e que será, a partir da noite de hoje, o local de descanso dos religiosos durante as votações do conclave. Mas tanto Lins quanto Medeiros — e todos os demais moradores — tiveram de deixar seus apartamentos em razão dos reparos necessários para abrigar os 133 cardeais que chegarão. Estão agora hospedados num colégio dentro do Vaticano. Assim como todos que trabalharão no conclave – dos cozinheiros e cozinheiras aos oficiais da Guarda Suíça – ambos os padres fizeram voto de silêncio sobre o que se passará dentro dos muros. Outros dois brasileiros que moram no local também tiveram de trocar de endereço. São os padres Antônio Hofmeister e Crisônio Vieira de Souza, mas estes não trabalharão no conclave.
Segundo duas fontes ouvidas pela piauí — uma da Igreja, em Roma, e outra da diplomacia brasileira — Bruno Lins é considerado hoje o nome brasileiro mais influente no Vaticano, mais até do que os cardeais votantes, em razão do acesso que tem e da posição de destaque na Cúria.
“Os cardeais não estão dentro da estrutura de Roma, do Vaticano. Bruno tem acesso a problemas, situações políticas que chegam, coisas que os cardeais de fora não têm. Eles estão no seu mundo, na sua diocese, se comunicam por meio de correspondência, mas não sabem de fato o que acontece ali”, disse um padre brasileiro que serve no Vaticano, mas pediu sigilo para não ter problemas com seus superiores. O único cardeal brasileiro que vive no Vaticano é Dom João Braz de Avis, arcebispo emérito de Brasília, e que deve voltar a viver na capital federal ainda este ano — caso não seja eleito papa.
Um membro do corpo diplomático que atuou na embaixada na Santa Sé corrobora a informação, dizendo que Lins já era muito influente quando ainda trabalhava como tradutor. “Quase todos os cerimonialistas do governo do Vaticano são diplomatas [de formação]. O Bruno foi alçado a essa função provavelmente por ser muito executivo, prático. É um homem de rígidos parâmetros de lealdade e fé, o perfil ideal para essa função”, afirma. Segundo essa mesma fonte, Lins é “extraordinariamente inteligente” e, no aspecto doutrinário, está mais alinhado à visão conservadora de Bento XVI sobre a igreja do que com o pontificado de Francisco, embora tal alinhamento não tenha atrapalhado sua proximidade com o último pontífice. “Ele serviu Francisco devotadamente, apesar de discordar profundamente de algumas medidas, porque ele acredita que o papa é escolhido diretamente por Deus.”
Numa entrevista ao canal católico Rede Vida, em fevereiro deste ano, Lins elogiou os traços diplomáticos de Francisco, avaliando que ele era um dos líderes globais que mais recebia visitas no mundo. “Muitos chefes de estado vêm procurar o papa até porque, graças a essa presença da Igreja, há informações sobre situações concretas que estão fora do olhar dos grandes meios de comunicação”, afirma o padre. Muitas dessas visitas contam com a presença de Lins. Ao jornal português Público, ele revelou que, durante a visita do rei Charles e sua mulher, Camilla, em abril, dias antes da morte do pontífice, a duquesa não havia usado véu cobrindo a cabeça porque não se tratava de uma visita de estado, e sim particular. Segundo ele, a recomendação do véu para mulheres se dá apenas na agenda oficial.
Lins não intervém só na diplomacia, como também em assuntos mais paroquiais. Em março, enquanto o papa Francisco ainda estava hospitalizado em razão de complicações decorrentes de uma pneumonia, a socialite carioca Cleuba Verri recebeu um presentaço para comemorar os seus 90 anos: uma mensagem de aniversário de autoria do papa Francisco. Segundo o padre Jorjão, que compareceu à festa da nonagenária senhora, a mensagem havia sido passada antes da internação do pontífice, por meio de Bruno Lins. No vídeo da festa, exibido pela colunista Lu Lacerda, da Veja Rio, é possível observar Verri olhando incrédula para Jorjão, enquanto ele lia as palavras do pontífice. Lins havia praticamente operado um milagre.
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