De milkshake a hambúrguer: Paola Carosella ensina os encantos de um lanche da tarde
A chef traz para o Arturito uma nova fase que diz tudo sobre seu momento atual: a chef quer seguir se desafiando, mas num espaço de conforto

O allumette na foto abaixo representa com perfeição a nova fase do Arturito, restaurante comandado por Paola Carosella desde 2008. Trata-se de uma massa folhada crocante, adocicada e com recheio salgado.
O nome deve-se ao fato de a receita ter nascido na França. Contudo, foi pela popularidade em países como Argentina e Uruguai que fez com que se tornasse um dos lanchinhos favoritos de Paola na infância. Nomeado fosforito em seu país natal — referência à tradução de allumette, ou fósforo, em português — o aperitivo estava há tempos nos pensamentos da cozinheira.

Desde que mudou de endereço em março do ano passado, o Arturito vive um momento novo, assim como sua cozinha, dirigida por Paola Carosella. Uma das novidades foi o menu à tarde, construído a partir de muitas de suas receitas favoritas, mas também por ser um espaço, aos olhos da cozinheira, ideal para abrigar uma refeição preguiçosa, regada a pães, milkshake, lanchinhos e, por que não, drinques e ostras.
“A luz mais bonita do novo Arturito é a da manhã, e vai até as 18 horas, aproximadamente”, conta a dona do estabelecimento. Os cliques deste menu comprovam sua fala: os pratos que chegam à mesa são iluminados por delicados raios de sol que atravessam os janelões do novo estabelecimento, agora no bairro dos Jardins.
A mudança veio de um convite e foi encarada por Paola, junto ao sócio Benny Goldenberg, como uma oportunidade de olhar para o novo. “Sou fascinada por luz. Ficamos encantados com o pé-direito, a luz natural e o fato de estar rodeado pelo verde. Foi um combustível”, conta com empolgação.
A partir da decisão de mudar de lugar, veio a chance de desenhar uma nova cozinha, função que Paola assumiu com afinco, além de mudar alguns elementos do restaurante, que já soma 17 anos.
“Eu gosto muito de pensar espaços para que o convívio seja o melhor possível, confortável e também prático e efetivo para o que ele se propõe. Uma cozinha, um bar e um restaurante devem ser muito bem pensados e desenhados, considerando todos os fatores, e eu amo fazer isso”, diz ela, que buscou inspirações em diferentes épocas para alcançar o novo restaurante dos seus sonhos — algo entre o old school e o atual.
Para os fãs do famoso pão de fermentação natural da casa, servido no couvert, as novidades são um prato cheio. A massa madre utilizada na receita aparece em outros quitutes que agora saem das fornadas do Arturito.
Há ainda focaccias e as famosas medialunas, que surgem quentinhas e com uma textura brilhante, com recheio salgado ou acompanhadas por um intenso doce de leite. Tudo para comer com as mãos, do jeito que a dona das receitas gosta.
“Fizemos uma padaria, e começamos a produzir algumas receitas que há anos queria fazer”, explica sobre a nova proposta. A estrutura da nova casa foi o que possibilitou as novidades do cardápio, que agora consegue apresentar receitas feitas sob consultoria de Juliana Pascal, especialista em panificação.
“Estou encantada com o Arturito à tarde, e se alguém quiser saber quando estou por aqui, saiba que é quase sempre durante o dia, até por volta das 19 horas. Depois, volto para a casa para ficar com a minha família”, Paola dá a dica.
Além da inspiração vinda de suas raízes, ela contou com uma ajuda que veio de fora da cozinha para essa pitada de “aventura” no cardápio, já que o suculento hambúrguer foi ideia de sua filha, Francesca. A refeição vespertina fica ainda mais divertida com o milkshake de acompanhamento, criado por mãe e filha: trata-se do milkshake de baunilha com calda de chocolate da Fran.
A calda que adoça a bebida é feita com cacau amargo e chocolate artesanal brasileiro. “Estamos amando o novo horário e essa ideia de um almoço tarde ou de um café da manhã a qualquer hora… Particularmente, amo sanduíches, e o projeto é colocar mais alguns logo”, promete.
ESPAÇO DE CONFORTO
“Nossa, isso já foi em outra vida…”, exclama Paola ao ser relembrada de sua saída do MasterChef Brasil, em 2021. Desde então, ela já realizou tantos outros projetos que nos faz duvidar de que seu dia tenha realmente apenas 24 horas. Além de tocar a rotina do Arturito e as operações do La Guapa, Paola dedica-se à criação de conteúdo para suas plataformas pessoais, incluindo um canal no YouTube com mais de 2,52 milhões de inscritos.
Por lá, explora temas relacionados à culinária com descontração, apresentando a uma nova versão de si, mais à vontade e com um carisma hipnotizante ao ensinar seus truques na cozinha. Em 2023, retornou à televisão com o programa Alma de Cozinheira, no GNT, onde recebe convidados em sua casa para um jantar e um bate-papo aprofundado sobre temas diversos.
Das conversas profundas e que deixam a cozinha de lado, veio também a inspiração para a retomada de seu canal. Após alguns meses sem conseguir se dedicar à produção de vídeos, Paola decidiu retornar às gravações com conversas que não passam pela gastronomia — ela fala de assuntos cotidianos, indica livros e o que mais der na telha.
“No final do ano passado reparei que tinha entrado no automático com as receitas em vídeo. Estava me deixando influenciar por um sistema que nos obriga a ter que fazer tudo, sempre. Fazer reels, postar todo dia… e nada disso fazia sentido para mim”, reflete.
“Este ano completo 35 anos de profissão, já passei muitas noites e madrugadas na cozinha. Agora, as noites são da minha família” Paola Carosella
Foi nesse momento, após tantos anos produzindo, que ela decidiu parar para ouvir o que sentia de verdade: “Eu trabalho muito, tenho um restaurante que ocupa muito tempo, corpo, amor e atenção. Tenho o La Guapa, que meu sócio cuida impecavelmente bem, mas também leva tempo. Tenho uma família e uma filha, que vêm em primeiro lugar, claro. Tenho o meu corpo e minha saúde. Então, precisei de uma pausa para entender qual era a minha capacidade de estar presente com qualidade e com verdade, de forma íntegra, em todos esses projetos”, revela.
Este ano, aliás, Paola completa 35 anos de profissão, um marco e tanto. A cozinheira, que já passou tantas madrugadas trabalhando, conta que agora as noites são reservadas para sua família — uma fase de colheita após tanto tempo de dedicação. “Eu tenho uma equipe de ouro que hoje em dia faz até melhor do que eu.”
Agora, Paola prefere gravar seus vídeos “sempre que possível”, já que tem reforçado para si mesma a importância de executar suas tarefas com propósito, nunca no piloto automático.
“Sinto que precisamos todos pausar um pouco para entender se o que estamos fazendo é o que queremos, o que podemos, o que cabe em nós; ou se é o que este sistema acelerado de ‘tudo para ontem’ vai nos obrigando a fazer”, provoca.
Apesar de ainda ter uma forte presença online, Paola também passou a repensar sua participação ativa nas redes. Há alguns anos, ela enxergava esse canais como a oportunidade de proferir opiniões e também trazer à tona debates de ideias com seus seguidores, seja sobre alimentação, política ou sociedade.
O resultado disso era ver seu nome frequentemente em notícias polêmicas, desde suas críticas aos ultraprocessados até receber comentários negativos sobre seu corpo.
“Me afastei um pouco, sim, cansei da linguagem das redes, as quais considero cada dia mais vulgares e vazias. Servem para algumas coisas, mas não são bons lugares para estabelecer uma comunicação clara e fértil”, declara ela, que tem preferido reservar as conversas mais profundas para fora da vida digital.
“Eu sou movida por emoções, elas me invadem, são tão fortes que não consigo ignorar” Paola Carosella
Entretanto, Paola gosta de enfatizar que adora um desafio. Mudar-se para o Brasil, abrir um restaurante em São Paulo 22 anos atrás — o extinto Julia Cocina —, aceitar ser jurada do maior reality gastronômico do país, criar conteúdo para a internet, comandar um programa de entrevistas… A lista é grande e não significa que foram tarefas aceitas sem aquele friozinho na barriga, mas é nesse furacão de acontecimentos que encontra combustível para seguir se aprimorando: “Eu sou movida por emoções, elas me invadem, são tão fortes que eu não consigo ignorar”.
Contudo, hoje, aos 52 anos, tem repensado sobre estar nesse espaço desconfortável. Afinal, a zona de conforto é, realmente, um lugar confortável — até para ela. “Eu tenho duvidado um pouco disso”, responde a cozinheira sobre o prazer em estar sempre buscando desafios.
“Acho que é muito legal viver com conforto, no final, é o que deveríamos todos ter. Eu não gosto de estar parada, de sentir que não estou aprendendo, de não sentir desafios, de não me aprofundar nas coisas. Mas eu quero tudo isso com conforto, sim!”, garante. Se a zona de conforto for uma mesa repleta de medialunas e doce de leite, pode contar com a gente também, Paola.
CRÉDITOS DE PRODUÇÃO
Texto: Marina Marques
Fotos: Bruno Geraldi
Edição de arte: Catarina Moura
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